Álvaro Pessoa, orquidófilo desde 1976, é advogado
e mora no Rio de Janeiro onde tem seu escritório. Mantêm
sua coleção e seu orquidário comercial em Teresópolis,
onde cultiva, com sucesso, Vanda, Ascocentrum e Ascocenda
e as Miltoniopsis na mesma estufa para o espanto de quem
acha impossível manter grupos tão diferentes num mesmo
espaço e nas mesmas condições de cultivo.
Conversador, inteligente, divertido, tem sempre a coragem de dizer
o que pensa, dono de uma verve e um senso de humor incomuns, em suas
palestras é capaz de falar sobre orquídeas sem mostrar
uma foto sequer e manter a assistência absolutamente atenta.
Considerado excelente cultivador entre seus pares, como hibridador
tem em seus registros a Lc Jorge Sampaio, uma obra-prima. Vêm
produzindo plantas de pequeno porte assim como híbridos de
Miltonia brasileira tolerantes ao calor. Neste entrevista, ele conta
um pouco da história da hibridação no Brasil
e também de sua experiência. |
Foto:Sergio Araujo
|
ON:
Álvaro, gostaríamos abordar a história de
hibridação e melhoramento de espécies no
Brasil, desde o começo. Você que foi, e ainda é,
ao mesmo tempo, agente e testemunha de parte desta história,
o que poderia nos contar?
AP: Da história da hibridação no Brasil,
posso contar um pedaço. O que as pessoas precisam saber
é que esta história tem dois períodos: pré
e pós Rolf Altenburg.
Nas décadas de cinqüenta e sessenta, quando praticamente
não existia o meristema, os catálogos da Florália
já ofereciam híbridos fantasia e aquinados como,
por exemplo, C. mossiae alba x C. intermedia aquinii,
Cattleya bicolor x C. intermedia aquinii, C.
Bob Betts x C. intermedia aquinii. Isto acontecia quando
o universo orquidófilo mundial ainda não sonhava
com aquinados, pintalgados, manchados, peloriados. O que veio
ocorrer 20 anos depois de Rolf tê-los oferecidos, de forma
pioneira, no Brasil.
ON: Estes catálogo formam um verdadeiro histórico
dos cruzamentos que ele fez, desde quando ele criou a Florália
nos idos do ano de l954 e quando instalou o laboratório,
já no início dos anos 60. Seus híbridos e
seus catálogos são bastante conhecidos mas ele,
não. Quem era realmente Rolf?
AP: O detentor de conhecimento absoluto de matéria de hibridação
do grupo Cattleya.
Uma de suas obras-primas é Lc José Dias
de Castro, cruza de Cattleya labiata x Lc Sam
W. Soyza. Ainda hoje, os híbridos de Rolf são considerados
impecáveis: Lc João Antonio Nicoli, Lc
Kunta Kinté, Lc Raimundo Mesquita, C
Sonia Altenburg, Blc Capitão Pessoa, Blc Cecília
Pessoa.
Ele sempre foi orquidófilo de laboratório e, no
começo, nunca foi muito chegado a produção
de espécies. Em vez de produzir Laelia purpurata, tenebrosa,
lobata, ele botava à venda. Eu conheci o orquidário
em Petrópolis (Alcobaça) onde não tinha lugar
para enfiar um dedo, aquilo tudo era só híbrido.
Ele não gostava de espécies. Só depois quando
ele viu que o Binot, com espécies, estava lucrando mais
dinheiro do que ele, começou a produzi-las.
Mas ele teve grandes desgostos com isto. Quem
comprava dele, pedia segredo, escondia as plantas na mata e depois
as 'coletavas'.
Não tem ninguém que tenha, hoje, o que Florália
já teve. Quando você pega os catálogos antigos,
sem nenhuma série de retratos, são catálogos
enormes, havia duzentos itens à venda. Aí você
vê que a produção era a sério. Vocês
viram Dendrobiums feitos pelo Rolf, na minha casa que vocês
nem sabiam que ele havia feito.
Blc Cecília
Pessôa 'Star Eyes' Lc.
Raimundo Mesquita
ON: Ele deixou este conhecimento todo registrado?
AP: Não. Nós queríamos que ele fizesse o
que um patriarca americano fez. Ernest Hetherington escreveu
12 artigos sobre a evolução
do grupo de Cattleya.
Por exemplo, ele mostrava estas grandes
Cattleyas albas que muita gente pensa
até que tem Brassavola,
mas não
tem. É Cattleya pura, partida do nada, quer dizer, Irmã Dulce é Cattleya pura.
Toda aquela geração -
Bow Bells, Bob Betts - tudo aquilo
foi evoluindo sobretudo a partir de C. trianaei. Depois
ele escreveu sobre Cattleya amarela
com labelo vermelho, sobre a influência
da Cattleya dowiana, da Cattleya
dowiana var aurea, de Sophronitis,
de Cattleya
aurantiaca etc.
Sandra Odebrecht e eu tentamos tudo
para ver se o Rolf falava. Eu dizia
para a ela: - Vai lá, Sandra, você é a
neta dele, falar de avô para neta é uma coisa
muito mais íntima do que botar um estranho no meio. Ela
tentou, tentou, tentou mesmo, mas sem sucesso! Eu mesmo pedi
isto a ele, para falar, mas me respondeu: - "Ah! Doutor Álvaro,
não me sinto bem falando". Aí eu retruquei:
- "Rolf, fala aí com o gravador", - "Ah!
aí é pior", ele
disse.
Ia ser uma grosseria, puxar a conversa e gravar
sem ele ter autorizado.
ON: Por que ? Ele não tinha consciência
de seu conhecimento, de sua importância de seu
trabalho? Ficava alheio à sua própria importância?
AP: Ele era um homem muito especial
diante de tecnologia. Por exemplo,
eu pertenço à categoria de pessoas
com 66 anos que acham que quanto mais você aprende,
mais você a custa a morrer. Então faço questão
de aprender computador, não só para me facilitar
a vida, mas para agilizar a inteligência, eu uso I-pod,
acho sensacional estas coisas todas. Quem viver muito tempo,
vai ver coisas maravilhosas. Acho que a gente não pode
perder este pulo, mas ainda é grande o número
de pessoas que diz que o computador
morde, este tipo de coisa.
O Rolf não gostava de tecnologia! Era um homem muito tradicional,
ele não entrava nesta. Então, ele foi para debaixo
da terra e levou conhecimentos extraordinários. Sua experiência
em hibridação vai permanecer escondida sobre a sua
indisfarçável modéstia e timidez. Mas três
pessoas se beneficiariam destes conhecimentos e uma delas tirou
proveito.
ON: Quem?
AP: Quem mais soube aproveitar do que
ele ensinou foi o Sergio Barani, que é um grande hibridador. Eu diria que,
do que eu conheço de Brasil, Barani é quem
produz híbridos mais incríveis, com alto índice
de acerto. Ele ia para lá, ficava com Rolf sábados
inteiros, domingos inteiros, até captar dele tudo que
ele tinha para dar. Um mês depois
voltava.
ON: Você teve bastante contato com ele, como ele
era?
AP: Rolf era absolutamente ético, não fazia uma
safadeza, não vendia um planta que não fosse a indicada,
ele era sério 'pra burro' e era muito emotivo.Todo
mundo tem seus 'calundus', mas ele tinha dias de 'calundus' terríveis.
Tinha dias que mesmo as pessoas que gostavam dele profundamente
(e de quem ele gostava), quando iam lá e ele estava dando
aquelas broncas, saiam de fininho, pegavam o carro e iam embora.
Havia algumas coisas que o desagradavam.
Ele se zangou com os japoneses que
vieram de São Paulo, se alojaram perto da
casa dele, no Bingen, para lhe roubar plantas. Ele considerava
isto uma coisa imperdoável,
uma covardia terem feito isso com ele.
Um grupo de japoneses furtou Miltonia, Wilsonara, Aliceara, Burrageara que
ele gostava. Ele trouxe da Alemanha,
há 35 anos plantas
do mesmo padrão atual das importadas hoje. Isto é,
não tinha tudo o que tem hoje, mas o que ele tinha naquela época
e que floresce ainda hoje (estão floridas na minha casa) é tão
bom quanto o que você importa
hoje.
ON: E esta história que você mencionou
de se colocar plantas produzidas
por ele no mato?
AP: Rolf achava isto um absurdo. Você acredita que nas
exposições brasileiras era proibido entrar para
julgamento, plantas de espécies feitas a partir de sementeiras?
Ou seja, de espécies brasileiras conseguidas por cruzamento
pela mão humana. Eu ainda peguei
isto. Plantas para serem julgadas deveriam
ser retiradas da floresta.
Rolf brigava bem e foi por isto que
ele brigou com os gaúchos.
Os caras compravam os seedlings de purpurata dele, amarravam
aquilo tudo nas árvores, no mato para envelhecer, para
dizer que tinham sido coletadas. Deixava ficar com aquela característica
toda de líquen por cima da folha, iam lá, cortavam
e pronto, levavam para exposição, podiam concorrer,
era o seedling do Rolf. Mas não estou contando nenhum
segredo, todo mundo sabe disso. O João Paulo sabe, você pode
confirmar, como os jornalistas, você pode
fazer pegar duas fontes.
Bom, falar de hibridação
no Brasil acaba virando uma conversa
em torno do Rolf.
ON: Quer dizer que naquela época, com exceção
do sr. Rolf, havia mais reprodução de espécies
do que híbridos?
AP: A orquidofilia brasileira, espelhando a mundial, esteve não
apenas concentrada em espécies, mas em variedades de espécies
e, dentro delas, tendências à forte concentração
em albinismo. Durante décadas, procurava-se a planta alba.
Não foi sem razão que hibridradores e, em especial,
Rolf Altenburg, tenham procurado produzir, a partir de cruzamento
ou autofecundação, espécies albas e híbridos
albinos. O problema com a obtenção de albinos é
que a forma albina das espécies se reveste de características
genéticas de dominância ou recessividade. Alguns
clones albinos são comprovadamente dominantes e, quando
autofecundados, produzem filhos também albinos. É
que ocorre com a C. labiata alba 'Angerer', por exemplo.
Quando uma planta alba é geneticamente recessiva, tanto
em auto-fecundação como em cruzas, ela, geralmente,
produz filhos novamente coloridos. A cruza, aliás, acentua
esta tendência, porque os elementos que faltam na ordem
cromossômica de uma planta (e a fazem albina) têm
alta probabilidade de serem completados pelo da outra, daí
a freqüente frustação de quem cruza duas albas
e obtém, sem entender o porquê, produtos coloridos,
o mesmo se verificando com duas coeruleas ou duas semi-albas.
Sabia-se muito pouco sobre genética, cromossomos, dominância
de cores, falso albinismo, compatibilidade da dimensão
das flores a cruzar, impossibilidade da dominância de algumas
cores sobre as outras, como o vermelho sobre o amarelo, mas Rolf
estava 50 anos na frente de todo mundo. Ele fez de tudo, coisas
que a gente não sonha e que ele vendeu. Por exemplo, ele
tirou de auto-fecundação de Laelia perrini,
plantas alba, semi alba, carnea, coeruela. Em perrini deu tudo
certo.
ON: Seria possível estabelecer um paralelo
com os outros hibridadores ou aprimoradores de espécie
daquela época?
AP: No sul, teve o Dr. Walter Haetinger,
um alemão que
tinha estudado filosofia na Alemanha, excelente aprimorador de
espécies. Ele fez um extraordinário trabalho em
matéria de L. purpurata e C. intermedia,
foi o responsável pelo que de melhor existiu no Rio Grande
do Sul. Só trabalhava com estas duas espécies.
Ele fez tudo com Cattleya intermedia aquinii,
eu vi aquinada branca, aquinada azul,
aquinada cereja, aquinada de todo tipo.
Fez florir purpurata com pétalas quase na largura
de uma labiata, inteirinha, retinha. Eu vi. Você vai cruzando
sempre o melhor, o melhor, o melhor, você apura a espécie
num nível de desenvolvimento que a planta não teria
nunca na natureza. Ele foi, vamos dizer, o pioneiro, o precursor,
o grande e o mais respeitado do sul.
Eu diria que, como em artes
plásticas, tem sempre um pioneiro, aliás,
eu gosto muito de frase do Picasso que diz: "a
vida se divide entre os plagiários
e os revolucionários". O cara que chega
lá e pinta
Les Demoiselles d'Avignon... são camaradas
como ele que dão a partida para a coisa.
Tem sempre um que fez primeiro, este cara é que é genial,
depois todo mundo faz. Os gaúchos foram
os que mais resistiram à idéia
de sementeira e de criar aprimoramento da espécie
porque na realidade, eles queriam ter o monopólio,
isto é,
ter e não entregar para ninguém.
Na rodinha das labiatas e na rodinha das purpuratas,
você não
penetra se você não tiver conhecimento.
Não
adianta ter dinheiro, você tem que ter
um pouco de dinheiro, um pouco de amizade e mostrar
que tem futuro, isto é,
se você é um sujeito que freqüenta
o Ceará,
Alagoas, Pernambuco, onde as labiatas estão,
aí o
cara já te olha diferente, mas é para
trocar. O compromisso fatal era não meristimar
porque o sujeito queria manter mesmo o monopólio,
mas o Haetinger não
fez isto.
O espírito das pessoas atuando
na orquidofilia, pelo menos quando eu comecei,
em 1977, era muito competitivo e baseado em relações
clânicas ou de tribo.
A tribo do Rio Grande do Sul, teve como grande
expoente no aperfeiçoamento
de espécies, Walter Haettinger. Foi ele
quem consegiu os aquinados brancos na alba, violeta
na alba e cereja na alba das intermédias,
além
de ter produzido Laelias purpuratas
flameadas, aquinadas, gesso, albas,
todas perfeitas para aqueles tempos
!!!
Todavia o que ele fazia e produzia,
ficava rigorosamente no Sul. Não saia para a tribo dos mineiros ou cariocas e menos
ainda para a tribo dos paulistas. Os gaúchos "beliscavam" as
sementeiras paulistas, mas o contrário
nem sempre era verdadeiro.Salvo em
caso de grandes amizades !
Os nordestinos foram os últimos a praticar este " fechamento ".
Como haviam sido trazidas centenas de labiatas boas para cá,
eles trataram de fazer uma "operação repatriamento",
isto é, só fazer trocas, sem pagamento em dinheiro,
de forma a fortalecer as coleções
deles.
Já os japoneses trabalhavam como colônia. O que
era bom, era para ficar na colonia. Venda só do que for
comercial . Se voce insistisse, eles lhe diriam : " colonia absorve
tudo, né ?"
Ainda no sul teve o Aldomar Sander
e Sergio Englert com aprimoramento
genético em Cattleya intermedia.
ON: E fora deste circuito,
quem mais você poderia
citar?
AP: O trabalho de aprimoramento de
espécies em geral,
revelou, na década de setenta, talentos, sobretudo em
São Paulo. Primeiro na Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz (ESALQ), em Piracicaba, onde o Professor Hamilton
Bicalho, São Carlos, Rio Claro, Americana e outros municípios
paulistas tornaram-se foco de aprimoramento de espécies.
Amândio Pinho Caetano cruzou
variedades de labiata como Cattleya
labiata 'Maria Odete' x C. labiata 'Marina' ,
trabalhou também com Cattleya intermedia assim como César
Wenzel. Em labiata, tivemos Sander, Sumio Nakashima, João
Paulo Fontes e Wladislaw Zaslawski.
ON: E a história do
aprimoramento de Cattleya
loddigesii?
AP: Foi provavelmente Adhemar Mannarini quem
procurou um leque maior de cores em Cattleya loddigesii,
selecionando clones especiais de estriatas,
puntatas, puntatíssimas,
escuras. Mas a colônia brasileira de descendentes de japoneses,
em São Paulo, também entrou fortemente no mercado
de aprimoramento de espécies e especialmente em loddigesii.
O Harusi Iwasita, de Cotia, obteve plantas absolutamente perfeitas
e albas como neve, com a utilização
de duas plantas obtidas pelo aprimoramento
de Cattleya loddigesii alba.
Sebastião Nagase desenvolveu clones escuros em busca de
cores mais vivas. Ele trabalhou também
com L. pumila,
assim como Nagkashima que também aprimorou ambas. No sul,
teve o Aldomar Sander e, no Rio de Janeiro, Siegwald Odebrecht
obteve excelentes resultados em cores claras, em auto-fecundação
de C. loddigesii 'Martinelli'
ON: E quem mais?
AP: Em Campinas, algumas pessoas que andaram
trabalhando com Sophronitis,
como Max Wunsche. Ele fez muita coisa
em matéria
de cruza de Sophronitis, mas
não
registrou quase nada. Ele criou a Sc Campinas
a partir de Sophronitis
coccinea e retrocruzou várias
vezes com Sophronitis,
obtendo lindíssimos resultados em matéria de cor,
como a Rosa Maria. Tem uma planta com a qual ele homenageou Aniel
Carnier com ela, tem um potencial genético fantástico,
mas ele não registrou nada.
ON: Este pessoal de Campinas
a quem você se
referiu?
AP: Além do Max, tinha o Ari, de Casa Branca que fazia
muita coisa boa. Tenho que falar de duas pessoas importantíssimas.
Uma se chamava Waldemar Silva, escreveu um livro chamado 'Cultivo
de Orquídeas no Brasil' . O livro é uma desordem
enorme, mas se você ler o livro varias vezes, você aprende
muita coisa. Ele está falando
sobre Laelia,
e, de repente, fala sobre Oncidium lanceanum,
comenta sobre altitude, pois ele cultivava
em Santos e o lanceanum não
floria bem, mas quando mudou para Petrópolis
deu certo.
ON: Waldemar Silva (Orquidário Brasil) era, junto
com o Sr. Rolf, os únicos que produziam híbridos
naquela época. Ele chegou a registrar mais de 100 híbrido,
mas fez muitos que nunca registrou. E a segunda pessoa?
AP: Não sei se vocês já ouviram falar numa
pessoa importante para orquidófilia que se chamava Denis
Duveen. Ele ficava muito surpreendido com a ignorância
dos brasileiros. Ele me dizia: -"
Eu não consigo entender as coisas no Brasil".
E ele era um sujeito profundo e estudioso. Escreveu um
livro sobre Lavoisier do qual todos nós já ouvimos
falar. O tal que enunciou o principio de que na natureza
nada se perde, tudo se transforma. Lavoisier é muito
mais importante do que isto. Foi ele que descobriu como
era a combustão. Então, voltando, o Duveen
era outro que se interessava muito por espécies
brasileiras. Ele morava e tinha uma pousada em Pedro
do Rio. O Denis Duveen, além de ter sido sócio
do Waldemar Silva, foi quem o incentivou
para trabalhar em cruzas, sobretudo
com C.trianaei.
ON: Alguém mais?
AP: No Espírito Santo, Érico
de Freitas Machado realizou aprimoramentos
de C. warneri,
semeadas por Adhemar Manarini. Jorge
Verboonen trabalhou com auto fecundação
na década de sessenta.
Agora, não consigo me lembrar de algum mineiro que tenha
feito trabalho de hibridação, pode ser que tenha,
eu não sei. O José Antonio Nicoli comprava
muito do Sr. Rolf. O grupo de Belo Horizonte era muito forte,
mas tinham fixação em warneri e walkeriana. Era
o que eles gostavam. Não gostavam de quase mais nada.
Os nordestinos não me parecem ter feito muito em hibridação.
ON: Qual foi o caminho adotado, o que se esperava obter
com os híbridos?
AP: Aí é preciso também falar da influência
das plantas estrangeiras, de C. mendelii, C. chocoensis,
C. trianaei, Cattleya percivaliana, pois nas
décadas de cinqüenta a setenta, as hibridações
foram baseadas em plantas estrangeiras e sobretudo em obtenção
de flores de grandes dimensões, preferencialmente lilazes,
magentas, albas e semi-albas.
Lindos híbridos foram produzidos
onde entrava Cattleya
trianaei: Lc Waldemar Silva, Bc Pastoral
e os diversos clones. Com trianaei e mossiae
como Lc Turandot.
Com Cattleya mossiae e Cattleya warscewiczii - Lc Sonia
Altemburg e Blc Captain Pessoa. Com
dowiana e trianaei, Blc Roberto
Cardoso. Mas havia também os cruzamentos com espécies
brasileiras. A Lc José Dias de Castro, principalmente
labiata mas também percivaliana
e dowiana. A Lc João
Antonio Nicoli mais labiata, mas também
dowiana e warscewiczii. Noboru Suzuki
cruzou Sophronitis coccinea com Lc José Dias
de Castro obtendo Slc Suzuki,
um dos coloridos magentas mais bonitos
conhecidos na época.
ON: A Lc José Dias de Castro que já
gerou mais de 200 outros híbridos (registrado)s, homenageou
um dos mecenas da orquidofilia daquela época. Quais eram
os mecenas desta época?
AP: Você tinha dois mecenas em orquidofilia: José Dias
de Castro que era um exportador de café, riquíssimo,
um dos grandes amigos do Rolf e o Dr.
Guilherme Guinle. Eles mandavam buscar
o que fosse produzido em qualquer lugar.
A fortuna do Dr. Guilherme Guinle era fortuna de fato, de verdade,
mesmo para o padrão de hoje. Por exemplo, se fosse levada
a leilão a coleção de pesos de papel do Aga
Khan, ele mandava um sujeito para o Egito para arrematar a coleção.
ON: Quando começou a
se trabalhar no sentido de diminuir
os tamanhos das plantas?
AP: Com a crise do petróleo e o alto preço da energia,
tornou-se necessário diminuir o tamanho das plantas. No
início da década de 80, os japoneses trabalharam
com espécies brasileiras de
pequeno porte, sobretudo Sophronitis, Laelia
pumila, Cattleya walkeriana, Laelia crispata, L. mileri,
L. briegeri e houve o uso
abundante de C. intermedia aquini.
Data desta época
a C. Interglossa (C. intermedia
aquinii x C. amethystoglossa)
e a reprodução
do híbrido que data do início do século, Sc Batemanniana
(C. intermedia aquinii x Sophronitis coccinea). Lc Tropical
Pointer. Nos Estados Unidos foi criada a Slc Haezel
Boyd. Fora da colônia japonesa, no Brasil, esta linha foi
seguida basicamente por dois hibridadores: Maurício Verbonen,
do Orquidário Binot e Adhemar Mannarini. Maurício
refez a C. Peckaviensis (C. schilleriana x C.
acklandiae) e cruzou intensamente
Laelias rupícolas,
Cattleyas fantasias, Epidendrum, Sophronitis.
ON: E o surgimento do meristema?
AP: Um dia, por volta de 1950, apareceu
o tal do meristema e todo mundo que
fazia meristema, fazia 50 meristemas
e matava o resto das células troncos, para assim manter o monopólio.
ON: Como começou no Brasil? O sr. Rolf
também meristemava?
AP: Rolf meristemava sobretudo híbridos, mas híbridos
não tinham valor nenhum no exterior. Ele inundou o mercado
de meristema de híbridos e ninguém reclamou. Foi
quando a Sandra, pessoalmente, conseguiu meristemar 'Emília' que
era uma labiata única que tem pétalas enormes,
e aí foi um "Deus nos acuda" e começaram
a xingar o Rolf seriamente. Mas quem
entrou forte em meristema foi o Ademar
Manarinni, da Equipesca. Era um italiano
genial.
Eu gostava muito dele, advoguei para ele uns
cinco anos.
ON: Você está falando de que época?
AP: Estou falando em 1985/l990. Nesta época, um bom separador
de gemas (produtor de meristemas) ganhava US$ 5.000,00 por mês
nos Estados Unidos. Para se obter o meristema, é preciso
separar as gemas, que são cinco no broto, envolvidas por
tecidos feito uma cebola. É preciso descascar aquilo tudo,
com bisturi e conseguir tirar o que se chama hoje 'célula-tronco' que
antigamente se chamava massa meristemática. Se você ferir
a massa meristemática com o bisturi, você vai ter
planta aleijada. É um negócio que você tem
que fazer com precisão cirúrgica e milimétrica.
A retirada tem que ser completa. Se faltar um pedacinho, vai
colar as pétalas nas sépalas ou não
vai nem chegar a florir.
ON: Voltando ao Mannarini...
AP: Por volta de 1990, na Equipesca,
ele fabricava produtos para pesca e
tinha uma linha de produção de bóia
para segurar rede. Um dia ele descobriu que, numa linha de produção,
nenhum bóia furava ou dava defeito. Digamos que todas
as outras davam 20% de defeito, mas uma das linhas de produção
dava zero por cento de defeito. Ele foi procurar saber porquê.
Aí ele descobriu a Sebastiana na linha de produção.
Ela era pequenina e com mãos
delicadas.
O que fez então o Mannarini?
Aí está a genialidade dele. Ele contratou a Sebastiana
para fazer meristema e botou as mãos
dela no seguro.
Fundou a Equilab e saiu pelo Brasil
passando cantada em todo mundo, comprando
pesado no mercado de espécies, para fazer
clonagem... Os que venderam boas espécies para a clonagem
através de meristema foram considerados traidores. Ele
entrou na área mais sensível dos cultivadores de
espécies: Laelia purpurata, Cattleya labiata e intermedia.
Quando ele conseguiu meristemar a 'Feiticeira' , o
Brasil quase veio abaixo. Porque a 'Feiticeira' é linda!
Os curitibanos gostam dela, os mineiros nem se fala. Ele conseguiu,
no Brasil, uma coisa que ninguém tinha. Conseguiu vender
barato, plantas de padrões altíssimos. Era um conceito
novo: híbridos de alta qualidade, espécies raras
selecionadas e meristemadas e plantas de pequeno porte e indiscutível
bom gosto. Quando ele colocou a primeira lista na rua, oferecendo
estes padrões, tinha L .purpurata 'Milionária' ,
tinha C.loddigesi do italiano
Martinelli. Foi um "Deus
nos acuda".
ON: Não era para menos, pois os colecionadores
possuíam plantas únicas e, de um dia para
outro, quem quisesse poderia ter uma planta igual à sua.
AP: Até os fins dos anos 60, os grandes colecionadores
compravam orquídeas a peso de ouro e as trocavam entre
si, de sorte que os orquidófilos
poderosos era uma casta especial, para
quem os demais ficavam em segundo plano.
Manarini me dizia: - 'Álvaro, eles são uns
ignorantes, esta orquidofilia que está aí vai toda
acabar. Esta cretinice de que eu tenho, você não
tem, se você tiver, o outro não quer, se você der
a beltrano, você não é do meu time, seu negócio é comigo,
não é com o outro, isto tudo vai acabar' .
Foi o primeiro sujeito que ouvi dizer isto. Mesmo nos Estados
Unidos acabou. Colecionadores deste tipo acabaram no mundo inteiro.
Acabou se vendo que esta manutenção de monopólio,
não servia para coleção de coisa viva, pois
você pode colecionar desta maneira, máquina de fotografia,
relógios, selos, pois até mesmo o objeto de arte
vai sempre evoluir. E todo mundo só queria estar naquela
loucura de trocar labiata, e trocar purpurata. - "Eu tenho
uma que você não tem, tenho aquini I, aquini II,
não sei o que mais... "
ON: E fora Rolf e Manarini?
AP: Quando o Rolf estava fazendo meristema,
já havia em
São Paulo, um homem chamado Sebastião
Nagase que, como disse, desenvolveu
clones escuros de Cattleya loddigesii e
também Laelia pumila e
outros que já citei.
Ele ficou mundialmente famoso por seus
dendrobiums.
ON: E antes destas pessoas
todas, poderia se dizer que não havia hibridação
no Brasil?
AP: Você não pode dizer que não houvesse
hibridação antes disto
tudo. Havia incipientemente, mas havia.
O Sr. Jorge Verboonen me contou que
quando ele começou
a trabalhar no orquidário Binot, todos os semeios eram
feitos com o sujeito jogando sementes nas raízes dos vasos.
Ninguém tinha laboratório, ninguém tinha
se modernizado, ninguém tinha tocado o negócio
pra frente. Por exemplo, eu descobri em Pernambuco, uma maneira
de fazer brotar labiata que acho que você nunca ouviu falar.
Você sabe as brocas de fazer furo na parede ( quando elas
estão bem afiadas e são novas)? Se você pegar
o fim do rizoma, onde tem uma folha só, com um furo furar
em cruz, a gema que está alí desperta? Então
até meristema se fazia. Cansei de ver em Pernambuco, plantas
que tinham uma porção de rabinhos atrás,
que o sujeito tinha feito brotar furando
com broca.
Você pode dizer que Pernambucano não
fez meristema?
Fez. Uma maneira muito rudimentar de fazer meristema,
mas fez.
ON: E depois desta primeira
fase? Houve muita importação?
AP: Sumio Nakashima, em São Bernardo começou trazendo
meristemas do Japão, embora
tenha sido o pioneiro de trazer clones
de Cymbidium para
cá, foi, ao mesmo tempo
o homem que mais atrasou o desenvolvimento da cultura deste gênero.
Com o conhecimento que tinha, ele foi Japão e trouxe os
mais baratos cymbidiuns meristemados. Tudo que era refugo, o
que o japonês não queria mais, o Nakashima trouxe.
Eu mesmo comprei alguma coisa, mas, digamos, eu errei em 10 plantas,
30 plantas, mas a colônia japonesa comprou 500.000. Tem
meristema dessa época que não floresce por nada,
pois era do tempo que o sujeito não sabia tirar a massa
meristemática direito. Então a planta vegeta, mas
não floresce.
Depois começaram a importar Phalaenopsis e Cymbidium bons.
Não sei se você tem idéia
da extensão
das estufas do Amândio Pinho Caetano, em
Cotia, são
48 mil metros quadrado. Um alqueire de estufa.
Tudo cheio. Amândio
importou Oncidium Sherry Baby
aos magotes, vendeu tudo! Ele diz ter
sido a planta com que ele mais ganhou
dinheiro no Brasil. Também o cultivo dele é muito
bom.. Ele
também
voltou a meristemar, outro bom hidridador
que acabou fazendo meristema.
A última novidade que está no ar, é o
seguinte: o sujeito pega uma planta realmente boa, meristema,
faz, digamos, 5.000. Quando está num determinado tamanho,
vende o monopólio. Isto é, o cara já não
vende as sementes, vende cópias
da planta, o meristema.
Isto vem acontecendo há uns oito anos que eu saiba. Eu
não sei muito mais pois desde a exposição
internacional do Rio me afastei, colaboro em pequenas coisas,
não vou mais a Rio Claro, a Guaxupé,
etc.
ON: Por que este afastamento do meio a partir
da mundial? Por que 96 foi um marco?
AP: A exposição internacional foi o anti-clímax.
Aconteceu e o nosso Gouveia cansou
de dizer isto para a gente. Houve a
exposição e parece que acabou tudo. Eu
comecei a me afastar por duas razões: em 92,93, eu tinha
abandonado o antigo escritório de advocacia, onde eu me
iniciei e tinha passado 30 anos e vim abrir este (não
tem nada a ver com orquídea). Então, eu não
tinha muito mais tempo para ficar indo a exposições
no interior. Esta talvez tenha sido o principal motivo. A segunda
coisa é que eu tinha visto que Manarini tinha razão.
Isto é, eu não achava mais que teríamos
grandes colecionadores. Pelo que eu via, pelo menos no Rio de
Janeiro, eu não acreditava que as pessoas tivessem poder
aquisitivo para ter boas coleções.
Coisa que se revelou verdadeira.
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ON:
E o que você buscou?
AP: De hibridação? Então, eu comecei a fazer
hibridação para atender um nicho de mercado que
eu achei que existia, que era alugar planta para restaurantes.
Eu e meu filho, Flávio. Precisávamos de plantas
de porte pequeno, multifloras e para toda a estação
para decorar mesas de restaurante. Durante uns 3 anos funcionou
bem só que o carioca ficou pobre.
O restaurante de luxo quebrou ou fechou, estão fechando
restaurantes à beça no Rio Janeiro. Já fecharam
muito, a ponto do César Maia se preocupar com isto. O
que está vindo no lugar no restaurante? Os botequins,
pé sujo ou não, são lugares onde você bate
um papo, bebe cerveja, se diverte da mesma maneira,
vai gastar 20, 30 reais .
Se
você for a um restaurante, vai ser o triplo.
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Mini Cattleyas
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Em hibridação,
eu volto a dizer, eu fiz um pouco mais do que os
Pernambucanos fazendo buracos nos traseiros.
A minha proposta era completamente
diferente, minha proposta era um negócio que eu pudesse
tocar. É como carro velho, que o dono escreveu atrás: É velho,
mas está pago. Eu conheço muita gente de BMW
e Audi, mas é um passivo ambulante. Eu trabalho
discretamente.
Dentro daquelas coisas que eu procurei fazer, algumas
deram certo, outras não. Dei muito tiro no pé, da mesma maneira
que eu contei este negócio desta planta
do Marcelo, que eu perdi uma das matrizes.
Andei cruzando coisas contra o conselho
do Rolf: - 'Doutor Álvaro, eu não começo
de Brassavola de jeito de nenhum. Brassavola eu
não quero ver. Cattleya rex,
isto não
serve para nada. Se o senhor for fazer isto vai levar 28 anos' .
Ele era muito claro com as coisas. Cada vez que
você erra,
são 7 anos. Às vezes, você consegue, pelo
menos, um bom estribo para continuar adiante, mas são
outros 7 anos. Aquela planta não é boa, mas tem
potencial para dar o que você quer, o que a gente chama
de bom estribo para você pular para cima.
Eu fiz dezenas
de coisas que foram um porcaria. Só não erra quem
não faz, o teórico.
ON:
O que você fez para atingir o seu objetivo
de plantas com flores em diversas épocas
do ano?
Bom, eu criei o híbrido primário C. Brazilian
Middway (C. harrisoniana x C. loddigesii). Procurei
plantas de tonalidade vinho ou vinicolor.
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ON:
O que mais você poderia citar?
No campo das Cattleya, híbridos com C. guttata e
C. leopoldi, que cobrem o tempo que vai de novembro e dezembro
até fevereiro /março. Nem tudo saiu brilhante, mas
também nem tudo floriu. Tem também híbridos
com L. purpurata, L. lobata e L. tenebrosa.
L. Zip ( L.
tenebrosa x L. milleri) foi um sucesso de beleza
e venda. Plantas em cacho e haste bem forte e resistente.
Um
estouro !
L. purpurata não "aguenta o tranco". As espécies
rupícolas procedem à uma redução grande
de purpuratas imensas. L. tenebrosa resiste melhor ao tranco das
rupículas!!!
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Laelia
tenebrosa x Laelia millerii ( L. Zip)
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ON:
E o que você procura com híbridos
de Miltonia (só as brasileiras),
ou seja Miltonia mesmo?
AP: Eu preparei cruzas para florir em clima quente e entre março
e abril. |
Miltonia spectabilis x Miltassia Aztec |
Miltonia
spectabilis 'Gigante' x Miltassia Aztec |
ON:
Vamos falar das grandes coisas que você
fez?
AP: Eu não faço grandes coisas.
Eu
tive sorte com algumas hibridações
que fiz, Lc Jorge
Sampaio,
por exemplo, é uma boa planta.
Lc Kunta
Kinté, que é uma
das plantas mais escuras que existe e muita gente
procurou o que fazer com ela, cruzando-a com muita
coisa. Eu me lembrei de cruzá-la com Lc Raimundo
Mesquita que é uma
bela planta com belíssimas flores e já tinha
Kunta Kinté com Orange Gem. Da cruza
de Lc Raimundo
Mesquita com Lc Kunta Kinté saiu Lc Jorge
Sampaio, são uns magentas maravilhosos.
Esta planta ficou boa. Tem Kunta Kinté duas
vezes. Eu fiz de novo pois eu tenho as duas matrizes.
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Lc Jorge Sampaio
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Blc Brazilian
Juliana
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Outra
planta que fiz com uma planta que veio do Aniel
Carnier,
uma planta em cacho, deu muito certo
a qual dei o nome de
minha nora, Blc Brazilian
Juliana (Lc Orange Gem x Blc Castle
in Flames)
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ON:
Você diz que não fez grandes coisas, mas você
obteve excelentes resultados fazendo melhoramento genético
com as 'loddigesii'.
AP: Nisso eu já estava trabalhando, a partir do que o
Manarini já havia feito. Ele já tinha 'corrido
o saco' e a apanhado a 'nata da nata' das
loddigesii de São Paulo. Aí ele faleceu, eu comprei
30, 40 plantas de cada uma daquelas cruzas que ele tinha feito
e comecei a trabalhar a partir delas. Da mesma maneira que ninguém
começou da planta do mato, nem em São Paulo e nem
no Rio Grande do Sul, começou em cima do trabalho de 30
anos do genial alemão que foi o Dr. Walter
Haetinger.
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ON:
Como foi feito este seu trabalho ?
AP: Eu precisei organizar um sistema, para identificar
as flores tal a quantidade de variedades apresentadas
na floração
e optei por utilizar o nome de cidades e regiões espanholas.
Para identificar as plantas puntatas, puntatissimas e fantasia,
escolhi a região de Andaluzia utilizando 'Granada' , 'Cordoba' , 'Sevilha' e 'Andaluzia' .
Para as de tipo escuro, escolhi as grandes cidades 'Madrid' , 'Barcelona' , 'Toledo' , 'Bilbao, 'San
Sebastian' , 'Compostela' . As plantas mais claras,
com o nome de cidades ou regiões de menor expressão
na Espanha.
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ON:
E qual a característica destas plantas
adquiridas do Mannarini?
AP: As plantas, embora com flores perfeitas, floriam
com, no máximo, quatro flores, enquanto
que as de Ywasita ou Nagase floriam com oito ou
dez. A solução foi acrescentar
outras qualidades e procurei ampliar o número
de flores e cruzei com plantas de criação
de Nagase. Para ampliar a dimensão da haste
floral, introduzi as albas de Iwasita, mas o resultado
foi idêntico:
flores perfeitas, mas pouco numerosas.
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ON:
O que é uma grande planta em termos
de hibridação?
AP: O que é uma cruza estupenda? Capitão Pessoa é
uma planta estupenda , Sonia Altenburg é uma planta estupenda,
a Nobile' s Belle do Barani. Ele também tem várias
cruzas nas quais obteve 80%de sucesso, que é muito bom. Isto
é raro.
ON: Num determinado cruzamento, quantos
por cento é considerado
um bom resultado?
AP: Numa cruza, 70% serem bons já um milagre.
A maioria é 30%.
Estou lançando catálogo agora com
os preços
lá em baixo, porque comprar um único
seedling não
adianta. A não ser que você se ache
com uma sorte de matar. É igual tirar na
loteria. Não pode dar
certo. Você tem que comprar 10 seedlings
e rezar a Deus para que venha ali coisa boa.
Quando
nós começamos,
eu digo o grupo de Teresópolis: João
Paulo, Omar Júdice, eu, Fernando Parga,
Rolf, Alberto Lhamas, cada um tinha poder aquisitivo
para comprar 10 seedlings.
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Blc.
Capitão Pessoa
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ON:
Naquela época havia mais investimento
em termos de coleção?
AP: Se, em 1977, tivéssemos investido em
qualquer outra coisa que não fosse orquídeas,
estaríamos
todos ricos. Nós cansamos de pagar US$ 300,00
ou US$ 400,00 por planta americana, híbrido.
Por exemplo, este grupo importou duas matrizes
de cor bronze, Lc Fire Island
e Lc Red Rooster 'Fire Cracker' .
Rolf importou de orquídeas do mundo todo.
Se tivéssemos comprado quadros ou esculturas, estaríamos
ricos. Claro que está tudo
com preço lá em baixo no Brasil,
mas orquídea
está com preço lá em baixo
por termos violado uma tendência.
ON: Como adquirir uma boa planta?
AP: Você aprende a comprar. Por exemplo,
nas espécies
você deve comprar plantas com folhas
mais largas, pois como a flor é uma modificação
da folha, nas espécies
a folha larga é sinal de que a flor deve
ser grande. Em algumas plantas, você tem
o que se chama agulhinha, a ponta da folha, quando
você sente uma agulhinha, um biquinho,
corre a lenda que dali vem as melhores flores.
O cara que vende sabe o que está te vendendo.
Quando eu compro seedlings, eu peço que
só me dêem alternativa de coisa
realmente boa, coisa que o produtor sabe que já saiu
porcaria, eu não quero nem saber.
Por que?
Porque eu sei o que tenho em casa. O que está saindo
bom e o que não está saindo
bom! Todo produtor sabe. É onde eu acho
que o nosso Roland tem razão, as pessoas
que se firmam como vendedores, têm
que ter uma certa ética, pois se você
começa
a vender só porcaria, o sujeito se frusta
e vai dizer que você só faz porcaria.
Ninguém é bobo.
Ele mesmo, Roland, foi enganado comprando gato
por lebre. Comprou 100 Cap.Pessôa, que não
eram Cap. Pessôa.
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Alguns híbridos de Álvaro Pessôa
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Lc.
Jorge Sampaio - Foto: Raimundo Mesquita
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Blc Julio
Barbero x Blc Cecília Pessôa
'Star Eyes'
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Blc Helio Wrobel
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Lc Waianae
Sunset x Blc Julio Barbero
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Blc. Oconee 'Mendenhall' x Lc. Kunta Kinté
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Slc Flávio
Pessoa
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Lc Jorge Sampaio x Lc Kunta Kinté
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Lc Raimundo Mesquita x C. Karol Woytila
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Lc. Brazilian Zap
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Slc. Marcelo
Pessoa
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L.
lobata x L. milleri
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Fotos: Álvaro
Pessôa (exceto
onde indicado) |
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