ON: Wladyslaw, nestas andanças, você já encontrou espécies novas?
WZ: Encontrei, mas não considerei como tal e depois foram achadas por outros.

ON: Qual, por exemplo?

WZ: A Encyclia fowlie, eu encontrei com o Euclides Colnagoi muito antes do Fowlie andar por lá, mas eu não faço questão disto.

ON: Esta não é a sua vaidade...
AW: Tem a Laelia munchoviana que foi descrita pelo Miranda. Daniel Munchov é o nosso encarregado, na Pedra Azul e estávamos subindo o morro, Daniel foi para a esquerda, eu fui para a direita e o restante do grupo de orquidófilos ficou para trás, ele achou coisa de quinze segundos antes de mim e gritou.

ON: Vocês acham que ainda têm muitas por aí a serem descobertas?
AW: Se você procurar, acha. Tem que ter tempo para andar, para se dedicar, é um outro caminho. Tem um amigo nosso, Michel Frey, que está estudando Pseudolaelia e tem um monte de espécies novas.
WZ: Ele descobriu umas oito e já descreveu umas cinco.

ON: Qual a sua opinião sobre estas espécies? E você concorda que sejam novas?
WZ: Eu acho que sim, ele é meticuloso.
As espécies de Pseudolaelia que ele está achando nós já conhecíamos no habitat.
Não considerávamos como uma espécie nova, para nós era a velha e conhecida Pseudolaelia vellozicola, mas, na realidade, se formos nos deter, elas são novas, têm algumas que são bem diferentes. Perto de Colatina, ele achou a Pseudolaelia

Pseudolaelia brejetibensis
maquijiensis. Tem a Pseudolaelia freyi, da Pedra Feia também perto de Venda Nova. Tem a Pseudolaelia pavopolitana, uma minusculazinha, ele achou nos flancos da pedra na vila Pavão. Eu acho que são diferentes. Ele descreveu também a Pseudolaelia brejetibensis. Ele está fazendo um trabalho sério.
Há dois meses, subimos a Serra do Caraça, pois ele não conhecia a Pseudolaelia irwiniana. Estava tudo florido. Ele queria procurá-la em Diamantina, pois ela existe lá. Eu falei para ele que achar esta Pseudolaelia lá é como achar agulha no palheiro. Agora, no Caraça, é muito mais simples. Ele também encontrou achou Pseudolaelia citrina em Venda Nova do Imigrante, numa pedra, no lado direito, só neste lugar. É a amarelinha.


ON: O Espírito Santo é um estado rico neste gênero.
WZ: Temos também a famosa Pseudolaelia canaanensis que o Ruschi descreveu como Renata canaanensis. É a maior dela, é a gigante, lá no sítio, ele se espalhou e formou touceiras delas enormes sobre a pedra, como no habitat.

ON: Vocês falaram na Serra do Caraça, uma região muito interessante.
AZ: É um local protegido pelo parque e muito interessante. Alem da beleza, a região é rica em Laelias rupícolas, tais como: Laelia fournieri, Laelia kettieana, Laelia flava, Laelia crispilabia, Laelia lucasiana (ostermeyeri) e Laelia macrobulbosa. Numa mesma viagem encontramos 5 delas floridas.

Santuário do Caraça 





Laelia kettieana
Wladyslaw no habitat da Laelia kettieana


Lajedo em Pedra Azul.
Foto:Sergio Araujo

ON: Você deve ter observações preciosas sobre habitats e parece que existe o resultado disto lá no sítio de Pedra Azul.
WZ: Muitas observações. Hoje em dia está cada vez mais: quem viu, viu, quem não viu, não vê mais. Lá em cima, temos uma pedra onde plantamos mais de 300 Vellozias. Na época era fácil trazer, hoje em dia, não é mais possível. Tem Vellozia da Chapada Diamantina, da Serra do Cipó, de Ouro Preto. É um lajedo grande, nós fizemos o habitat de plantas com muitas orquídeas. É um lugar bonito, é como se fosse natural, se alguém tirar uma foto lá e dizer que é da Serra do Sincorá, o maior especialista não vai poder discernir. A Laelia sincorana já formou touceiras enormes nas Vellozias e já está nascendo sozinha assim como a Sophronitis brevipedunculata e a Cattleya porphyroglossa que, em Nova Era, dá nas Vellozias. Aqui em Viana, é tudo ainda muito novo, em Pedra Azul é mais bonito.

ON: O que você poderia acrescentar sobre o habitat da Laelia sincorana?
WZ: Ela dá no sertão da Bahia, em torno de 1.000/1.200m de altitude, florescendo no final de setembro, princípio de outubro. Na natureza, em 90% dos casos, ela dá nas Vellozias, só nos topos das montanhas, onde há uma concentração de umidade e de nuvens com uma precipitação de umidade e uma ventilação muito fortes. A aeração é muito forte naquela região. Ela dá em tepuis, são platôs de montanhas, onde crescem as Vellozias gigantes com mais de 2.000, 3.000 anos de idade, eu acho. Ela cobre literalmente estas plantas, recebendo alta aeração, alta luminosidade e alta umidade no ar, principalmente à noite. Só assim que ela se dá bem e nós temos que respeitar isto quando nós cultivamos a nossa Laelia sincorana em cativeiro. Nós temos que observar que, aqui no Espírito Santo, a 1.200m, o clima é completamente diferente daquele no sertão da Bahia na mesma altitude. Lá é muito mais quente, tanto que eu trouxer a sincorana direto da Bahia para a Pedra Azul, no princípio, ela vai se ressentir muito, vai ter que ser cultivada em estufa, praticamente.

ON: A comparação de temperatura diferente na mesma altitude é interessante...
WZ: Isto é válido também para outras regiões, 800m de altitude na Colômbia não corresponde, em termos de temperatura a 800m nosso. Depende do local.
AZ: Por exemplo, a linha da neve permanente lá é 4.000m, a nível do equador. Já na Patagônia é 700m, 800m. Com certeza também a insolação é completamente diferente, luz alta o ano inteiro sem variação de verão e inverno.

ON: Estas informações sobre os habitats são muito úteis para quem quer cultivar adequadamente uma planta. Muitas vezes, os cultivadores fazem exatamente ao contrário daquilo que a planta necessita, daquilo que ocorre na natureza, embora, é claro, é impossível copiar a natureza exatamente como ela é pois os fatores são inúmeros. Voltando à Laelia sincorana, apesar de você ter falado sobre a dificuldade de adaptação imediata em altitude, no Espírito Santo, você a cultiva em Pedra Azul?

WZ: Nós a cultivamos em Pedra Azul, a 1.100m. No princípio, ela sofre muito, as primeiras que vieram da natureza custaram muito a se adaptar, levaram três ou quatro anos. Mas as que são reproduzidas a partir de semente, nascem bem e crescem bem, sem problema nenhum.

ON: Você acha que as reproduzidas por semente se adaptariam também em Viana, 300m?
WZ: Possivelmente sim, mas eu acho lá é um pouco melhor do que aqui apesar de ter um clima um pouco rigoroso demais em termos de temperatura.

ON: E os habitats das espécies de Cattleya da Bahia como Cattleya elongata e Cattleya tenuis?
WZ: Cattleya elongata e Cattleya tenuis são de um local mais baixo, nunca dão na mesma região da Laelia sincorana. Enquanto que a sincorana dá no topo das montanhas, na Chapada, a elongata dá embaixo, mais ou menos em torno de 800m de altitude, ela não dá nas Vellozias, ela dá nas pedras mas é preciso observar que a pedra é arenito, não granítica, então ela absorve muita umidade.

ON: Então esta é a explicação pois sendo bifoliada, ele deve ter problema de retenção umidade. O tipo de pedra não é o mesmo da nossa região?
WZ: A nossa é granítica e não dá. O arenito é poroso e, quando chove, absorve muita umidade que vai sendo cedida gradativamente, às raízes da elongata. A elongata também se mescla muito com pequenos arbustos onde ela tem uma certa proteção contra o sol, não fica com raízes tão expostas, tem também uma proteção das camadas de detritos vegetais que se acumulam em cima da pedra. As grandes concentrações desta espécie ficam ao longo dos rios e a maior concentração é em Mucugê, ao longo do rio Sandália Bordada. São verdadeiros jardins, é uma coisa espetacular de se ver na época da floração.

ON: E a Cattleya tenuis, ela tem as mesmas condições ou vem de uma área mais seca?
WZ: Ela vem de uma área bem mais seca, é uma região mais central da Bahia, tanto que na época da seca, os riachos ficam secos, mas, na época de chuva, chove muito. Ela dá confluência entre o chão e início da árvore. Ela está protegida por uma meia sombra pois a região é tão seca que as árvores são totalmente desprovidas de folhas, mais ou menos como ocorre com a nobilior. Em Tocantins, na região de Azuis, onde nós temos a Cattleya nobilior amaliae, em setembro/outubro, que é época da floração dela, as árvores ficam totalmente desprovidas de folhas, nós vemos só aquelas touceiras de nobilior, nas forquilhas das árvores completamente sem folhas.

ON: Durante o inverno, Cattleya nobilior fica sob insolação é total? Poucas chuvas?
WZ: Total, 100% e nada de chuvas tanto que a Cattleya nobilior amaliae é muito sensível à chuva nesta época de inverno, ela não floresce bem.
ON: E os habitats de Cattleya schofieldiana?
WZ: Conheço muitos habitats aqui no Espírito Santo e na Bahia, até Porto Seguro, Arraial da Ajuda, é tudo região de schofieldiana e são as mais bonitas que vi. As do Espírito Santo têm as flores maiores, as pétalas chegam a cair como se fossem orelhas de burro. As da Bahia, não, elas todas são arrumadinhas mas temos também plantas com flores mais compactas, pétalas mais bem feitas, numa pequena região aqui em Domingos Martins. São as schofieldianas mais bonitas do Espírito Santo. As épocas de floração são diferentes, mas é a mesma espécie.

C. schofieldiana Jubarte

ON: E são as mesmas condições do habitat da Cattleya schilleriana?
WZ: Diferente da schilleriana, ela dá nas matas um pouco mais fechadas, normalmente onde haja formações rochosas internas pois se a mata for totalmente fechada, sem penetração suficiente de luz, ela não ocorre. Ela dá nas árvores em locais de muita umidade relativa.

ON: E o cultivo?
WZ: De um modo geral, podemos dizer que todas as bifoliadas são plantas necessitam de um cuidado todo especial no seu replante pois elas não tem reserva nos seus bulbos. Na natureza, todas elas são ligadas,de um modo ou outro, a algum manancial de umidade mas nenhuma delas gosta de raízes enterradas. Cattleya schilleriana, Cattleya schofieldiana, Cattleya harrisoniana, Cattleya guttata, Cattleya acklandiae, é toquinho, muita umidade no ar, muita aeração e muita umidade pois se, um dia, o bulbo chegar a enrugar, ele nunca vai chegar a se recuperar. Não é como na monofoliada, se a warneri nossa enrugar o bulbo por falta de água, na hora que dermos água a ela vai encher o bulbo e a vai se recuperar. A bifoliada não, pois não estoca nada.

ON: E a Cattleya velutina?
WZ: É a mesma coisa.

ON: Ainda existem muitas nos habitats?
WZ: Muito não, mas ainda se acha alguma coisa. Hoje, ela pode ser considerada quase extinta na natureza. Ela ocorre aqui no Espírito Santo, na região de Domingos Martins, a 800m de altitude, ou seja, em região mais alta do que Viana, porém mais baixa do que a Pedra Azul.
AZ: Ela aparece em árvores altas.
WZ: Em árvores altas e bem no alto das árvores, no meio da mata, onde elas recebem bastante luz, bastante aeração e a umidade que vem do solo da mata.

ON: Mas ela é uma planta considerada difícil, mesmo na natureza.
WZ: Não é, veja só: na natureza, ela é muito endêmica, ela não é espalhada pelo Espírito Santo todo, então ela está acostumada a um determinado clima numa determinada região. Se nós tirarmos e não reproduzirmos aquele clima, ela não aguenta.

ON: Mas há ocorrência desta espécie no estado de São Paulo.
WZ: Em São Paulo existe uma variedade, de labelo branco, chamada paulista.

ON: Não seria exatamente a mesma do Espírito Santo?
WZ: Não é exatamente a nossa, mas, diga-se de passagem, eu achei também uma velutina em Campo Redondo, na Chapada Diamantina, na Serra do Sincorá.

ON: Mas esta é uma informação nova!
WZ: É novo, eu achei lá, é idêntica à nossa, varia apenas a época da floração.

ON: Talvez em função da diferença de clima.
WZ : Isto acontece, daqui até Chapada Diamantina são 1.200 km. Lá achamos três pezinhos que eu pensei que fosse uma Cattleya porphyroglossa, mas quando floriu, era uma velutina.

ON: Por falar em Cattleya porphyroglossa, ela é uma planta muito mal conhecida e mesmo pouco cultivada. Seria porque as flores não se abrem totalmente?
WZ: Elas abrem, a única coisa dela é aquele labelo estreitinho, não tem aquela visão de uma velutina, de uma schilleriana, de uma acklandiae, de uma amethystoglossa, mas é uma planta bonita.

ON: E os habitats?
WZ: Eu conheci lá na Bahia, na Serra do Sincorá, na Chapada da Diamantina.

ON: Perto de rio?
WZ: Não, não foi perto de rio. Foi perto do habitat das sincoranas, só que elas dão no topo da montanha enquanto que Cattleya porphyroglossa dá embaixo, no platô, no planalto a 1.000m de altitude. A maior concentração foi em Nova Era, Minas Gerais, perto do rio das Velhas onde tem montanhas graníticas e nestas montanhas crescem muitas vellozias que eram literalmente cobertas de porphyroglossa. Depois o pessoal foi catando, catando, hoje só existe em lugares muito inacessíveis.


Cattleya guttata
ON: E a Cattleya guttata e a Cattleya leopoldii? Você considera como duas espécies? Até hoje isto ainda é muito discutido.
WZ: O pessoal confunde muito estas duas espécies. Discutir, se discute muito, mas é uma questão pessoal de cada um. O pessoal julga que a Laelia harpophylla e Laelia kaustky são duas espécies distintas, no entanto, elas são muito mais parecidas do que a guttata e leopoldii. A nossa Cattleya guttata vai pelo Espírito Santo todo e avança um pouco para o Rio. Outros dizem que ela ocorre até no Rio Grande do Sul misturada com leopoldii. Eu acho que não. No sul da Bahia não é mais guttata, é leopoldii. Eu acho que são duas coisas diferentes.


ON: No sul da Bahia e Pernambuco, você acha que já é leopoldii?

WZ: Pernambuco eu não conheço mas o sul da Bahia eu conheço, é leopoldii. O perfume é diferente, a época de floração é diferente, mas isto não vem ao caso.
 
A nossa aqui é guttata, tem o labelo mais estreitinho. Nós temos um habitat espetacular aqu,i de areia pura, sem nenhuma cobertura vegetal, por 15km de extensão e 1km de largura, touceiras e touceiras de Cattleya guttata, com 2 ou 3 metros de diâmetro. Hoje estamos levando o pessoal do IBAMA, tentando sensibilizar o prefeito do município para ver se a gente tomba aquela área para preservação natural. É uma coisa inacreditável, você anda o dia inteiro e vê milhares e milhares de flores, na areia.





habitats de C. guttata

ON: No Estado do Rio, temos também Cattleya guttata na restinga mas fala-se em caminhões e caminhões, retirando tudo.

WZ: Aqui também começaram a fazer isto, os fazendeiros não querendo que aquilo seja tombado pois é ligado à praia, 500m depois já começa a praia e é uma terra limítrofe às fazendas, eles não querem isto, estão colocando o gado para ver se descaracteriza para evitar o tombamento daquela terra.

ON: Destas suas viagens aos habitats, do conhecimento que você adquiriu, das suas observações, o que você aplicou aqui no orquidário?
WZ: Eu sempre digo que não é a orquídea que se adapta a nós. Nós é que temos que nos adaptar à orquídea. Ela está lá há milênios naquela condição. Ela não tem raciocínio, não tem juízo, nós é que temos que chegar até ela. Sendo assim, ela vai bem.

ON: Ou seja, uma questão de bom senso de respeitar. Aqui nós podemos ver pseudobulbos de Cattleya schilleriana e até mesmo de Cattleya violacea, Cattleya eldorado, como raramente se vê.
WZ: Mesmo na Amazônia é difícil de se ver. O problema é este, as bifoliadas dão mais ou menos do mesmo jeito. A Cattleya violacea é outra planta que não gosta de ser enterrada, tem que se plantada em toquinhos secos e molhada mais e requer uma adubação. Não adianta que o orquidário não é natureza, é um clima artificial, nós temos que suprir o que ela tem na natureza e não tem em nosso orquidário. Então é fundamental uma adubação correta.

ON: O que você considera uma adubação correta? O que vocês usam aqui?
WZ: A nossa adubação é foliar, não é radicular, orgânica. A adubação orgânica tem que se decompor para ser absorvida pela planta pois não há uma absorção imediata. Esta decomposição é feita pelas bactérias e fungos e nem todos eles são benéficos à orquídea. É também um caldeirão de proliferação que pode até criar um problema para a planta. Por outro lado, esta decomposição atinge também o substrato. A planta dá aquele impulso inicial muito forte mas, se, com decorrer do tempo, nós retirarmos nossa planta daquele vaso de plástico, às vezes com pouca drenagem, com xaxim socado e ainda, vamos dizer, impregnado com adubos orgânicos, torta do mamona ou qualquer outro destes que aparecem a cada instante, vamos observar que a raiz está preta, se decompôs também, alguma coisa não está correta. Como o crescimento é bastante rápido, ela vive das raízes novas que brotam nos últimos brotos. Na realidade, o que a orquídea absorve? Não é a matéria orgânica, ela absorve adubos que vêm da decomposição daquela matéria orgânica, o nitrogênio, o fósforo, potássio e todos aqueles micro-elementos. Então, a meu ver, se nós já dermos para a orquídea toda esta papinha já mastigada que é o adubo químico, com sais puros de qualidade, ela vai absorver de imediato. Um outro fator, a orquídea é muito ávida por nitrogênio mas mesmo a torta de mamona tem que se decompor para libertar o nitrogênio. Nos adubos que são vendidos no Brasil, o nitrogênio provém da uréia (40% de nitrogênio) pois é uma das fontes de nitrogênio mais barata que nós temos. Quando nós adubamos a planta com uréia, ela não é absorvida pela planta de imediato, ela não está em condições de oferecer nitrogênio pois ainda não está decomposta. É preciso que ela se decompa primeiro, já existem estudos lá fora a este respeito. E os adubos comerciais, mesmo os ditos foliares, muitas vezes, têm como fonte de nitrogênio a uréia e isto não é especificado na bula.

ON: É um trabalho duplo para a planta.
WZ: É um trabalho duplo. Tem alguém que fala algo até gozado: "quando adubamos com uréia, ela não tem condições de ser absorvida pela planta pois não está decomposta. Se molharmos durante dois dois dias, ela cai no córrego, passa para o riacho, do riacho para o rio e chega ao oceano, aí que ela está boa para adubar nossas orquídeas".

ON: Mas, neste caso, já foi embora há muito tempo. Você disse que mesmo os adubos dito foliares que encontramos à venda no mercado, podem ter como fonte de nitrogênio a uréia, como podemos ter certeza da fonte?
WZ: A maioria tem sim, temos que pesquisar a origem, pegar a bula, se não está na bula, perguntar ao vendedor ou ligar para o fabricante. Há pessoas que não aceitam esta teoria e acham que o adubo de uréia é ótimo. Como adubo de solo, a uréia é excelente mas não é o caso da nossa orquídea, que, às vezes, estando no toquinho, ela tem que absorver a adubação na hora que ela recebe. No nosso caso, nós só usamos adubo nitrogenado - compostos nítricos e amoniacais - e nunca a uréia. A absorção é imediata.

ON: É mas vendo as condições vegetativas de suas plantas, tem-se a impressão que vocês estão no caminho certo.
WZ: Você pode ver pelo o estado de nossas plantas... A planta chega aqui, o bulbo duplica, triplica.


ON: Wladyslaw, o estado do Espírito Santo como um dos mais ricos do Brasil, senão o mais rico, em termos de ocorrência de espécies de orquídea, tem também uma história de orquidofilia bastante rica. Você, ao longo de todos estes anos teve uma influência nesta história. Qual foi o seu papel na orquidofilia capixaba e na fundação da Sociedade Espírito-santense de Orquidofilia - SEO?
WZ: Podemos considerar que a SEO se iniciou aqui na minha casa no Barro Vermelho, em Vitória, quando um pequeno grupo de amigos se reunia aqui tomando vinho e beliscando alguns queijinhos e discutindo sobre a formação da sociedade e do desenvolvimento da orquidofilia no Espírito Santo. Essas idéias embrionárias tomaram corpo em abril de 1992 quando foi fundada a sociedade, sendo indicado como seu primeiro presidente Euclidio Colnago, que fazia parte destas reuniões. Inicialmente as reuniões mensais eram realizadas em vários lugares contando com a boa vontade de algumas pessoas que cediam salas para esta finalidade. Na mesma época eu era professor da UFES e pleiteei para fins educativos e culturais o auditório onde seriam feitas as reuniões mensais. Foi então definida a data da reunião mensal em Vitória, sempre no terceiro sábado de cada mês. As reuniões possuiam entrada livre e até hoje prevalece esta diretriz. A SEO não cobra nenhuma mensalidade dos associados. Já fui presidente da SEO e sempre tive o cargo de Diretor Técnico até presente data. O Alek é o nosso redator chefe e emite o boletim técnico mensal para todos os associados.

ON: E os núcleos regionais?
WZ: Como verifiquei que os associados dispersos pelo estado tinham dificuldade de participar das reuniões em Vitória, imaginei criar núcleos regionais com respectivos coordenadors, todos ligados a SEO. Assim foi criado o primeiro núcleo de João Neiva, onde tive uma certa ascendência e conhecimento dos orquidófilos locais. A cidade de J. Neiva vivia basicamente em função da manutenção de vagões da CVRD, da qual eu era responsável. O segundo núcleo criado por mim foi o da cidade de Linhares e assim sucessivamente.

ON: E hoje em dia, são quantos os núcleos?
WZ: Atinge um total de oito núcleos até a presente data: João Neiva/Ibiraçú, Linhares, Santa Teresa, Aracruz, Domingos Martins/Mal. Floriano, Cach. de Itapemirim, Vale do Cricaré (São Mateus) e Sta. Maria de Jetibá/Sta. Leopoldina.

ON: E as atividades da SEO?

WZ: Para dar assistência melhor aos núcleos, preparamos palestras audiovisuais sobre vários temas tais como cultivo, adubação, plantio, etc.. A SEO realiza todos os anos em Vitória a exposição estadual, que é patrocinada pela Prefeitura Municipal de Vitória. Este evento já consta do calendário cultural oficial da cidade.
Por sua vez os núcleos tambem realizam suas exposições regionais uma vez por ano. Não é cobrado ingresso e tambem não ocorre julgamento de plantas em nenhuma das exposições para permitir igualdade entre todos os associados e evitar pontos polêmicos como já ocorreu no passado.

ON: Muito obrigado
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Fotos: Arquivo Orquidário AWZ, exceto onde assinaladas

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