O Brasil possui cerca de 3.000 das mais de 26.000 espécies de orquídeas do mundo; o Estado de Minas Gerais ainda pode orgulhar-se do privilégio de abrigar muitas delas. Entretanto, cada vez mais encontram-se ameaçadas de extinção por fatores que incidem sobre seu meio, devido à expansão populacional e conseqüente utilização intensiva e não-sustentada de recursos naturais, e pela coleta predatória que atinge aquelas de maior valor comercial.


Como grande parte das orquídeas vive sobre árvores e palmeiras, por isso sendo chamadas "epífitas", a destruição da vegetação nativa (florestas, cerrados, campos rupestres) também as elimina.
O uso das nossas áreas para pastagens, agricultura e fornecimento de carvão para as siderúrgicas tem reduzido implacavelmente a cobertura vegetal nativa; Minas Gerais, para citar um mau exemplo, tem hoje apenas cerca de 1,5% das florestas originais, um dos piores índices do Brasil.
 

 
  - a mineração a céu aberto, com escarificação da superfície do solo, elimina principalmente as orquídeas rupícolas (que vivem sobre rochas). Especialmente no quadrilátero ferrífero (*) do estado de Minas Gerais, onde encontram-se espécies raras e exclusivas no mundo, já se registram casos de extinção de variedades de orquídeas

  Aqui já foi hábitat de Laelia milleri.

 
A mineração de

ouro e diamante

também contribui

para eliminar as

orquídeas das margens

dos rios, desde há

mais de dois séculos
 
 

 

destroem tanto orquídeas que vivem no solo quanto em árvores.
Praga nacional, as queimadas para intenções agropecuárias ainda são um importante fator de destruição da flora e fauna, sendo rotineiras também as queimadas criminosas em parques e reservas ecológicas.


QUEIMADA EM CAMPO RUPESTRE
Vellozia onde havia L. liliputiana Pabst e Sophronitis brevipedunculata (Cogn.) Fow.


Laelias queimadas na canga (**)
 

 
as barragens construídas para usinas hidroelétricas inundam as matas ciliares, justamente onde estão mais concentradas as orquídeas, devido à umidade ambiente. Minas Gerais tem grande número de usinas e enorme área inundada, sendo que nunca foi feito durante o enchimento das mesmas um trabalho satisfatório de salvamento de espécies.



comerciantes inescrupulosos, de vários estados e até do exterior, coletam seletivamente muitas plantas - obviamente as de maior valor comercial - até em parques ecológicos, e assim já causaram a extinção de algumas espécies e variedades. Infelizmente, a fiscalização é absolutamente ineficiente. A coleta conscienciosa, feita por colecionadores, de alguns exemplares mais raros, entretanto, às vezes é até útil para a preservação pois permite a reprodução artificial impedindo assim o desaparecimento de algumas variedades.





Cabe aos seus aficionados desta família botânica, organizados em associações pelo país, fazer constar em seus estatutos e regimentos resoluções claras e condicionais de âmbito preservacionista, que sejam cumpridas por todos os mais envoltos no assunto, e propiciar à população em geral conhecimentos e participação em ações tais como:


através de cursos periódicos de iniciação ao cultivo de orquídeas, cursos avançados e palestras, divulga-se à população os meios para obter sucesso com suas plantas, além de conscientizar sobre a proteção aos hábitats. Ensinando como obter plantas cultivadas, por permuta ou compra de fontes legais, desestimula-se a coleta indiscriminada e a venda de plantas nativas por comerciantes inescrupulosos. A reprodução artificial é um processo para profissionais, mas com a divulgação dos métodos cada vez mais pessoas se dedicam a essa tarefa, a maneira mais eficiente de evitar a extinção de orquídeas, pois disponibiliza plantas selecionadas, sadias, de alta qualidade e raras na natureza., evitando coletas, geralmente dispendiosas e infrutíferas. Bom exemplo vem do Rio Grande do Sul, onde plantas que caminhavam para a extinção, como a Laelia purpurata - Flor Nacional Brasileira - hoje estão protegidas, pois já foram tão amplamente reproduzidas artificialmente que é possível comprar a baixos preços plantas de variedades antes raras.


é uma atividade ainda incipiente reintroduzir espécies de orquídeas extintas em determinados hábitats, principalmente em parques e áreas protegidas, para que aí voltem a reproduzir-se naturalmente. Está em andamento um trabalho junto a empresas mineradoras para manutenção de áreas de proteção nas minas para as quais se possa transferir plantas das áreas que serão degradadas, e, melhor ainda, recompor áreas exploradas com vegetação nativa, inclusive orquídeas. As mudas são obtidas através do cultivo de sementes e devem ser sempre de espécies originalmente existentes na região.


consiste em salvar orquídeas de áreas que serão destruídas, como na abertura de estradas, minas e áreas inundadas de represas, para que sejam mantidas sob cultivo artificial ou deslocadas para áreas seguras. Infelizmente, esta que deveria ser uma boa forma de ajudar na preservação não é muito executada na prática, pois os responsáveis pelas empresas que danificam o meio ambiente costumam esconder as verdadeiras dimensões do desastre que provocam.


exposições de orquídeas encantam o público, e nelas pode-se captar interessados em cultivar e preservar estas admiradas plantas. É uma oportunidade para despertar, principalmente nas crianças, consciência ecológica.

 
Em nossas andanças ao longo da região diamantífera da Serra do Espinhaço, mais precisamente no município de Diamantina, pudemos observar uma tênue mas promissora reação da natureza. Como se sabe, as bacias dos rios Jequitinhonha e das Velhas têm sido ao longo de três séculos vasculhadas e em algumas partes arrasadas pela mineração aluvionar de diamantes e ouro e, sob as belíssimas montanhas, o tesouro de pedras semi-preciosas é ainda importante fonte de subsistência da região.
  Cristais de quartzo são retirados em larga escala, para uso industrial, e o garimpo artesanal em minas subterrâneas ainda é uma esperança de riqueza súbita para muitos, que buscam cristais especiais para colecionadores e joalheria.
Túneis estreitos são cavados manualmente para se chegar ao bojo onde pedras ficam incrustadas em fina areia, facilmente removíveis

  Lá fora, na superfície, estão as orquídeas, sobre estas rochas metamórficas, onde se acumula húmus - matéria orgânica, detritos vegetais, deixados pelo vento e chuvas. No processo artesanal de mineração aluvionar, os garimpeiros vão deixando pequenos montes de pedrinhas de quartzo, rejeitadas. Áreas enormes ficam recobertas por estas pedrinhas, próximas dos pequenos rios, e assim tem sido desde os primórdios destas atividades.

  Aí vem a grata surpresa: forma-se assim um ambiente ideal para as orquídeas rupícolas, com uma base de areia fina que permite drenagem adequada, pedrinhas que "seguram" matéria orgânica e protegem as raízes da insolação direta, mantém certa umidade e impedem o desenvolvimento de vegetação concorrente.
Já pudemos encontrar nestas áreas degradadas Pleurothallis teres Lindley, Cyrtopodium eugenii Rchb. f., Laelia rupestris Lindley, Laelia briegeri Blumenschein exPabst e Laelia bradei Pabst


Laelia briegeri Blumenschein exPabst


Laelia bradei
Pabst

  Sem querer, os velhos garimpeiros construíram inúmeros recipientes próprios para a germinação e desenvolvimento de várias orquídeas, que eles mesmo contribuíram para dizimar.
A natureza resiste e agradece com uma resposta tímida, mas encantadora.



  (*)Quadrilátero Ferrífero é uma velha denominação à região central de Minas Gerais, devido às ocorrências de minério de ferro que formam, mais ou menos, um quadrilátero. Há vários municípios, parcialmente ou integralmente sobre esta área; pode-se citar: Belo Horizonte, Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Santa Bárbara, Itabira, Rio Acima, Nova Lima, Itaúna, Moeda, Itabirito, Conselheiro Lafaiete, Congonhas e Ouro Branco.
As principais serras desta região são: serra do Curral (em Belo Horizonte), do Caraça, de Capanema, de Moeda, de Itabirito, de Ouro Branco, do Itacolomi, de Ouro Preto, de Antônio Pereira.
Espinhaço, Itacolomi e Mantiqueira são alguns complexos/supergrupos que incluem várias partes destas serras, e de outras mais com constituição geológica diferente.
(**) Canga
é um solo residual coeso que ocorre sobre formações ferríferas. A rocha que, normalmente, dá
origem às cangas de Minas Gerais é o itabirito, que é um minério formado por óxido de ferro (cujo principal
mineral é a hematita) e sílica (quartzo).
Na geração da canga, a sílica é lixiviada e o óxido de ferro, oxidado, assim dando origem ao hidróxido de ferro (cujo principal mineral é a goethita) que corresponde ao maior volume da canga, e que lhe dá a coloração típica.
A vegetação da canga nas altitudes entre 900 e 1500 m é geralmente o campo rupestre, rala, com pequenos arbustos, submetida a grande variação de temperatura diurna - noturna e alta luminosidade.

Guilherme Gravina, de Ouro Preto