Palavras-chave : Brasil, Minas Gerais, Floresta Atlântica, Orchidaceae, Epidendrum, E. josianae, E. warasii, E. zappii

Sumário
Este artigo descreveu Epidendrum josianae, uma espécie que ocorre nas montanhas do Minas Gerais, Brasil, relacionada com Epidendrum warasii Pabst e Epidendrum zappii Pabst com as quais é comparada. São apresentadas informações sobre sua ecologia e distribuição geográfica.

A flora muito específica do tipo xerófita e o forte endemismo dos inselbergs graníticos da Floresta Atlântica brasileira fornecerão um bom número de espécies novas. Aparentemente, esta flora tem sido menos estudada do que aquelas das florestas propriamente ditas ou daquelas das restingas. Este artigo descreveu Epidendrum rupícola de tamanho grande que, por certos aspectos, faz pensar no Epidendrum warasii Pabst ou no Epidendrum zappii Pabst, mas que se distingue fortemente deles quando examinado com mais atenção, como é mostrado a seguir.

Epidendrum josianae M. Frey & V.P. Castro
Richardiana V(2) Abril 2005

Planta herbacea, rupicola, in genero grandis, caulibus non pseudobulbosis, strictis, distiche foliatis, foliis amplexicaulibus, crassis, ovatis, apice rotundatis, inflorescencia terminale, in caulibus vetis producta, paniculata cum 3-7 ramis, pedunculo rhachidique uprightis, ramis patentibus, unoquoque cum 4-7 floribus, pedicellis cum ovario 3-4 cm longis, nutantibus, floribus olivaceis cum labelo albo-viridescente, sepalis petalisque ovatis, concavis, labelo bilobato, coluna alba, anthera lilacina.

Tipo

Brasil, Minas Gerais, Município de Lajinha, Imbiruçu, Pedra Santa, 20° 11’ S, 41° 26’ W, altitude 1 200 m, outubro 2004 (flores), M.Frey 711 (holótipo : MBML, n°22785).

Descrição
Planta litófita, herbácea, cespitosa; rizoma muito curto, raízes carnosas, esbranquiçadas, atingindo até 30 cm de comprimento, 6 mm de diâmetro; caules eretos, ligeiramente arqueados, com até 1,20 (1,50) m de comprimento, 2 cm de diâmetro, muito ligeiramente achatadas lateralmente, recobertos de bases escariosas, imbricadas, aplicadas, com comprimento de 2cm, folhas velhas; folhas até 30 (40), dísticas, amplexicaules depois estendidas, caniculadas na base, elípticas com a extremidade arredondada, ligeiramente retusa e dessimétrica, glabras, margens lisas, nervura central saliente, lateral abaxial, carnudas (1,2 mm de espessura), verde; inflorescência terminal ereta, com até 15 (20) cm, paniculada fortemente achatada (8 × 5 mm), munida de bainhas escariosas, aplicadas, rapidamente caducas, ráquis com comprimento de 8 (10) cm, carregando até 6 ramificações curtas, estendidas, de 4-7 flores cada uma; brácteas triangulares, agudas, membranosas, com comprimento de 5 mm, verde claro pontuado de vermelho-vinho; pedicelos-ovários nutantes, de até 40 mm de comprimento, o pedicelo verde claro com comprimento de 10-15 mm, diâmetro de 2 mm, o ovário com comprimento de 25-30 mm, diâmetro crescente até 4 mm, púrpura, finamente hexasulcada ; flores bem espalmadas, aproximadamente 32 × 32 mm, tépalas verde-oliva, lateral adaxial, marcas de púrpura, sobretudo as sépalas, lateral abaxial ; sépalas elípticas, côncavas, carnudas, bordas recurvadas, extremidade ligeiramente apiculada, glabras, margens lisas, 3 nervuras visíveis (pouco) em transparência, mais claramente no seco, com comprimento de (15)-18-(20) mm, largura de (6)-8-(11) mm; pétalas oblongas, um pouco côncavas , carnudas, extremidade obtusa, glabras, margens lisas, 3 nervuras bem visíveis no seco, com comprimento de (12)-15-(18) mm, largura de (5)-7-(10) mm; labelo adnato à coluna em todo o seu comprimento, formado de um ungüículo com comprimento de 5 mm soldado à coluna, depois soldado para baixo, se abrindo em lobo oval transverso, com comprimento de 10-12 mm, largura de 14-18 mm, branco na base e no centro, verde na periferia, extremidade bilobada, margens externas serrilhadas, tendo no término do ungüículo 2 calos brancos e semi-cilíndricos que se tornam 3 calos brancos pouco salientes, o mediano duas vezes maior do que os laterais; coluna com comprimento de 8 mm, ligeiramente encurvada, largura crescente de 2 a 4 mm, espessura de 2 a 5 mm, verde na base, se tornando branco, munido de duas asas descendentes com extremidade sub-retangular, que esconde o estigma; antera terminal triangular arredondada, branco-rosado, munida de um calo mediano vertical e provido interiormente de 4 estojos contendo as polínias, em número de quatro, amarelas, discoïdo-truncadas, aproximadamente 1,2 mm, reunidas duas a duas sobre os caudículos achatados com bordas serrilhadas que se juntam na base sobre um pequeno viscídio, cápsula desconhecida.
Ver desenho 1 e fotografias


Fig. 1 : Epidendrum josianae M. Frey & V.P. Castro, sp. nov.
Desenho de Marcio Lacerda, novembro 2004
a : planta – b : inflorescência – c : flor vista de frente – d : flor vista lateral - e : segmentos florais – f : antera vista inferior – g : polínias


Etimologia
Em homenagem a Josiane Guiard, uma orquidófila francesa que participou na descoberta desta planta.

Habitat e distribuição geográfica
Epidendrum josianae foi encontrado sobre as escarpas da Pedra Santa, um inselberg que domina a vila de Imbiruçu, no Município de Lajinha, Minas Gerais. Cresce como rupícola entre Bromeliaceae e Velloziacea que vicejam no local. Encontram-se também algumas Orchidaceas, entre elas, pelo menos duas espécies de Pseudolaelia, além de Bifrenaria, Encyclia, o onipresente Epidendrum denticulatum. E. josianae não foi encontrado, até hoje, nas imediações, muito embora uma espécie de características semelhantes tinha sido encontrada sobre um inselberg próximo. No entanto, parece que há entre as duas espécies diferenças suficientes para que não sejam confundidas. Um estudo mais aprofundado esclarecerá esta dúvida.

Discussão
Esta espécie tem pontos comuns com algumas espécies de grandes Epidendrum, como Epidendrum warasii Pabst e Epidendrum zappii Pabst, dos quais se distingue por várias características. O que chama a atenção, nesta espécie, à primeira vista, é que a inflorescência parece se desenvolver exclusivamente em antigos ramos, já desfolhados, enquanto que as outras espécies citadas florescem em brotos novos. As folhas de E. josianae são grandes e largas (relação largura/comprimento ½) e bastante próximas (2 cm), enquanto que, E. zappii tem uma relação largura/comprimento de ¼ e uma distância entre elas de 5 cm. O mesmo se observa em E. warasii. A inflorescência de E. josianae é formada por 5-6 ramificações em panículas, enquanto que a de E. zappii apresenta um racemo muito longo e E. warasii muito curto. As flores de E. josianae são carnosas, com segmentos bastante arredondados, enquanto que os de E. zappii e de E. warasii são membranosos, com tépalas alongadas. Enfim, o labelo de E. josianae é nitidamente bilobado, e predominantemente verde, enquanto que as outras 2 espécies apresentam o labelo trilobado com cor branca dominante.

Agradecimentos (dos autores)
A Olinto Faiolli, orquidófilo local que conhece bem sua flora e que foi procurar esta planta numa escarpa abrupta, em condições acrobáticas.

Agradecimento (de Brazilian Orchids & Orchid News)
A Guy Chiron, editor da revista Richardiana, por cedido gentilmente os arquivos e fotos para este trabalho, assim como a autorização para a sua reprodução e a Vitorino P. Castro Neto, co-autor desta descrição.


Expressamente proibido qualquer tipo de uso, de qualquer material deste site (texto, fotos, imagens, lay-out e outros), sem a expressa autorização de seus autores, sob pena de ação judicial. Qualquer solicitação ou informação pelo e-mail bo@sergioaraujo.com