P
adre José Gonzáles Raposo, nascido em l9 de março de l905, faleceu em
novembro de l999.
Missionário Claretiano, de origem espanhola, estava no Brasil há mais
de 60 anos e aqui desenvolveu suas atividades pastorais. Além de escrever
livros sobre catequese, cumprindo a missão que escolheu para si, foi bastante
ativo na publicação de artigos sobre orquídeas em diversas revistas nacionais
(Boletim da Sociedade Brasileira de Orquidófilos, Boletim do Círculo Rioclarense
de Orquidófilos e boletim da Sociedade Campineira de orquídeas - hoje
fora de circulação e também no Boletim Caob e na revista Orquidário )
e estrangeiras (Orchids, Schlechteriana e Intermezzo).
Em suas visitas pelos
orquidários da natureza, como ele gostava de dizer, descobriu espécies
novas e as descreveu como a Encyclia reflexa Gonzalez , Cattleya
X extricata Gonzalez, Encyclia perazolliana Gonzalez
Encyclia
meneziana Gonzalez |
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Durante muito anos, prestou um inestimável serviço à
orquidofilia nacional e em seu legado nos deixou o "Dicionário
etimológico das orquídeas do Brasil" (1999), "Questões
Práticas de nomenclatura de Orquidácea" (1993)
e "A etimologia a serviço dos orquidófilos"
(esgotado).
Havia ainda planejado a publicação de seus relatos das excursões
orquidófilas que fez pelo Brasil, durante mais de 25 anos, em 3
volumes ilustrados denominados "Pelos Orquidários da Natureza".
Era sócio honorário do Círculo Rioclarense de Orquidófilos e da Associação
Lombarda Amatori Orchidee, com sede na Itália. Seu desaparecimento em
novembro do ano passado deixou uma lacuna difícil de ser preenchida. Dono
de uma vasta cultura, profundo conhecedor do latim, grego e línguas latinas
seus livros sempre foram uma contribuição importante para todos aqueles
que querem ir mais além no estudo das orquídeas.
Era com prazer e alegria que colaborava com diversos estudiosos que o
procuravam como Guido Pabst e Lou Menezes.
Essa generosidade e sua modéstia eram ímpares como deixa
transparecer no pequeno texto denominado "A etimologia das orquídeas",
escrito aos 92 anos de idade e publicado no Boletim Caob nº 27: "Para
acertar o nome de uma espécie desconhecida pressupõe-se
certa base de latim e grego, além do conhecimento mais ou menos
elementar de orquidologia. São de importância para os orquidólogos
o conhecimento dessas línguas, sobretudo do latim, cuja supressão
dos cursos regulares foi verdadeiramente lamentável. Quantos orquidólogos
o lamentam, pois a Botânica deve usar o latim clássico na
descrição das plantas e dos nomes com que são designados
gêneros e espécies. É por isso que frequentemente
devem recorrer aos conhecedores dessas línguas para resolver os
problemas de nomenclatura. Da nossa parte, sem deixar de reconhecer as
nossas limitações no conhecimentos dessas línguas,
estamos prontos para atender e servir os que necessitam da nossa humilde
colaboração, como assim é desde há não
poucos anos."
Muito me emociona a dedicatória que fez quando enviou um exemplar
de seu "Dicionário Etimológico dos Gêneros
e Espécies das Orquídeas do Brasil" quando nós
lhe oferecemos a oportunidade de anunciar seus livros em nossa homepage.
Neste texto,
nota-se que, apesar de sua idade avançada (faleceu aos 94 anos), era conectado
com as novas tecnologias.
O texto deixa também perceber seu veio poético ao falar da Internet e
sua vocação de missionário.
" ... Com satisfação oferece um exemplar desse
Dicionário... recém lançado, para que corra e voe
pela Internet, glorificando a Deus e convidando ao cultivo das flores
mais belas que Ele criou para nós..." (Rio Claro,
23.6.99).
Esperemos,
com ansiedade, a publicação dos volumes de "Pelos
Orquidários da Natureza" (relato das excursões
orquidófilas que fez pelo Brasil, durante 25 anos).
Lou Menezes, engenheira florestal, ecóloga e botânica do IBAMA, teve um
convívio bastante próximo com Padre José González.
Transcrevemos abaixo, a apresentação feita por ela no "Dicionário
etimológico das Orquídeas do Brasil", publicado
pela Editora Ave Maria :
"Ao longo de muitos e muitos anos, Padre José González tem prestado valiosa
e inestimável contribuição no estudo da flora de orquídeas brasileiras,
proporcionando tanto aos orquidólogos quanto aos orquidófilos a possibilidade
de conciliar a paixão por essas plantas com a ciência botânica propriamente
dita. Neste livro de belas ilustrações, através de sua profunda e impecável
erudição, o autor nos brinda com amplos conhecimentos de cunho lingüístico,
diretamente associados à origem e identidade dos gêneros, espécies e variedades
das orquídeas, obra que preenche uma lacuna no campo técnico-científico
desses fascinantes e encantadores organismo. Pelo seu elevado espírito
de humanidade, por sua devoção como amante da natureza, pelos seus estudos
e publicações, Padre José González ganhou também notoriedade internacional
e hoje é meritosamente considerado como o anjo sagrado da orquidofilia
do Brasil."
No prólogo dessa mesma edição Pe. González diz:
"O nosso desejo era apresentar, neste "Dicionário Etimológico
dos Gêneros e Espécies das Orquídeas do Brasil",
um trabalho mais completo. Para isso, teríamos de realizar diversas
viagens para consultar bibliotecas especializadas; mas, por falta de tempo,
pela nossa idade e, ultimamente por motivo de saúde, esse desejo
não pode ser realizado. É assim que tivemos de contentar
com um trabalho mais simples (ou simplificado), prescindindo de alguns
aspectos não tão necessários, como a indicação
de subfamílias, tribus e subtribus; suprimimos as espécies
de Habenária (como indicado no lugar apropriado) e, especialmente,
as ilustrações, salvo algumas poucas, a fim de evitar a
monotonia - para evitar atrasos na publicação do Dicionário.
Contudo, para que o leitor possa ter uma idéia da exuberância
de cores das espécies aqui ilustradas, apresentamos um encarte
colorido das fotos. Com essa simplificação, o uso do Dicionário
se tornará mais fácil para uma rápida consulta. Apesar
das deficiências, o nosso Dicionário Etimológico apresenta
uma nota muito especial, da qual carecem outras obras do gênero,
com a etimologia das espécies do Brasil. O nosso estilo crítico,
por sua vez, pretende fazer uma crítica construtiva (não
a critiquice, que detestamos), observando o que está errado nos
nomes dados aos gêneros e espécies e apontando o que seria
o certo. Os nossos leitores notarão que todos os nomes genéricos
e específicos de orquídeas que levam acentos quando são
formados por mais de duas sílabas; esse acento indica a sílaba
tônica do nome, que tanta dificuldade de pronúncia provoca
entre os orquidófilos. Nós esperamos que os orquidófilos
e amantes da natureza encontrem no nosso Dicionário um instrumento
de fácil manejo para saber como se escrevem e pronunciam tantos
nomes difíceis, como eles foram formados e os seus significados.
Glória a Deus, Autor desse mundo maravilhoso das orquídeas".
De Acacallis a Zygostates, Padre González nos introduz
à etimologia do gênero e das espécies brasileiras.
Transcrição de um exemplo (com indicação da
acentuação) Catasétum L. C. Richard. Nome
híbrido: gr. Katá, prep. Que indica direção
de cima para baixo, e lat. Seta, seda (cerdas) de porco, javali, etc.
Na Bot. Usa-se essa palavra para significar pêlo áspero nos
invólucros florais das gramíneas. O nome prende-se a duas
antenas (ou apêndices) próprias das flores masculinas, que
arrancam da parte inferior da coluna e funcionam como um verdadeiro gatilho.
Pois, mal o inseto toca nelas, instantaneamente realiza-se o disparo da
antera, que gruda fortemente sobre o dorso do visitante, agente inconsciente
da polinização. O gên. Catasétum contém
bem mais de cem espécies, a maior parte epífitas, cujo hábitat
se estende desde o México até a Argentina. Mas o centro
de irradiação é o Brasil, onde vicejam as seguintes
espécies; . albo-virens Barb. Rodr.: adj. Artif. Lat. De albus,
branco + virens, part. Pres. Do v. víreo, ser verde. O nome quer
expressar o colorido verde-albacento das flores (do Amaz.) . appendiculátum
... até . warscewíczii Lindley & Paxton: genit. De warscewízius
latiniz. De Warcewicz, sobren. De Joseph W.C. de W.
Transcrição
da última capa do "Dicionário Etimológico dos
Gêneros e Espécies das Orquídeas do Brasil"
- "A etimologia a serviço dos orquidófilos é
uma obra que une a erudição do especialista à sensibilidade
do amante da natureza. Em seus verbetes, acessíveis tanto ao botânico
quanto ao público em geral, o autor demonstra seu amplo conhecimento
lingüístico e cultural, rastreando na mitologia, na história,
na literatura e nas ciências naturais a origem e o significado dos
nomes das orquídeas brasileiras. Ele explica a etimologia, orienta
a pronúncia e aponta a grafia correta de cada nome científico.
Esta é uma obra indispensável para os que estudam, cultivam
e amam as orquídeas. O livro é acompanhado de belas ilustrações,
que tornam a leitura ainda mais agradável. Cabe ressaltar que,
apesar do rigor científico, o autor mostra aqui um sentimento religioso
de profundo respeito e admiração pela criação
divina. A Editora Ave-Maria, que publicou do mesmo autor: "A etimologia
a serviço dos Orquidófilos", convida os leitores a
essa nova viagem ao mundo das flores".
O lançamento do livro foi feito durante a exposição de l999, em Rio Claro,
SP e o Boletim Caob , nº 36, registrou o fato através da seção "Conversando
com o Leitor" , escrita por seu editor Oscar Sachs:
"Durante a exposição de Orquídeas de Rio Claro, SP, comandada pelo dinâmico
Dr. Humberto Antonio Epiphânio, tivemos o lançamento e a tarde de autógrafos
do "Dicionário Etimológico das Orquídeas do Brasil",
do Pe. José González Raposo C.M.F. Todos nós, na orquidofilia brasileira,
conhecemos o Pe. González e seu labor incansável, sempre atencioso e disponível
para auxiliar quem precise de seus conhecimentos profundos de latim e
grego e línguas neo-latinas. Todos conhecem a ajuda que tem prestado aos
nossos botânicos, no estabelecimento da diagnose latina fundamental para
qualquer descrição científica de plantas ou variedades novas. Essa cooperação
com a orquidologia brasileira bem desde os tempos de Guido Pabst, sendo
certo que no "Orchidaceae Brasilienses", um de nossos
livros básicos, muitas proposições do Pe. González foram aceitas e incorporadas
à obra. O livro agora lançado certamente ficará como um marco no estudos
orquidológicos brasileiros, pois é resultado de anos de pesquisa, de reflexão,
de análises comparativas, algumas vezes até mesmo de uma investigação
detetivesca para descobrir a possível intenção do classificador ao atribuir
um nome a uma pequena e indefesa plantinha. O "Dicionário etimológico
das orquídeas do Brasil" apresenta uma extensão relação de gêneros
e espécies de nossas orquídeas, explicando ou discutindo sua etimologia,
ou seja, o significado e a razão de seus nomes. São normalmente palavras
de origem latina ou grega. Quando o botânico classificador quis homenagear
uma pessoa, o Dicionário apresenta o nome latinizado e seu genitivo e
em muitos casos faz referência aos feitos e méritos do homenageado, dando
assim, para nós leigos, significado à homenagem prestada. Outro mérito
do livro do Pe. González é indicar a sílaba tônica de todos os nomes,
o que facilita sobremaneira aqueles companheiros orquidófilos, estudantes
de botânica e outros estudiosos, que procuram pronunciar corretamente
os nomes científicos. Podemos dizer que, após a edição do Dicionário,
no meio orquidófilo só comete silabada quem quer... A Caob e o Boletim
Caob querem, através desta breve resenha, prestar sua modesta homenagem
a esse extraordinário sacerdote e intelectual, que, a par de seus intensos
trabalhos no pastoreio de almas, encontrou tempo e disposição para contribuir
de forma densa e importante para a orquidologia e orquidofilia no Brasil.
Deus lhe pague, nosso querido Pe. González.
O Editor".
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Cyrtopodium
gonzalezii |
As transcrições
aqui apresentadas foram autorizadas por: Editora Ave Maria (através
seu presidente Padre Nestor Zatt), Boletim Caob (pelo editor, Oscar Sachs
Jr), Editora Três (pelo editor, Paulo Roberto Houch) e Lou Menezes.
Dr. Luiz de Araújo Pereira e Padre Elias Leite escreveram especialmente
para Orchid News.
Espécies
homenageando Padre Gonzáles em seu nome: Sarcoglottis gonzalezii
L.C. Menezes , de acordo com a autora da descrição o nome
da espécie foi dada em sua homenagem em face de sua valiosa contribuição
em seus estudos sobre a flora de orquídeas do Brasil. Encyclia
gonzalezii L. C. Menezes, Cyrtopodium gonzalezii L.C. Menezes.
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