Paulo Roberto Pancotto é orquidófilo, formado em Administração com pós-graduação em Mercado de Capitais. Seu envolvimento com as orquídeas começou há 22 anos.
Relato
Paulo Roberto Pancotto
"Foi uma linda expedição para ver floração de Cattleya dormaniana. A caminhada durou um total de dez horas, com muitas subidas e descidas, numa área de difícil acesso e até por isso, acredito, que ela ainda esteja a salvo. Encontramos um habitat, com uma boa população de plantas adultas e sem exagero, podemos dizer, que tinha algo em torno de umas 150 plantas e uma quantidade enorme de seedlings, de todos os tamanhos, o que significa dizer que aquele pequeno tesouro está em perfeito equilíbrio, pois o seu polinizador está ativo e fazendo um bom trabalho.
Estas plantas estavam muito bem adaptadas, com muita saúde,
uma floração exuberante, com pouca variação
no seu colorido, mas, em compensação, apresentavam
na sua haste floral duas flores do mesmo tamanho, o que para a espécie
já é um grande feito. Foram encontradas num ambiente
de muita humidade, pois estavam situadas sobre um grande rio
de bromélias. Essas bromélias são responsáveis
também por um acúmulo de água enorme em constante
evaporação.
A luminosidade para a maioria das plantas era em torno de 50%, mas,ao
mesmo tempo, encontramos plantas que, ao meio dia, estavam com incidência
de sol a 100% por, pelo menos, duas horas, mas devido a grande refrigeração
fornecida pela combinação de água das bromélias
com o calor do sol e ventilação, nós não
vimos nenhuma planta com marca de queimadura solar. Este habitat
se encontra a, aproximadamente, 600 metros de altitude." |
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Cattleya dormaniana (Rchb f.) Rchb. f. 1882
Esta espécie foi descrita como Laelia dormaniana por
Rchb. f. em l880, provavelmente levado pelo fato dela produzir duas
ou 4 políneas rudimentares extras, já que as espécies
de Laelia possuem 8 políneas. Em l882, ele transferiu para
o gênero Cattleya.
Inicialmente, ele pensou se tratar de um híbrido de Cattleya
bicolor com Laelia pumila. Posteriormente a dúvida
foi dissipada e Cogniaux (Flora Brasiliensis, Martius, 1898)
e, na década de 60, Dressler & Gillespies (Bulletin AOS)
consideraram como uma espécie válida.
Existem diversas propostas de classificação das espécies
brasileiras de Cattleya e, no que diz respeito à
Cattleya dormaniana, esta variação é
plenamente justificada em função, sobretudo da aparência
de suas flores,
Para Cogniaux (Flora Brasiliensis, Martius, 1898), a Cattleya
dormaniana pertence à seção Cryptochila,
subseção Diphyllae, Séries Intermedia.
Para Pabst e Dungs (Orchidaceae Brasiliensis - 1975) estaria incluida
na Aliança da C. guttata.
Para Fowlie (The Brazilian Bifoliate Cattleyas and Their Color Varieties
- 1977) e Carl L. Withner (The Cattleyas and Their Relative - volume
1 - 1995), estaria incluída na Seção Laelioidea.
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Para Rolfe (Orchid Review - 1895) faria parte do grupo da Cattleya intermedia
Para Brieger, Maatsch and Senghas (Schlechter' s Die Orchideen - 3a. edição - 1981) pertenceria ao subgênero Diphyllae, seção Intermedia.
Espécie endêmica para o Estado do Rio de Janeiro, Guido
Pabst, em seu trabalho "As Orquídeas do Estado da Guanabara",
publicado na revista Orquídea (setembro-outubro 1966) informa
que há um material citado por Blunt, na cidade do Rio de
Janeiro, entre 500 e 700m de altitude. Já no livro "Orchidaceae
Brasiliensis" (Band I, 1975), ele só cita ocorrência
para o estado do Rio de Janeiro e não inclui o ex-estado
da Guanabara (atual município do Rio de Janeiro).
De acordo com o relato do Barão Anton Ghillany, esta espécie ocorre em situação muito peculiar, na Serra dos Órgãos onde a encontrou vegetando saprofitamente em troncos mortos ou em decomposição acima de 600m (o que coincide com o relato de Paulo Pancotto), em floresta pluvial e extremamente úmida. No entanto, vegeta também como epífita. Seu habitat varia entre 600 e 1.000m de altitude.
Características da planta
O tamanho dos pseudobulbos varia 8 a 30cm e possuem duas folhas
de boa substância. Segundo David Miller et all (Serra dos
Órgãos, Sua História e Suas Orquídeas)
cresce sobre uma espécie de árvore, provavelmente
Clusia organensis, em ambientes muito específicos
de difícil acesso.
Características florais
Sua floração apresenta, no máximo, 2 indivíduos com boa substância e com, aproximadamente, 9 cm de largura. Elas emergem da espata ainda verde em haste de 9cm de comprimento. Elas quase não possuem perfume e podem atingir 8cm de diâmetro quando espalmadas. Duram, no máximo, quinze dias.
A flor-tipo tem as pétalas e sépalas onduladas e com um colorido verde-oliva com as margens vermelho-amarronzadas. O labelo é púrpura com os lobos laterais rosa cobrindo a coluna. Apresenta uma mancha branca fina e no sentido vertical. Os segmentos florais são projetados para trás.
A variedade alba foi descrita por L. C Menezes (Boletim CAOB, vol
III/2 jan/abril 91) a partir de dois exemplares que apresentavam
pétalas e sépalas esverdeadas e o labelo inteiramente
albo. A variedade semi alba possui as pétalas e sépalas
verde, o lobo central do labelo é púrpura e os lobos
laterais são brancos.
Sergio A. A. de Oliveira, em seu artigo publicado no boletim CAOB, cita ainda a variedade flamea.
C. dormaniana
semi-alba (foto: Fernando Terra Manzan)
Cultivo
Seu cultivo não é dos mais fáceis e deve ser
cultivada em clima mais ameno, com bastante frio no inverno e sob
luz moderada. Quando cultivada em clima quente, tende a definhar
e suas flores não apresentam uma boa forma e
com menos substância.
Precisa ser bem regada durante o período de crescimento mas
deve ter a rega reduzida durante o inverno. Como todas as espécies
bifoliadas de Cattleya, em razão de suas hastes caulinares
tipo cana, não deve ficar um tempo excessivamente longo sem
rega pois corre o risco de se desidratar e enrugar, tornando sua
recuperação muito difícil.
Aplique um adubo nitrogenado a cada 15 dias e não adube durante o inverno (se cultivada em clima frio).
Híbridos
Não há registro de híbrido natural desta espécie e apenas 9 híbridos artificiais foram registrados.
Cattleya Doinii (x dowiana), Cap Ziglar, Lambeauii (x labiata), Arthuriana (x luteola), Memoria Peter Petty, Lc Porphyrites (x Laelia pumila), Lc Sanderae (x L. xanthina), Lc Claptonensis (x Lc schilleriana) e C. Joan (Lambeauii x C. Fabia)
Sinônimos
Laelia dormaniana Rchb f.
Laeliocattleya dormaniana Rolfe
Bibliografia:
Hoehne - Iconografia de Orchidaceas do Brasil - Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo
Cogniaux - Flora Brasiliensis, Martius, 1898
Fowlie - The Brazilian Bifoliate Cattleyas and Their Color Varieties
Carl L. Withner - The Cattleyas and Their Relatives - Vol I
Pabst - As Orquídeas do Estado da Guanabara (revista Orquídea vol 28)
Pabst & Dungs - Orchidaceae Brasiliensis - Band I
Jim & Barbara McQueen - Orchids of Brazil -
L. C. Menezes - Boletim CAOB Ano III -- vol III/2 Jan-abril/91 - Orquídeas Raras
Sergio A. A. de Oliveira - Boletim CAOB Ano III -- vol III/4 Set-Dezl/91 - Algumas das mais belas Cattleyas bifoliadas, sua história, vairedades e cultivo, parte 2
David Miller et all - Serra dos Órgãos - Sua História e Suas Orquídeas |
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