por Sergio Araujo



Num dos pontos da entrevista com Lou Menezes falamos a respeito de coleta de espécies nativas, o que me leva a indagar sobre como a questão da coleta está sendo vista pelo governo e pelos orquidófilos em geral.
Essa questão deve ser vista somente pelo lado quantitativo de plantas coletadas? Será que a coleta de cinco ou seis espécimens é menos danosa (ou mais tolerável) do que a coleta de uma grande quantidade?
Penso que se deva decidir e, em assumindo essa decisão, deixar de jogar tanta conversa fora. Deve-se coletar ou não, independente da quantidade? Se uma só pessoa coleta 300 espécimens ou se 30 pessoas coletam apenas dez espécimens, o estrago será igual.
A quem ainda importa se tal ou qual orquídea vai continuar nascendo em tal ou qual local?
Muitas orquídeas que são cultivadas em orquidários já não tem mais nada a ver com elas mesmas, caso tivessem permanecido em seu habitat. Nos orquidários as condições de crescimento permanecem imutáveis, ou são adaptadas para que a planta possa ter uma cor mais bonita ou uma forma mais arredondada. Caso tivessem permanecido em seu habitat, as condições do eco-sistema teriam variado ao longo do tempo e portanto estas plantas teriam certamente sofrido uma outra forma de desenvolvimento. Ao se comparar algumas espécies que ainda podem ser vistas em seu habitat com exemplares que foram levados para estufas, podemos verificar bem a diferença entre elas. Do ponto de vista natural, como classificar isto? Evolução ou deformação?
Por outro lado, se não tivesse havido alguma coleta, várias espécies de orquídea não mais existiriam.
Mas como determinar se tal orquídea deva ser coletada para ser depois reproduzida?
Pela quantidade existente no local?
Pela ameaça de destruição de seu habitat?
Por elas estarem em local de fácil acesso e portanto poderem ser coletadas por "qualquer um"?
Mas se esta preservação for feita principalmente por orquidários com intuitos comerciais? Isto justifica a coleta? Os orquidários comerciais coletariam, com a alegação de preservá-la , uma espécie que não fosse vendável?
Diante dos poucos(?) recursos alocados pelos governos para a atividade de preservação pode-se deixar este trabalho para as entidades governamentais?
Seria certamente a maneira correta, mas, na prática, sabemos que é pura ilusão.
Talvez, pessoas com notório saber botânico (comerciantes ou não) pudessem ser credenciadas pelo governo para poderem coletar espécies ameaçadas, desde que reportassem ao orgão governamental adequado o fato e entregassem um relatório contendo a descrição, o local, o nível de ameaça de extinção, etc. Deste modo, além de se ter algum controle sobre a coleta ainda seria possível fazer-se um cadastro dessas orquídeas e seus habitats, pois seria muito mais seguro a um coletor prestar contas ao governo do que ser punido, inclusive com prisão.
Partindo-se da constatação de que é impossível controlar a coleta, que só deveria ser feita por organizações científicas de pesquisa, como diferenciar a coleta "boa" da coleta "ruim"?
Onde está a verdade?





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