por Delfina de Araujo


 
Sempre que se fala em orquídeas brasileiras, é preciso e é inevitável se falar de Guido João Frederico Pabst.
Nasceu em Porto Alegre em 1914 e faleceu no Rio de Janeiro em l980, quando ainda não havia completado 66 anos.
Num país onde a literatura sobre orquídeas, e sobretudo sobre as brasileiras, é muito dispersa, Guido Pabst foi um pesquisador que, além de publicar cerca de 200 trabalhos, reuniu em dois volumes, um material que englobou todas as ocorrências (registradas até então) no Brasil. Embora saibamos que há algumas correções a serem feitas e gêneros que foram desmembrados ou espécies que migraram para outros gêneros, passados tantos anos, este livro continua sendo a grande referência para todos que se interessam pelo assunto.
Levantamentos de grande importância foram executados por ele e naturalmente serviram de base para o seu livro.
 
Sobre o estado de Santa Catarina, em l960, publicou uma série de artigos na revista Orquídea, sob o título de "Contribuição ao conhecimento das orquídeas de Santa Catarina e sua dispersão geográfica".
É também do mesmo ano e publicado na mesma revista, "Novas contribuições para o conhecimento das orquídeas da Serra do Cachimbo".
Em l966, publicou, também na mesma revista, "Orquídeas do Estado da Guanabara", além disto, relacionou 37 espécies de orquídeas do atual Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (Antigo Parque Nacional de Tocantins)
Além de fundador do boletim "Bradea" e ativo colaborador da revista "Orquídea", teve seus artigos publicados em outros periódicos como:
 
Orchid Journal, Arquivos do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Arquivos do Jardim Botânico de São Paulo, Boletim do Impabo, Orchidee, Sellowia, Die Orchidee, Oreades, The Orchid Review, Orchid Digest e alguns outros.
Seus primeiros trabalhos publicados datam de l950:
"Colhendo Orquídeas no Rio Grande do Sul", ORQUÍDEA 12(4): 138-142 e
"Notas sobre Polystachya estrelensis" , ORQUÍDEA 12(5): 167-169 e esta intensa atividade foi até l980, às vésperas de seu falecimento, quando já contava com cerca de 200 artigos publicados.
Conforme ele mesmo se definiu, desde pequeno tinha uma inclinação inata para a sistemática e não se conformava em aceitar simplesmente os nomes, queria saber por que uma planta era Laelia, Cattleya ou Brassavola. Ele aceitava perfeitamente que muitos de seus companheiros não compreendessem seu gosto em examinar flores, às vezes microscópicas, estudar sua morfologia, fazer comparações com outras espécies, estabelecer diferenças genéticas e específicas. Pabst tinha uma grande preocupação de estudar as espécies menos conhecidas visando principalmente elucidar aquelas consideradas críticas e aquelas que são de interesse quase exclusivamente botânico, como é o caso da grande maioria das orquídeas brasileiras. Para isto se valia do estudo de tipos, isótipos e coleções antigas, obtendo colaboração do Instituto de Botânica do Estado de São Paulo, assim como do Departamento de Botânica do Natuurhistoriska Rijmuseet de Estocolmo, Suécia.
Em artigo publicado na revista Orquídea em julho agosto l950, ele fala sobre o "pequeno raio de ação de minhas excursões e a exiguidade de tempo disponível para esta atividade". Apesar desta afirmação, há relatos de viagens botânicas que fez através do país, como a feita a Minas Gerais, além das excursões feitas em seu estado, Rio Grande do Sul.
Aproveitava seu tempo livre para fazer excursões nos matos dos arredores da cidade do Rio de Janeiro e já em l950, havia conseguido juntar cerca de 500 espécies e diferentes variedades.
  Physosyphon parahybunensis
Numa destas incursões, encontrou Physosyphon parahybunensis que Barbosa Rodrigues havia descrito no século 19 com o nome de Lepanthes parahybunensis.
Depois disto não havia na literatura nenhum outro registro desta espécie.
Generoso, sempre colocava seu conhecimento à disposição de todos que tivessem alguma orquídea para ser identificada.
O Herbarium Bradeanum foi fundado por ele em l958 com o apoio de um grupo de botânicos.
 
Como toda instituição deste gênero no Brasil, as dificuldades eram enormes e graças à sua ação constante junto às autoridades e órgãos governamentais e também ao apoio financeiro que ele mesmo dava quando cobria as despesas de seu próprio bolso, o Herbarium subsistiu.
A partir de l969, passou publicar um boletim com o nome de "Bradea", uma homenagem a Alexandre Curt Brade com quem estudou a sistemática das orquídeas.
Associou-se, no Brasil e no mundo, aos principais organismos ligados à Botânica: Museu Botânico da Harvard Universty, Academia Brasileira de Ciências, Linnean Society of London, Organização Flora Neotrópica, Comité Técnico Latino Americano de Orquidologia, International Association for Plant Taxonomists, Sociedade Botânica do Brasil, American Fern Society, Sociedade Botânica do México, Sociedade Brasileira de Orquidófilos e muitos outros.
Pabst tinha um sonho: poder se dedicar integralmente ao estudo das orquídeas e ao Herbarium depois de aposentar.
Seu principal e imediato projeto era dar prosseguimento à obra de Frederico Hoehne, com o estudo das orquidáceas que não haviam sido incluídas na obra "Flora Brasílica". Tendo pleiteado uma bolsa no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, já a havia obtido.
Sua morte interrompeu grandes projetos.

 
Sua principal obra:
   
 
Remontando um pouco na literatura concernente às espécies brasileiras, encontramos como primeira obra abrangente a monografia de Alfred de Cogniaux, na Flora Brasiliensis de Martius. Esta monografia contou com Barbosa Rodrigues como colaborador que cedeu inclusive suas pranchas. Depois, encontramos estudos realizados por Rolfe, Porsch, Kraenzlin, Schlechter, Loefgren, Hoehne, Brade. Paulo de Campos Porto e Alexandre Curt Brade publicaram um índice com as espécies novas e alterações ocorridas entre 1907 e l932. Posteriormente Brade e Pabst atualizaram este índice até l950. Na década de 40, foram impressos os primeiros volumes da Flora Brasilica, de Frederico Carlos Hoehne, um marco na literatura orquidófila brasileira, incluindo quase a metade de todas as orquídeas brasileiras. O objetivo desta obra era a atualização da Flora Brasiliensis, de Martius. Os outros volumes seriam organizados por Guido Pabst, Brieger e Bicalho, mas, infelizmente, Pabst não teve tempo de fazê-lo.
Mas como o objetivo foi apresentar uma obra de conjunto ilustrando todas as orquídeas no País, já que era grande o número de publicações avulsas sobre o assunto, ele nos legou "Orchidaceae Brasilienses", em dois volumes que escreveu juntamente com F. Dungs, em l975.
 
 

Este livro foi, na verdade, preparado ao longo de seus anos de estudo, com revisão de gêneros e de espécies, respeitando as regras botânicas, fazendo um levantamento de sinomínia. Os gêneros mais ricos em espécies foram separados em secções agrupando espécies com caracteres comuns.
É uma obra ricamente ilustrada por dois dos maiores nomes em ilustração botânica, o brasileiro Samuel Salvado e a inglesa Margareth Mee

As espécies mais ornamentais estão ilustradas, assim como os híbridos naturais.
Os desenhos em preto e branco, mostrando os segmentos dissecados, como é de praxe, são dele mesmo e de Alexandre C. Brade




 
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