É descrita e ilustrada uma nova espécie para o gênero Bulbophyllum, B. gomesii Fraga (Orchidaceae), proveniente da floresta atlântica, ocorrente na estação Ecológica Mosteiro Zen Morro da Vargem, município de Ibiraçu, Espírito Santo, Brasil. Sendo também comparada com Bulbophyllum longispicatum Cogn., B. warmingianum Cogn., B. ipanemensis Hoehne e B. involutum Borba, Semir & F. Barros.
Palavras-chave: Bulbophyllum, Didactyle, Orchidaceae, floresta atlântica, Brasil.


 

  O gênero Bulbophyllum Thouars apresenta cerca de 1100 espécies de distribuição Pantropical, com um maior número nas regiões Paleotropicais em relação às Neotropicais (Dressler, 1993). A principal revisão para as espécies brasileiras foi realizada por Cogniaux (1902), que agrupou 42 espécies, estabelecendo 6 seções.
Posteriormente foram feitas algumas sinonímias e novas espécies foram descritas, resultando em 54 espécies tratadas por Pabst & Dungs (1975, 1977), recentemente Borba et al. (1998) ao descreverem uma nova espécie, sugerem uma revisão para o gênero, para que os problemas taxonômicos atualmente encontrados possam diminuir, para uma boa determinação dos taxa.
Este trabalho tem como objetivo descrever e ilustrar uma nova espécie de Bulbophyllum Thouars, comparando-a com outras afins, proveniente de uma parte da floresta atlântica do Espírito Santo, na Estação Ecológica Mosteiro Zen Morro da Vargem, carente de contribuições botânicas.
Segundo Thomaz & Monteiro (1997) os estudos biológicos na Mata Atlântica são da mais absoluta urgência, devido à escassez de áreas bem preservadas e da extrema vulnerabilidade deste ecossistema como um todo, sendo o conhecimento da biodiversidade condição básica para medidas de conservação, uso, manejo e recuperação do ecossistema.


 
 
Bulbophyllum gomesii Fraga, sp. nov.
  Planta epiphytica, radicibus filiformibus, flexuosis, glabris, albenscentibus, rhyzomate repenti, flexuoso. Folium erectum, oblongo-ligulatum, coriaceum, apice acutum 2,6-6,2 cm longum, 1,8-2,2 cm latum, pseudobulbis 1-foliatis, inter se saepius 1,2-2,5 cm distantibus, erectis, ovoideis, 4-angulatis 1,0-2,2 cm longis, 1,0-1,5 cm latis. Inflorescentia erecta, levissime incurvata, 10-flora, 20,0-25,0 cm longa, ca. 1,0 mm lata, viridia, bracteis membranaceis, ovatis, acutis, 4,0-6,5 mm longis, 2,0-4,5 mm latis. Flores laxi, horizontaliter expanxi; ovarium lineariclavatum, obscure trigonum, leviter arcuatum, 4,0-5,0 mm longum et ca. 1,0 mm latum, viride. Sepala glabra, 3-nervulosa, viridia et maculis purpureis, dorsale lineari-lanceolata, acuminata, 1,0-1,1 cm longa, 2,0-3,0 mm lata, vena mediana usque ad apicem attingenti, venis lateralibus in dimidio sepali curvatis et venae medianae adnatis, lateralibus lineari-lanceolatis, paulo acuminatis, basi adnatis, 1,0-1,1 cm longis, 2,5-3,0 mm latis, vena mediana usque ad apicem attingenti, venis lateralibus paulo attenuatis in tertio superiore et venae medianae non adnatis. Petala lanceolata, glabra, apice acuta, margine integerrima, basin versus paulo attenuata et curvata, inferne alba et superne purpurea, 2,5-3,0 mm longa, ca. 1,0 mm lata, 1-nervata, vena apice non attingenti. Labellum basi incumbens, superne patulum, ellipticum, crasse carnosum, toto ciliatum, basi utrinque minutis auriculis lobulatis instructum, 0,8-1,0 cm longum, 2,5-3,0 mm latum, inferne purpureum, margine et apice albidis, in basi callo sulcatto, crasso, ca. 1,7 mm longo, lobulis basilaribus quadrangulari-rotundatis, erectis, ciliatis, ca. 1,0 mm longis et latis. Columna erecta, paulo incurvata, 2,0-2,1 mm longa, 0,6-0,7 mm lata, dentibus triangularibus, ca. 0,5 mm longis, apice utrinque brachiis filiformi-subulatis, erectis, leviter incurvis, 1,5-2,0 mm longis instructa, in basi pede 1,5-1,8 mm longo, 2-lobulis, quadrangularis, ca. 0,5 mm longis et latis. Anthera mucronata, papillosa, ca. 0,5 mm longa et lata.
  HOLOTYPUS- Brasil, Espírito Santo, Ibiraçu, Estação Ecológica Mosteiro Zen Morro da Vargem. Trilha do mirante 1, ca. 19º53'S/40º23'W, 300-470 m/s.m., floresta atlântica, vegetação rupreste sub-arbustiva em moitas, col.: J. M. L. Gomes 1145; H. Q. Boudet Fernandes & A. L. Martins, fl. 26/V/1990 (MBML 5956).
ISOTYPUS
(VIES5131).

O binômio específico vem homenagear José Manoel Lúcio Gomes, Engenheiro Florestal do Departamento de Biologia da Universidade Federal do Espírito Santo que, junto com colaboradores, trouxe à luz da ciência esta nova espécie. A quem também devo parte de minha formação acadêmica, em seus comentários sempre valiosos.

A nova espécie é afim de Bulbophyllum longispicatum Cogn., B. warmingianum Cogn., B. ipanemensis Hoehne e B. involutum Borba, Semir & F. Barros, tratadas respectivamente em Cogniaux (1902), Hoehne (1938) e Borba et al.(1998), pertencentes a um grupo da sect. Didactyle Cogn., que apresentam inflorescência multiflora, coluna provida de braços e dentes, pétalos ciliados ou denticuladas na margem, labelo lobulado ou auriculado na base, disco de calosidade espessa e são vegetativamente muito similares.

A consistência do labelo espessamente carnosa e o formato elíptico em Bulbophyllum gomesii Fraga aproximam esta espécie de B. longispicatum Cogn., que apresenta labelo oblongo com a mesma consistência. Porém o calo no disco labelar da nova espécie apresenta-se sulcado, caráter não encontrado em B. longispicatum Cogn., mas presente nas espécies B. warmingianum Cogn., B. ipanemensis Hoehne e B. involutum Borba, Semir & F. Barros.

Embora Bulbophyllum gomesii Fraga se enquadre no grupo, tendo a maioria das características similares, será facilmente reconhecido por apresentar pé da coluna 2-lobulada e pétalas não ciliadas nem denticuladas. O pé da coluna 2-lobulado não é encontrado em nenhuma outra espécie da seção, enquanto as pétalas não ciliadas são ausentes em todas as espécies próximas, mas segundo Cogniaux (1902), comum em outro grupo de espécies da mesma sect. Dydactyle Cogn.

 
Aspecto geral da planta





B- Flor dissecada
C- Labelo visto dorsalmente

 

D- Coluna e labelo vistos lateralmente


E- Coluna vista ventralmente
F- Coluna vistadorsalmente
 
 

G- Antera vista lateralmente
H- Antera vista ventralmente
I- Polínias


 
  Ao Dr. Jorge Fontella Pereira pelo auxílio na confecção da descrição latina e revisão do manuscrito. A Dorothy Sue Dunn de Araújo pela correção do abstract.

 
 

BORBA, E. L.; SEMIR, J. & BARROS, F.
1998

Bulbophyllum involutum Borba, Semir & F. Barros (Orchidaceae), a new species from the brazilian "Campos Rupestres". Novon 8:225-229
  __________  
  DRESSLER, R. L.
1993
Phylogeny and classication of the orchid family. Cambridge University Press, Cambridge, 314p.
  __________  
  COGNIAUX, A.
1902
Orchidaceae. In Martius, C. F. P.; Eichler, A. G. & Urban, I. (eds.) Flora Brasiliensis..., München, Wien, Leipzing, vol. 3, part. 5, p:1-664.
  __________  
  HOEHNE, F. C.
1938
Cincoenta e uma novas espécies da flora do Brasil e outras descrições e ilustrações. Arq. Bot. Est. S. Paulo 1 (1): 1-38.
  __________  
  PABST, G.F. J. & DUNGS, F.
1975
Orchidaceae Brasiliensis. vol. I. Kurt Schmersow, Hildesheim. 408 p.
  __________  
  PABST, G.F. J. & DUNGS, F.
1977
Orchidaceae Brasiliensis. vol. II. Kurt Schmersow, Hildesheim. 418 p.
  __________  
  THOMAZ, L. D. & MONTEIRO, R. Composição florística da Mata Atlântica de encosta da Estação Biológica de Santa Lúcia, município de Santa Tereza - ES. Bol. Mus. Biol. Mello Leitão (N.Sér.) 7:3-48.
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Cláudio Nicoletti de Fraga, botânico, curador das coleções vivas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, é capixaba de Vitória, capital do Espírito Santo.
Graduado pela Universidade Federal do Espírito Santo - UFES, defendeu sua tese de mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, abordando as orquídeas
daquele estado.

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