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Por
diversas razões, o gênero Oncidium é considerado
um dos mais difíceis da família das Orchidaceae.
Em primeiro lugar, dada à semelhança existente entre diversas
espécies, muitas vezes se conclui que uma espécie ocorre
em dois habitats diferentes, quando na verdade tratam-se de duas espécies
diferentes embora bastante próximas uma da outra. Por outro lado,
as variações dentro de uma espécie levaram no passado
e levam eventualmente, ainda hoje, à descrição
de uma mesma espécie sob diversos nomes, provocando, desta maneira,
um aumento artificial do número delas. Finalmente, devido às
importantes disparidades existentes entre as suas diversas seções,
este gênero tem sido reestudado com freqüência e como
resultado destes estudos (inclusive com o uso do DNA), muitas espécies
que conhecíamos sob o nome de Oncidium, hoje em dia foram transferidas
para outros gêneros.
Para entender um pouco mais sobre as espécies que ocorrem no
Brasil, solicitamos a Carlos Eduardo de Brito, químico de formação,
estudioso do gênero Oncidium no Brasil e editor dos Anais da XV
Conferência Mundial de Orquídeas - Brasil l996, que nos
desse um depoimento que, a princípio, sairia em sua íntegra
em forma de entrevista nesta revista.
Devido à sua generosa disponibilidade de discorrer sobre o assunto
e devido ao grande conhecimento que possui, optamos por incluir seu
depoimento num tópico à parte, dentro do site.
Solicitamos a ele que falasse principalmente sobre as espécies
que provocam mais controvérsias com relação à
validade de sua nomenclatura, sinonímia e ocorrência no
Brasil.
Portanto não deixe de ler também "Considerações
de Carlos Eduardo de Britto" sobre o gênero Oncidium no
Brasil incluído no tópico "GÊNEROS"
em nosso site.
E
vamos à entrevista:
ON:
Como é sua história como orquidófilo e como orquidólogo?
O Oncidium foi seu primeiro interesse?
CB: Quando comecei a cultivar orquídeas, eu nem sabia o que era Oncidium.
Na minha sala de visitas, tenho uma estante com dois lugares para colocar
plantas. Ela foi projetada por um tio meu, que era um grande arquiteto,
que projetou inclusive o teatro do Copacabana Palace.
Eu tinha o hábito de dar muitas reuniões em casa e, antes
de uma delas, fui à Cobal e comprei 2 vasos de Dendrobium e coloquei um em cada lugar da estante. Passados 15 dias, dei outra
reunião e comprei mais dois vasos. As pessoas concluíram
que eu gostava de orquídeas e me chamaram para passar um final
de semana em Petrópolis para conhecer os orquidários.
Assim fui ao Binot pela primeira vez. Fiquei maravilhado e comecei a
comprar feito um desesperado, de tudo quanto era gênero: Maxillaria,
Laelia rupícola, não sei mais o quê e Oncidium.
Assim começou tudo.
Mas alguma coisa me atraiu para o Oncidium, talvez por ser, às
vezes, uma planta bem pequena com uma haste enorme, cheias de flores.
Resolvi me dedicar ao gênero e a estudá-lo. Comecei a comprar
cada vez mais Oncidium, queria todas as espécies.
Procurei livros a respeito e como não tinha, resolvi fazer.
Desde quando você estuda este gênero?
Comecei a estudá-lo há 14 ou 15 anos atrás e dei
a grande sorte de minha vida que foi ter conhecido Francisco e Cristina
Miranda.
Comecei
a ir às bibliotecas, Jardim Botânico e, na primeira vez
que fui à biblioteca do Museu Nacional, disse à pessoa
que me atendeu que procurava um livro sobre Oncidium. Ele logo
me perguntou por que eu não ia ao herbário Bradeanum,
disse que estava fechado, mas que ia ter uma visita e que ele encaixaria
meu nome. Assim, fomos para o herbário: uma moça, de quem
me esqueci o nome, que estudava plantas medicinais, Francisco, Cristina
e eu. Quando cheguei lá, o gênero Oncidium estava
emprestado aos Estados Unidos.
Comecei a conversar com Cristina e Francisco e acabei pedindo a ele
que me desse umas aulas particulares de botânica porque queria
aprender nomenclatura, partes da flor, etc. Ele me deu as aulas mas
não quis cobrar por elas. A partir daí, nós começamos
a viajar juntos e foram não sei quantos anos de viagem, de amizade,
de aprendizado. Tenho muita admiração pelo Francisco,
ele é o botânico, por excelência. Ele ouve você
e não rechaça de imediato o que você diz. A resposta
até pode ser um não, mas só depois de pensar. Conheço
botânicos que não aceitam outras opiniões, fazem
suas afirmações e consideram a conversa encerrada, assim
não dá.
Sempre observo que você é muito cuidadoso sobre a identificação
de alguma espécie de Oncidium (sobretudo com fotografia),
diz sempre: - parece que é tal espécie, mas preciso estudar
melhor antes de lhe responder. Pede para lhe trazer uma flor, a planta.
Sou
cheio de incerteza no gênero Oncidium.
Mas esta incerteza parte do conhecimento pois quando a pessoa não
conhece bem, nem chega a ter dúvida. Acho que ela surge do conhecimento
e não do desconhecimento.
Só
de Oncidium terrestre, falo terrestre e rupícola pois
é praticamente impossível se fazer uma distinção,
especialmente de Minas Gerais. Tenho 22 materiais de herbário
líquido, que ainda não consegui identificar. Preciso estudar
mais para definir se são espécies já descritas
ou se são espécies novas, o que é bem possível.
Veja, por exemplo, as espécies rupícolas de Laelia,
muito usadas em hibridação, que chamam mais atenção
do que Oncidium. A grande maioria delas foi feita descrita na
época do Pabst, bem recentemente ou seja, não foi na época
das viagens dos naturalistas do século XIX, que coletavam o material
aqui e distribuíam na Europa para serem descritas. O caminho
de coleta deles, embora eles tenham ido em 500 lugares diferentes, no
que se refere a Minas Gerais era mais ou menos o mesmo. Não exatamente
o mesmo porque naquela época não havia estrada, eram trilhas,
desvios. Tirante Saint Hilaire, que foi lá pelo sudoeste, lado
de Araxá e desceu para São Paulo, os outros: Martius,
Paul, Gardner, Warming (estudei sobre eles pois dei uma palestra na
Áustria sobre o assunto), todos eles foram à região
de Diamantina, habitat de muitas destas espécies de Laelia
e nunca as encontraram. A mesma coisa pode ter ocorrido com estas
espécies de Oncidium pois todas estas às quais
me referi são mais ou menos daquela região.
Então você acredita que nós ainda temos espécies
para serem descritas?
Eu tenho três, com certeza. Uma, que Francisco estava descrevendo
comigo, originária do Estado do Rio. Tem uma outra do Estado
de Minas que descobri na última viagem que fiz com ele, onde
quase caí de uma pedreira por causa deste Oncidium, um
despenhadeiro de 200m de altura. Era uma planta sem flor, plantei no
meu sítio, ela floriu este ano em março. É um Oncidium bonito apesar de ser muito pequeno. Ele é amarelo com marrom,
o calo do labelo é carmim com uns desenhos brancos, como se fosse
um mosaico. Esta é, seguramente, uma espécie nova e se encaixaria na secção planifolia ou na verrucituberculata.
O material já foi coletado, está no álcool mas
não o estudei ainda, pois estou no meio da minha tese e finalmente
tem um outro que Augusto Burle me mandou do sul da Bahia, da secção waluewa, que também é uma espécie nova.
Desta mesma secção tinha outra espécie originária
do Espírito Santo mas não sei se já saiu a discrição.
Sendo assim, ainda teremos surpresas com o gênero, com estas novas
espécies?
Sim, mas de todo modo, é preciso muito cuidado com a descrição
de novas espécies.
Para começar, quando se quer fazer alguma coisa de taxonomia,
é preciso conhecer os materiais-tipo, visitar os herbários
onde estão depositados. Como é que se pode descrever uma
espécie sem ver os tipos das outras espécies que já
existem, depositados nos herbários da Europa? Isto pode levar
a erros. Antes de descrever uma espécie que julga ser nova, o
botânico precisa ir aos herbários, ver o material-tipo
da espécie que ele julga mais próxima, verificar as variações
que ocorrem e no caso do gênero Oncidium, dando uma atenção
especial aos calos.
É preciso um estudo comparativo entre a bibliografia, os materiais
de referência e vivos de uma espécie. O material vivo tem
que ser examinado exaustivamente para que se possa compreender as variações
existentes e os limites desta espécie. Não se pode simplesmente
achar que é uma coisa diferente e descrever como espécie
nova.
Se se parece com tal espécie, é necessário
conferir a população daquela espécie pois existem
variações dentro da uma mesma população.
No caso destes terrestres, numa mesma haste têm-se flores diferentes.
Cansei de ve exemplos onde numa flor falta um lado do calo, em outras
o calo é um pouco mais complexo e em outras, um pouco mais simples.
No geral, é igual mas há estas pequenas variações.
Não se pode considerar espécies diferentes somente em
função de tais variações.
Isto não ocorre só com o gênero Oncidium.
Por exemplo, comparada com a Cattleya labiata tipo, 'Emília'
parece um híbrido. A Cattleya labiata normal não
tem aquela armação. Outro exemplo, a Cattleya walkeriana chamada de "cabeça de boi morto", aquela que se coloca
nas cercas no interior. Quase todas são assim, mas outras são
certinhas como a 'Feiticeira'. Muitos dizem que ela foi feita, mas já
vi Cattleya walkeriana do mato redondinha. Como vai se dizer
que é outra espécie por causa disto?
Sendo assim, você considera que é fundamental não
só estudar exaustivamente o material vivo mas também visitar
herbários?
É fundamental, exatamente para não se descrever uma planta
que já foi descrita com outro nome, se não vira esta grande
barafunda na taxonomia de orquídeas, especialmente na parte do
gênero Oncidium.
Para
agravar ainda mais, tem o problema do trabalho feito por um botânico
chamado Kraenzlin, que pretendeu fazer uma revisão do gênero
e que a meu ver, em alguns casos, não foi muito feliz, criando
uma confusão tão grande que levou a erros que ainda hoje
perduram. Este trabalho, denominado Monografia do Oncidium, foi publicado
em l922. Kraenzlin era um botânico europeu e tinha o material
de herbário em mãos, para usar e consultar. Ele fez uma
coisa que me deixou indignado no herbário de Reichenbach. Ele
escreveu em cima das exsicatas de Reichenbach mudando o que ele havia
feito. Uma falta de respeito pelo trabalho do outro, ele poderia dizer
que não concordava, que não era isto ou aquilo, mas não
podia rabiscar em cima da exsicata de Reichenbach. .
Que dúvidas você pode esclarecer nestas suas visitas aos
herbários?
Eu nem quero dizer o quanto me esclareceu, mas o quanto eu aprendi.
Nas visitas ao herbário eu aprendi muita coisa.
Além das visitas a herbários, você foi a muitos
habitats. Quais foram?
Fui a Minas Gerais, Estado do Rio e São Paulo. No Paraná,
visitei bastante mas ainda é pouco pelo que é preciso
fazer. Em Minas Gerais, fui a muitos lugares mas ainda tem muitos outros
porque, na minha cabeça, o berço das espécies de Oncidium que ainda preciso é Minas Gerais. |
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Grão-Mogol
fica a que altitude?
Não é tão alto quanto Diamantina embora tenha montanhas
altas. É Serra do Espinhaço também, mas é
um pedaço onde ela é um pouco mais baixa, subindo depois
de novo.
Onde você acha que o gênero Oncidium ocorre em maior
quantidade? Seria em Minas Gerais?
Não, diria Estado do Rio de Janeiro e Espírito Santo,
na Mata Atlântica.
A Mata Atlântica seria, digamos assim, o habitat preferido do
gênero Oncidium?
Ela tem muitas espécies, mas também não diria isto.
Existem as espécies da Mata Atlântica e as espécies
de região mais seca, de campos rupestres. Mas tem campo rupícola
na Mata Atlântica também.
No meio do mato, de repente, tem a pedra e ali tem um campo rupícola.
Este Oncidium novo do Estado do Rio que falei é de um
campo rupícola deste.
Você imagina O. varicosum em cima de uma pedra?
Imagina no meio de um pasto?
Eu tenho slides lindos destas ocorrências. Uma plantona florida
no meio do pasto onde debaixo do capim tem uma pedra. Ele estava na
pedra. A gente imagina uma planta epífita e acaba encontrando
como epífita e como terrestre no mesmo lugar.
E o O. crispum, você imagina na pedra também?
Aqui na Mata Atlântica você encontra
O. praetextum, o chamado
O. enderianum.
Ele nasce onde a semente cai.
Você imagina O. batemanianum num árvore? Também
já vi, a semente caiu ali,
por acaso, e germinou, foi adiante.
Enfim, é um gênero muito adaptável?
É bastante adaptável em termos de uma planta epífita
que vegeta como terrestre (rupícola) ou vice-versa. Se eu levar
uma planta de calor para o frio, eu vou matar a planta.
Mas e o O. flexuosum, por exemplo, que dá em qualquer
lugar?
Mas O. flexuosum é de calor e de frio.
É a mesma variedade?
Não é a mesma variedade, é a mesma espécie.
Veja o O. ciliatum, que já encontrei numa matinha de alagado,
em Diamantina e aqui na restinga. Também encontrei em Conceição
do Mato Dentro, 800m de altitude. São plantas menos sensíveis
ao clima. Têm outras que não conseguem mesmo.
E no cerrado, também ocorrem algumas espécies.
No cerrado mesmo ocorrem muito poucas, pois é muito seco.
Eu só encontrei O. cebolleta.
Num lugar chamado Olho d'água, por aí você já
vê que tem uma nascente, tem um lago com uma matinha em volta,
encontrei O. macropetalum. Trata-se na verdade de um micro clima.
Embora o O.macropetalum seja de clima seco.
O O. macropetalum também é encontrado em regiões
montanhosas, mais úmidas. Hoehne deixou isto registrado em seu
livro "Iconografia das Orquidáceas do Brasil". E O.
batemanianum também ocorre em Goiás?
Em Goiás, não sei. Ocorre em Minas Gerais, num local seco
na região de Diamantina, o tipo é de lá de uma
localidade chamada Rio Grande.
Em nossas pesquisas, nós encontramos registro de ocorrência
no estado de Goiás do O. batemanianum, O. cebolleta,
O. chapadense, embora contestado, O. orthostates,
O. fuscopetalum, O. hydrophilum, O. macropetalum,
O. pumilum, O. varicosum, isto não seria
em área de cerrado?
Depende. Por exemplo, as plantas de O. varicosum que vi originárias
de Goiás eram da Chapada dos Veadeiros. Como é chapada
deve ser um lugar alto, deve ser mais frio, com mais mata. Já
O. cebolleta, O. macropetalum, O. fuscopetalum são
de região seca, podem dar no cerrado. O. pumilum que é
outra planta bastante adaptável. Já vi vegetando
na pedreira, em Montes Claros, em mata úmida, em Carangola, em
mangueira, jaboticabeira, no estado do Rio.
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Você
fez o registro fotográfico destas suas visitas?
Tenho uma coleção de fotografia de plantas da Chapada
da Diamantina, Serra do Cipó, no habitat do O. spilopterum,
com milhares deles.
De uma maneira geral, o Oncidium não é agarradinho
feito Laelia que você tem que tomar cuidado para não
pisar. Ele dá mais disperso. Tem local onde não tem planta
nenhuma e de repente você encontra um núcleo com 8, 10
plantas. Você anda um pedação de novo até
encontrar um outro nucleozinho. Isto eu já verifiquei com diversas
espécies de Oncidium de pedreira, terrestres. Você
vai caminhando na pedreira, você vê um aqui, vê outro
lá e enquanto isto, você vê 50 Laelia no meio
do caminho. O que quero dizer é que o Oncidium não
é feito a Laelia rupícola que normalmente ocupa
a pedreira inteira.
Por falar em Laelia, o habitat de L. briegeri, onde já
fui tantas vezes, da última vez que fui lá não
tinha nada. Isto sem falar na mineração no habitat da
Laelia bradei. As plantas estão afogadas num monte areia.
No sul de Minas há um lugar com árvores grandes, não
arvoredos, crivadas de O. longipes, não há
espaço nem para colocar um dedo.
Sei de outra árvore crivada de "orelha de burro", não
sei qual a espécie. As espécies chamadas "orelhas
de burro" grandes são quatro: O. divaricatum,
O. pulvinatum, O. robustissimum e O.
sphegiferum.
Quando se fala em "orelha de burro", refere-se a estas quatro
que mencionei, mas têm também as "orelhas de burro"
pequeninhas,que são: O. harrisonianum, O. edwalii,
O. hians e O. kraenzlinianum
E as espécies terrestres? Elas são ainda muito confundidas,
são ainda mais difíceis.
Realmente pode-se confundir pois é muito complicado e eu me considero
engatinhando nos terrestres, rupícolas.
O O. batemanianum, por exemplo, posso reconhecer de olhos
fechados pois tem um calo bem característico, é mais fácil
de reconhecer embora tenha as suas variações.
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Você
citou o O. cipoense, você considera como uma espécie
válida?
Não tive a oportunidade de estudar esta espécie portanto
não sei lhe dizer se este nome é válido ou não.
De repente pode ser até que seja a mesma espécie, um sinônimo
de O. hydrophilum, mas também pode não ser.
Ainda não conheço, não vi o tipo, não vi
a descrição. Têm muito poucas espécies descritas
mesmo no livro do Pabst.
O Equador e América Central têm muitas espécies
e são regiões muito visitadas por botânicos americanos.
São 500 espécies e quando você vê, são
pequenas as diferenças entre uma e outra.
Aqui onde se têm diferenças tão gritantes, elas
não são conhecidas pois ninguém vem fazer isto.
Acho que ainda há muitas espécies de Oncidium para
serem descritas.
Como já disse, estas descrições devem ser feitas
a partir de consulta a herbários e não adianta ver um
só, tem que ver o material que está nos outros herbários
também.
E o Oncidium haematochrysum e O. haematoxanthum?
De uma maneira geral, os botânicos de antigamente se comunicavam
e tinham lido em algum lugar que Reichenbach tinha mandado um desenho
para o Lindley, do O. haematochrysum que ele tinha descrito
e O. haematoxanthum que são sinônimos de O. flexuosum.
Pensava que esses desenhos de Reichenbach fossem só dois, mas
são 4 ou 5 folhas enormes. Tenho um fotocópia delas, que
foi uma batalha para conseguir.
Posso dizer que, pelo que já tinha visto nestes desenhos, o O.
haematochrysum era praticamente igual ao O. flexuosum, mas
só consegui ter certeza quando fui a Viena e vi no herbário
o tipo do O. haematochrysum.
É exatamente igual ao tipo do O. flexuosum descrito por
Sims, em l821. É o próprio O. flexuosum.
Até O. flexuosum variedade haematoxanthum já
encontrei. Ele tem o pulvínulo amarelo-limão. A verdade
é que o formato do labelo desta espécie varia muito, pode
ser tetralobado ou não. Também o lobo frontal do labelo
se apresenta em formatos diversos. O que é importante é
a calosidade, aquelas agulhinhas e aquele pulvínulo pequeno que
ele tem, que começa acima do calo lá perto da coluna,
normalmente avermelhado.
Oncidium é um gênero meio complicado, sabe?
Já encontrei O. rivierianum, que até eu
mesmo achava que não existia.
Onde você encontrou?
No Orquidário Binot tinha uma bancada, no fundo da estufa grande,
que eu chamava de cemitério.
Muitas plantas que não se conseguia identificar ou as que estavam
morrendo ficavam ali. Comprei muitas plantas ali super barato, inclusive
algumas que estavam para morrer, mas como se tratavam de Oncidium,
elas me interessavam e eu comprava para tentar salvar.
Quanto ao O. rivierianum, infelizmente não sei
de onde veio, nem tenho fotografia dele mas tenho material de herbário.
Naquela ocasião eu levava as plantas para serem fotografadas
num estúdio fotográfico, mas o fotógrafo marcou
comigo e não apareceu. A flor acabou e a planta acabou morrendo
pois quando a comprei, já estava ruim.
Encontrei lá O. paranaense. Foi o único que vi,
tem uma flor pequenininha, meio dobrada, é engraçado,
mas é bonitinho, não é feio não. O único
que realmente não me disse nada foi o O. aberrans,
que trouxe do Paraná. A flor é tão pequenininha,
não é uma gorda inflorescência feito o O. pumilum,
que é bonita.
Você conhece O. schwambachii que ocorre no Espírito
Santo, um branco com calo amarelinho, perfumadíssimo, igual ao
O. pumilum e O. morenoi?
Não,
não conheço. Existe uma quantidade enorme de sinônimos
e muitas vezes nós nos sentimos confusos. Por exemplo, pelo que
pude pesquisar, o Brasil possui aproximadamente 15 das 26 seções
outrora existentes com aproximadamente 107 espécies, sem saber
ao certo pois há muitas divergências em torno de sinônimos.
Você encontrou esta informação no Pabst?
Principalmente no Pabst mas existem também outras publicações
sobre novas espécies e sobre a reclassificação
do gênero.
Mas não se esqueça que depois do livro do Pabst, algumas
espécies válidas já foram descritas, por exemplo,
O. schunkeanum e O. majevskyi que ocorrem no Estado do Rio de Janeiro
e no Espírito Santo. O tipo deste último veio do Espírito
Santo e acho que foi descrita por Toscano de Brito.
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O O. papilium, no Acre, outro é o O. urophyllum
(atualmente Tolumnia urophylla), da seção Oncidium,
dado para o Estado do Amazonas. Ainda não confirmei esta ocorrência
pois já recebi duas vezes material para exame mas quando floriu
era Ionopsis.
Então seria o único Oncidium equitante para o Brasil
embora as espécies da antiga secção Oncidium
(equitantes) migraram para o gênero Tolumnia e o O.
papilio tornou-se Psychopsis papilio?
É uma coisa, por exemplo, que eu não concordo. O gênero
Oncidium foi descrito a partir de 3 plantas completamente diferentes,
são os tipos do gênero Oncidium, é deles
é O. variegatum (secção chamada Oncidium
que deixou de ser Oncidium), outro é O. altissimum,
da América Central e mais um terceiro.
Eu não vou considerar esta mudança. O dia que eu fizer
este livro, se eu encontrar O. urophyllum, ele vai entrar como
O. urophyllum. No que diz respeito ao gênero, eu sigo a
monografia de Garay publicada na Bradea, Sinopse do gênero Oncidium,
já com a migração de diversos gêneros como
Miltonia e Brassia, mas O. papilio está
como O. papilio
Só nos resta esperar pela publicação de seu livro
sobre as espécies brasileiras. Quando ele vai sair?
No momento não posso me dedicar ao livro pois estou terminando
a minha tese. Pretendo publicá-lo com o máximo possível
de espécies.
O que mais você gostaria de falar?
Gostaria de dizer que tem muita gente no Brasil que me ajudou e ainda
tem me ajudado.
Recebo muita planta de gente do Paraná, de Santa Catarina, tem
o pessoal do Espirito Santo, o Érico de Freitas Machado, que
separa Oncidium diferente para mim. Tem o Nêgo plantas
e o pessoal do interior de São Paulo. Tem uma pessoa de Santa
Catarina, que eu nem conhecia. Tem Augusto Burle, de Pernambuco que
já me enviou plantas.Muita gente me ajuda, mas também
teve gente que já me fechou as portas.
Carlos Eduardo, apesar de poucas pessoas saberem, você foi o editor
dos Anais da XV Conferência Mundial de Orquídeas - Brasil
l996. Como foi esta sua experiência? Deve sido muito enriquecedora,
mas também muito desgastante, envolvendo muito tempo.
A experiência, para começar, foi totalmente diferente do
que eu imaginaria ser porque nunca pensei que seriam 8 meses de trabalho
e de trabalho duro. Por diversas razões, eu dispunha de muito
tempo livre para me dedicar a este trabalho.
O grande primeiro problema foi conseguir as palestras. Acabei não
conseguindo todas, de 88 vieram 79 ou 78. A maioria das que não
vieram foram de brasileiros, mas alguns estrangeiros também não
mandaram, apesar de eu ter insistido muito. Como era responsável
pela sala de horticultura, tive a sorte de pegar muitas palestras na
hora em que os palestrantes estavam saindo.
As palestras que tive dificuldade para conseguir, foram justamente daquelas
pessoas que não quiseram dar naquela ocasião. Uma delas,
por exemplo, disse que ia dar depois para o Francisco Miranda, pois
ele era seu contato, mas não deu. Uma outra pessoa, que foi muito
simpática comigo, me mostrou o papel todo rascunhado, disse que
iria passar a limpo e depois me dava. Eu o procurei até o final
da Conferência e nunca mais o vi. Helena Eyer, secretária
de Raimundo Mesquita, enviou diversas correspondências via fax
para ele. Nunca obtivemos resposta. Outra pessoa só enviou depois
de muitas ligações e só depois de informamos que
se a palestra não chegasse imediatamente, não entraria
pois não tínhamos mais prazo. No dia seguinte veio. Custei
também muito a ter acesso à lista das premiações.
O segundo problema foi com relação às traduções.
As que estavam em inglês e espanhol para o português e as
em português e espanhol para o inglês. Contratei uma tradutora
que domina muito bem a língua inglesa e que faz traduções
de livros. Eu calculava que teríamos um prazo maior para fazê-las,
mas como não recebia as palestras, o prazo foi bem menor, gerando
um estresse muito grande, fazendo com que a tradutora começasse
a trabalhar às 4 horas da manhã para dar conta de tudo.
Este tipo de trabalho envolve dificuldades bem específicas: regras
de nomenclatura, o que deve ou não ser escrito em itálico,
etc. Eu recebia o material traduzido em disquete e fazia a revisão.
Certas palavras podem induzir a erros, como "Laelia species"
que não quer dizer a "espécie Laelia"
mas sim uma espécie de Laelia, então temos que
ter uma atenção redobrada. Resultado: foram 8 meses de
faz, refaz, revê.
Li 12 vezes cada palestra, primeiro para conferir a tradução,
depois para conferir a datilografia, depois para conferir o que eu mesmo
tinha feito e assim por diante.
Uma outra dificuldade foram os slides. Nós tivemos que pedir
insistentemente para que nos enviasse. Alguns mandaram, outros não,
outros mandaram errado. A idéia era se colocar 5 fotografias
por palestras mas quando recebia o material, ia verificar, às
vezes, não tinha nada a ver com o assunto, por isto tem palestra
só com 1 foto.
Parece que o resultado final não foi exatamente o que você
esperava?
Posteriormente, recebi as provas de tudo com exceção da
parte de arte. Eu tive uma semana para rever isto, fiquei aqui em casa
direto, revendo tudo, tinha muitas coisas erradas. Eu havia feito tudo
de acordo com as regras da nomenclatura botânica mas tinham mudanças.
Finquei pé firme, exigí que tudo voltasse a ser como estava
e voltou. Todas as correções que fiz foram seguidas, não
tenho o que reclamar, com exceção de um Oncidium
orgyale (espécie da Colômbia) que estava de cabeça
para baixo e ficou. São coisas que acontecem. Não foi
de propósito, era muito trabalho. Foram 2 volumes grandes. Mas,
na parte de arte tive um problema. A prova não veio e recebi
a garantia de que tudo estava como eu havia mandado e que não
viera por engano. Infelizmente, não estava e isto deixou Cristina
Miranda e eu muito mal. Cristina era responsável pela parte de
arte. Enfim, não vi as provas da parte de arte. Só vi
pronto, já impresso.
Mas seu nome não consta da capa do livro e você foi efetivamente
o editor.
Nem
no prefácio do editor está meu nome. Ele aparece somente
na página 13, em letra bem pequena, na comissão organizadora
como editor dos Anais. Só quem ler esta página, com muita
boa vontade, vai tomar conhecimento.
Quem se interessa em saber da comissão organizadora da conferência?
Ninguém vai ler aquilo. Não há interesse.
Se você reparar, todos os títulos, textos, todas as palestras
têm o nome do autor, como o do Raimundo Mesquita que escreveu
sobre a cerimônia de abertura, mas do editor não tem.
Quando saiu, reclamei inclusive através do representante deles
aqui. Foi enviado e-mail para o dono da editora que respondeu que não
fora colocado porque era praxe não colocar. E isto não
é verdade. Quando ele veio aqui, ele mesmo me mostrou os Anais
de Glasgow, onde pude ver que não só o nome do editor
está na capa, como na orelha da capa saia a fotografia dele.
No meu caso, só queria meu nome na capa. Alegou também
que iria perder muito dinheiro com isto, mas ele entrou porque quis,
ele mesmo pediu para entrar, sabendo que ia perder dinheiro.
Ele disse ainda que iria mandar um selo para cada um colocar por dentro
do livro e nunca mandou. Recebi solidariedade de pessoas que compreenderam
a minha indignação, mas o livro está aí
e poucas pessoas sabem que eu fui o editor.
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