Texto extraído de tese apresentada à Faculdade Ciências Agrárias e Veterinárias do Campus de Jaboticabal da UNESP, para obtenção do título de Livre Docente na Disciplina de Produção e Utilização de Plantas Ornamentais do Departamento de Horticultura (l992).
Por outro lado, é de grande importância o cultivo de orquídeas por duas razões, primeiro porque as espécies, em estado silvestre, estão também ameaçadas de desaparecer sobretudo em função da destruição de seus habitats e segundo pelo interesse comercial que representa a venda destas plantas.
Em conseqüência, tornam-se necessários estudos com materiais que possam substituir o xaxim como substrato, contribuindo também para proteger tanto as espécies produtoras de xaxim como as espécies da família "Orchidaceae".
Sem um substrato firme e arejado que propicie o estabelecimento, crescimento e funcionamento das raízes, uma orquídea não pode absorver água e os nutrientes que necessita. Embora haja muitos materiais apropriados, a escolha é limitada pela disponibilidade a custos razoáveis e pela facilidade de obtenção. As qualidades básicas de um bom substrato devem ser: disponibilidade, preço acessível, facilidade de manuseio, capacidade de sustentar a planta, durabilidade (deve durar de quatro a seis anos), firmeza, ausência de toxidez e boa aeração.
O xaxim apresenta estas qualidades além de ser rico em nutrientes e é considerado até hoje, o substrato ideal para as orquídeas epífitas.
No Nordeste, a própria casca do coco vem sendo usado na cultura de orquídea, desde o século passado e o coxim é um produto semi-industrializado, feito da casca de coco (Cocos nucifera L), prensada, formando pequenos blocos em forma de paralelepípedo, bastões e placas. É um material que tem se mostrado promissor e pode vir a se tornar um produto importante para a economia do Nordeste tendo como matéria-prima um resíduo industrial das fábricas de fibra de coco, a bucha. A agregação deste resíduo foi obtida por Augusto Ferreira. Com isto, foram eliminadas as inconveniências da casca in natura e obtido um material sem aditivo, com forte hidrofilia que pode vir a ser o substituto do xaxim. De longa durabilidade, propicia um bom desenvolvimento e boa floração, fornecendo às plantas, dispensando adubação. Segundo seu fabricante, não se alcaliniza ao apodrecer e estabiliza seu pH em torno de 5,2 a 5,3, apresentando um pH médio de 5,53.
O presente estudo foi realizado durante 36 meses tendo o Dendrobium tipo nobile Lindl. sido escolhido como planta teste. Os experimentos desenvolveram-se em ripado com 50% de sombreamento, em Jaboticabal, São Paulo. Os objetivos foram os seguintes:
- caracterizar materiais de origem vegetal utilizados como substrato para cultivo de orquídeas epífitas quanto às propriedades físicas (cor, textura, densidade, perda de água e alterações de estrutura em função do tempo) e químicas (pH e concentrações de nutrientes);
- comparação do desenvolvimento de Dendrobium nobile nos diferentes substratos estudados considerando o xaxim como testemunha;
- recomendar os materiais mais adequados para substituir o xaxim.
Foram utilizados os seguintes substratos:
1-xaxim desfibrado (testemunha)
2- Coxim
3- casca de Eucalpyptus grandis
4- mistura de coxim (50%) com casca de Eucalyptus grandis (50%)
5- mistura de coxim (70%) com e carvão vegetal (30%)
6- mistura de Eucalyptus grandis (70%) com carvão vegetal (30%)
7- mistura de coxim (38%), casca de Eucalyptus grandis (35%) e carvão vegetal (30%)
Os recipientes contendo os substratos estufados foram mantidos nas mesmas condições ambientes e foram realizadas amostragens periódicas para verificações diversas: perda de água em função do tempo, alteração da estrutura original em função do tempo, pH, concentração de macronutrientes e micronutrientes, média por planta de características de desenvolvimento vegetativo e floração, entre outros.
Entre os materiais estudados, o coxim é o que mais se parece visualmente com o xaxim e essa semelhança é interessante do ponto de vista da comercialização pelo efeito estético a que o consumidor está habituado. Com referência à densidade global, que se reflete no peso do vaso, nenhum substrato se mostrou mais vantajoso do que o xaxim enquanto que no coxim, seu peso constitui um problema para vasos suspensos e para o transporte. Por outro lado, o peso dos pequenos blocos auxilia a fixação da planta no vaso e o plantio de uma orquídea se torna mais fácil e rápido.
Os resultados verificados com o coxim confirmam que inicialmente não há grande retenção de água mas com o uso, o material adquire maior capacidade de permanecer úmido. O substrato que se conservou por mais tempo dentro da faixa de pH de 4,8 a 5,5 considerada ideal para cultivo de orquídeas, foi o coxim . Na mistura de coxim com carvão vegetal, o período em que o pH se conservou adequado foi mais restrito. O pH dos outros substratos não se enquadrou na faixa mencionada. Quanto à natureza de nutrientes, quando novo, ele se destacou, superando o xaxim novo nas concentrações de fósforo, cálcio, magnésio, boro, molibdênio e, principalmente, potássio.
O maior problema apresentado pela casca de eucalipto foi a alteração de sua estrutura, tornando-a, depois de certo tempo de uso, um substrato inadequado para o cultivo das orquídeas epífitas pela perda de porosidade indispensável à boa aeração. Neste aspecto, evidenciou-se a vantagem do coxim e do carvão vegetal.
O carvão vegetal, apesar de ser considerado um material praticamente inerte, apresentou concentrações significativas de nutrientes, com exceção de fósforo.
Deste estudo, concluiu-se que a casca triturada de Eucalyptus grandis pura não é adequada como substrato para as orquídeas epífitas. Dos substratos estudados, o coxim puro é o que reúne mais qualidades para substituir o xaxim.
Ele apresentou as seguintes vantagens em relação
aos outros substratos propostos:
- aparência semelhante ao xaxim;
- facilidade de manuseio;
- aeração e drenagem boas;
- grande capacidade de retenção de umidade depois de algum tempo de uso;
- durabilidade;
- pH adequado;
- composição adequada de nutrientes após um período inicial de lixiviação.
Por outro lado, apresentou como desvantagens:
- apresentou maior densidade, o que encarece seu transporte e torna os vasos mais pesados;
- reteve pouca umidade quando novo, o que tornaria necessário deixá-lo imerso em água durante algum tempo antes de sua utilização(o coxim, fabricado atualmente, já sofreu modificações para aumentar sua capacidade de retenção de água);
- apresentou concentração inicial de nutrientes muito alta, que pode ser desfavorável para a orquídea
- ainda é um material relativamente caro e de disponibilidade restrita.
O preço é um fator de grande importância a ser levado em consideração na escolha do substrato.O coxim, no sul do País, é encarecido pelo transporte, já que é fabricado no Recife e precisa ser encomendado ao seu fabricante (*) mas é uma situação que se modifica com o tempo.
Com o objetivo de diminuir os custos, pode-se utilizá-lo em misturas com carvão vegetal, com casca triturada de Eucalyptus grandis ou com ambos os materiais embora essas misturas tenham sido inferiores quanto às outras vantagens citadas. A casca de eucalipto pode ser obtida gratuitamente e o carvão vegetal é vendido a preço relativamente baixo mas deve-se ressaltar que ele é fabricado, constantemente, a partir do corte de árvores que ocorrem em matas naturais, provocando sua devastação. Por outro lado, o preço do xaxim, cuja substituição se propõe, tem se elevado à medida que o material escasseia.
É necessário a realização de testes
prévios com a espécie de orquídea a ser cultivada
embora os resultados obtidos com o Dendrobium nobile tenham sido
satisfatórios.
(*) O fabricante já conta com representantes em diversos estados do País: Brasília, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e naturalmente Pernambuco.
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