O
mapa brasileiro de orquídeas por estado é o resultado
de um trabalho de pesquisa, de nove anos, na literatura brasileira
e estrangeira e está disponível no site Brazilian
Orchids (http://delfinadearaujo.com/estados/brasil.htm). A pesquisa efetuada não se limitou apenas às ocorrências por estado. O trabalho, em sua versão completa, estará brevemente disponível sob a forma de livro ou de CD e incluirá, além de novas espécies, também as justificativas das ocorrências citadas, das alterações nomenclaturais (transferências ou criação de gêneros e espécies), com citação bibliográfica de todas as informações consideradas e sinonímias adotadas. A
região sudeste, a mais rica em termos de variedade de espécies
e número de indivíduos, sempre foi bastante beneficiada
(e continua sendo) pelos estudos, resultando disto um levantamento
mais completo. No entanto, a região amazônica vem
surpreendendo em decorrências de pesquisas e excursões
mais recentes, iniciadas na década de l980 (com Pedro Ivo
Soares Braga, Francisco Miranda e Kleber Lacerda) e com grande
impulso nos anos 90 e com continuidade até os nossos dias
pelas excursões feitas por João Batista Fernandes
da Silva e estudos de Manoela F. F. da Silva (Museu Goeldi - Pará).
O Planalto Central também vem sendo bastante estudado principalmente
por Lou Menezes, João Aguiar Nogueira Batista, Luciano
de B. Bianchetti. Isto se nos restringirmos à pesquisa
por região, pois alguns pesquisadores contribuem grandemente
para o conhecimento de determinados gêneros e também
com o aumento das informações de ocorrência,
mesmo sem se dedicarem exclusivamente a uma região, como
Vitorino Paiva Castro Neto, Marcos Antonio Campacci, Fábio
de Barros. Enfim, percebe-se que, como resultado destes estudos, o número de espécies registradas para o Brasil se elevou, tanto em função de descrição de novas, como em novos registros de ocorrência para o território brasileiro.A diversificação dos gêneros e espécies de orquídeas encontrados no Brasil é enorme (o que não constitui nenhuma novidade) e deve-se sobretudo à diversidade de sua topografia e sua latitude, dando origem a condições climáticas tão díspares. Distribuição das espécies Basicamente, as espécies estão distribuídas por duas florestas tropicais e duas regiões bastante definidas como o cerrado e a caatinga: |
A
Floresta Amazônica, situada na Bacia do mesmo nome, cobre
os estados do Amazonas, Pará, Amapá, Acre, parte
de Rondônia, Roraima, Maranhão e Mato Grosso. Apesar
da temperatura ser bastante elevada (38º) durante o dia,
ao contrário do que se pensa, a temperatura à noite
cai chegando até 10ºC. As regiões montanhosas,
mais recentemente exploradas, vêm mostrando um elevado número
de espécies (Monte Roraima, Pico da Neblima, Paracarima,
Parima) A diversidade de habitats existentes dentro da região
possibilita o surgimento de gêneros e espécies com
necessidades culturais bastante díspares no tocante à
luminosidade, umidade ambiental e temperatura. |
A
Mata Atlântica cobre (ou cobria) a faixa do litoral dos
estados do Rio Grande do Sul até Maranhão e o sudeste
de Minas Gerais, com suas serras de diferentes altitudes e de
diferentes nomes dependendo da região. É nela que
se concentra a maior parte das ocorrências em nosso território
e também os mais conhecidos gêneros e espécies.
Nas regiões de montanha, o clima é bem mais definido,
o verão é um pouco mais quente e chuvoso e o inverno
é bastante frio e seco. A neblina é freqüente. É a primeira província das orquídeas contendo mais ou menos 60% dos gêneros e espécies existentes (Pabst, l975). A nível do mar, dependendo da latitude, o verão também é chuvoso mas o inverno nem é tão frio e nem tão seco. Mais para o sul, o verão é mais ameno e o inverno mais frio. Aí também a existência de diversos tipos de habitats (micro-climas inclusive) favorece sua riqueza. |
É
a segunda província de orquídeas caracterizada pelo
clima tropical quente e úmido, abundante umidade atmosférica
e ocupa grande parte do território nacional (Pabst, 1975).
A vegetação de restinga é bastante rica em orquídeas, especialmente considerando as condições climáticas rigorosas (Francisco Miranda, l995), com a presença de espécies de Cyrtopodium, Epidendrum, Cattleya, Eltroplectris, Oncidium, Brassavola, Bletia, Encyclia, Vanilla, Catasetum, etc. A
região do cerrado (Planalto Central) cobre as áreas
das chapadas que atingem 1.000m de altitude, do estados de Goiás,
parte do Maranhão, Piauí, oeste de Minas Gerais,
parte do Mato Grosso e Bahia. São áreas onde chove
de outubro até abril e seguido de um período de
seca muito intenso, onde a temperatura cai muito à noite.
Mesmo durante o verão, as noites são sempre frescas.
As espécies de Cyrtopodium e Habenaria
reinam nestes habitats. É a terceira província das
orquídeas situada no interior do continente, em altitude
de 600 a 1000m, com mesetas (chapadas), poucas serras de meia
altura, poucas árvores e palmeiras (Pabst, l975). No entanto,
em alguns lugares, há um período de seca muito longo
como na Chapada de Diamantina, Bahia, habitat das Cattleya
tenuis and elongata, onde há registro de
7 anos sem chuva (Marcos Antonio Campacci). |
COMENTÁRIOS E CURIOSIDADES SOBRE GÊNEROS E ESPÉCIES Neste levantamento, algumas informações foram confirmadas: - As espécies no Brasil se distribuem, sobretudo, pela região sudeste (Mata Atlântica). - Os estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro possuem cerca de 1/3 das espécies que ocorrem no Brasil. Por outro lado, uma outra informação surge de maneira clara, a região amazônica possui muito espécies do que se acreditava anteriormente. Um dos registros mais curiosos é ocorrência de área pluvial amazônica (enclave amazônico), na divisa do estado do Espírito Santo com o estado da Bahia, chamada de Hiléia Bahiana: "Floresta de tabuleiros semelhante à mata de terra firme amazônica, onde ocorrem altos índices pluviométricos apresentando muitas espécies amazônicas inclusive com árvores de grande porte chegando a 40m de altura e com ocorrências de espécies de orquídeas simpáticas amazônicas do gênero Brassia, Cycnoches, Coryanthes, Maxillaria, Stellis, Chaubardia". (Augusto Ruschi, 1986). |
Acacallis Lindl. | |
Gênero
de grande beleza e de colorido não muito comum entre as
espécies de orquídeas, ocorre na região Amazônica
ou limítrofe (Estados do Acre, Amazonas, Mato Grosso, Pará,
Roraima e Rondônia). Acacallis cyanea cresce junto
ao nível d'água e muitas vezes as plantas ficam
submersas por vários meses (Francisco Miranda - l996).
Em excursão de l909-1910, foram encontradas plantas com
até 5m de caule (Hoehne, 1930). |
|
(AC, AM, MT, PA, RO, RR) |
Aspasia Lindl. |
Aspasia variegata Lindl. é a espécie de maior dispersão principalmente em estados da região amazônica. |
(AL, AM, AP, DF, ES, GO, MA, MT, PA, RJ, RO, RR, TO). |
Aspasia silvana F. Barros |
|
A
mais nova espécie do gênero, descrita em l998. |
|
(BA, ES, RJ) |
Batemania Rchb. f. |
Todas as espécies ocorrem na região amazônica. |
Beadlea Small | |
Gênero terrestre
de, aproximadamente, 20 espécies concentradas nas regiões
sul e sudeste com tímidas incursões nos estados
da Bahia e de Pernambuco. |
Bifrenaria Lindl. |
Gênero com espécies epífitas e/ou rupícolas, estando quase todas concentradas nas regiões sul e sudeste, além da Bahia, com exceção de Bifrenaria longicornis e Bifrenaria venezuelana na região amazônica. |
Bifrenaria aureo-fulva(Hook) Lindl. | |
Tem seu
habitat na Mata Atlântica, planta epífita e eventualmente
rupícola (Coletânea de Orquídeas Brasileiras
2, Bifrenaria, Editora Brasil Orquídeas) |
|
(BA, ES, MG, PR, RJ, RS, SC, SP) |
Bletia Ruiz & Pavón |
Bletia catenulata Ruiz & Pavón tem uma distribuição maior do que se acreditava e se espalha sobre o Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins. Em alitude média, ocorre em barrancos associada ao Phragmipedium vittatum e, a nível do mar, em restinga. |
Catasetum
L.
C. Rich. ex. Kunth |
Ctsm sanguineum Lindl. & Paxton (MS) |
A
respeito deste gênero, um dado bastante curioso foi apontado
por Francisco Miranda (Orquídeas da Amazônia Brasileira-
l996): " ...é relativamente comum que apareçam (flores femininas e masculinas) na mesma haste, e até com flores hermafroditas junto. Nesses casos, a regra - que permite exceções - é que as flores femininas ocorram na base da haste, as hermafroditas para o meio e as masculinas para o ápice." |
|
Cattleya Lindl. |
Das
aproximadamente 50 (*) espécies que vegetam desde o México
até a Argentina, 32 ocorrem no Brasil, isto sem contar
com o grande número de variedades existentes dentro de
uma mesma espécie e o grande número de híbridos
naturais entre suas próprias espécies e os outros
gêneros. Ocorrem desde o extremo norte, nas serras Pacaraima
e Parima, em Roraima, na divisa do Brasil com a Venezuela e Guiana
até o Rio Grande do Sul. A Mata Atlântica é o habitat que concentra um maior número de espécies, nos estados do sudeste e na Bahia (na região nordeste) que, por sua vez, o estado mais rico com 14 espécies, depois Espírito Santo com 13, Minas Gerais com 11, Rio de Janeiro com 10, São Paulo com 9. Nesta região, as espécies se concentram à leste avançando em direção ao oeste. |
Cattleya acklandiae Lindl |
(BA, ES) |
A Amazônia brasileira é berço de 7 espécies: Cattleya araguaiensis (**), eldorado, jenmanii, luteola, lawrenceana, mottae e violacea, além de 2 híbridos: C. x brymeriana (C. violacea x C. eldorado) e Brassocattleya x rubyi (Brassavola martiana x Cattleya eldorado, no estado do Amazonas). |
Cattleya luteola Lindl. | |
Ocorre em matas de terras firmes - floresta ombrófila densa) | |
(AC, AM, PA, RO) |
Cattleya violacea (H.B.K.) Rolfe | |
Vegeta em ambiente de umidade ambiental elevada e não suporta temperatura muito baixa (Kleber Lacerda, 1995) | |
(AM, MS, MT, PA, RO, RR) |
Devido
a sua capacidade para hibridação, só na natureza
suas espécies se intercruzaram mais de 38 vezes e, com
outros gêneros, 31 vezes. Em outras palavras existem mais
híbridos naturais do que espécies. (*) Recentemente as espécies do México e algumas da América Central foram transferidas para o gênero Guarianthe. (**) Recentemente transferida para o gênero Cattleyella. |
Caularthron
Raf.
Gênero de 3 espécies com distribuição exclusiva para a região amazônica. |
Caularthron bicornutum Raf. | |
Espécie
de maior área de dispersão, ocorrendo nas campinas
e igapós em locais mais abertos e iluminados (Francisco
Miranda, l996). |
|
(AM, PA, RO, RR) |
Cirrhaea Lindl. |
Gênero de poucas espécies ocorrendo no sul e sudeste com uma única exceção para o estado da Bahia (Cirrhaea silvana) |
Cirrhaea saccata Lindl. |
(PR, RS, RJ, SC, SP) |
Coryanthes Hook. |
O
gênero está concentrado na região Amazônica
mas aparece também na chamada Hiléia Bahiana (Bahia
e Espírito Santo- Coryanthes speciosa). |
Cyrtopodium Robert Brown |
O
Brasil é o país mais rico com cerca de 35 espécies,
algumas delas com descrição recente e o Planalto
Central é o centro geográfico de distribuição
do gênero. O Cyrtopodium cristatum Lindl é
a espécie com área de distribuição,
em 14 estados, seguido do Cyrtopodium eugenii Rchb. f e
Cyrtopodium polyphyllum (Vell.) Pabst ex F. Barros (mais
conhecido como Cyrtopodium paranaense) em 13 estados.
|
Até
hoje não foi esclarecida a questão das espécies
anteriormente consideradas como Cyrtopodium andersonii, assim
como não se chegou ainda a uma conclusão se
Cyrtopodium glutiniferum Raddi e Cyrtopodium cardiochilum
Lindl. são sinônimos ou duas espécies
válidas. |
Cyrtopodium intermedium Brade | |
Planta rara, considerada como um híbrido de Cyrtopodium gigas (Vell.) Hoehne e Cyrtopodium palmifrons Rchb. f. com ocorrência a uma pequena região do estado de Minas Gerais. |
Dimerandra Schltr. |
Dimerandra emarginata (Meyer) Hoehne | |
Tem
uma ocorrência curiosa, aparece na região norte,
nordeste e na chamada Hiléia Bahiana (sul da Bahia
e norte do Espírito Santo). |
|
(AL, AP, AM, BA, CE, ES, MA, PA, PE, SE) |
Eltroplectris Raf. |
Gênero terrestre com cerca de 11 espécies. |
Eltroplectris triloba (Lindl) Pabst | |
ocorre em área de restinga. | |
(ES, RJ, RS, SP) |
Encyclia Hook. |
Possui quase 50 espécies e/ou híbridos naturais. |
Encyclia oncidioides |
Tem registro de ocorrência em quase todos estados, de norte ao sul, do leste ao oeste (Mato Grosso), em floresta tropical úmida e também na Mata Atlântica (Coletânea de Orquídeas Brasileiras 1, Encyclia, CAOB). |
(AL, AM, BA, AP, CE, DF, ES, MG, MT, PB, PA, PE, PR, RJ, RN, RS, SC, SP, SE) |
Epidendrum L. |
Cerca
de 40 espécies ocorrem no Brasil, ocorrendo como epífitas,
rupícolas e terrestres, em todas as regiões. |
Epidendrum anceps Jacq., Epidendrum rigidum Jacq. e Epidendrum difforme Jacq. |
Aparecem em 17 estados de diferentes regiões. |
Epidendrum densiflorum Hook. | |
Floresce
em cerca de 15 estados do Amazonas ao Rio Grande do Sul. |
|
(AL, AM, BA, DF, ES, GO, MG, MT, PE, PA, PR, RJ, RS, SC, SP) |
Epidendrum nocturnum Jacq. |
Está
presente em cerca de 19 estados, desde o extremo norte até
o Rio Grande do Sul. Na Amazônia é bastante comum nas campinas e matas ribeirinhas e igapós e é também bastante comum fora da Amazônia (Francisco Miranda, l996). |
Fotos: Sergio Araujo - ©Sergio Araujo - 2005 |
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