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Maria
Rita Cabral é médica não atuante, dona de
casa, com 4 filhos e 6 netos.
Mineira, criada em fazendas, sempre gostou muito de plantas em
geral e cultiva suas orquídeas em sua casa de campo no
município de Paty do Alferes, RJ, a 600 m de altitude. |
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ON: Por
que começou a cultivar orquídeas? Qual foi o momento
mágico da atração? Houve algum fato ou pessoa
que a tenha influenciado muito? |
MR: Eu
tinha algumas orquídeas no meio de minhas plantas em Paty,
mas ainda não tinha batido a paixão desenfreada.
Meus filhos foram crescendo e eu comecei a ter mais tempo para
mim. Lendo sobre Delfina (ela talvez esteja descobrindo isto agora)
em seu site e sobre a obra do Érico de Freitas, fui comprando
uma plantinha aqui e outra ali e de repente, me vi ligando para
D. Helga, pedindo ajuda para comprar, por telefone, mudas que
fossem bem aqui em Paty, na serra fluminense, bem como que entouceirassem
bem (gosto até hoje de plantas entouceiradas, costumo comprar
mudas e agrupá-las ao invés de dividi-las, é
uma tara, acredito).
Depois me enchi de coragem e pedi ajuda à Delfina para
identificar algumas das quais |
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só
tinha as fotos e ela foi muito delicada comigo.
Se tive influências, sim, de Érico (através
de sua obra e de D. Helga), de Delfina, dos listeiros mais antigos
das listas que participo, da amiga Apolônia Grade, de Américo
Docha, Dalton Batista, Alexandre Bicolor, Carlos Keller, Fátima
Caires, Paparelli, Vera Coellho, a amiga Mariana de Paty. Acho
que vou esquecer gente muito importante, mas com os citados tive
maior contato primeiramente, pelo tipo de cultivo que escolhi.
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ON: Há quantos anos cultiva orquídeas?
MR: Há aproximadamente 3 ou 4 anos como cultivadora, observando,
estudando, comprando muita literatura, aprendendo com os mais experientes.
ON: Híbridos ou espécies. Se espécies, quais
as que mais cultiva? Existe alguma planta que seja a preferida?
MR: Não vou dizer que não tenha híbridos, mas
90% com certeza são espécies. Acho que meu maior cultivo
é Pleurothallis, Maxillaria, Oncidium
embora tenha muitos Bulbophyllum, Cattleya, Bifrenaria. Diria
que as espécies de Maxillaria são as preferidas,
não resisto a formar uma touceirinha delas, comprando muitas
vezes 3 ou 4 mini touceiras e as agrupando.Costumo dizer que o Jorge
Luiz (Itaorchis) me faz comprar seus híbridos, mas me encantam
mesmo as espécies. |
Maxillaria sp |
Bulbophyllum lobbii |
Bifrenaria harrisoniae alba |
C amethystoglossa |
ON:
Quanto tempo por dia, você gasta cuidando de suas orquídeas?
MR: Se estou em Paty, geralmente no final de semana, gasto de
4 a 6 horas. Aqui no Rio, lendo, participando de discussões,
umas 2 horas por dia. Tento nas férias estar lá
mais tempo e aí consigo maior atenção.
ON: Quantas plantas você possui, aproximadamente?
MR: Algo próximo de 1200 plantas, incluindo as que tenho
que olhar com lupa, como diz o Carlos Henrique Paparelli |
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ON:
Apesar do número de plantas, você não tem
um orquidário ou estufa no sentido tradicional.
MR: Fiz um trato com o marido para não ter estufas, ele
queria um paisagismo compatível com o ideal dele. Então,
meu cultivo é todo na natureza.
Tenho várias árvores de mais de 30 anos que
estão cheias de orquídeas, seja no tronco, seja
penduradas nelas. Entre a copa de duas árvores coloco tocos
velhos, carros de boi, carros de bode, cheios de vasos. |
Também
tenho 3 ripados sob as árvores, entre suas copas. Coloco
sob os ripados muita avenca para melhorar a umidade, bem como
tenho espalhado entre as árvores samambaias e chifres de
veado, também para aumentar a umidade.Tenho duas treliças
em madeira, com sombrite, para o sol do inverno que incidiria
lateralmente sobre o orquidário, por sua órbita
neste período e porque algumas das árvores, como
o caquizeiro, a amoreira, a nogueira, a pecã perdem as
folhas neste mesmo período. Molhando sempre a grama no
inverno, mantenho a umidade do ambiente. Tenho um aramado embaixo
da mais frondosa árvore, uma pitombeira, que fiz um S com
ele, garantindo o equilíbrio com tubo de pvc cheio de pedras,
fincado no chão, pendurando as micros menores nele, com
também Drácula, Masdevallia, alguns
Pleurothallis. |
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ON:
Quais as condições climáticas encontradas
em seu ambiente de cultivo?
MR: Paty é frio como Petrópolis, porém bem
mais seco. Diria que se assemelha mais ao micro clima de Itaipava.
O inverno é frio, atingindo com freqüência 10
graus porém seco. No verão é úmido
com noites bem frescas. No outono e inverno costumamos ter, nem
sempre, aquela bruma matinal. Não tenho tido perda de plantas
por falta de água, tenho é que torcer para o período
de chuvas ser intercalado com sol, para garantir que o substrato
seque no verão. |
Anathallis leptotifolia na raiz.
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ON:
O que você poderia nos falar a respeito de adubação,
rega, suporte, vaso, substrato ...
MR: Tenho tido maior sucesso com os cachepot em madeira, embora
tenha muito vaso em barro e alguma coisa em plástico. O
cultivo em pet ou brita pura não foi bem aceito pelo caseiro
que cuida das plantas durante a semana. Ele molhava demais, por
cima das folhas no pet e começou a dar fungo, as de brita
pura (como alguns cultivadores usam com sucesso), ele molhava
de menos. A brita só uso a que vem do Jorge, com carvão
e pinus. Como substrato, uso em vasos e cachepot o “Rendmax
orquídeas e bromélias”. Ouso, algumas vezes,
o tipo de vaso que uso. |
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Cortiça como vaso para micro |
Sapucaia como vaso |
Por exemplo, uso a sapucaia e a corticeira, seja como placa seja
como vasos.
Se como vaso, furo as sapucaias, coloco pedras, substrato. Se
como placa, planto por fora da mesma.
A corticeira, uso como placa ou junto duas placas e formo um vaso
para micros.
Outra coisa que costumo fazer é pegar troncos velhos, raízes
bonitas, pelas estradas ou até onde vendem e ir grudando
plantas.
Tenho uma raiz velha com mais de 10 Catasetum diferentes, parece
um só, mas ao florir vemos claramente que foi agrupado.
Tenho uma raiz com Anathallis leptotifolia que adoro e
que pendurei |
entre os galhos
da nespereira.
Adubação é com “Peter’s”
intercalando semanalmente floração e crescimento (não
há como pedir, se eu não estiver presente, que o caseiro
veja que planta precisa de qual adubo). Comecei neste mês
a usar o adubo foliar do Durigan, que abaixa o ph para a melhor
absorção. Aplico adubo orgânico trimestralmente,
o bocashi. |
ON:
E o controle de pragas e insetos?
MR: Tendo todo o orquidário fora de estufa, minhas plantas
estão mais sujeitas a insetos por isto uso preventivamente
“Neem I Go” semanalmente. Poderia ser até quinzenalmente,
mas faço por segurança para garantir que todas as
plantas o recebam, se eu não estiver presente e o caseiro
passar muito rapidamente. Se ele não atingir alguma planta
numa semana, eu garanto que na outra semana, ele a atinja. Este
produto é um misto de óleo de neem, alho, pimenta
malagueta, óleo de karanja, urucum e artemísia.
Ele tem propriedades fungicidas, inseticidas, até viricidas...
tenho pouco problema de insetos e fungos. Uso numa diluição
de 1% no final da tarde. É um produto natural, nenhum dos
pássaros soltos no meu quintal apareceu morto.
ON: Com este cultivo ao ar livre, com as plantas bastante espalhadas,
qual solução você encontrou para facilitar
a rega?
MR: Fiz um esquema de irrigação utilizando canos
em pvc que sobem dentro de tutores de fibra de coco. Daí
sai uma mangueira preta com aspersores por entre as árvores.
Este sistema só uso no inverno, para garantir
também mais umidade. No verão, para evitar que o
caseiro molhe em demasia, deixamos fechado. Procuro controlar
do Rio a umidade, perguntando ao caseiro: - Está frio?
Está ventando? Qual a umidade marcada? E vou dizendo se
molha hoje ou não.
ON: Existe alguma história ou caso interessante ligado
à sua relação com as orquídeas?
MR: Fui descobrindo pessoas que conviveram comigo de alguma forma
na infância, com as quais havia perdido totalmente o contato,
nos encontrando nas listas de discussão sobre orquídeas.
Esta parte de conhecer pessoas, trocar conhecimentos para mim
é muito gratificante na orquidofilia. Bem como as novas
amizades que fazemos.
ON: Diz-se que a orquidofilia é uma manifestação
de branda loucura. Você já fez alguma loucura orquidófila?
MR: Creio que sim, ao adquirir uma Sophronitis coccinea alba,
se pensarmos em custo.
ON: Muito obrigada, Maria Rita
Fotos: Maria Rita Cabral |
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