Durante
o ano de 2003, um grupo de jovens perquisadores, que se dedica
à família Orchidaceae, efetuou um trabalho
abrangendo a Área de Proteção Ambiental de
Marapendi - APA Marapendi, localizada na cidade do Rio de Janeiro.
Melisa Bocayuva, Eduardo Saddi e Carlo Alberto Zaldini, sob a orientação de Cláudio Nicoletti Fraga, realizaram visitas periódicas mensais ao local objetivando o levantamento da flora Orchidaceae. Constataram a ocorrência de 8 espécies, sendo 7 terrestres e uma hemi-epífita. O resultado deste trabalho foi apresentado, sob a forma de painel, durante o Segundo Congresso Internacional de Conservação de Orquídeas (International Orchid Conservation Congress - IOCC II), realizado em 2004, em Sarasota, Flórida, no Marie Selby Botanical Gardens. No ano anterior, Eduardo Saddi já havia realizado visitas periódicas ao mesmo local com o objetivo de |
|
complementar seus estudos na área de Interpretação Ambiental, numa abordagem mais generalizada. |
APA Marapendi - Uma área de restinga Criação, Características geográficas - localização - Ocupação Antrópica Dentro da geografia do Brasil, a planície quaternária litorânea, ou restinga, ocupa cerca de 5.000 km de extensão, de um total de 9.000 km do litoral brasileiro. No Estado do Rio de janeiro, as restingas ocupam uma área de aproximadamente 1.200 km2, ou seja, 2,8 % da área total do estado (Araujo & Maciel, 1998). No município do Rio de Janeiro, foi a cobertura vegetal que, proporcionalmente à sua área, apresentou os maiores índices de diminuição ( 30% de perda), na segunda metade da década de 80 e durante toda a década de 90. Criação da APA Marapendi Inserida dentro de um área de restinga, na Baixada de Jacarepaguá, foi criada em 1991, a Área de Proteção Ambiental de Marapendi – APA – Marapendi, compreendendo, além a lagoa e o canal de Marapendi, a faixa de areia entre a lagoa e o oceano e as áreas de entorno, abrangendo uma extensão de mais de 9.700 Km2. Esta criação vinculou-se aos movimentos ambientalistas das associações comunitárias locais. Ocupação antrópica A história da ocupação da Baixada de Jacarepaguá remonta à época do ciclo da cana-de-açúcar quando esta área era utilizada para sua cultura. Depois desta fase, a ausência de uso intensivo por quase um século permitiu a regeneração natural de grande parte da cobertura vegetal. No entanto, a criação da auto-estrada Lagoa-Barra intensificou a urbanização das restingas da região, o que ocasionou grandes perdas para o ecossistema do entorno da lagoa de Marapendi, assim como das outras lagoas inseridas dentro da mesma bacia hidrográfica de Jacarepaguá (Jacarepaguá, Camorim, Tijuca Lagoinha). O despejo indiscriminado de esgoto e lixo em suas águas é uma ameaça à sua biodiversidade Características ambientais A APA-MARAPENDI representa um fragmento de restinga antropizado, mas, em virtude da diminuição da cobertura vegetal já citada, serve como um refúgio para a vida silvestre relevante para o estudo e o manejo no município. Possui vegetação característica de restinga com fito-fisionomias variadas, apresenta uma mata de restinga com árvores de grande porte e uma formação mais aberta com moitas. Pode-se encontrar no local alguns remanescentes de sua mata original, como Tabebuia cassinoides ou pau-de-tamanco, espécie ameaçada de extinção. Outro aspecto interessante é a presença de árvores pioneiras, como Joannesia princeps ou boleira, e grande número de lianas o que indica que a mata se encontra em regeneração. Não sendo um fragmento contínuo, as coletas foram realizadas em diferentes fragmentos. Algumas espécies foram observadas em todos os fragmentos e outras, não, o que não significa que não ocorram ou que suas populações se encontram reduzidas. Não se conhece a dinâmica de populações dessas espécies na área. Desenvolvimento da pesquisa A pesquisa foi realizada através de coletas mensais durante todo o ano de 2003. Todo material botânico fértil foi herborizado e posteriormente depositado no Herbário RB. Materiais vegetativos também foram coletados para a formação de um banco de germoplasma e foram tombados na Coleção Viva do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, dispostos na estufa de Orchidaceae daquela Instituição. Até o momento, a área apresenta 7 espécies terrícolas e uma hemi-epífita (Vanilla bahiana Hoehne ). Não foram observadas espécies epífitas e esta ausência indica que a área sofreu uma extração acentuada de espécies antes de ser oficializada como unidade de conservação, o que proporciona a possibilidade de servir como modelo para trabalhos de re-introdução de espécies e manejo de populações. |
fruto |
Dentre
as espécies representadas na área, Eltroplectris calcarata (Sw.) Garay & Sweet encontra-se ameaçada para o município do Rio de Janeiro. |
Habitat |
Ocorrem em ambiente sempre bem sombreado com uma camada bem espessa de serra pilheira, sobretudo as espécies de Eltroplectris Rafinesque e Prescottia Lindl. As outras são encontradas em outras condições, como em substrato com uma camada bem fina de serra pilheira e até em areia nua. |
Espécies |
Cyrtopodium polyphyllum (Vell.) Pabst ex F. Barros | |
Esta espécie ocorre em grandes populações nos diferentes fragmentos visitados, sendo observadas tanto em maior exposição à luz solar quanto dentro de moitas protegidas pelas copas das árvores. Em relação ao substrato vegetam tanto em camadas espessas de matéria orgânica como em areia nua. É comum observar suas populações floridas abundantemente e com frutificação. A área parece ser um bom remanescente para esta espécie. |
Epidendrum denticulatum Barb. Rodr. | |
Como
o Cyrtopodium polyphyllum, esta espécie é
também bastante observada ao longo da APA, ocorrendo em
diferentes locais, diferentes intensidades de luminosidade e diferentes
substratos. Também parece ser a área um bom remanescente para esta espécie. Foram também observadas frutificação de suas espécies. |
Eltroplectris Rafinesque | ||
Eltropletris calcarata |
Gênero
representado por duas espécies, Eltroplectris calcarata
(Sw.) Garay & Sweet e Eltroplectris triloba
(Lindl) Pabst. Ambas espécies foram observadas em diferentes fragmentos, em condições bem semelhantes, sempre ocorrendo em locais bem sombreados, com grossa camada de serra pilheira. Vários indivíduos desse gênero foram encontrados somente na forma vegetativa, mas, aparentemente, estão bem distribuídos ao longo da APA. Foram observadas populações frutificando. |
Eltroplectris triloba |
Prescottia Lindl. | ||
Gênero também representado por duas espécies, P. oligantha oligantha (Sw.) Lindl. e P. plantaginea Lindl. Os poucos indivíduos encontrados de ambas as espécie estavam localizados em único fragmento da APA. Da primeira, só foram observados 5. Ocorrem nas mesmas condições que as espécies de Eltroplectris e também foram observadas frutificando bem no local. |
Oeceoclades maculata (Lind.) Lindl. | |
Aparece
ao longo da APA nos diferentes fragmentos com muita freqüência.
Ocorre preferencialmente em locais sombreados. Florescem e frutificam bem na área. |
Vanilla bahiana Hoehne |
||
Espécie
também bastante observada nos diferentes fragmentos, ocorrendo
no interior de moitas, onde ficam protegidas da incidência
direta da luz solar, entretanto, é comum observar a passagem
desta espécie de uma moita para outra rastejando pelo chão,
ficando exposta à altas intensidades de luminosidade. A floração só foi observada no interior de moitas e a formação de frutos. |
Lista
das espécies de orquídeas encontradas com calendário
de floração
Mar | Abr | Mai | Jun | Jul | Ago | Set | Out | Nov | Dez | |
Cyrtopodium polyphyllum (Vell.) Pabst ex F. Barros | ||||||||||
Epidendrum denticulatum Barb. Rodr. | ||||||||||
Eltroplectris calcarata (Sw.) Garay & H.R. Sweet | ||||||||||
Eltroplectris triloba (Lindl.) Pabst | ||||||||||
Prescottia oligantha (Sw.) Lindl. | ||||||||||
Prescottia plantaginea Lindl. | ||||||||||
Oceoclades maculata (Lindl.) Lindl. | ||||||||||
Vanilla bahiana Hoehne |
Pesquisadores: Melissa F. Bocayuva Cunha - Mestranda da Escola Nacional de Botânica Tropical, JBRJ Eduardo Saddi - bacharelando de Biologia Vegetal da UFRJ. Carlo Alberto Zaldini - Biólogo, graduado pela Universidade Santa Úrsula - Rio de Janeiro Orientador: Cláudio Nicoletti Fraga - Botânico, curador das coleções vivas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro |