Waldemar Scheliga |
Waldemar
Scheliga fazia parte da família orquidófila fluminense
desde os tempos da Sociedade Brasileira de Orquidófilos. Foi um dos sócios fundadores da OrquidaRIO e sempre foi um ativo da colaborador da revista Orquidário, desde o início de sua publicação, seja traduzindo, escrevendo seus próprios textos, fazendo parte da comissão editorial e até dando dicas de cultivo contando seus segredos de adubação. O intercâmbio orquidófilo entre a Alemanha, Suíça e Brasil, teve nele seu grande incentivador. Sua contribuição foi fundamental, tanto na divulgação de trabalhos brasileiros naqueles países como na divulgação trabalhos editados originalmente em alemão de alguns estudiosos comoRudolf Jenny, Karlheinz Senghas, Irene Bock,entre outros. |
Além de fazer os contatos, era que fazia a versão e tradução dos textos. Recentemente (em 2001), uma nova espécie brasileira Galeandra chapadensis Campacci (apresentada também neste número) teve sua publicação original feita na revista Die Orchidee graças à sua versão e aos contatos promovidos por ele. |
Durante 47 anos, foi gerente de vendas da Bayer do Brasil e se aposentou em
l982. Cultivou orquídea por perto de 60 anos, a sua preferida era a Cattleya maxima, mas tinha uma coleção muito eclética. Waldemar era um exímio cultivador e encarnava uma das mais importantes qualidades de um orquidófilo: a paciência. Já esperou quase vinte anos para ver sua Calista densiflora (ou Dendrobium densiflorum) florir maravilhosamente com 46 hastes. Foi homenageado por Alexis Sauer, em 1993, com um registro de um híbrido: Laeliocattleya Waldemar Scheliga, um cruzamento de Laelia lobata X Laeliocattleya Canhamiana. Em relato bem humorado, em entrevista concedida à Orchid News # 14, ele contou como foi a fundação da OrquidaRIO. |
foto de Out. de 87, de sua coleção particular |
Tudo começou com uma diretoria Sociedade Brasileira de Orquidófilos que já estava no poder havia 8 anos. Segundo ele, muitos sócios estavam um pouco aborrecidos achando que tudo estava relaxado demais, pouco interessante e que as reuniões não estavam servindo para instruir os companheiros. Por estas razões, um grupo de 37 sócios, inclusive ele, resolveu que na eleição seguinte, eles iriam eleger uma nova diretoria e chegou a compor uma chapa chamada “Renovação" da qual também fazia parte Siegwald Odebrecht (Zico da Florália). Com um subterfúgio, a tal diretoria conseguiu se reeleger. Com a reunião marcada para 20horas, a diretoria chegou mais cedo, fez a votação e ganhou por 2 votos. |
Estes dois votos foram justamente de dois companheiros que “roeram a corda na última hora”. Assim, ele e seu grupo não conseguiram fazer a diretoria .Ficaram “meio jururus” e foram para o Bar Luiz, tomar um chope para esquecer as mágoas. Ali mesmo criaram a nova sociedade, ali mesmo tudo ficou resolvido. Assim, em 1986, nascia a OrquidaRIO dentro do Bar Luiz, com aquele grupo tomando chopp e comendo salada de batata. As primeiras reuniões da então nova sociedade foram feitas na chácara do Luiz Clemente Ferreira de Souza, na Ladeira Novo Mundo, entre Laranjeiras e Botafogo. Depois passou para a rua Sorocaba, no colégio Tico-Tico onde sentavam em banquinhos de crianças, bem pequenininhos e lá estiveram por alguns anos, numa escola que pertencia à mãe do Carlos Eduardo de Britto Pereira. |
Até o período da rua 19 de Fevereiro, a presença
e atuação do senhor Waldemar sempre foram uma constante. Já com
problemas de saúde, infelizmente, sua vinda às reuniões
foram rareando e na nova sede, à rua Visconde de Inhaúma, ele foi
raríssimas vezes. Exerceu diversas funções dentro da sociedade: foi vice-presidente, no período de 1989 a 1992; responsável interino pelo Departamento de Pesquisas, Cultivo e Cursos (l990), Presidente do Conselho Deliberativo, de l992a l994 e membro da Comissão Editorial, de l992 a 2000. No meio de tudo, ainda se dispôs a se dedicar, durante um período, ao orquidário do Jardim Botânico do Rio de Janeiro promovendo sua recuperação e aumentando a coleção. Enfim, ele era uma pessoa extremamente educada, simples, afável, com muita vitalidade, muita disposição, seriedade e dedicação naquilo que fazia. Ele se interessava pelo estudo das orquídeas como se ainda tivesse um caminho enorme a percorrer e não como uma pessoa que se aproximava dos 90 anos. |
Com
um entusiasmo quase juvenil, ele se interessava
por publicações recentes, adotava as alterações nomenclaturais,
gostava do contato com as pessoas que, como ele, são apaixonadas por orquídeas,
mesmo aquelas com um conhecimento menor do que o dele. Mesmo com as dificuldades que enfrentava decorrentes de sua idade avançada e raramente vindo à OrquidaRIO, continuava participando ativamente através da revista, traduzindo muitos artigos e fazia parte do Conselho Deliberativo (como vogal) da atual Diretoria. Waldemar Scheliga sabia fazer amigos e conquistar admiradores. |
Caderno com suas anotações |
Depoimento
de Raimundo Mesquita:
Despedida de Waldemar Scheliga. Ouvi,
certa vez de um seu amigo que ele, Waldemar, tratava suas plantas
com a mesma disciplina de um sargento prussiano, nada de bulbos e
folhas fora do lugar. A marcha de crescimento simpodial tinha que
ser na direção que ele queria, isto é, para
a frente, em busca da borda oposta do vaso... Nada da anárquica
liberdade que as plantas por vezes se dão. |
Depoimento de Carlos Antonio Akselrud de Gouveia: Waldemar Scheliga Quando
eu cheguei a OrquidaRIO, egresso da SBO, ela já tinha
uns 2 anos de fundada. Travei conhecimento, então, com uma série
de orquidófilos que fascinavam os novatos como eu. Loquazes e
comunicativos, Hans Frank, Alex Sauer e Álvaro Peixoto atraiam
nossa atenção com suas histórias (e estórias)
e conselhos. Foi quando descobri um senhor, de fala mansa e tom suave,
não muito falador, mas detentor de cultivo fantástico.
Scheliga tinha plantas que ninguém tinha, conseguia flores de
plantas que todos reputavam dificílimas. Qual seria seu segredo? |