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Flávio Cardim

Nosso entrevistado hoje é Flávio Cardim.

O senhor que é considerado por muitos orquidófilos, como um dos melhores cultivadores, se não o melhor do Rio de Janeiro, quando e como foi que o senhor se interessou pelo cultivo das orquídeas?


Meu pai era encarregado no Orquidário Binot e nós morávamos lá mesmo e aos domingos, ele me levava para ver as orquídeas. Aos 12 anos, fui ajudar meu pai no orquidário, tirando matinho e naquele momento senti que era isto que eu iria gostar de fazer na vida e aqui estou até hoje, nunca mais saí disto nem quero sair. O que eu quero saber é de cultivar orquídeas pois é isto que gosto de fazer.
Fiquei no Orquidário Binot por 44 anos, foram 22 anos sobre orientação do meu pai e partir de 1966, quando ele faleceu, passei a dirigir o orquidário e lá continuei por mais 22 anos.
Aqui, na Quinta do Lago, estou há 8 anos. Tudo o que sei sobre orquídeas aprendi no dia a dia, na vivência, na prática. Nunca fiz nenhum curso sobre como cultivar orquídeas. São 52 anos cuidando de orquídeas, de convívio diário com elas e de muita observação pois a planta praticamente fala do que ela precisa. Fui sentindo o que era bom para elas, fui ouvindo o que as pessoas falavam, fui aprendendo um pouquinho a cada dia nestes anos todos. Ainda estou aprendendo e tenho muito que aprender ainda. Estou com 65 anos e acho que fiz alguma coisa por elas mas acho que elas fizeram muito mais por mim.

O senhor poderia nos falar sobre sua experiência em cultivo?

O fundamental para as orquídeas é luz e ventilação, tendo isto já é meio caminho andado mas a adubação, o cuidado sanitário e a rega também são pontos importantíssimos.
Quanto à ventilação, presenciei experiências que me fizeram perceber sua importância. Vi estufas enormes serem construídas de maneira inadequada, sem ventilação, fechadas e durante doze anos as orquídeas não iam bem, foi um desastre. Uma chuva de pedra destruiu o telhado de vidro e imediatamente elas reagiram. As estufas foram levantadas de novo, desta vez deixando uma parte aberta em toda a volta para que houvesse e ventilação e tudo mudou, as plantas agradeceram, ficaram lindas. Faltava a ventilação.
estufa Por esta razão, quando fui convidado para vir montar o orquidário Quinta do Lago, eu disse que nós não íamos colocar nenhum tijolo nas estufas, íamos fazê-las totalmente abertas porque eu tinha percebido que as orquídeas precisam de ambiente bem ventilado.




A coleção particular da Quinta do Lago é extremamente bonita, saudável e muito florífera, qual é o segredo, é a adubação?

Eu só uso mamona e sempre usei. Recentemente, nesta coleção, foi usado três ou quatro vezes um outro tipo de adubação. Eu acho que ajudou um pouco no aspecto geral da planta mas não teve influência na floração. É um adubo foliar obtido do esterco de vaca depois de curtido por 45 dias. Na minha opinião, não há adubo que dê jeito na floração sem a luminosidade necessária pois as orquídeas precisam de muita luz. Se você pegar uma destas que estão em cima da bancada e colocá-la junto das avencas debaixo das bancadas, na mesma estufa, ela não vai florir mais. O adubo é usado para fortalecer a planta, pode ser até que ela floresça melhor porque está mais forte mas o que faz ela florir é a luminosidade.
Tem gente que usa torta de mamona misturada com farinha de osso e cinza mas principalmente misturada com farinha de osso. Eu nunca misturo nada, compramos ensacadas e colocamos em todo o orquidário. Eu faço isto há 8 anos aqui na Quinta do Lago e fizemos isto no Orquidário Binot durante uns 24 anos mais ou menos. Nos primeiros 20 anos usávamos estrume de galinha só que é muito mais trabalhoso, mal cheiroso, você tem que recolher, colocar numa calçada para secar no sol, peneirar, curtir um pouco, esperar no mínimo 30 dias para poder usar, para não causar problemas de queimadura nas raízes. Este tipo de adubação é ótimo também e eu até acho que o uso da mamona faz o mesmo efeito porque ambos são ricos em nitrogênio, só que é muito mais prático.

A torta de mamona usada assim espalhada sobre todo o substrato não pode queimar as raízes?

Algumas pessoas já me disseram que tem que se usar na borda do vaso senão vai queimar as raízes. Eu uso mamona este tempo todo e nunca aconteceu isto, nunca vi uma raiz queimada. Eu já ouvi algumas pessoas dizerem que colocaram e as raízes ficaram queimadas e que não seria possível usar em clima quente mas a minha experiência demonstra o contrário disto. Temos algumas estufas em Maricá, em clima quente, onde usamos a mamona e também com sucesso. Só para dar outro exemplo, eu cuidei de uma estufa em Botafogo, no Rio de Janeiro, durante muito tempo, em clima quente portanto, onde usei a mamona e foi um sucesso absoluto.

Qual é a periodicidade da aplicação?

Nós usamos de 3 em três meses, sem aplicar no período mais frios. Nós começamos a adubar no mês de março e terminamos em abril. Como o orquidário é muito grande, leva-se um mês para adubar tudo isto aqui. Em agosto começamos a adubar novamente. A quantidade varia de acordo com o tamanho do vaso, para uma planta grande, você vai espalhar muito bem uma colher de sopa rasa de torta de mamona fininha. Molha-se em seguida para ela possa aderir ao xaxim pois ela é um pouco seca, mas esta rega é a rega normal.

E as orquídeas de raízes muitas finas tipo Miltonia, Dendrobium, Oncidium e nas placas também pode se utilizar a torta de mamona ?

Nós usamos de uma maneira geral sem problema nenhum. Nas placas, dá um pouco mais de trabalho. Primeiro nós as mergulhamos num balde com água para umedecê-las, colocamos a mamona, deixamos as placas meia hora na posição horizontal para que o produto se fixe, depois as penduramos na vertical novamente. Se você não umedecer a placa antes de colocar a mamona, quando você for regar, ela vai sair toda. Se no vaso você tem uma penetração de 100%, na placa você terá entre 85 a 90% pois quando você regar pela primeira vez, com certeza, 10 a 15% desta mamona vão escorrer.

No caso das monopodiais, tipo Vanda, o senhor acredita que a torta de mamona funcionaria?

Funciona também, mas se estiverem no cachepot, sem substrato vai ser muito difícil a não ser que se coloque, como eu coloquei, pedaços de xaxim dentro do cachepot. Nós não temos Vanda aqui na Quinta do Lago mas eu dou assistência a algumas coleções particulares de alguns amigos meus aqui em Petrópolis.
Numa dessas coleções, elas estavam plantadas em cachepots de madeira sem substrato nenhum e muito desidratadas. Não estava dando certo, eu via as plantas cada vez piores, amareladas, secas, desidratadas. Coloquei um pouco de xaxim para manter a umidade mais elevada e adubei com torta de mamona. Tudo mudou completamente, elas enraizaram e hoje estão com outra aparência. Isto foi feito há uns dois anos passados portanto já dá para se ter uma idéia do resultado que se obtêm com este método.
Vou explicar o porquê da torta de mamona. Na minha opinião, a orquídea, para florir bem, precisa de muita luz, o máximo que se possa dar, o máximo que elas suportem mas quando se dá muita luz como temos aqui e principalmente no Rio onde a luz é mais intensa ainda, as plantas vão ficar amareladas se não forem adubadas com nitrogênio. A torta de mamona, rica em nitrogênio, compensa a luminosidade alta, sem ela a planta não ficaria bonita em seu aspecto vegetativo. Com o uso dela, pode-se colocar as plantas num lugar de muita luz para que elas possam florir bem e ainda assim conseguir com que elas fiquem verdinhas como as nossas estão.

O senhor utiliza algum adubo complementar a base de fósforo para induzir a floração?

Não uso mais nada, temos esta floração no orquidário sem nunca ter usado fósforo.
Eu não tenho nada contra quem diz que é preciso dar fósforo às orquídeas para elas florirem, mas na minha opinião você pode dar o fósforo que você quiser, se não der luz, ela não vai florir mas se você der luz e não der o fósforo, ela vai florir. Talvez se possa conseguir uma floração mais prolongada, eu não sei.
Cymbidium


Eu posso mostrar que nós conseguimos floração de Cymbidium, de 1 ano e meio, num vasinho muito pequeno (está dentro de um outro, um pouco maior, para manter o equilíbrio) sem uma gota de fósforo. Tudo isto com muita luminosidade e torta de mamona.






Como é o sistema de rega utilizado aqui na Quinta do Lago?

A rega é um ponto muito importante, a nossa é totalmente manual e a água é natural. Nesta época do ano (período mais frio), nós regamos duas vezes por semanas. Na mesma estufa que temos vasinhos (que chamamos de 5) , temos vasos grandes, big and small e se tivéssemos uma rega automática, uniforme, iria-se molhar o que precisa e o que não precisa pois no dia seguinte da rega, o vasinho pequeno vai estar seco e vai ter que se regado novamente e o grande não. Manualmente, você consegue fazer este controle e quando você regar o vaso pequeno, dobre, triplique a dose porque ele vai secar muito mais rápido. Ou a rega é feita assim ou então vai ter que uniformizar, num estufa só colocar os vasos pequenos, na outra, só vasos grandes, aí poderá ser feita automaticamente.
Eu presencio este problema de rega há muitos anos e eu vejo um problema sério com os caseiros nas coleções que dou assistência. Eu digo a eles que tem que molhar mais, pois as orquídeas estão muito secas. Três meses depois eu volto e tenho que dizer para diminuir um pouco, pois ele está molhando demais. Eu disse que as orquídeas estavam com sede, tinham que ganhar um ou dois copos d'água e não uma caixa d'água. As pessoas não têm noção da quantidade de água.
No caso de orquídeas tipo Vanda, se você puder molhá-la várias vezes ao dia, nos meses mais quentes, ela pode ficar num cachepot de madeira sem substrato nenhum, mas se você for regá-las só quando rega as outras orquídeas, elas vão desidratar pois plantadas desta maneira, você molha e, se tiver sol, 10 minutos depois estão secas. Não há retenção nenhuma de umidade.
Nesta época do ano, as orquídeas plantadas de uma maneira tradicional com xaxim podem ser deixadas sem rega durante 3 dias porque elas lhes proporcionada a umidade suficiente para agüentarem este tempo todo mas as Vandas devem ser regadas, no mínimo, uma vez por dia. Se você quiser uniformizar a rega, basta colocar pedaços de xaxim no cachepot. Tem-se o hábito de colocar um pratinho pendurado debaixo do cachepot com água para manter a umidade mas a planta é um ser vivo, se ela está com sede, tem que receber água, não adiante deixar água embaixo dela.

O senhor disse que a água aqui é natural e isto é uma grande vantagem, não é?

Sem dúvida, a água natural é uma grande vantagem mas vou contar uma experiência que vivi cuidando uma coleção aqui em Petrópolis. A água vinha branca de cloro e as orquídeas eram lindas, floresciam que era uma maravilha. Uma coleção que começou com 50 plantas e acabou com 3.500. Foi uma experiência de 20 anos cuidando com água muito clorada .Por isto posso dizer que se eu puder escolher, eu vou escolher a água natural mas não é tão grave assim.

No caso específico do Catesetum cujo envasamento é considerado um problema ainda não muito bem resolvido, o senhor os tem colocado em pequenos pedaços de xaxim, o que poderia nos dizer a respeito?

Eu realmente coloquei alguns Catasetum em pedaços de xaxim que foram muito bem, mas também coloquei muitos em vasos normais como se coloca a Cattleya e também estão ótimos.
Eu acho que um dos problemas do Catasetum é a rega. Você tem que diminuir muito a água dele em relação a uma Cattleya, é uma rega superficial, principalmente no inverno, molhar muito pouco mas a nossa maneira de plantar não tem nada de diferente.
A única coisa que experimentei, mas isto eu experimentei com outras orquídeas, é colocar em pedaços de xaxim. Já fiz a estufa com tela pensando em aproveitar totalmente este espaço lateral e para isto temos que colocar as orquídeas em placas ou pedaços de xaxim para podermos pendurar.
Da mesma maneira que fiz com a Cattleya, foi feito com o Catasetum, deu muito certo.
Se você for a Maricá, você vai vê-los pendurados, com as raízes em volta da planta, subindo, o que é um sinal de que eles estão bem. Ficaram lindos mas ficaram muito bonitos nos vasos também.
Eu não vi diferença entre os que estão plantadas nos vasos e os que estão nos pedaços de xaxim. O mais importante é o cuidado com a rega, principalmente nos períodos mais frios. Normalmente eles são cultivados em clima um pouco mais quente devido à origem da maioria. Temos aqui o Catasetum cernuum que dá na região mas acho que só este, os outros são de clima mais quente.

E as pequenas e micro orquídeas, o que o senhor tem nos dizer a respeito do cultivo?

Você tem que saber se ela é de lugar mais sombrio na natureza como o Pleurothallis, aí você tem que sombrear um pouco mais. Se ela é de lugar alto, como alguns Sophronitis que dão lá no topo das árvores, como é o caso da coccinea, aí procure um lugar mais claro. Tem outros, o Sophronitis mantiqueirae, por exemplo, que dá na parte mais baixa das árvores portanto com menos luz.
Com o Pleurothallis você deve diminuir um pouco a luz, não muito e com a Isabelia também. Quanto à rega, à medida que você tem vasos menores ou pedacinhos de xaxim onde elas vão muito bem, você tem que regar um pouquinho mais. No verão, no mínimo, uma vez por dia e bem molhada. Uma placa maior, mesmo no verão, pode ser regada um dia e passar dois sem ser molhada, pois leva o triplo do tempo para secar. Isto é questão de observação, você passa a perceber que tem que regar muito mais o vaso pequeno ou a placa pequena.
Não se esqueça, a observação é muito importante.

E o problema de pragas?

É preciso tomar muito cuidado. É por isto que eu disse que um dos pontos principais é o cuidado que se tem que ter com estado sanitário da coleção. Elas são atacadas por tentecoris, pela mosca que dá nos brotos (mosca da Cattleya, Eurytoma orchidearum) , tem fungos, tem bichinhos que atacam e comem as raízes, tem caramujo, uma lagartinha que é terrível, enfim elas podem ser atacadas por várias pragas. Existem diversos tipos de fungo que podem atacar uma orquídea e eles se mostram nas folhas, surgem pontos escuros, manchas escuras, redondas. Tem também a ferrugem, muito esporádica mas que pode aparecer. Você tem que saber o que usar. Eu uso o Benlate e o considero o mais eficiente de todos. Já tivemos alguns fungos aqui e usamos outros produtos e não resolveu. Usei o Benlate, duas pulverizações foram suficientes e o problema foi eliminado. Para mim não tem nada melhor que ele. Já li e também já me disseram para tomar muito cuidado pois se o usarmos duas vezes por ano, vamos estragar ou atrofiar as orquídeas, mas eu uso há 40 anos e nunca vi dar problema nenhum.
Esta coleção que cultivei de 1964 a 1984, com água clorada, acabou vindo parar aqui quando eu não cuidava mais dela. O dono faleceu e a coleção nos foi oferecida. Quando nós compramos, ela estava com todo tipo de problema, de vírus, de fungo porque tinha ficado seis ou sete anos sem tratamento necessário pois a pessoa encarregada de cuidar dela não entendia nada de orquídeas. Senti que precisava usar o Benlate e eu usei até 10 vezes em 1 ano e meio e nunca aconteceu nada com as plantas. A maioria se recuperou e só as que estavam com vírus é que foram eliminadas pois contra ele não há jeito ainda.

Uma planta com vírus tem que ser incinerada e como podemos reconhecer que ela está com vírus?

Na flor é fácil reconhecer pois começa a dar umas estrias de coloração completamente diferente. O vírus se apresenta de maneira mais evidente em flor colorida pois é muito mais fácil de identificar, ela começa a apresentar umas linhas brancas, descoloridas. Na orquídea branca é mais difícil de se ver pois é o contrário, aparecem umas manchinhas escuras, pontos pretos, como se fosse um fungo que estivesse atacando a flor. Embora seja mais difícil, pode-se reconhecer também na planta, ela vai ficando deformada, o broto começa a definhar, a folha fica meio atrofiada, meio áspera. Mas apesar disto, ela floresce normalmente. O vírus se transmite por contato através de uma faca, uma tesoura, pela mão. Se o cultivador cortou uma flor, um pseudobulbo de uma planta com vírus e vai manipular uma outra que não tenha vírus, há a possibilidade de transmissão, que não sei se é de 10, 20 ou 100% mas que passa de uma para outra, isto é certo.

E esta mosca que o senhor falou é o terror do orquidário?

Esta mosca é terrível e se multiplica com uma facilidade incrível, ela ataca, deposita ovos na base das gemas e as larvas vão minando a planta. Se você compra uma planta de outro orquidário com este problema e a coloca no seu sem perceber isto, com um ano você está com todas as plantas contaminadas.
O orquídea tem sua auto defesa. Na natureza, por exemplo, se cai um galho e quebra um broto, ela vai brotar de novo através de uma gema dormente mas no caso do ataque da mosca, quando brota uma gema ela ataca e a planta se atrofia e se defende, sai um outro broto para o lado, ela ataca também e vai atacando todas as gemas dormentes. A multiplicação destes insetos é muito rápida, o ambiente fica infestado desta praga Ou você percebe isto, corta estes brotos infestados e pulveriza uma, duas ou até três vezes com inseticida sistêmico para combater ou vai ter um problema muito sério.

Como que se pode reconhecer estes ataques?

O broto fica deformado desde pequeno, quando está com 2 cm. Não cresce normalmente e fica atrofiado, muito deformado. Fica muito grosso embaixo pois as larvas estão lá dentro e fininho em cima. É só pela pratica que se consegue reconhecer. É preciso aprender a perceber se o broto é robusto porque a planta está forte ou se é porque ela está infestada. Eu não posso definir exatamente porque. de repente. você tem um broto gordinho, robusto porque ele é gordinho mesmo, porque a planta está robusta. Não se pode começar a cortar tudo quanto é broto robusto. Você começa a perceber com mais facilidade quando o broto tem 2 a 3 cm de comprimento. Quando você começa a ver furinhos no bulbo é sinal de que a mosca já saiu e está infestando as outras plantas.

Eu percebi que o enraizamento destas plantas está excepcional e algumas delas parecem que foram podadas.

Bom, você faz uma poda geral das raízes quando for fazer o reenvasamento mas você pode fazer também uma poda de limpeza mesmo sem envasar. É para o bem da planta, ela parece que agradece.

As raízes deste vaso, por exemplo foram quase todas podadas há 4 meses. É uma poda superficial, aproximadamente 10% das raízes. Todas as raízes velhas devem ser podadas e não se deve cortar as raízes mais novas, as pequenas. A orquídea tem uma facilidade incrível de recuperação, então, às vezes, a pessoa quando vai transplantar uma orquídea e fica com medo de quebrar uma raiz mas ela tem não sei quantas raízes, umas 100 raízes e se você quebrar uma é quase a mesma coisa que arrancar um fio de cabelo, não tem problema nenhum.
Quando nós transplantamos uma orquídea se nós não cortarmos as raízes e elas vão quebrar e neste caso fica difícil elas brotarem novamente. Já no movimento que se faz com a faca em volta do vaso para soltarmos as raízes, corta-se um pouco. Depois que tirarmos, é preciso cortá-las ainda mais com uma tesoura e deixar com 4 ou 5 cm no máximo, talvez nem tanto. Às vezes eu tento deixar uma raiz nova que tenha condições de entrar no xaxim sem quebrar.
Quando for transplantar, se você tem uma planta que tenha dois segmentos, ela pode ser dividida. Divide-se a planta para não ter que se usar um vaso muito grande. É necessário que a planta tenha espaço suficiente para não haja necessidade de replantá-la por mais três anos. Você tem duas opções, se você tem poucas plantas da espécie, você coloca cada segmento em um vaso. Se você já tem muitas, você pode manter tudo num vaso só. Deste modo, em vez de vir uma haste só na floração, virão duas.

No corte, o senhor usa algum anti-séptico para auxiliar a cicatrização?

Não, isto eu nunca fiz isto. Eu simplesmente podo e elas brotam novamente. Na minha vida toda de 52 anos de cultivo de orquídea nunca usei anti-séptico ou mesmo lavei um vaso para utilizá-lo novamente. Você pode ver que o estado sanitário de nossas plantas é, pelo menos, razoável.

Quais são as orquídeas nativas de Petrópolis?

Sophronitis coccinea, mantiqueirae, Pleurothallis, Laelia crispa, Laelia perrinii, Maxilaria, Gomesa crispa, recurva, Zygopetalum intermedium, crinitum, Oncidium, Scuticaria, Leptotes, Miltonia spectabilis, clowesii, uma infinidade delas. Tem até Miltonia cuneata que antes se dizia que era só do Espírito Santo.

Quais as orquídeas brasileiras que se adaptaram bem aqui?

Quase todas, menos as que vêm do Amazonas que são de clima muito quente, sofrem muito com o nosso clima e são um pouco mais difíceis. As que vêm do nordeste, como a Cattleya labiata, amethystoglossa, aclandiae ou mesmo a nobilior, apesar de vir de Goiás e Mato Grosso, todas elas se adaptam muito bem ao nosso clima. Eu diria que a grande maioria das orquídeas, de qualquer parte do Brasil, se dá bem aqui em Petrópolis. Quanto às estrangeiras, tipo Vanda, por exemplo, eu acho que dá para cultivar aqui , apesar de não ser o clima ideal mas o Phalaenopsis, não.


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