Maria de Penha Fagnani



A ocorrência de Cleistes na
cidade do Rio de Janeiro
Foto/Photo: Sergio Araujo
     

 
Orquídeas da cidade do Rio de Janeiro

Introdução

Na cidade do Rio de Janeiro é comum encontrar pessoas que procuram fugir da poluição e do caos urbano subindo até a Floresta da Tijuca, tida como a maior floresta urbana conhecida.
 
 
Dentro do Parque Nacional da Tijuca podemos seguir diferentes roteiros, e um deles leva à estátua do Cristo Redentor, um marco bem conhecido da nossa cidade.
 
Neste caminho encontramos,
nos barrancos da beira da estrada, aproximadamente à 600 m.s.m.,
algumas orquídeas que merecem destaque.

Embora muito vistosas quando floridas,
não são encontradas nas coleções por
serem de cultivo notoriamente difícil e pela pequena duração de suas flores, que
em algumas espécies duram somente um dia.
 
Cleistes L. C. Rich. (1818)
Subfamília Epidendroideae (Dressler)
Tribus Vanilleae
Subtribus Pogoniinae


Distribuição geográfica

Para o nosso país Hoehne cita 42 espécies e Pabst 47, mas são encontradas desde a Florida até o sul do Brasil. Parece ser um gênero ainda em evolução, pois são muito variáveis, desde o porte da planta e segmentos florais até o tamanho e forma das folhas. Atualmente são cerca de 50 espécies, mas no passado chegaram a somar 80. Muitas das que eram consideradas espécies hoje são apenas sinônimos.


Etimologia

O nome é derivado do grego "kleistos" (fechado) porque as flores geralmente não abrem amplamente.


Descrição

São herbáceas terrestres, de porte médio a alto, com caules delgados; eretos ou levemente sinuosos, folhas alternas rijas (quase coriáceas) de base amplexicaule.
A floração ocorre em Março/Abril e três meses depois já estão com capsulas bem desenvolvidas .Após a deiscência das capsulas, as folhas começam a fenecer e assim todo o caule e depois de alguns meses as Cleistes somem dos barrancos. Algum tempo depois elas ressurgem com uma nova frente emergindo de raízes tuberóides nodulares.
G. Pabst em "As orquídeas do Estado da Guanabara" assinala cinco espécies para a cidade do Rio de Janeiro, todas encontradas na Floresta da Tijuca.
No caminho para a estatua do Cristo Redentor identificamos duas espécies: C. libonii (Rchb. f.) Schltr. e C. macrantha (Barb. Rodr.) Schltr.


 
C. macrantha. Photo/Foto: M.Penha Fagnani
C. libonii - Photo/Foto: M.Penha Fagnani
 
C. macrantha
C. libonii

  Principais diferenças entre as duas espécies

1 -
C. libonii- caule de até 80 cm. de altura , folha elípticolanceolada, extremidade acuminada.
C. macrantha- planta mais robusta, com caules mais longos, folhas mais largas e de forma ovolanceolada
2 -
na C. libonii a flor é roxa e na C. macrantha a coloração é rósea.
3 -
nas duas espécies os sépalos tem aproximadamente 7 cm. de comprimento e pétalos um pouco menores, mas na C. macrantha os pétalos são mais largos.
4 -
Ambas tem labelo trilobado, sendo que na C. macrantha o labelo é mais largo.
5 -
Diferem pelo lobo mediano do labelo:
- na C. libonii é sempre mais comprido do que largo, extremidade aguda.
- na C. macrantha o lobo mediano é sessil e redondo.
6 -
C.libonii é relativamente freqüente.
C. macrantha é rara (no local pesquisado).

Polinização

As Cleistes não oferecem néctar, mas são visitadas por abelhas que procuram alimento. A estratégia de polinização parece ser a de falsa recompensa, embora tenha sido encontrada com ovários inchados e flor ainda totalmente fechada (cleistogamia).
São consideradas Epidendroideae primitivas por Dressler, pois possuem antera incumbente e duas políneas macias (granulosas), tendo sido antes classificadas como Neottioideae por Garay. Pertencem a um dos grupos de orquídeas em que são necessários mais estudos para esclarecer múltiplos aspectos ainda desconhecidos de sua biologia




Referências bibliográficas

Dressler, R. L. 1993 Philogeny and classification of the Orchid family. Dioscorides Press. Portland, Oregon.
Hoehne, F.C.1940 Flora Brasilica vol. 12, 1 Departamento de Botânica do Estado São Paulo, Brasil 210-238
Miller, David &Warren, Richard 1994 Orchids of the high mountain Atlantic Rain Forest in Southeastern Brazil Salamandra Rio de Janeiro, Brazil 38-44
Pabst, G. F. J.& Dungs, F. 1975 Orchidaceae brasilienses vol. 1 Brücke-Verlag Kurt Schmersow. Hildesheim, Alemanha. 120-121
Pabst, G.F.J. 1966 As Orquídeas do Estado da Guanabara. Revista Orquídea, vol. 28, 2.112-113


Agradecimento:

Mário Abreu de Almeida


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