Marcelo Vieira Nascimento nasceu em Florianópolis, Santa Catarina, onde reside e trabalha.
É geógrafo, com Mestrado em Engenharia Civil (Cadastro técnico multifinalitário), mas apaixonado pelas plantas e pelas orquídeas em particular, dedica-se ao seu estudo e, atualmente, participa do curso de pós–Graduação em Botânica de Plantas Ornamentais, pela Universidade Federal de Lavras – MG, em convenio com o CEAP – Centro de Estudos Ambientais e Paisagismo.
Conhecedor de diversos habitats de orquídeas, sobretudo em seu estado, interessou-se pelas orquídeas aos 12 anos e há 15 anos incrementou seu cultivo.   Por sua formação religiosa e em homenagem ao antigo nome do Município de Florianópolis, seu orquidário se chama Nossa Senhora do Desterro.
ON: Por que começou a cultivar orquídeas? Qual foi o momento mágico da atração?
MVN: A paixão pelas orquídeas se inicia no ano de 1971, com 12 anos de idade. Naquele ano, exatamente no dia 22 de março, pude adquirir meu primeiro livro sobre orquídeas, “ORQUÍDEAS – Guia do Orquidófilos", dos autores Floyd S. Suttleworth, Herbert S. Zim, Gordon W. Dillon, com ilustrações de Elmer W. Smith. A aquisição deste livro foi realizada na livraria do Centro de Convivência da Universidade Federal de Santa Catarina após uma tarde de “trabalho”. O trabalho a que me refiro foi a entrega de panfletos de um cursinho pré – vestibular que existia na época em Florianópolis. Com aquele “dinheirinho” no bolso fui, então, fazer uma visita nesta livraria, pois sempre fui apaixonado por livros. Andando pela mesma me vi em frente à estante de Biologia, uma olhada mais profunda e lá estava aquele pequeno livro, com a curiosidade de uma criança passei os olhos por suas páginas e a cada página uma  surpresa... ilustrações de uma flor que até então somente via nas  matas vizinhas da minha casa. Com um pouco mais de atenção, percebi que algumas destas ilustrações eram muito parecidas, ou melhor dizendo, idênticas às que lá existiam. Então, sentei no chão desta livraria e comecei a ler especificamente sobre a Laelia purpurata.  Como num sopro de vida, percebi o momento mágico de atração pelas orquídeas.
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Laelia purpurata
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Cattleya percivaliana
tipo “Rubens”

ON: Além deste, houve algum outro fator de influência  (pessoa ou fato) na sua relação com as orquídeas?
MVN: Muitas pessoas, dentre elas posso destacar o Prof. Nereu do Vale Pereira, Antônio Laras Ribas, Padre Raulino Reitz, Roberto Klein e Francisco Miranda. Considero o querido e saudoso Cláudio de Dechamps, que há tão pouco nos deixou, mas sua falta é imensurável, como o que mais me influenciou, pela sua simplicidade, amizade, carinho, amigo dos amigos e pelo conhecimento profundo sobre orquídeas, principalmente quando falávamos de purpuratas e seus cruzamentos.  



Laelia anceps coerulea ‘Moita’

Cattleya schilleriana
coerulea ‘Alessandra’

ON: Você disse que aos 12 anos, você se interessou pelas orquídeas, mas o cultivo sistemático começou há quanto tempo?
MVN: Poderia dizer que foi naquela época quando tomei conhecimento das mesmas através de um pequeno livro, mas cultivar mesmo, há 15 anos.

ON: Quantas plantas você possui, aproximadamente?
MVN: Meu orquidário que tem uma área total de 400m², pode ser dividido em 30 % para o cultivo de híbridos de cattleyas, vandas e 70 % para cultivos de espécies entre Cattleyas, Laelias e outros “matinhos”. Nestes 400m² são cultivados (hoje) 6.210 vasos com orquídeas, sendo que a grande maioria em vasos de barros. As walkerianas (735) são cultivadas em cachepots. As espécies de Cattleyas e Laelias, quando florescem e  apresentam um potencial genético acima da média, são replantadas em cachepots, podendo ser transformadas em futuras matrizes.

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Laelia tenebrosa “ Fogo do Céu”

Cattleya lueddemanniana
alba ‘Marcelo’
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Cattleya leopoldii tipo “Dechamps”
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Cattleya walkeriana ‘Júlia’
ON: Quanto tempo, por dia, você gasta cuidando de suas orquídeas?
MVN: Sou funcionário da Prefeitura Municipal de Florianópolis, nosso regime funcional é de 6 horas/dia. Portanto, sempre que possível estou no orquidário pelas manhãs, das 7,00 às 11,00 horas. O que totaliza em média, por semana, 20 horas, mesmo assim, no período noturno (o orquidário possui iluminação), procuro dar uma boa caminhada, mas não mais do que 30 minutos.

Cattleya loddigesii  ‘Amélia’
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Cattleya leopoldii trilabelo “Alessandra”
ON: Você tem preferência por híbridos ou por espécies? Por que?
MVN: Minha preferência sempre foi por espécies, principalmente Cattleyas e Laelias, mas não recuso um híbrido de qualidade superior,  principalmente pela beleza de seu colorido. A preferência pelas espécies, principalmente as brasileiras, é em função da possibilidade da manutenção das mesmas, primeiro em nossos orquidários (pois a grande maioria está em extinção) e, num segundo momento, todo este material genético possa servir de reintrodução em nossas matas.

Cattleya walkeriana  coerulea ‘J P’

Cattleya trianaei  ‘Margot’
ON: Entre suas plantas, existe alguma que seja a preferida?
Por ser do sul do Brasil, naturalmente teria uma tendência a preferir as nativas, como a Cattleya leopoldii e intermedia e a Laelia purpurata e é claro que possuo em meu orquidário uma boa coleção das mesmas, mas tenho uma preferência por espécies de porte pequeno e com flores que duram um bom tempo. Assim minha preferência são pela Cattleya walkeriana e Cattleya  schilleriana. As walkerianas são cultivadas em cachepots de madeira de lei,  tendo como substrato pedaços de casca de peroba e de xaxim e ficam suspensas no orquidário a 2 metros do chão. As schillerianas sempre foram um desafio para quem cultiva aqui no Sul.  Hoje possuo cerca de 250 delas (sendo 35 coeruleas que já floriram e confirmaram um magnífico azul do céu) e acredito que consegui criar um ambiente bastante interessante para o seu cultivo. Elas são cultivadas em vaso de barro, com fibra de xaxim como substrato, as mesmas estão dispostas em mesa que fica a 90 cm do chão.
ON: Quais são as condições climáticas encontradas em seu ambiente de cultivo e como as mesmas são cultivadas?
MVN: Não há e não vejo nenhum segredo no meu cultivo, as condições climáticas do meu local de cultivo podem ser assim descritas. Clima mesotérmico úmido, sendo normal o regime das chuvas e as temperaturas variam entre 10 º C (no inverno) e 30 º C, em média. Meu orquidário pode ser considerado uma semi-estufa, pois as paredes laterais são formadas por sombrite com 50% na cor preta. A altura total (primeiro pé direito) é de 5 metros onde está instalada a cobertura final em forma de semi-arco, coberta com plástico semi-leitoso para filtrar os raios solares. A 3 metros (2º pé direito) do piso do orquidário foi colocado um sombrite com 70% na cor preta, cobrindo toda área. O piso do orquidário é formado por brita 3/4.

Abaixo deste piso foi colocado um sistema de irrigação (subterrânea) que é ligado apenas no verão e  cada 3 dias, para proporcionar um aumento da umidade relativa do ar, ele deixa o piso molhado sem molhar as plantas. Acima do primeiro pé direito, há um sistema de irrigação das orquídeas que é acionado automaticamente formando uma núvem úmida e sua programação é estabelecida para cada estação do ano.
Quanto à água que utilizamos no orquidário é exclusivamente da chuva. Para isto temos um reservatório com 3.000 litros que abastece, por gravidade, 3 caixas de água, cada uma com 300 litros.
Cada caixa possui uma função especifica: a primeira para  água pura, a segunda para adubo químico e a terceira para inseticida e fungicida. Elas são usadas separadamente e em dias diferentes: água pura, a cada 15 dias; adubo químico, semanalmente e inseticida e fungicida só quando necessário.


Laelia anceps tipo ‘Muito Diferente’

Cattleya walkeriana tipo ‘João Pedro’

ON: Diz-se que a orquidofilia é uma manifestação branda de loucura. Você já fez alguma loucura orquidófila?
MVN: Loucuras sempre fazemos quanto temos amor por alguma coisa e neste caso das orquídeas, infelizmente, estas loucuras são “impublicáveis”, pois na sua grande maioria estão relacionadas com a compra de cortes de orquídeas de qualidade superior e são segredos que jamais poderão ser revelados, pois a cobrança pode ser grande, muito grande, principalmente  por parte da patroa e dos filhos. Melhor terminar por aqui....

ON: Muito obrigado, Marcelo.



Cattleya harrisoniana coerulea “Avai”

Cattleya lueddemanniana alba ‘Marcelo’

Fotos: Marcelo Vieira
Foto do Marcelo: Sergio Araujo

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