por Delfina de Araujo

 
O Rio de Janeiro é uma cidade que, apesar de ter a sua natureza agredida sem interrupção desde a época do descobrimento do Brasil, consegue ainda resistir bravamente e, freqüentemente somos surpreendidos com recantos encravados em área de densidade populacional bastante elevada. Ao tentar conhecer um pouco melhor a história da área, fica-se ainda mais surpreso pois pode-se tratar de uma área que já foi depredada e hoje está em franca recuperação graças ao esforço de grupos de pessoas e entidades interessadas na presevação do meio-ambiente.
Ao fazer a continuação do levantamento das orquideas no Morro do Leme, confrontei-me com um desses casos.
 
É a Área de Proteção Ambiental do Morro do Leme "APA do Morro do Leme", um verdadeiro enclave da Mata Atlântica, que se encontra dentro da propriedade do Forte Duque de Caxias, no Leme.
Por se tratar de área militar destinada à defesa da cidade, vem sendo bastante protegida desde o século XVIII da expansão imobiliária.
Este fato facilitou bastante sua recuperação já que se trata de área sem edificações familiares portanto sem necessidade de desapropriações.
Embora tenha sido declarada de proteção ambiental em l990 (através do Decreto Municipal 9.779), esta área
PHOTO / FOTO: PLÍNIO SENNA
 
que abrange o morro do Leme, o morro do Urubu e a ilha de Cotunduba vem sendo recuperada desde l987.
Contornando o morro, pela estrada que leva ao Forte Duque de Caxias, que se encontra a 135m de altitude, num percurso de 1.000m, pode-se deparar com algumas espécies de orquídeas nativas. Foram localizadas, até o momento, sete espécies: Brassavola tuberculata Hook, Cyrtopodium sp. Epidendrum denticulatum, Habenaria leptoceras Hook, Oeceoclades maculata (Lindl.) Lindl. Sophronitis cernua Lindl. e Vanilla, provavelmente, bahiana Hoehne.
Este levantamento foi executado em apenas duas visitas efetuadas ao local, no mês de março de 2004, longe de ser, portanto, uma pesquisa exaustiva. A segunda visita foi guiada por Plínio Loures Senna, ambientalista, conhecedor e grande incentivador da recuperação e conservação da área.
Só nos barrancos, bem junto à estrada, em área muito sombreada, foram localizadas 4 espécies: Epidendrum denticulatum, Habenaria leptoceras Hook, Oeoceoclades maculata (Lindl.) Lindl. e Vanilla sp.
  PHOTO / FOTO: SERGIO ARAUJO
Oeceoclades maculata já colonizou completamente o terreno ao longo da estrada onde vegeta abundantemente exibindo suas folhas manchadas de verde claro e com hastes de flores e frutos, algumas chegando a 8 cápsulas por haste. PHOTO / FOTO: SERGIO ARAUJO


 

Vanilla cresce na pedra, por quase todo o caminho, no barranco, enroscada nos arbustos e também em um pé de clusia.
Supõe-se tratar da espécie bahiana em função de ter sido assim identificada a espécie do vizinho morro da Urca, no Caminho do Bentivi, por Cláudio N. Fraga, curador das coleções vivas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
PHOTO / FOTO: SERGIO ARAUJO
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Embora não fosse de se esperar, existe até um espécimen de Epidendrum denticulatum, com as folhas bastante escuras, crescendo nesta área sombria, diretamente na rocha.
Embora seja época de sua floração, não apresentava flores, nem sinal de que havia florido.

PHOTO / FOTO: SERGIO ARAUJO
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Mas a grande surpresa é a Habenaria leptoceras com duas colônias (uma maior com mais de 20 plantas e outra composta de apenas três), com quase todos os indivíduos floridos, vegetando na camada fina de folhiço.
PHOTO / FOTO: SERGIO ARAUJO
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  No costão rochoso, em locais bem ensolorados são encontrados Epidendrum denticulatum, Brassavola tuberculata e Cytopodium sp.

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Na vertente leste do Morro do Leme, junto à pedra do Anel, num área que recebe intensa insolação desde o nascer do sol até parte da tarde e a umidade marinha, há uma colônia bastante grande de Brassavola tuberculata Hook., cuja floração deste ano está muito adiantada e já se pode ver, no final de março, os tufos coloridos de estrelas brancas.
O costão é muito semelhante à face apresentada na revista anterior.
PHOTO / FOTO: SERGIO ARAUJO



 
Um pouco acima da Brassavola tuberculata, num local de difícil acesso, associada ao capim, existe uma colônia de Cyrtopodium sp.
Esta foi a primeira área a ser recuperada e quem vê a exuberância da mata atualmente, não tem idéia de que como ela era completamente colonizada pelo capim colonião (Panicum maximum) e, portanto, muito sujeita a incêndios, pois o capim seco facilita esta propagação.
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Ainda mais acima, à beira da estrada que leva ao forte, no mesmo costão, a SoAPA Leme transplantou uma pequena colônia de Brassavola tuberculata, salva de um desastroso incêndio provocado por festejos de final de ano.
Mostrando a lentidão de seu crescimento, anos depois, a colônia não é muito extensa e floriu pela primeira vez em 2003.
Conforme explica Plínio Senna:"... as plantas que se fixam à rocha são de crescimento lento, levando anos para formar colônias. Sustentam-se do fino solo que lá se forma, da água da chuva e da salsugem (ou maresia). É uma vegetação de
 
distribuição restrita, que vem sendo rapidamente ameaçada pelo crescimento da cidade, pela queimada e colonização da área por capim-colonião e pela coleta seletiva por colecionadores - principalmente orquídeas e bromélias". Albertoa 2(15): 144. 1993


 
Logo acima, também inteiramente exposto ao sol, uma colônia de Epidendrum denticulatum em flor, cresce associada a outras plantas e dividindo seu espaço também com a Velosia Pleurostima purpurea Raf. uma espécie ameaçada de extinção e que só existe nesta região (que inclui o morro da Urca, no caminho do Bem-te-vi - veja em Orchid News #22).
  PHOTO / FOTO: SERGIO ARAUJO


 
Bem próximo, do outro lado a estrada, havia uma pequena e exuberante colônia de Cyrtopodium que vegetava a pleno sol. Com o reflorestamento da área, esta colônia ficou muito protegida do sol e deixou de florir, apresentando uma regressão em seu estado vegetativo. A SoAPA Leme já começou a providenciar o transplante, colocando as mudas em área ensoloradas para que volte a se desenvolver em toda a sua potencialidade.
 
PHOTO / FOTO: SERGIO ARAUJO
E, finalmente, no alto do morro, em frente ao Forte, em área bastante arborizada, em um grupo de árvores de troncos finos e de médio porte, pode-se encontrar diversas colônias de Sophronitis cernua Lindl.


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