Oscar Sachs


Oscar V. Sachs Júnior, 63 anos, é paulista de Araras.
Cursou Ciências Sociais na Universidade de São Paulo ( chegou a ser presidente do Grêmio e , em 1964, durante o regime militar no Brasil, foi "aconselhado" a não aparecer mais na universidade) e acabou se formando em Administração de Empresas.
Trabalhou durante 30 anos na Volkswagen do Brasi, até que foi transferido para Taubaté, para ajudar na montagem de uma nova fábrica e aonde, agora aposentado, ainda reside, numa chácara de um acre, com cinco pés de jabuticabas (que ele considera seu maior
 
valor) e um pedaço de mata atlântica, que fez questão de manter.
Há 30 anos dedica-se ao cultivo de orquídeas e neste meio se destacou como membro ativo da CAOB, na edição de seu Boletim e, agora, na revista Brasil Orquídea, da editora do mesmo nome, que fundou em 2002 e que mantêm com a colaboração de outros editores.



Cattleya warneri mosca - Foto / Photo: Sidnei P. Resende.
ON: Por que começou a cultivar orquídeas? Qual foi o momento mágico da atração?

OS: Ah, você nunca sabe quando o “bichinho” te pega!
Quando morava em Santo André, convivia com um grande orquidófilo, o Eugênio Santi, e achava bonitas aquelas flores, mas sem maiores entusiasmos. Quando vim morar em Taubaté, comprei uma casa no centro, com um grande quintal e muitas árvores e nelas, florindo, alguns Dendrobium e algumas loddigesii, que comecei a achar interessantes.
Daí, eu e meu filho Fábio, que teria uns oito ou nove anos, começamos a ir à Serra do Mar e a trazer para casa (eu não conhecia nada de nomes) Maxillaria, Miltonia, temos até uma
foto do Fábio com uma touceira de Pabstia jugosa. A gente punha essas plantas em cima de um bagageiro de automóvel, que o antigo morador tinha abandonado por ali, em baixo de um pé de jasmim-manga.
Depois, lá em Araras, ganhei de meu tio Afonso Schmidt uma Cattleya warneri e uma Laelia purpurata. E aí começou tudo.



ON: Há quantos anos você cultiva orquídeas?

OS: Pois é... Isso se passou em 75 ou 76, portanto estou perto de 30 anos na orquidofilia.
Hoje, evidentemente, não retiro do mato nem um pé de tiririca, sou ferozmente adepto da preservação das matas e do meio ambiente.

ON: Quantas plantas você possui, aproximadamente?

OS: Acho que mil e quinhentas, por aí. Tenho uma estufa, coberta de plástico, com sistema de aspersão de água, onde cultivo catléias sul-americanas, nobilior e loddigesii, algumas lélias especiais, como a perrinii,
Blc. Julia Sachs Negreiros. Foto / Photo:
a lobata, a alaorii, de um lado e de outro, uma fileira de híbridos.
Mais em baixo, tem o P1, um provisório definitivo (minha mulher acreditou que era provisório, é uma santa...), coberto apenas de tela, inclusive dos lados, onde mantenho as purpurata e as walkeriana, que gostam de chuva de qualquer jeito,
Cattleya nobilior 'King of Kings'. Foto / Photo:  Sidnei  Pedro Resende
e o P2, outro provisório, onde ficam as labiata e warneri. Tenho ainda muitas árvores na chácara, com plantas aplicadas ou dependuradas, naquilo que eu chamo de “miscelânea”, aí entram Dendrobium, lélias mexicanas, Coelogyne, Maxillaria, Oncidium, Miltonia, diversas, barbaridade, um monte de plantas!


ON: Você tem preferência por híbridos ou por espécies? Por quê?

OS: Não vejo dicotomia entre híbridos e espécies; gosto de orquídeas.
No princípio, tinha uma certa prevenção contra híbridos, mas, convivendo com o Tajima e o Sérgio Barani, descobri que há muita beleza entre as orquídeas produzidas pelo homem. Ouvi há pouco tempo, do Dr. Ronaldo, lá de Batatais, um grande amigo, que ele gosta de híbridos desde que sejam bonitos. Eu também.

ON: Entre suas plantas, existe alguma que seja a preferida?

OS: Meu primeiro encantamento foi com as purpurata, numa influência, talvez, do Heitor Gloeden e do Walter Filippetti (ô, que saudade desses velhos amigos!).
 
Maxilllaria picta. Foto / Photo: Sidnei P. Resende.
Depois passei a famosa fase de querer tudo, comprar de tudo, não ter preferência e nem critério. Acho que a evolução do orquidófilo é chegar nas catléias da Venezuela e da Colômbia, sempre fantásticas, e também saber apreciar a delicadeza de uma microrquídea, de um Bulbophyllum, de um Zigopetalum, de um Catasetum, um Trigonidium.
Gozado, nunca gostei de Phalaenopsis nem de intermedia (uma afirmação perigosa, diante de tantos fanáticos. Posso até sofrer um atentado... ).
Tenho uma atração por Maxillaria, sobre a qual já escrevi um artigo que saiu na Orquidário e que até hoje me rende comentários.
Não, eu hoje não tenho uma preferida exclusiva.

ON: Quanto tempo, por dia, você gasta cuidando de suas orquídeas?

OS: Ah, pouco tempo. Geralmente pela manhã, coisa aí de meia hora, uma hora, às vezes mais.
Neste momento preciso contar meu segredo, que é a ajuda do Maneco, meu fiel escudeiro e jardineiro da chácara. O famoso Maneco, já conhecido dos orquidófilos de Taubaté, que me fala dos "búlbolos" das orquídeas, de que agora sim, com o sistema de irrigação, as plantas vão ter mais "humildade", etc. etc. e que me ajuda a replantar as orquídeas e combater as pragas e é um “papo” especial. Delícia é ouvi-lo falar que alguma coisa é “verde”. Sai um “verde” bem valeparaibano, diferente do “verde” do paranaense ou daqueles da minha querida Piracicaba.


ON: Quais são as condições climáticas encontradas em seu ambiente de cultivo?

OS: Taubaté fica a cerca de 550 m s.n.m., entre a Mantiqueira e a Serra do Mar. Meu bairro fica no km 3 da estrada pra Ubatuba e temos muita chuva, muito calor e uma boa temporada de frio, também no inverno, quando a grama chega a secar por completo.
Pela proximidade com a mata, tenho muito fungo, muito “bicho mineiro” (aquele que deixa uma larvinha, que faz um túnel dentro das folhas) e, sobretudo, a grande praga do Vale do Paraíba: as formigas, que trazem cochonilhas e outros seres maléficos (para as orquídeas, pois eles estão lá, vivendo sua vida).
Com a estufa fechada (com telas nas laterais) a coisa melhorou muito. Evito, por exemplo, as chuvas de inverno, após as quais sempre vinha uma infestação qualquer.
Cattleya walkeriana Daiane Wenzell. Foto / Photo: Sidnei P. Resende. Manipulação digital: Sergio Araujo
ON: Você teria alguma dica de cultivo sua que quisesse compartilhar conosco?

OS: A melhor dica de cultivo é recomendar aos iniciantes que observem bem, observem muito.
Para isso é importante participar (ou freqüentar) de exposições de orquídeas, reuniões das associações, ver os substratos, como as plantas foram envasadas, que tipos de vasos, que adubos, conversar muito com os orquidófilos que têm bom cultivo, com os vendedores (aqueles que são experientes e honestos, pois têm uns aí de quem eu não compraria um carro usado), ler tudo que apareça sobre orquídeas (acho que hoje tenho uma das boas bibliotecas sobre orquídeas do Brasil, modéstia à parte) e assinar a Brasil Orquídeas (ops, olha a propaganda!).

ON: Além daquela primeira atração, houve algum outro fator de influência (pessoa ou fato) na sua relação com as orquídeas?

OS: Minhas influências foram, como já disse: o Heitor Gloeden, a quem visitava constantemente na chácara Cuietê; o Filippetti, com quem de vez em quando ia comer uma macarronada e tomar um vinho; meu velho amigo e companheiro Nilo Bueno Patrício; o Luiz Celloto; o Sidnei Resende; o Zé Roberto Marques; o Cava Cano; os Wenzel... Ixi, um monte de gente. Mais recentemente, aprendo muito com o Tajima, o Barani, o Roland, o Patto, o Epiphanio, o Ronaldo Nazar, o Egel, o Luiz Roberto Jordão, só gente fina. Meu melhor professor, hoje, é o Marquinhos Campacci.
Com certeza, estou esquecendo alguém.



ON: Existe alguma história ou caso interessante ligado à sua relação com as orquídeas?

OS: Nem tanto com as orquídeas, mas com a orquidofilia. Acho até que já contei essa história.
Uma vez eu estava em Franca, numa exposição e o pessoal da CAOB, César Wenzel à frente, distribuiu o Jornal da CAOB. Estavam ele e o Zé Roberto e eu falei que tinha duas avaliações: nota dez pela iniciativa - uma beleza, faltava muito de comunicação entre os orquidófilos - e nota zero pelo conteúdo - uma merda, só matéria copiada, reprodução, só matéria de terceiros, por que não se fazia uma coisa original, ainda que precária? Os dois se olharam e se afastaram, daqui a pouco me cercaram e deram um ultimato: queremos que você faça o Jornal da CAOB! Não pude recusar, de administrador virei jornalista. Fiz o Jornal, logo depois comecei a fazer o Boletim CAOB e não parei mais. Hoje edito a melhor revista de orquídeas do Brasil, a Brasil Orquídeas (ops, olha a propaganda de novo!). Tudo começou naquele falar demais em Franca, ô boca!
ON: Diz-se que a orquidofilia é uma manifestação branda de loucura. Você já fez alguma loucura orquidófila?

OS: Já. Já gastei dinheiro que não podia, comprando plantas. Já dirigi de Piracanjuba a Taubaté direto, sem parada; já tirei planta do mato (hoje não mais); já briguei por causa de orquidofilia (uma besteira, porque isso é pra gente se divertir); já fiquei fulo da vida porque minhas plantas foram mal-avaliadas (hoje, “tô nem aí”, como diz minha neta Júlia), sei lá...
Devo ter outros pecados, espero que todos sejam veniais.
A grande vantagem da orquidofilia é o número sensacional de amigos, grandes amigos, que a gente faz.
Isso vale por tudo.
Blc. Brazilian Pride. Foto / Photo: Sidnei Pedro Resende

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