O SUBSTRATO COXIM

Augusto Burle Gomes Ferreira, fabricante

Na década de 80, quando comecei a perceber um aumento exagerado do preço do xaxim, fui informado que isto decorria do início do seu processo de extinção. Voltei-me, então para a cultura de epífitas em casca de coco, tradicional no Nordeste brasileiro desde o século passado e passei a buscar uma técnica para reagregar o tecido parenquimatoso da casca do coco, algo tido como impossível pela ciência ( reagregação pela pectina natural do tecido vegetal), pois é nesse tecido que as plantas buscam seu alimento e não nas fibras, como muitos pensam. Com esta técnica, estariam resolvidos 2 problemas ecológicos: o da preservação da Dicksonia (de onde é extraído o xaxim), dos mangues e lagoas nordestinas que vêem sendo destruídos pelo despejo maciço do tecido parenquimatoso do coco pelas desfibradoras, além de permitir dar ao produto a forma mais conveniente para seu uso.

É preciso enfatizar que o Coxim é o tecido parenquimatoso da casca do coco e não a fibra que não se presta ao cultivo. Por ser um produto semi-industrializado, o coxim está sujeito a sofrer aperfeiçoamento e o atual já não é o mesmo de 6 anos atrás.

Quem conhece as plantações de coqueiros sabem muito bem que as mudas desta palmeira se enraizam na própria casca e só depois passam para o solo. Pode-se arrancar uma muda de coqueiro de 80cm de altura e deixá-la fora do solo por mais de 3 meses que não ela não morre nem ao menos murcha, a casca do coco a mantêm em perfeita forma. Percebe-se assim que é um alimento produzido pelo próprio coqueiro para alimentar seus filhos em sua fase inicial de crescimento. Ouso mesmo chamá-la de "leite vegetal".

A casca do coco, quando lançada ao campo, só se decompõe totalmente depois de 8 anos e isto sugere que o seu alto valor nutritivo não depende da decomposição do tecido, fato comprovado pela cultivo em coxim. Posteriormente descobri que este substrato é também bom para as terrestres não apenas para as epífitas encontrando assim uma solução para outra problema ecológico, no caso, ecologia do ecossistema humano: como ter plantas ornamentais em interiores sem trazer também os dejetos animais.

As qualidades do coxim:

1- Auto-estabilização do pH

Pelas medições feitas, durante 5 anos, pelo Departamento de Química da Universidade Federal de Pernambuco, foram encontradas as seguintes médias:

NovopH 5,53
1 ano de usopH 5,72
3 anos de usopH 5,18
4 anos de usopH 5,35
5 anos de usopH 5,25

Estes resultados mostram que o coxim apresenta um comportamento anômalo para uma matéria orgânica. No processo de degradação, as matérias orgânicas tornam-se alcalinas enquanto que ele conserva a acidez num nível bom para as orquídeas.

2- Riqueza de nutrientes

No exame das cinzas, realizado pelo Laboratório da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), foram encontrados os seguintes teores dos elementos não voláteis:

Potássio em K2O 0,722%
Cálcio em CaO 0,439%
Magnésio em Mgo0,234%
Fósforo em P2O50,196%
Ferro em Fe2O3 0,130%
Zinco em Zn 0,0029%
Cobre em CuO 0,0025%
Manganês em MnO 0,0020%
Boro em B traço

No exame de NPK, realizado pelo Instituto Tecnológico de Pernambuco, foram encontrados os seguintes valores:

Nitrogênio em N0,46%
Fósforo em P2O50,26%
Potássio em K1,39%

Estes resultados apresentam apenas uma carência de Molibdeno e Cobalto entre os micronutrientes e uma ligeira fraqueza de Nitrogênio. No entretanto, O exame feito pelo Professor Milton Leinig, da Universidade Federal do Paraná apresentou traços de Cobalto.

As minhas orquídeas são adubadas apenas uma vez por ano com a mistura de Torta de Mamona e Farinha de ossos para complementar o Nitrogênio. Aplico também o Peter 20-20-20 para garantir a extensão de todos os micro-nutrientes (Não posso desejar melhores resultados que o digam aqueles que os conhecem). Face ao exposto, posso afirmar que a cultura em coxim é uma cultura de baixo consumo de adubos. É preciso acrescentar que ele é muito rico em Silício, elemento catalisador de absorção dos outros nutrientes pelas plantas.

3- Gerador de ambiente rico em micorriza.

Não costumo remover os frutos que surgem naturalmente após a floração e depois de ter todo o cultivo do orquidário em coxim, constatei a presença "seedling" de diversos gêneros (Dendrobium, Thunia, Epidendrum, Cattleya, Caularthron, Phajus, Acampe, etc.) nascendo nas cestas de outras orquídeas sem que tivesse semeado. Tenho sido informado, por outros cultivadores que adotaram o coxim, que o mesmo vem ocorrendo em seus orquidários.

Com isto não estou pretendendo dizer que o coxim seja um meio de cultura para germinação comercial, apenas percebi que com ele, o orquidário torna-se rico nos fungos geradores da micorriza.

4- Menor necessidade de rega

Sendo o coxim um tecido esponjoso, é altamente absorvente. Ele pode chegar a absorver 200% do seu peso em água. Quando colocado nos vasos, a camada externa tem a propriedade de isolar a evaporação das camadas internas por isto, a necessidade de rega é menor do que em vários outros substratos.

Não se deve permitir que o vaso resseque, ao contrário dos outros substratos, a água da nova rega deve encontrar sempre resíduos de água da rega anterior. A água não acelera a sua degradação de modo significativo.

Cattleya labiata oramaena 'Vaninha'.
Cultivada em coxim.
5- Durabilidade média de 4 anos.

A durabilidade do coxim, comparada à dos outros substratos orgânicos, é muito grande.
No clima equatorial de Recife, de grande umidade (mínima 55%, máxima 98%), dura, em média, 4 anos. Em outras condições climáticas pode durar até 8 anos.

Depois de lavado, pode ser guardado molhado por um período de até 6 meses para ser usado à medida da necessidade sem apresentar qualquer degradação.

6- Produto esterilizado

Pela própria natureza da casca do coco, a presença do tanino é muito forte e esta substância é bactericida e fungicida. Além disto, o coxim, na sua fabricação sofre um processo pasteurizador: é submetido a um lento aquecimento (7h) até 80ºC e permanece nesta temperatura no mínimo por 4 horas, submetido a uma pressão de 21Kg/cm3.

Por estas razões, posso garantir aos cultivadores, com segurança, que trata-se de um substrato isento de bactérias e fungos.

7- Fácil manuseio

É um substrato de fácil manuseio, habituando-se a usá-lo pode se instalar uma planta em um vaso em cerca de 3 minutos e não há, ao meu conhecimento, nenhum registro de reação alérgica.

Porém, como toda medalha tem seu reverso, o Coxim também tem uns poucos inconvenientes com os quais é preciso aprender a lidar:

1- Necessita de alguma adubação.

O seu teor de Nitrogênio poderia ser maior. Este fato foi minimizado com a criação do coxim E (enriquecido) que recebe 1,5% de Torta de Mamona e de Farinha de Ossos. Nesta composição, ainda é produzida em menor escala.

2- Varia de Volume

Ao absorver a água, o coxim aumenta seu volume em 7% (média) e ao secar volta ao seu volume original mas este fato não afeta as raízes. Por esta razão, os cubos devem ser colocados de forma desarrumada e não socados em vasos, para não estourá-los.

3- Necessita de lavagem.

É imprescindível a sua lavagem antes do uso para remover o tanino pois, do contrário, ele irá queimar todas as raízes novas durante uns três meses. Esta substância o protege de conduzir agentes patógenos mas é também um forte herbicida.

É recomendada a imersão em água por 4 dias para o granulado, por 8 dias para os cubos e tiras e por 15 dias para as placas e bastões. Depois deste período, pode-se verificar a presença do tanino colocando um pouco da água da lavagem em uma solução de Acetato de Chumbo a 1%.

4- Traz Mato para o orquidário

Com o cultivo em coxim, os orquidários passam a ter problemas de mato, qualquer semente que caia sobre ele irá germinar: desde musgos até árvores.

5- Necessita de mudança de hábitos.

Cada substrato tem suas exigências próprias, saber plantar orquídeas não quer dizer que se saiba plantá-las em qualquer substrato. É preciso que o orquidófilo se disponha a aprender a utilizar o coxim.

De acordo com a conclusão da tese de Livre Docência da Professora Maria Esmeralda Payão Demattê, do Departamento de Horticultura da Faculdade de Ciências Agrárias de Jaboticabal da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), dos substratos estudados, o coxim puro é o que reúne mais qualidades para substituir o xaxim.


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