Palavras-chave:
Brasil, Espírito Santo, Mata Atlântica,
Orchidaceae, Pseudolaelia
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Resumo
Este artigo descreve Pseudolaelia maquijiensis M. Frey, uma
espécie recentemente descoberta oriunda das montanhas do Espírito
Santo, Brasil, relacionada com P. citrina Pabst com a qual
é comparada. São apresentadas informações
sobre sua ecologia e distribuição geográfica.
Introdução
O gênero Pseudolaelia Pôrto & Brade compreende
atualmente 10 espécies (Withner, 1994) incluindo a Pseudolaelia
canaanensis (Ruschi) Barros, transferida por Barros (1994) com
base na Renata canaanensis Ruschi, P. brejetubensis
M. Frey, espécie descrita em 2003 e P. freyi Chiron
& V.P. Castro, descrita em 2004. Estas espécies estão
localizadas no sudeste brasileiro, onde são encontradas principalmentes
nos estados do Espírito Santo e Minas Gerais, um pouco no Rio
de Janeiro e na Bahia (Pabst & Dungs, 1975). Elas são encontradas
exclusivamente sobre inselbergs graníticos que caracterizam
o relevo da região, com uma vegetação xerófita
e de alto endemismo (Porembski et al. 1998). A espécie descrita
é um bom exemplo deste endemismo já que ela, até
hoje, só foi encontrada e ainda assim em número reduzido,
sobre o inselberg que lhe dá o nome. Este trabalho descreve
esta espécie de Pseudolaelia e a compara com a espécie
vizinha além de fornecer informações sobre sua
ecologia e sua distribuição geográfica.
Pseudolaelia
maquijiensis M. Frey,
Richardiana Vol. V(1).39:45. Janvier 2005
Planta herbacea, lithophila, in genero parva, Pseudolaelia citrina
Pabst affinis, sed omnino major, inflorescencia paniculata, floribus
satis majoribus et tote sulphureis
TIPO: Brasil,
Espírito Santo, limite entre os municípios de Baixo
Guandu e de Colatina, Morro do Maquiji, 19° 29’ 55’’
S, 40° 50’ à 40° 52’ W, 700 m de altitude
aproximadamente, maio 2004 (floração), M. Frey 655 &
L. C. F. Perim (Holótipo : MBML, Isotype LY).
Descrição
Rizoma de 5-6 mm de diâmetro, recoberta de bainhas escariosas;
raízes simples, esbranquiçadas, finas, nascendo
em número de 2-3(5) nos entrenós dos rizomas; pseudobulbos
distantes de 3-4 cm, ovóides, com 3-4 cm de altura, 1,8 cm
de largura, pouco achatados, 4-6 entrenós, recobertos de bainhas
apressas quando novos, depois nus, violáceas e plurisulcadas;
folhas 2-3, dísticas, até 100 × 7 mm, emergindo
do ápice do pseudobulbo, envolvendo o pedúnculo na base,
depois espalhadas, linear-agudas, caniculadas em seu comprimento,
com espessura de 1 mm, verde um pouco púrpura, nuas, margens
lisas, púrpuras, ponta ligeiramente dessimétrica; inflorescência
nascendo do ápice do pseudobulbo, atingindo até
30(40) cm de comprimento, 2,5 mm de diâmetro em sua base, recoberto
de bainhas escariosas, imbricadas, em número de 7-10, as superiores
deixando ver o pedúnculo púrpura; raque raque paniculado,
3-4(6) ramificações, cada ramificação
tendo em sua base uma bráctea envolvente que vai até
a ramificação seguinte, ramificações com
(2)3-5(6) flores ; sub-pedúnculo púrpura, com 1 mm de
diâmetro, munido de brácteas triângulo-agudas,
com 1,5-2 mm de comprimento; pedicelo com ovário de
20 mm de comprimento (ovário com 8-9 mm), verde ligeiramente
púrpura na base, tornando-se claramente verde no ovário,
0,7 mm de diâmetro, 1,5 mm no ovário; flor ligeiramente
nutante, bem aberta, amarela; sépalas membranosas, com 13 mm
de comprimento, com 3,5 mm de largura, estreitamente elípticas,
amarelas, um pouco esverdeadas, glabras, com margens lisas, 7 nervuras
em pouco em relevo no lado abaxial, sobretudo a mediana, a dorsal
com a extremidade arredondada, com as bordas ligeiramente recurvadas,
as laterais estendidas, com uma extremidade um pouco côncava
e obtusa-apiculada; pétalas membranosas, 13-14 mm de
comprimento por 2 mm de largura, estendidas, estreitamente obovaladas,
glabras, margens lisas, extremidade côncava arrendondada e apiculada;
labelo com 13 mm de comprimento, 5,5 mm de largura na posição
natural (8 mm com os lobos laterais estendidas), soldada à
coluna até a sua metade, trilobado, composto de ungüículo
de 3 mm de compimento colado à coluna, em seguida lobos laterais,
4 mm de comprimento, 1 mm de largura, um pouco falciformes, encurvados,
circundando a coluna, extremidade aguda, se estendendo em um lobo
mediano oval munido de um ungüículo de 2mm de comprimento,
2,5 mm de largura, o limbo com 6,5 mm × 5,5 mm, amarelo limão,
calo formado sobre ungüículo de duas carenas paralelas
por seção semi-cilíndrica, se dividindo dentro
do lobo em 7 carenas serrilhadas-creneladas, periferia membranosa
e muito ondulada; coluna com 6 mm de comprimento, 1 mm de largura
tornando-se 2, terminando por duas asas arredondadas para baixo, apiculadas
na extremidade, verdes, estigma central em V, verde cercado de púrpura,
antera bigibosa, verde-purpurado, 8 políneas , amarelo-ouro,
em dois grupos de 4, discoïdes, sub-iguais.
veja figura 1 e fotografia.
figura 1 |
detalhe |
Etimologia
O nome da espécie faz referência ao « Morro do
Maquiji », inselberg típico da região de Colatina-Baixo
Guandu, Espírito Santo, Brasil, onde a planta foi descoberta
(até hoje, exclusivamente).
Habitat e distribuição
geográfica
P. maquijiensis é encontrada em uma superfície
sobre o « Morro do Maquiji », no limite dos municípios
de Colatina e Baixo Guandu, no centro do Espírito Santo, Brasil.
Il y est sympatrique de P. dutrae Ruschi, cujas flores são
rosadas. Supõe-se de maneira exclusivamente litófita,
em pequenas touceiras sobre as partes desnudas e expostas do morro.
Floração em maio.
Discussão
Pseudolaelia maquijiensis desenvolve-se em área
localizada no cume do Morro do Maquiji, que faz a divisa dentro dos
Municípios de Colatina e Baixo Guandu, ao norte do Rio Doce,
Espírito Santo. Ali, é simpátrica de P. dutrae
(Ruschi), com flores rosas. Cresce no litosolo encontrado na pedra
e evita as áreas vegetalizadas. A floração ocorre
em maio e junho.
As espécies de Pseudolaelia amarelas não são
numerosas e, se colocarmos à parte a Pseudolaelia canaanensis
(Ruschi) Barros, que é uma espécie de porte grande,
esta espécie só pode ser comparada com a Pseudolaelia
citrina Pabst (in Bradea, Vol II, N°12, pp 69-70). Todas as
duas são pequenas e litófitas (e não vellozicola
como diz Pabst de P. citrina), com pseudobulbos bastante próximos
(3-4 cm para P. maquijiensis versus 1 cm para P. citrina),
pequenos (3-4 × 1,8 cm versus 2 × 1,2 cm) com 4-6 entrenós
(versus 3), as bainhas e a superfície na P. maquijiensis
tornam-se claramente rosa-violáceas com a idade, com folhas
semelhantes porém maiores nesta espécie (100 ×
7 mm versus 40-70 × 5 mm), com inflorescência mais alta
(30-40 cm versus 14 cm) com uma forma geralmente paniculada com diversas
ramificações. Pabst não registrou este fato para
a P. citrina, mas nós encontramos certos exemplares
grandes com uma ou duas ramificações. As flores são
espalmadas na Pseudolaelia citrina e um pouco nutantes na
P. maquijiensis, e sobretudo notavelmente maiores em nossa
espécie (sépalas 13 × 3,5 mm versus 8 ×
1,6-2 mm, labelo 13,5 × 5,5 mm versus 9,5 × 4 mm), com
uma coloração amarela-enxofre localmente um pouco esverdeada
na P. maquijiensis, enquanto que na P. citrina, se o
labelo é bem amarelo, um pouco mais alaranjado do que na outra,
em compensação têm nuances de rosa púrpura
no interior e tornam-se claramente desta cor no exterior, com nervuras
mais fortes. Alem do mais, pode-se notar que a P. citrina vegeta
em altitude de 1 200 m enquanto que a P. maquijiensis é
encontrada abaixo de 700 m.
Bibliografia
Barros, F., 1994. Novas combinações, novas occorrências
e notas sobre espécies pouco conhecidas para as orquideas do
Brasil. Acta Botanica Brasilica 8(1) :11-17
Frey, M., 2003. Pseudolaelia brejetubensis M. Frey (Orchidaceae),
uma nova espécie do Espirito Santo, Brasil. Bradea, 9(8):33-36
Chiron, G. & V.P. Castro Neto, 2004. Une nouvelle espèce
de Pseudolaelia (Orchidaceae: Laeliinae ) d’Espirito
Santo. Richardiana, IV(4) :155-162
Pabst, G. F. J. & F. Dungs, 1975. Orchidaceae Brasilienses, vol
1, K Schmersow, Hildesheim
Porembski, S., G. Martinelli, R. Ohlemüller & W. Barthlott,
1998, Diversity and ecology of saxicolous vegetation mats on inselbergs
in the Brasilian Atlantic rainforest. Diversity and distribution,
4:107-119
Withner, C. L, 1993. The Cattleyas and their relatives, vol III, 105-109,
Timber Press, Portland USA
Fotografias: Michel Frey
Iluistração: Luca Fontani
Agradecimentos
Ao Euclidio Colnago, o primeiro que falou conosco a respeito do Morro
do Maquiji e
À Dona Onorina Barbieri Spelta e seus filhos, pelo acolhimento
e guia no lugar.