Cesar
Cherem é mineiro de Juiz de Fora,
onde mantêm seu orquidário.
De formação
bastante eclética, é comerciante
no ramo de relógio, administrador de empresas,
especialista de marketing e gestão de
negócios, mas encontrou tempo para fazer
um curso técnico de agropecuária
e dois anos de engenharia florestal na Universidade
Federal de Viçosa.
Nas horas vagas, cultiva
suas plantas tendo se tornando um conceituado
cultivador de espécies bifoliadas de Cattleya, sobretudo Cattleya
loddigesii e Cattleya intermedia.
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ON:
Por que começou a cultivar orquídeas?
Qual foi o momento mágico da atração?
CC: Estive sempre, desde a infância, ligado a sementes,
mudas, árvores e flores. Em 1983, quando estava em Viçosa,
fiz um curso de cultivo de orquídeas com o então recém
formado e secretário da sociedade daquela cidade, Roland
Cooke, mas somente dez anos após é que resolvi, por
acaso, organizar e agrupar algumas mudas de orquídeas espalhadas
nas árvores do meu sítio. Eram quatro ou cinco vasos
somente, pendurados em um bambu debaixo de uma árvore
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C. harrisoniana coerulea 'Céu Azul'
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C. intermedia flamea '1115'
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ON
- Além deste, houve algum outro fator
de influência (pessoa ou fato) na sua relação
com as orquídeas?
CC: Nessa época, não existiam revistas e nem internet.
Passei pelo menos dois anos procurando por alguém que pudesse
me ajudar no cultivo das plantas. Matei muitas para aprender um
pouco. Marcou-me bastante as exposições internacionais
que antecederam a Conferência Internacional em 1996. Para
quem estava iniciando na orquidofilia, sem nenhum conhecimento,
descobri um tesouro.
ON:
Há quantos anos você cultiva orquídeas?
CC: Aproximadamente
a 15 anos.
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ON:
Quantas plantas você possui, aproximadamente?
CC: Não
sei exatamente quantos vasos possuo. Talvez dez
mil plantas.
Tenho muitos frascos e coletivos,
além de mudas de 1 e 2 polegadas.
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C.
loddigesii rubra '1115'
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C.
loddigesii rubra 'numero 2'
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C. loddigesii
tipo 'número 7'
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ON:
Quanto tempo, por dia, você gasta cuidando
de suas orquídeas?
CC: Moro em apartamento, no centro de Juiz de Fora e minhas
plantas ficam em meu sítio a cerca de 20km. Vou vê-las
3 vezes por semana. Tenho um caseiro que somente se encarrega de
jogar água, todo o restante é feito por mim: plantio,
replantio, adubação, fungicidas e tudo mais.
Costumo fazer coletivos e individuais, à noite,
na minha residência. No meu trabalho recebo amigos,
correspondências, telefonemas e e-mails orquidófilos. À noite,
antes de dormir, ainda acho tempo para leitura de revistas,
correspondências e alguns contatos com amigos de
outras cidades.
Meu tempo é dividido entre trabalho
e orquidofilia.
ON: Você tem preferência por
híbridos ou por espécies? Por que?
CC: Tenho preferência por espécies. É um
grande desafio conseguir plantas de melhor qualidade (forma e
colorido). Produtos de sementeira normalmente trazem surpresas
fascinantes, o que me motiva bastante.
ON: Entre suas plantas, existe alguma que seja
a preferida? Você
é conhecido pela qualidade de seu cultivo, de suas plantas
e, em especial, das Cattleya loddigesii e intermedia,.
Elas estão entre as preferidas?
CC: Na verdade tenho um pouco de tudo na minha estufa. Minha
preferência
é por bifoliadas: C.amethystoglossa, C. guttata, C.
harrisoniana e principalmente C. loddigesii e C.
intermedia.
Tenho sim algumas preferidas entre minhas plantas. Algumas foram
cultivadas desde o frasco ou presente de um amigo querido, outras
adquiridas com muito esforço.
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C.
loddigesii tipo 'Repouso do Guerreiro'
(melhor planta da ExposiçãoNacional de Juiz de Fora
2007)
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C. loddigesii
tipo 'Clarinha'
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C.
intermedia tipo '1115'
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ON:
O que você pode
nos dizer sobre o seu critério de escolha
de planta e de como você as cultiva?
CC: Escolho minhas plantas na hora da compra.
Quando floridas, pela melhor forma ou colorido
diferente, quando seedlings, pelo histórico
das matrizes utilizadas no cruzamento.
Procuro
adquirir várias plantas de um mesmo cruzamento com o objetivo
de fazer uma seleção.
Com relação ao cultivo, nada de especial: uso Peters
20-20-20 intercalado com 15-5-15 + Ca e Mg, semanalmente, diluídos
na caixa d água.
O grande desafio continua sendo querer cultivar plantas de diversas
partes do mundo num mesmo ambiente.
É importante e fundamental conhecer as características
e necessidades de cada espécie e procurar oferecer
a elas o ambiente ou cultivo o mais próximo do
natural.
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ON:
Quais são as condições climáticas
encontradas em seu ambiente de cultivo?
CC: Cultivo minhas plantas em estufas, tipo Holambra (plástico
+ sombrite), o que possibilita o controle da umidade, a aplicação
de inseticidas, fungicidas e adubos. Minha região é
muito úmida e fria também. Tenho que lavar o plástico
2 vezes por ano para permitir melhor passagem de luz. As paredes
são verdes bem como bancadas e vasos, o que demonstra a alta
umidade do ambiente. Tenho muitas árvores e córregos
próximos ao orquidário.
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ON:
Você teria
alguma dica de cultivo sua que quisesse compartilhar
conosco?
CC: Costumo dizer que não existe uma maneira só de
conseguir êxito no cultivo. É importante adaptar a
melhor maneira a realidade de cada um. Dependendo da região
ou plantas que se deseja cultivar, escolher substrato adequado,
adubo químico ou orgânico, vaso de plástico
ou de barro, cultivo suspenso ou em bancadas, enfim, procurar dar
às plantas o ambiente mais natural para elas. Acho fundamental
manter a umidade alta durante todo o ano. O grande segredo da orquidofilia
continua sendo determinar quando jogar água nas plantas e
quando jogar no chão e paredes. Um dia é diferente
do outro, sempre. Não existe dia certo para molhar as plantas.
Este controle, para mim, é o grande “pulo do gato”.
ON: Mas você tem umas boas dicas para o
cultivo de Cattleya walkeriana...
CC: Acontece que minha região não é região
de C. walkeriana, chove muito e é muito úmido.
Só consegui cultivá-las há cerca de dois anos
quando fiz meu orquidário coberto, antes disso, na chuva
as plantas apodreciam de tanto fungo. As plantinhas são retiradas
dos frascos e amarradas diretamente nos toquinhos de peroba, são
cerca de duas mil plantinhas crescendo muito bem. Observe as pequenas
plantas já enraizando após trinta dias de plantio.
A perda é próxima de zero. Depois de um ano, aproximadamente,
são colocadas em cachepots ou vasos de barro (fotos), individualizadas
para crescerem até o florescimento. Utilizo também
pequenos pedaços de tocos de café que têm durabilidade
menor que a peroba mas atende bem ao propósito. Este processo
de cultivo de walkeriana, em que é evitado o vaso coletivo,
é fruto das pesquisas do meu amigo Dr. David, pneumologista
da cidade de Manhuaçu. Eu apenas adaptei ao meu sistema e
vem dando muito certo. Ele descreve seu cultivo com detalhes no
Informativo ACW ano VII número 25 - janeiro a março
de 2006.
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C.
walkeriana na peroba
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plantas
já enraizando na
peroba
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vasos individuais
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tocos
de café
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ON:
Existe alguma história ou caso interessante
ligado à
sua relação com as orquídeas?
CC: Há cerca de três anos aconteceu comigo algo que
jamais poderia prever ou imaginar. Acabei escrevendo um artigo sobre
o fato ocorrido. Se não fosse triste, teria sido muito engraçado.
Na época
de floração das C. loddigesii, plantas
repletas de botões, algumas na primeira floração,
cultivadas desde muito pequenas, entrei no orquidário
e não encontrei nem um botão inteiro. Estavam
todos comidos.
Depois de muita investigação,
encontrei ninhos de botões de loddigesii. Armei
várias ratoeiras entre os vasos e consegui pegar
os meliantes.
Depois disso, sempre oriento a quem for iniciar
na orquidofilia, quando for comprar vasos, substratos,
etiquetas, arames, inclua também uma boa ratoeira.
ON: Diz-se que a orquidofilia é uma manifestação
branda de loucura. Você já fez alguma
loucura orquidófila?
CC: As loucuras são tantas
que passam a ser rotina.
Para a família, sou passível de internação.
Deixar a família ir para a praia sozinha para ficar com as
plantas, viajar um dia inteiro para ver uma exposição
e voltar logo depois são alguns dos sintomas da orquidoloucura,
doença que cada orquidófilo tem em maior ou menor
grau.
Fotos: Cesar Cherem
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