Cyrtopodium
macedoi J. A. N. Batista & Bianchetti
Novon vol 16/17:22. 2006
TIPO: Brasil. Minas Gerais: floração
em cultivo em Brasília de Setembro ao começo
de Outubro 2003, J.A.N. Batista & L.B. Bianchetti
1306 (holótipo, CEN; isótipos: K,
MO, SP). Figuras 1-9.
Cyrtopodium
macedoi partibus vegetativis C. caiapoensi
L.C. Menezes simile, morphologia florali C.
poecilo Reichenbach.f. & Warming simile
et florum colore C. pallido Reichenbach.f.
& Warming simile, sed a his et ab omnibus speciebus
generis basi labelli et parte intra lobos laterales
fortiter deflexa, fere parallele ad basim lobi centralis
disposita et calo erecto, integro, paulo vel non
verrucoso, omnino disposito in basi lobi centralis
labeli differt.
Erva terrestre; pseudobulbos completamente enterrados
a parcialmente expostos, pequenos, oblongos, ápice
agudo, desprovidos de folhas a partir do segundo
ano, externamente brancos, 6-11 x 0.8-2.3 cm; raízes
numerosas, 3.5-4 mm larg., glabras. Folhas na antese
6 a 9, parcialmente a bem desenvolvidas, (13)20-41
x (0.5)0.7-1(1.4) cm, base com 4 ou 5 bainhas, quando
completamente desenvolvidas 9 a 12, eretas, coriáceas,
linear a linear-lanceoladas, as mais desenvolvidas
37-68 x 1-1.9 cm, articuladas, articulação
2.5-4 cm do ápice do pseudobulbo, ápice
acuminado. Inflorescência lateral, ereta,
simples a ramificada, 24-37 cm compr., ca. 0.5 cm
diâmetro, verde; pedúnculo 11-22 cm,
com 2 brácteas em forma de bainhas, adpressas,
1.7-3.6 x 1-1.3 cm, cor de palha; raquis 12-14 cm
compr.; ramos laterais 0 a 2, curtos, 4-5.5 cm compr.;
brácteas florais bem desenvolvidas, largo-lanceoladas,
deflexas, aproximadamente do mesmo tamanho ou pouco
mais curtas do que o ovário pedicelado, 19-28
x 9-12 mm, ápice agudo, margens ligeiramente
onduladas, verde com manchas marrom-esverdeadas;
ovário com pedicelo 16-23 mm compr., perpendicular
à raquis, verde a verde-amarronzado. Flores
ca. 15, com odor adocicado suave; sépalas
e pétalas patentes, concavas, margem lisa,
em direção ao ápice onduladas,
ápice discretamente apiculado, verde com
manchas marrons ou marrom-arroxeadas; sépalas
largo-lanceoladas a largo-elipticas; sépala
dorsal 14-27 x 9-11.5 mm; sépalas laterais
ligeiramente obliquas, 14-26 x 9-11 mm; pétalas
obovadas a quase orbiculares, base cuneada, ápice
obtuso a rotundado, 10-19 x 9-10 mm; labelo 3-lobulado,
9.5-12 mm compr., quando distendido 14-19 mm entre
os ápices dos lobos laterais; base curto-unguiculada,
ca. 2 mm compr., branca; base e região entre
os lobos laterais fortemente deflexa, quase paralela
a base do lobo central; lobos laterais eretos, face
interna curvada para frente ca. 45o, obovado-oblonga
falcada a linear falcada, 6-8 x 2.5-5 mm, ápice
arredondado, base discretamente a evidentemente
constrita, margem inteira, lisa, rósea; calo
inteiro, pouco ou não verrucoso, neste caso
liso, protuberante, ereto, completamente posicionado
na base do lobo mediano, não expandido entre
os lobos laterais, superfície superior ligeiramente
sulcada, esbranquiçado; istmo separando os
lobos laterais do lobo mediano evidente; lobo mediano
com a base 1-3 mm compr., constrita, reniforme a
transversalmente elíptico, 6-8 x 9-12 mm,
ápice quando expandido retuso, margens laterais
revolutas, lisas, esbranquiçado com alguns
pontos róseos no centro e uma larga faixa
rosa nas margens; coluna ereta, arqueada, trigona,
6-8 mm compr., 3.5-4 mm de largura no ápice,
apiculada, base esbranquiçada, parte mediana
branco-lilás e em direção ao
ápice verde a verde-arroxeada; pé
da coluna 4-5 mm compr.; antera 2.5-3 x 1.5-1.8
mm, amarela, ápice verde; políneas
duas, cerosas, sulcadas, ca. 1 x 0.9 mm, amarelas;
estipe triangular, hialina, ca. 1.3 mm de largura
na base. Fruto não examinado.
Etimologia.
A nova espécie é denominada em homenagem
a Amaro Macedo que coletou a espécie pela
primeira vez em 1951 e cujas coletas intensivas
na região do Triângulo Mineiro contribuíram
enormemente para o conhecimento da flora dessa região.
Distribuição. Cyrtopodium
macedoi é até o momento conhecido
apenas de duas localidades na região do Triângulo
Mineiro, região oeste do estado de Minas
Gerais no sudeste do Brasil. Pouco sobrou da vegetação
nativa na área. Todavia, devido à
existência de outras regiões com vegetação
e clima similares no bioma cerrado do Brasil central,
espera-se que a espécie ocorra em outras
localidades, mais provavelmente na região
central do cerrado. Tendo como base o conhecimento
atual sobre a espécie e usando as categorias
e critérios da lista vermelha das espécies
ameaçadas de extinção da World
Conservation Union (IUCN, 2001), C. macedoi pode
ser classificado como ameaçado.
Habitat, Ecologia e Fenologia. Cyrtopodium macedoi
é aparentemente típico de habitats
secos e foi encontrado crescendo em vegetação
de campo limpo seco e campo sujo sobre latosolo
argiloso, profundo bem como sobre solo raso, rochoso
em encostas. No primeiro caso as plantas eram vegetativamente
mais bem desenvolvidas e tinham os pseudobulbos
completamente enterrados no solo (Fig. 2). Cyrtopodium
poecilum Rchb.f. & Warm., C. cristatum
Lindl., Cyrtopodium brandonianum Barb. Rodr.
e C. caiapoense L.C. Menezes são espécies
simpátricas encontradas nos mesmos tipos
de habitats. De modo similar a maioria das espécies
de Cyrtopodium no Brasil central, C. macedoi floresce
durante o começo do período chuvoso,
em outubro, mas a floração provavelmente
estende-se ao final de setembro e o começo
de novembro. Como em outras espécies terrestres
do gênero, a floração do C.
macedoi é grandemente estimulada por fogo
(Oliveira et al. 1996). Em 2002 e 2003, nenhuma
planta com flores foi encontrada nas excursões
as duas localidades onde a espécie ocorre.
Todavia, plantas coletadas dessas duas localidades
em 2002 e mantidas em cultivo floresceram profusamente
quando submetidas a um fogo controlado em 2003 (cinco
de sete plantas floresceram depois de queimadas).
Na etiqueta da coleta Macedo 3385, não há
nenhuma menção a ocorrência
de fogo, mas as pontas das folhas estão secas
e faltando um pedaço, sugerindo que possam
ter sido afetadas por fogo em um estágio
inicial de desenvolvimento.
Cyrtopodium
macedoi foi coletado pela primeira vez por Amaro
Macedo in 1951, e foi através dessa coleta
que tomamos conhecimento da existência da
espécie. Uma primeira excursão ao
local original de coleta revelou diversas plantas,
mas nenhuma em floração. Apenas após
a floração de algumas plantas mantidas
em cultivo na Embrapa Recursos Genéticos
e Biotecnologia em Brasília é que
foi possível examinar as flores mais detalhadamente
e confirmar definitivamente que se tratava de uma
espécie nova. A coleta feita pelo Amaro Macedo
(Macedo 3385) foi examinada pelo saudoso orquidólogo
F.C. Hoehne que, por engano, identificou-a como
C. vernuum Rchb.f. & Warm. Marcela I. Sánchez,
que examinou uma duplicata da coleta do Amaro Macedo,
localizada no ‘United States National Herbarium’
(US), identificou-a como C. vernuum var. ligulatum.
Todavia, até onde foi possível averiguar,
essa variedade nunca foi validamente descrita. Adicionalmente,
C. macedoi certamente não é uma variedade
do C. vernuum e de acordo com o código internacional
de nomenclatura botânica (Greuter et al. 2000)
um nome não tem prioridade fora da categoria
taxonômica na qual foi publicada (art. 11.2).
Uma característica distintiva do C. macedoi,
não encontrada em nenhuma outra espécie
do gênero, é a base e a região
entre os lobos laterais do labelo que é fortemente
deflexa e quase paralela ao lobo central do labelo
(Fig. 7). Também o calo do C. macedoi é
incomum no gênero, uma vez que é pouco
ou não verrucoso, é protuberante e
está completamente posicionado na base do
lobo central (Figs. 7 e 8), enquanto na maior parte
das outras espécies o calo é normalmente
bastante verrucoso e disposto entre os lobos laterais
do labelo, atingindo frequentemente o unguículo.
Comparado às outras espécies do gênero,
C. macedoi é similar e pode ser facilmente
confundido nos caracteres vegetativos com o C.
caiapoense L.C. Menezes. Todavia, C. caiapoense
tem sépalas amarronzadas e pétalas
com as margens fortemente onduladas, o istmo separando
o lobo central dos lobos laterais do labelo mais
curto e menos evidente e os lobos laterais do labelo
não falcados. Na morfologia geral e cor das
flores, C. macedoi é similar ao C.
poecilum Rchb.f. & Warm., particularmente
ao C. poecilum var. roseum J.A.N. Batista &
Bianchetti, que tem o labelo róseo. Todavia,
C. poecilum tem os pseudobulbos externamente vinosos
(comparar com fig. 3), folhas em menor número
[5 ou 6(7)] e mais largas (0.8-5.5 cm), os lobos
laterais do labelo paralelos, um calo maior, profundamente
sulcado e que se estende até a base do labelo
(comparar com figs. 4-6). Cyrtopodium macedoi também
é similar na morfologia e cor das flores
ao C. fowliei L.C. Menezes, mas essa ultima espécie
é de campos estacionalmente úmidos,
do sudeste do Brasil a Venezuela, tem pseudobulbos
menores (3-5 x 1-2.5 cm) que são externamente
vinosos, menor número de folhas (4-6) e lobos
laterais do labelo mais curtos [4-5(6) x (4)5-6(7)
mm], paralelos e não falcados. Na coloração
geral das flores, C. macedoi é similar ao
C. pallidum Rchb.f. & Warm., mas essa espécie
é tipicamente de solos escuros, areno-argilosos,
de áreas mais úmidas, tem pseudobulbos
menores (2.5-3.5 X 0.8-1 cm), menor número
de folhas (4-6), a inflorescência invariavelmente
simples a flores menores (sépalas (8)10-11(13)
X 6-8(11) mm). Por ultimo, C. vernuum , com o qual
C. macedoi foi previamente confundido, tem pseudobulbos
maiores (7-18 x 1.5-4 cm) e tipicamente expostos,
a inflorescência mais ramificada com (0)2-3(4)
ramos laterais com (5)8.5-20(22) cm de comprimento,
flores amarelas com pontuações vermelhas
nas margens das sépalas e pétalas
e lobos laterais do labelo oblongos e não
falcados.
Nas flores mais velhas do C. macedoi, a coluna dobra-se
para baixo ou o labelo move-se para cima de modo
que o polinário no ápice da coluna
encosta e fica acomodado sobre o calo, encaixando-se
exatamente na depressão do centro do calo
(Fig. 9). Em 24 anos de coleta e após examinar
centenas de plantas vivas e flores de várias
espécies do gênero nunca observamos
algo similar a este arranjo em qualquer outra espécie
do gênero. O significado desta organização
é desconhecido.
Parátipos.
BRASIL. Minas Gerais: A. Macedo 3385 (SP, US); J.A.N.
Batista, K.F. Pellizzaro, M.C.D. Macedo & J.B.
Santos 1441 (CEN, K, MO, SP).
Agradecimentos.
Os autores agradecem ao Amaro Macedo e a sua
filha, Maria do Carmo D. Macedo, pelo suporte logístico
e assistência durante nossas excursões
a região do Triângulo Mineiro. Também,
agradecemos ao curador do herbário SP pelos
empréstimos, Simone C. Souza e Silva pela
ilustração a nanquim, Tarciso Filgueiras
pela diagnose latina, Stephen Hyslop pela revisão
da versão em inglês, Victoria Hollowell
e três revisores anônimos por melhorias
no artigo.
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Meddelelser fra den naturhistoriske Forening i Kjöbenhavn
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