Ocorrência de Cyrtopodium polyphyllum (Vell) F. Barros ex Pabst, Epidendrum denticulatum Barb. Rodr. e Catasetum sp. nas areias da Barra da Tijuca.
Não importa se o conheçamos pelo nome de Cyrtopodium paranaense Schltr. ou Cyrtopodium polyphyllum (Vell) F. Barros ex Pabst, até mesmo "Sumaré" ou "Cola de Sapateiro", o fato é que esta espécie está presente em quase todos os estados costeiros do Brasil, a saber: Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, assim como no Distrito Federal e a Amazônia brasileira, no Estado do Pará, entre outros. |
O Cyrtopodium polyphyllum apresenta flores pequenas (a partir de 2,5cm não chegando a 3,5cm de diâmetro) com as pétalas e sépalas amarelo-esverdeadas e o labelo bem amarelo apresenta granulações vermelho-alaranjado. |
Esta espécie cresce nas areias escaldantes que recebem sol e vento o dia inteiro, mas debaixo da camada de areia há uma terra preta |
|
No
entanto, surge também como rupícola nas encostas de baixa altitude
e até mesmo distante do litoral (Lou Menezes, Cyrtopodium polyphyllum,
in Orquidário, Volume12, nº4, l998) e é cultivado por muitas
pessoas como epífita (em xaxim). Segundo nos informa Pabst (Orquídea - Set-Outubro l966), em razão dos ventos na restinga, as plantas vão sendo soterradas pela areia e tendem a colocar raízes nos entrenós e brotos vegetativos no meio dos pseudobulbos. Esta espécie fora descrita por Vellozo em l827 sob o nome de Epidendrum polyphyllum e foi publicada na Flora Fluminense no mesmo ano. Em l920, Schlechter a descreveu como Cyrtopodium paranaense Schltr. Em l994 Fabio Barros publicou na "Acta Botânica Brasileira" com o nome de Cyrtopodium polyphyllum (Vell.) F. Barros ex Pabst porque ele já havia reconhecido a propriedade desta nomenclatura. Tudo indica que a restinga de Jacarepaguá e Barra da Tijuca foram um habitat privilegiado desta espécie, infelizmente a expansão imobiliária fez com que quilômetros destes habitats fossem (e ainda são) impiedosamente destruídos sem que nada fosse feito |
Apesar disto, este Cyrtopodium resiste bravamente, na primeira visita que fizemos a um destes habitats remanescentes, nada encontramos a não ser um pseudobulbo
queimado num local onde o trator havia passado recentemente seguido de uma queimada. |
|
Um
ano mais tarde, voltamos ao mesmo local e qual não foi a surpresa de encontrarmos
dezenas deles floridos misturados com Epidendrum denticulatum Barb. Rodr..
Era o auge de sua floração, época do Natal, e o espetáculo
provocado pela mistura de suas flores amarelas com as flores rosadas ou mais escuras
(quando estão mais velhas) do Epidendrum denticulatum Barb Rodr.
era muito bonito. |
Em outro local, bem próximo deste, além destas duas espécies, encontramos também um único exemplar, lindo, exuberante, de Catasetum gardneri. Passados 3 anos, eu sempre me pergunto se ele ainda estará lá ou se em seu lugar há um play-ground, uma piscina ou simplesmente nada. |
|
O
Epidendrum denticulatum Barb. Rodr. também ocorre em diversos estados
do Brasil, a saber, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São
Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, entre outros. Sua dispersão
é bastante generosa na cidade do Rio de Janeiro e ainda podemos vê-los
florescer no morro da Urca, na Barra da Tijuca e na Restinga de Jacarepaguá.
A lista de registro de ocorrência é bem longa: Praia Vermelha, Avenida
Niemeyer, Alto da Boa Vista, Corcovado, Av. Sernambetiba, Pedra de Itaúna,
etc... É constatada sua presença também na Restinga de Massambaba, estado do Rio. |
|
|
Consultando o famoso fichário Pabst
(veja Orchid News nº 12), encontramos
observações de variações muito interessantes, as plantas que vegetam (ou vegetavam) na Praia Vermelha diferem daquelas que vegetam (ou vegetavam) na Av. Niemeyer quanto ao número de calos do labelo, tamanho das hastes florais, consistência da folha e época da floração. Suas flores são de um roxo bem suave (rosa quase lilás) e apresentam aproximadamente 1,5cm de diâmetro. Suas sépalas são oblongo-ovalatas com 7mm por 4mm e as pétalas são mais estreitas. O labelo é soldado com a coluna no vértice deste. |
Pode apresentar de 3 a 5 calos brancos, pequenos, redondos e é trilobado
trazendo pequenas barbelas nas extremidades dos lobos. Sua antera é verde. Sua haste é cilíndrica e atinge de 50cm a 60cm. Suas folhas são sesseis, abertas, coriáceas, oblongo-ovalatas, pouco agudas e tem 5cm por 1,5cm de largura. Apresenta rácimo de 20cm com pequeno cacho apical de 5 a 8 flores abertas simultaneamente. À medida que as flores antigas vão murchando, novos botões vão se abrindo. |
Floresce
nos meses do verão e outono, dependendo do local. Muito confundido com o Epidendrum ellipticum Grah. a principal diferença está na calosidade do labelo, no Epi. denticulatum ela é branca e composta de 3 (ou 5 conforme constatado por Pabst) excrescências ovoides e distintas, na outra espécie, a calosidade é amarela e lobada. |
Quanto
ao Catasetum, fica a dúvida: seria o Catasetum gardneri Schltr.
ou seria Catasetum discolor Lindl? Para Pabst, seriam sinônimos, para alguns estudiosos, são duas espécies diferentes. Catasetum gardneri Schltr. ocorreria desde estado do Rio de Janeiro até o Pará e Catasetum discolor Lindl. apenas nos Estados do Amazonas e Pará (Marcos Antonio Campacci, in Flora Brasileira, Orquídeas (1), Cd rom). Segundo Kleber Lacerda (ver entrevista neste número) não há como confundir estas espécies. O Ctsm. gardneri (conhecido como Ctsm. discolor var. fimbriatum) ocorre com hábito terrestre no litoral do Nordeste e Sudeste do Brasil, tem flores menores e as flores femininas são pequenas e caracteristicamente alongadas e o Ctsm. discolor é uma espécie predominantemente amazônica mas ocorre em outros tipos de vegetação de áreas vizinhas no Brasil e Venezuela e suas flores femininas são globosas e muito maiores Sob o nome de Catasetum discolor var. fimbriatum, esta espécie foi encontrada: |
Em l965, por Dressler, na Reserva Biológica de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro; em l974 pela Sra. R. Kautsky, na Praia do Sol, no Espírito Santo; em l977, por Angelo Pires, em praia no Município de São Mateus, no Espírito Santo e em l972, na Restinga de Jacarepaguá, na areia. Foi constatada também sua ocorrência nas proximidades de Friburgo, portanto longe da praia, conforme informações contidas nas fichas de Guido Pabst. Esta espécie tem o labelo longamente projetado para frente, ápice todo arredondado com longos cílios carnosos. Suas flores são amarelo-claras ou verdes. com aproximadamente 3cm de diâmetro. Maria da Penha Fagnani, em seu trabalho denominado "Orquídeas da Restinga de Massabamba, II " juntamente com Carlos Ivan da Silva Siqueira, publicado no Volume7, nº 2 da revista Orquidário, além de nos informar que faz parte do grupo dos mais primitivos do gênero pois possui apenas rudimentos de antenas, traça um pequeno perfil de seu habitat naquela região: " ... Encontramos uma pequena população terrestre vegetando numa depressão próxima às dunas, cujo solo, ao exame superficial, parece ser mistura de argila com areia. A área encontra-se periodicamente alagada..." |
|
|
Bibliografia 1) L.C. Menezes "Cyrtopodium glutiniferum e Cyrtopodium polyphyllum (Vel.) L. C. Menezes", Revista Orquidário Volume 12, nº 4, l998 2) L.C. Menezes, Genus Cyrtopodium, Espécies Brasileiras, 2000 3) Orchidaceae Brasiliensis - G. F. Pabst & F. Dungs, Alemanha, l977, Vol. I 4) Orquídeas, volume 28, l966, Orquídeas do Estado da Guanabara. 5) Iconografia de Orchidáceas do Brasil, Hoehne, Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, l949 6) Flora Brasileira Orquídeas (1) - 2.000 - Marcos Antonio Campacci - CD room |