Lou Menezes é engenheira florestal, ecóloga e botânica do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA. Como conservacionista tem se dedicado ao estudo das orquidáceas através do Projeto Orquídeas do Brasil. Já descreveu diversas espécies e variedades, publica periodicamente seus artigos em revistas especializadas nacionais e estrangeiras, assim como escreveu diversos livros sobre a matéria: Cattleya labiata Lindley, Cattleya warneri Moore, Laelia purpurata Lindley, Genus Cyrtopodium e agora lança um livro sobre as Orquídeas do Planalto Central Brasileiro.


 

Phragmipedium vittatum
ON: Lou, embora você publique periodicamente artigos nas revistas especializadas, no Brasil e no exterior, só agora, com a publicação do livro "Orquídeas do Planalto Central Brasileiro", o público orquidófilo terá acesso a um resultado global de suas pesquisas naquela região.
Durante quantos anos você pesquisou para chegar a este resultado?


Lou: Este livro é fruto de pesquisas desenvolvidas ao longo de 15 anos.


ON: Qual foi o ponto de partida deste levantamento?


Cyrtopodium virenscens


 

Lou: As pesquisas se iniciaram com os estudos específicos de Phragmipedium vittatum e o gênero Cyrtopodium.

ON: E como estas pesquisas foram conduzidas?

Lou: Esta grande pesquisa foi baseada na identificação das espécies encontrados nos trabalhos de campo, com registro fotográfico, depósito de material botânico em herbários e suporte internacional no que diz respeito ao acesso à literatura sobre orquídeas e, algumas vezes, ao aspecto financeiro.


 
ON: Qual foi a periodicidade das visitas aos habitats?

Lou: As visitas aos habitats eram constantes ao longo de todo o ano e por anos e acabaram se tornando uma busca frenética pelas espécies e suas variedades. Isto é fácil de se entender visto que sou emocionalmente dependente das orquídeas.

ON: Quais os estados e regiões que foram englobados nesta pesquisa?

Lou: A grande área do Planalto Central engloba o Distrito Federal,
Goiás,Tocantins,

(cerrado com afloramento rochoso)
 
parte de Minas Gerais e parte de São Paulo mas também parte de Mato Grosso.

ON: Qual a característica do clima destas regiões? É uniforme, ou seja, inverno frio e seco, verão quente durante o dia, com chuvas freqüentes e queda brusca à noite?

Lou: O clima é caracterizado por um período seco e outro úmido, com temperaturas elevadas durante o dia e queda significativa durante a noite

 

(cerrado)
ON: O cerrado é um habitat muito específico, o que você pode nos falar sobre ele?

Lou: O cerrado é um mundo fantástico de fascínio e supresa.
A cobertura vegetal do centro-oeste que, no passado, era florestal e campestre, encontra-se hoje representada predominantemente pela savana, mais conhecida pela denominação cerrado.


ON: O cerrado é homogêneo ou é constituído de diversos tipos de vegetação?

(mata alagada)
 
Lou: Há o chamado cerradão ou savana arbórea densa, uma savana arbórea aberta ou campo cerrado e uma savana-parque, de vegetação tipicamente campestre.
As grandes florestas estão reduzidas somente a agrupamentos florestais primários em áreas de preservação ambiental ou a agrupamentos secundários fragmentados, resultados de ações antrópicas.
 
ON: Quais outras características, você poderia apontar ?

Lou: O Planalto Central Brasileiro e as chapadas do Centro-Oeste constituem-se nos mais importantes dispersores da rede hidrográfica brasileira.
Seu relevo é diversificado e apresenta superfícies de diferentes níveis de altitude com destaque para os extensos planaltos e depressões cobertos por cerrados e florestas e também duas das maiores planícies interiores do País.
O variado contraste paisagístico da região explica seus diferentes ecossistemas e sua consequente riqueza de biodiversidade.

 

fogo no cerrado
 
ON: Você encontrou uma região muito devastada? Sofreu muito com a ocupação ou ainda se pode encontrar habitats intactos?

Lou: A soja, mais especificamente a fronteira agrícola, associada à ocupação desenfreada da terra pelas invasões, tornou-se um desastre que ameaça a existência do cerrado, além das atividades pastoris!
Áreas de proteção ambiental na forma de parques e reservas procuram minimizar as grandes perdas ambientais.

 

Epistephium lucidum Cogn.
ON: Quantas espécies você pode levantar?

Lou: Cerca de 200 espécies foram registradas embora não estejam todas incluídas no livro. O alto custo de minhas publicações impõem restrições quanto ao número de páginas. Neste caso, eu havia compilado um livro com cerca de 600 páginas e fui obrigada a reduzí-lo para 304.

ON: O restante do material, não vai ser tornado público?


Lou: Uma edição posterior deverá completar o meu trabalho.

ON: Que gêneros podem ser encontrados no Planalto Central?

Lou: É bastante diversificado. Por exemplo, no livro, só de Epidendrum, eu apresento 10 espécies; de Galeandra, 5 e de Oncidium 8. Estas plantas são muito variadas em função de sua ampla distribuição geográfica.
Além dessas, encontrei Catasetum, Cycnoches, Mormodes,  Pelexia, Notylia,  Sarcoglottis, Lockhartia
 
, Macradenia, Sobralia, Sophronitis, Sophronitella, Trichocentrum,Maxillaria, Cattleya com um híbrido que descrevi (Cattleya x mesquitae), inclusive com uma variedade alba, Laelia, e muitos outros.


Catasetum sptizii (habitat)

Cycnoches pentadactylum

 

Catasetum x intermedium L.C. Menezes & Braem

Cattleya x mesquitae L.C. Menezes var. alba

 

Pelexia pterygantha

Galeandra paraguayensis

Cattleya walkeriana Gardn. no habitat


Epidendrum amblostomoides
Hoehne

Epidendrum dendrobioides

 

Laelia lundii var. alba

Maxillaria camaridii

Trichocentrum albo-coccineu





continua