Myoxanthus ruschii
Fraga & L. Kollmann
Uma espécie da Mata Atlântica. Espírito Santo.
NOVON 13: 49–51. 2003. Volume 13, Number 1



Adaptação do original de

Claudio Nicoletti de Fraga
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro,
Programa Zona Costeira/Curadoria de Coleções Vivas.
Rua Jardim Botânico, 1008, 22470–051, Jardim Botânico, Rio de Janeiro-RJ, Brazil.

&
Ludovic Jean Charles Kollmann
Museu de Biologia Prof. Mello Leitão
Av. José Ruschi, 4, 29650–000,
Santa Teresa, Espírito Santo-ES, Brazil.


SUMÁRIO: O artigo descreveu e ilustrou a espécie Myoxanthus ruschii (Orchidaceae), originária da Estação Biológica de Santa Lúcia, na Mata Atlântica do Espírito Santo, Brasil. Esta espécie está relacionada ao Myoxanthus punctatus, Myoxanthus lonchophyllus e Myoxanthus seidelii, dos quais se difere pelas pétalas não-clavadas e a forma geral do labelo com a base sub-truncada com 1 par de lobos laterais do labelo reflexos em sua terminação.

Palavras-chave: Mata Atlântica, Brasil, Espírito Santo, Myoxanthus, Orchidaceae.

A Mata Atlântica da costa leste brasileira, embora no momento, altamente fragmentada, é um dos lugares com maior biodiversidade no mundo (Myers et al., 2000). Um dos fragmentos com especial interesse é o da Estação Biológica de Santa Lúcia, um local destinado à pesquisa biológica e conservação abrangendo cerca de 440 ha de Mata Atlântica, no município de Santa Teresa, no Estado do Espírito Santo. Segundo recente pesquisa sobre árvores, pássaros, mamíferos e borboletas, existe uma riqueza biológica especialmente rica nesta região mesmo quando comparada com outras áreas da Mata Atlântica (Mendes & Padovan, 2000). Como resultado de trabalho de campo desta estação, foi encontrada uma espécie nova que foi descrita e ilustrada por Fraga & Kollman.

O gênero neotropical Myoxanthus Poeppig & Endlicher, por muito tempo considerado como sinônimo de Pleurothallis foi restabelecido por Luer (1982). Mais tarde, Luer (1992, 1997) apresentou a revisão do gênero, constituído de 48 espécies distribuídas em 3 subgêneros, subg. Satyria Luer, subg. Silenia Luer e subg. Myoxanthus, com este último incluindo a seção Myoxanthus, seção Antennella Luer e seção Scandentia Luer. Sete espécies foram citadas para o Brasil para o autonômico subgênero de Myoxanthus: quatro endêmicas para a Mata Atlântica (sudeste), dois para a região Amazônica e uma com distribuição disjunta no sudeste e nordeste da América do Sul

Myoxanthus ruschii Fraga & L. Kollmann NOVON 13: 49–51. 2003. Volume 13, Number 1 TIPO: Brasil. Espírito Santo: Santa Teresa, Valsugana Velha, Estação Biológica de Santa Lúcia, trilha seca, ca. 19°57'10''–19º59'00''S, 40º31'3''–40°32'25''W, elev. 750 m, 16 Junho 2001 (fl), C. N. Fraga 780 (holótipo, MBML; isótipo, RB). Figura 1.

Species haec Myoxantho punctato, M. lonchophyllo et M. seideli affnis, sed floribus parvis successivis pedunculatis aggregatis, sepalo postico oblongo, sepalis lateralibus oblongis apice obtusis, petalis elliptico-ovatis, label-lis trilobatis, et lobo antico elliptico-ovato, marginibus verrucosis, et lateralibus brevibus retrorsis differt.

Epífita, herbácea cespitosa. Raízes grosseiras. Ramicaules 14–21 X 0.15–0.2 cm, ascendentes para eretos, robustos e cercados por 5 a 8 brácteas tubulares, híspidas e paleáceas na cor púrpura. Folha 8.5–13 X 2–3 cm, ereta, densamente coriácea, estreitamente elíptica para estreitamente ovalada, aguda, base cuneada. Inflorescência fascicular única, sucessivas flores, no ápice do ramicaule, ocasionalmente duas flores com antese simultânea, os pedúnculos na cor púrpura, 7–9.5 mm de comprimento; bráctea floral 3–5 X 2–2.5 mm lateralmente expandida, paleácea, púrpura pubescente. Flores resupinadas; pedicelos 2–3 mm de comprimento; ovário 2–4 mm de comprimento; sépalas amarelas pintalgadas de vermelho, glabras, a sépala dorsal 7–8 X 2.5–3 mm, oblongas, estreitamente sub-agudas, 5-estriada, as sépalas laterais 7– 8 X 3–3.5 mm, conatas na base, oblongo-ovaladas, ápice arredondado, 4(–6)-estriada; pétalas 7–8 X 2–2.5 mm, amarelas pintalgadas de vermelho, glabras, estreitamente elíptico-ovaladas, obtusas, com margens revolutas no ápice, 3-estriadas; labelo 5–6 X 2–2.5 mm, vermelho com base amarela, não deflexo, glabro, o lobo apical elíptico, obtuso, de algum modo verrugoso com margens revolutas, consistente, a metade inferior, com margens baixas, eretas e arredondadas, o disco com uma área lisa, ligeiramente côncava, a base sub-truncada, com um par de lobos laterais

Figura 1. Myoxanthus ruschii Fraga & L. Kollmann. —A. Hábito vegetativo e inflorescência. —B. Flor. —C. Ovário, coluna e labelo, vista lateral na posição normal. —D. Ovário e coluna, visto debaixo —E. Sépala dorsal. —F. Pétala . —G. Pétala vista debaixo. —H. Sépala lateral de cima. —I. Labelo, vista de cima. —J. Labelo, debaixo. —K. Antera de cima. —L. Antera, debaixo. —M. Polínea.
Desenho a partir da espécie-tipo (C. N. Fraga 780), by C. N. Fraga.

diminutos, reflexos em sua terminação, 3-estriados; coluna 1–1.5 X 0.5 mm, amarela, salpicada de vermelho, robusta, encurva, 3 mm de comprimento, com asas arredondadas acima do meio, pé da coluna robusto, 2 mm de comprimento, côncavo, com um par de calos consistentes junto ao ápice, a margem superior com antera fimbriada, 2 pares de polínias amarelas e obovóides. Cápsula desconhecida.

Etimologia. O nome desta espécie homenageia Augusto Ruschi, um naturalista comprometido com a conservação das áreas naturais do Espírito Santo, especialmente aquela da Estação Biológica de Santa Lúcia, onde ele iniciou seus estudos de Botânica, especialmente com a família Orchidaceae.

Esta espécie é aparentemente próxima do Myoxanthus punctatus (Barbosa Rodrigues) Luer, M. lonchophyllus (Barbosa Rodrigues) Luer e M. seidelii (Pabst) Luer, dos quais se distingue por suas folhas elípticas, labelo consistente e margens revolutas não deflexas e antera com fímbrias.

A presença de um labelo elíptico com o lobo terminal com margem verrugosa, também observado em Myoxanthus punctatus e M. seidelii, distingue M. ruschii de M. lonchophyllus que possui um labelo ovalado, de algum modo híspido-papilhoso no ápice.

O colorido amarelo pintalgado de vermelho e a forma geral elíptica do labelo com base sub-truncada e um par de lobos laterais reflexos na parte terminal, encontradas em Myoxanthus ruschii, são caracteres ausentes em M. punctatus e Myoxanthus seidelii.

Paratipo. BRASIL. Espírito Santo: Santa Teresa, Valsugana Velha, Estação Biológica de Santa Lúcia, trilha seca, ca. 19°57'10''–19°59'00''S, 40°31'30''–40°32'25''W, 700 m, Mata Atlântica, 28 Apr. 2000 (fl), L. J. C. Kollmann 2899,C. N. Fraga, V. G. Demuner, E. M. C. Leme & B. R. Silva (MBML).

Agradecimentos (Autores)
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo supor financeiro, Helio de Queiroz Boudet Fernandes, Diretor do Museu de Biologia Mello Leitão e Curador do Herbário MBML, pela assistência durante o trabalho de campo em Santa Teresa, Jorge Fontella Pereira pela diagnose latina, Fábio de Barros, Marcos Sobral, e dois revisores e o editor pela assistência com o Inglês.

Agradecimentos (Brazilian Orchids & Orchid News)
Aos autores

Literatura citada
- Luer, C. A. 1982. A reevaluation of the genus Myoxanthus (Orchidaceae). Selbyana 7: 34–54.
- 1992. Icones Pleurothallidinarum IX: Systematics of Myoxanthus. Addenda to Platystele, Pleurothallis subgenus     Scopula and Scaphosepalum. Monogr. Syst. Bot. Missouri Bot. Gard. 44: 1–128.
- 1997. Icones Pleurothallidinarum XV: Systematics of Trichosalpinx. Addenda to Dracula, Masdevallia, Myoxanthus   and Scaphosepalum. Corrigenda to Lepanthes of Ecuador. Monogr. Syst. Bot. Missouri Bot. Gard. 64: 1–136.
-
Mendes, S. L. & M. P. Padovan. 2000. A Estação Biológica de Santa Lúcia, Santa Teresa, Espírito Santo. Bol.   Mus. Biol. Mello Leitão (n. sér.) 11/12: 7–34.
-
Myers, N. R. A., C. G. Mittermeier, G. A. B. Fonseca & J. Kent. 2000. Biodiversity hot spots for conservation priorities. Nature 403: 853–858.


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