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SUBSTRATOS VEGETAIS
PARA CULTIVO DE
ORQUÍDEAS EPÍFITAS

por Maria Esmeralda Soares Payão Damatté



Texto extraído de tese apresentada à Faculdade Ciências Agrárias e Veterinárias do Campus de Jaboticabal da UNESP, para obtenção do título de Livre Docente na Disciplina de Produção e Utilização de Plantas Ornamentais do Departamento de Horticultura (l992).



No Brasil, o xaxim tem sido explorado em prejuízo da flora da Serra do Mar, sendo extraído, em grande quantidade, de espécies que além de não serem cultivadas em escala significativa, apresentam um crescimento muito lento. O xaxim verdadeiro, Dicksonia sellowiana (Presl.) Hook, já é difícil de ser encontrado e, por isso, atualmente, faz-se a extração principalmente de Cyathea shanschin Mart. Desde 1990, a legislação brasileira restringe o corte do xaxim, mas ele continua a ser feito dentro dos limites estabelecidos e o produto ainda é muito comercializado nos mercados internos e externos.

Por outro lado, é de grande importância o cultivo de orquídeas por duas razões, primeiro porque as espécies, em estado silvestre, estão também ameaçadas de desaparecer sobretudo em função da destruição de seus habitats e segundo pelo interesse comercial que representa a venda destas plantas.

Em conseqüência, tornam-se necessários estudos com materiais que possam substituir o xaxim como substrato, contribuindo também para proteger tanto as espécies produtoras de xaxim como as espécies da família "Orchidaceae".

Sem um substrato firme e arejado que propicie o estabelecimento, crescimento e funcionamento das raízes, uma orquídea não pode absorver água e os nutrientes que necessita. Embora haja muitos materiais apropriados, a escolha é limitada pela disponibilidade a custos razoáveis e pela facilidade de obtenção. As qualidades básicas de um bom substrato devem ser: disponibilidade, preço acessível, facilidade de manuseio, capacidade de sustentar a planta, durabilidade (deve durar de quatro a seis anos), firmeza, ausência de toxidez e boa aeração.

O xaxim apresenta estas qualidades além de ser rico em nutrientes e é considerado até hoje, o substrato ideal para as orquídeas epífitas.

No Nordeste, a própria casca do coco vem sendo usado na cultura de orquídea, desde o século passado e o coxim é um produto semi-industrializado, feito da casca de coco (Cocos nucifera L), prensada, formando pequenos blocos em forma de paralelepípedo, bastões e placas. É um material que tem se mostrado promissor e pode vir a se tornar um produto importante para a economia do Nordeste tendo como matéria-prima um resíduo industrial das fábricas de fibra de coco, a bucha. A agregação deste resíduo foi obtida por Augusto Ferreira. Com isto, foram eliminadas as inconveniências da casca in natura e obtido um material sem aditivo, com forte hidrofilia que pode vir a ser o substituto do xaxim. De longa durabilidade, propicia um bom desenvolvimento e boa floração, fornecendo às plantas, dispensando adubação. Segundo seu fabricante, não se alcaliniza ao apodrecer e estabiliza seu pH em torno de 5,2 a 5,3, apresentando um pH médio de 5,53.

O presente estudo foi realizado durante 36 meses tendo o Dendrobium tipo nobile Lindl. sido escolhido como planta teste. Os experimentos desenvolveram-se em ripado com 50% de sombreamento, em Jaboticabal, São Paulo. Os objetivos foram os seguintes:

- caracterizar materiais de origem vegetal utilizados como substrato para cultivo de orquídeas epífitas quanto às propriedades físicas (cor, textura, densidade, perda de água e alterações de estrutura em função do tempo) e químicas (pH e concentrações de nutrientes);

- comparação do desenvolvimento de Dendrobium nobile nos diferentes substratos estudados considerando o xaxim como testemunha;

- recomendar os materiais mais adequados para substituir o xaxim.

Foram utilizados os seguintes substratos:

1-xaxim desfibrado (testemunha)

2- Coxim

3- casca de Eucalpyptus grandis

4- mistura de coxim (50%) com casca de Eucalyptus grandis (50%)

5- mistura de coxim (70%) com e carvão vegetal (30%)

6- mistura de Eucalyptus grandis (70%) com carvão vegetal (30%)

7- mistura de coxim (38%), casca de Eucalyptus grandis (35%) e carvão vegetal (30%)

Os recipientes contendo os substratos estufados foram mantidos nas mesmas condições ambientes e foram realizadas amostragens periódicas para verificações diversas: perda de água em função do tempo, alteração da estrutura original em função do tempo, pH, concentração de macronutrientes e micronutrientes, média por planta de características de desenvolvimento vegetativo e floração, entre outros.

Entre os materiais estudados, o coxim é o que mais se parece visualmente com o xaxim e essa semelhança é interessante do ponto de vista da comercialização pelo efeito estético a que o consumidor está habituado. Com referência à densidade global, que se reflete no peso do vaso, nenhum substrato se mostrou mais vantajoso do que o xaxim enquanto que no coxim, seu peso constitui um problema para vasos suspensos e para o transporte. Por outro lado, o peso dos pequenos blocos auxilia a fixação da planta no vaso e o plantio de uma orquídea se torna mais fácil e rápido.

Os resultados verificados com o coxim confirmam que inicialmente não há grande retenção de água mas com o uso, o material adquire maior capacidade de permanecer úmido. O substrato que se conservou por mais tempo dentro da faixa de pH de 4,8 a 5,5 considerada ideal para cultivo de orquídeas, foi o coxim . Na mistura de coxim com carvão vegetal, o período em que o pH se conservou adequado foi mais restrito. O pH dos outros substratos não se enquadrou na faixa mencionada. Quanto à natureza de nutrientes, quando novo, ele se destacou, superando o xaxim novo nas concentrações de fósforo, cálcio, magnésio, boro, molibdênio e, principalmente, potássio.

O maior problema apresentado pela casca de eucalipto foi a alteração de sua estrutura, tornando-a, depois de certo tempo de uso, um substrato inadequado para o cultivo das orquídeas epífitas pela perda de porosidade indispensável à boa aeração. Neste aspecto, evidenciou-se a vantagem do coxim e do carvão vegetal.

O carvão vegetal, apesar de ser considerado um material praticamente inerte, apresentou concentrações significativas de nutrientes, com exceção de fósforo.

Deste estudo, concluiu-se que a casca triturada de Eucalyptus grandis pura não é adequada como substrato para as orquídeas epífitas. Dos substratos estudados, o coxim puro é o que reúne mais qualidades para substituir o xaxim.

Ele apresentou as seguintes vantagens em relação aos outros substratos propostos:
- aparência semelhante ao xaxim;

- facilidade de manuseio;

- aeração e drenagem boas;

- grande capacidade de retenção de umidade depois de algum tempo de uso;

- durabilidade;

- pH adequado;

- composição adequada de nutrientes após um período inicial de lixiviação.

Por outro lado, apresentou como desvantagens:

- apresentou maior densidade, o que encarece seu transporte e torna os vasos mais pesados;

- reteve pouca umidade quando novo, o que tornaria necessário deixá-lo imerso em água durante algum tempo antes de sua utilização(o coxim, fabricado atualmente, já sofreu modificações para aumentar sua capacidade de retenção de água);

- apresentou concentração inicial de nutrientes muito alta, que pode ser desfavorável para a orquídea

- ainda é um material relativamente caro e de disponibilidade restrita.

O preço é um fator de grande importância a ser levado em consideração na escolha do substrato.O coxim, no sul do País, é encarecido pelo transporte, já que é fabricado no Recife e precisa ser encomendado ao seu fabricante (*) mas é uma situação que se modifica com o tempo.

Com o objetivo de diminuir os custos, pode-se utilizá-lo em misturas com carvão vegetal, com casca triturada de Eucalyptus grandis ou com ambos os materiais embora essas misturas tenham sido inferiores quanto às outras vantagens citadas. A casca de eucalipto pode ser obtida gratuitamente e o carvão vegetal é vendido a preço relativamente baixo mas deve-se ressaltar que ele é fabricado, constantemente, a partir do corte de árvores que ocorrem em matas naturais, provocando sua devastação. Por outro lado, o preço do xaxim, cuja substituição se propõe, tem se elevado à medida que o material escasseia.

É necessário a realização de testes prévios com a espécie de orquídea a ser cultivada embora os resultados obtidos com o Dendrobium nobile tenham sido satisfatórios.

(*) O fabricante já conta com representantes em diversos estados do País: Brasília, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e naturalmente Pernambuco.






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