Roberto Agnes
Sócio e Diretor Técnico do Orquidário Aranda




Roberto, dentro do contexto da discussão que gira em torno do substituto ideal do xaxim, já que a Dicksonia solewii, de onde ele é extraído, está em vias de extinção, o que está sendo feito neste sentido. O que você usam?

Atualmente usamos basicamente o xaxim puro ou misturado com cascalhinho em diversas proporções, dependendo do gênero.
Com a Cattleya, a proporção é de 1/3 de cascalhinho para 2/3 de xaxim, com Cymbidium, é meio a meio. Com as orquídeas de raízes finas, só usamos o xaxim puro. Com Vandaceous, não utilizamos nada, apenas amaramos nos cachepots de madeira.
Gostaria de deixar claro que estou abordando o problema de um orquidário comercial de porte, pois quando se trata de pequenas coleções de amadores o controle praticamente individual de cada vaso é fácil e pode ser efetuado. Neste caso, pode-se ter a coleção dividida em diversos tipos de substratos, em diversos tipos de recipientes. Mas, no nosso caso, assim como no dos outros orquidários comerciais, nós precisamos de uma uniformidade nas bancadas. Com mais de 150.000 plantas adultas, fora os seedlings, não há possibilidade de fazermos regas muito diferenciadas.
Por diversas razões, em Terezópolis, todas nossas plantas, com exceção de Vandaceous e Oncidium, são colocadas em vaso de plástico.
Já fizemos experiências com substratos alternativos e todas elas podem ser consideradas desastrosas. Experimentamos usar o cascalhinho puro, não funcionou, resseca muito. Tentamos o cultivo na casca de acácia, desastre absoluto. Em virtude do baixo teor de lignina e por se tratar de uma leguminosa, muito macia, com muito retenção de água e pouca oxigenação, a decomposição se processa numa velocidade surpreendente. Às vezes, em 6 meses, já se tornava uma massa sólida.
Foi feita uma mistura de cortiça, bolinhas de isopor, esfagno, de início foi muito bem mas depois a composição química utilizada na cortiça foi alterada e aí não funcionou mais.  A cortiça vendida é sobra do fabrico de rolhas e portanto recebe tratamento químico inadequado ao cultivo de orquídeas. Além disto, trata-se de material extremamente caro. Resolvido o problema de controle de produtos químicos, poderá funcionar numa coleção menor, mas em grande escala não seria viável economicamente.

E o esfagno, não é um bom substrato?

Agora já temos disponível o esfagno do Chile que é tão bom quanto o da Nova Zelândia, não esfarela como o nosso. Ele é um excelente substrato mas não para todas as orquídeas. Para a Masdevallia e outras orquídeas de raízes finas é fantástico mas sua decomposição é muito rápida, tem que ser trocado anualmente.
É excelente para recuperar plantas e para ser usado em vasos comunitários. O controle de rega tem que ser rígido. O problema é que também tem um desenvolvimento muito lento, não tem como ser reposto a curto prazo. Torna-se assim um substrato muito caro, inviável para utilização em grande escala.
Mas nesta procura, existem outras experiências que estão sendo ou já foram feitas. Nos Estados Unidos, a casca de abeto é muito usada, proveniente da região da Califórnia. Para se usar casca de árvores resinosas, é necessário se eliminar antes qualquer resina que possua. Parece que no sul do País, também vem sendo usada, funcionando muito bem mas ainda é muito caro. Já vi bons resultados com este cultivo.
A piaçava é um outro substrato que no início se mostrou interessante, mas o uso continuado provou que não funciona. Tem diversos inconvenientes, não tem retém umidade, provoca problemas de pele, é muito dura, ela machuca os dedos e a mão de quem manipula. Para se manipular 1 ou 2 vasos tudo bem, mas imagine manipular 12.000 vasos com um produto tão duro que inclusive não permite o uso de luvas de proteção. A luva teria que ser muito grossa para que a fibra não passasse através dela.
Quanto ao coxim, não posso falar sobre ele pois a Aranda ainda não o está usando. Trata-se ainda de um substrato muito caro.

Então, pelo visto, ainda não há um substituto para o xaxim?

Apesar de tudo, o xaxim ainda é a melhor alternativa mas tudo que é orgânico tende a acabar e por isto tornam-se cada vez mais caros.
Os substratos orgânicos já são ou estão se tornando inviáveis em termos de um grande orquidário. Isto é universal. A Austrália e a Nova Zelândia, onde há o cultivo com substratos orgânicos de espécies nativas, estão enfrentando o mesmo problema.

Quer dizer, não há saída?

No meu entender, mais cedo ou mais tarde, em algum momento, nós vamos começar a usar o substrato inorgânico. Nós vamos tomar o caminho que a Europa e Estados Unidos já tomaram. Nestes locais, são usados substratos inorgânicos, tipo lã de pedra e floral que é este material verde, derivado do petróleo, que as lojas de flores usam para fazer arranjo. Eles funcionam muito bem quando usados em coleções muito bem controladas, em ambientes muito organizados. São inadequados ao cultivo ao ar livre pois absorvem praticamente todas as substâncias, água, resíduos químicos de adubos, resíduos de qualquer remédio aplicado. O controle deste excesso tem que ser rigoroso. É preciso medir a presença dos sais minerais no substrato antes de adubar.
Quem acertou estes controles todos, como é o caso dos orquidários da Holanda, tem um excelente cultivo. Antes de os adotarmos, é preciso fazer as adaptações e as pesquisas no sentido de verificar como a planta vai reagir com a combinação de calor dos trópicos, umidade elevada e acúmulo de água salinizada.
Tem que se levar em consideração a alteração da capacidade da planta de absorver os sais minerais e a alteração da composição química destes sais ou seja, como elas agem e reagem sob diferentes condições.
Existem muitas diferenças do clima europeu e norte americano para o nosso e suas estufas tem um controle rígido de temperatura. Com o frio o metabolismo é mais lento, tem menor poder de absorção. Com a elevação da temperatura, isto se modifica mas só até certo ponto, acima de 27o C, a planta volta a metabolizar mais lentamente.
Isto tudo tem que ser estudado antes de adotarmos estes substratos. Eu tenho observado este fenômeno com os Phalaenopsis, apesar de serem plantas de clima quente, o excesso de calor afeta o seu desenvolvimento. No alto verão, suas folhas ficam menos túgidas. Como ele reagiria a um substrato novo que vai reter mais água.
Enfim , na minha opinião, não há como fugir. No futuro, teremos que usar os substratos inorgânicos porque todos os que são orgânicos vão desaparecer.




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