Phytotaxa 20: 57-59

¹ Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Rua Pacheco Leão, 915, 22.460-030, Jardim Botânico, Rio de Janeiro-RJ, Brasil, E-mail: cnfraga@jbrj.gov.br
² Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas - CRAD, Rod. BR 407, km 12, lote 543, Distrito de Irrigação Sen. Nilo Coelho, CEP 56.300-000, Petrolina, Pernambuco, Brasil. E-mail: andrepaviotti@yahoo.com.br

Resumo

O estudo do material-tipo de Augusto Ruschi, depositado no Museu de Biologia Prof. Mello Leitão, em Santa Teresa, Espírito Santo, torna possível reconhecer a historicamente negligenciada espécie embora validamente publicada, Oncidium novaesae que é aqui transferida para Gomesa, com designação do lectótipo e indicação de sinônimo. Além disto, uma combinação desnecessária em Gomesa é identificada.

Palavras-chave: Gomesa, Oncidium, Mata Atlântica, Brasil


Introdução


O gênero Gomesa R. Br. originalmente englobava 11 espécies endêmicas para o Brasil (Pabst & Dungs 1977). Entretanto, após análises filogenéticas moleculares baseadas do DNA nuclear e de plastídios, este número foi muito ampliado e passa a abranger a maior parte das espécies brasileiras anteriormente incluídas em Oncidium Sw. (Chase et al. 2009), totalizando, desta maneira, 115 espécies de Gomesa. O gênero Gomesa, nesta circunscrição, espalha-se pelos Neotrópicos.
A maior parte dos erros nomenclaturais observados quando da transferência do epítetos das espécies para
Gomesa (Chase et al. 2009) foram corrigidos por Chase (2009), mas uma omissão foi recentemente detectada, uma vez que Oncidium novaesae Ruschi (1970a), uma espécie validamente publicada, não foi considerada em nenhuma literatura recente sobre orquídeas (e.g. Pabst & Dungs 1977, Chase et al. 2009), exceção feita a duas citações do nome feitas pelo autor (Ruschi 1970b, 1986).
O reconhecimento de O. novaesae como um táxon válido mas historicamente negligenciado só foi possível com base no estudo do material tipo de Augusto Ruschi depositado no Museu de Biologia Prof. Mello Leitão, em Santa Teresa, Espírito Santo, Brasil. Este estudo também revelou a necessidade da lectotipificação da espécie e permitiu o estabelecimento do reconhecimento de novos sinônimos. Além disto, foi mostrado que Chase et al. (2009) propuseram uma combinação desnecessária de Theodorea doeringii Hoehne (1942) em Gomesa, porque já tinha sido anteriormente transferida para este gênero por Pabst (1967) como G. doeringii (Hoehne) Pabst.

Gomesa novaesae (Ruschi) Fraga & A.P.Fontana, comb. nov.

Basiônimo: Oncidium novaesae Ruschi, Bol. Mus. Biol. Prof. Mello Leitão, Série Botânica 51: 3. 1970. Tipo: BRASIL. Espírito Santo: Santa Teresa, Estação Biológica do Museu Nacional, fl. 4 May 1951, A. Ruschi s.n., no. 1080, (holótipo MBMLdestruído). Lectótipo (aqui designado): Desenho original de Maria Stella Novaes, nos arquivos pessoais Augusto Ruschi depositado no Museu de Biologia Prof. Mello Leitão e reproduzido em Ruschi, 1970b: 15, t. 30 e Ruschi, 1986: 240.
Sinônimos: Oncidium zappii Pabst (1976: 155), Anettea zappii (Pabst) Szlach. & Mytnik. (2006: 50), Brasilidium zappii (Pabst) Camppaci (2006: 79), Gomesa zappii (Pabst) M.W.Chase & N.H.Williams (in: Chase et al. 2009: 398). Holótipo: BRASIL. Espírito Santo: perto de Venda Nova, fl. 26 Maio de 1976, Zappi 48, (HB!), sin. nov.


FIGURA 1. Reprodução do desenho de Maria Stella Novaes - desenho original (Lectótipo),
depositado no Arquivo Augusto Ruschi no Museu de Biologia Prof. Mello Leitão.

O material usado por Ruschi na descrição de G. novaesae foi preservado em álcool e depositado no Herbário do Herbarium do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão (spirit collection). Nós tivemos a oportunidade de examiná-lo antes de ser tragicamente destruído pelas enchentes que ocorreram em 18 de dezembro de 2000. Elas arruinaram completamente parte da importante coleção botânica do Museu. O espécime-tipo, agora perdido, consistia simplesmente em flores fixadas e uma etiqueta com o registro do seu número (i.e. 1080).
Embora o material tipo tenha sido destruído, a descrição original e a ilustração (Ruschi 1970a, 1970b) fornecem claramente os dados morfológicos que permitem o reconhecimento do Oncidium zappii Pabst (Pabst 1976), transferido para Gomesa por Chase et al. (2009) como idêntico à G. novaesae. Como conseqüência os binomiais O. zappii e G. zappii são aqui tratados como novos sinônimos de G. novaesae obedecendo a regra de prioridade, Art. 11.4 do Código Internacional de Nomenclatura Botânica (McNeill et al. 2006). Os autores de ambos os sinônimos caracterizaram o O. zappii/G. zappii pelo labelo com um disco marrom púrpura, característica também encontrada em G. novaesae.
Devido à distribuição do material tipo e a ausência de outros espécimes citados no protólogo de O. novaesae, a ilustração original da artista Maria Stella de Novaes, que é suficiente para a identificação do táxon, é aqui designada como lectótipo.


Gomesa doeringii (Hoehne) Pabst (1967: 165), Orquídea (Niteroi) 29: 165.

Sinônimos: - Theodorea doeringii Hoehne (1942: 86); Hellerorchis doeringii (Hoehne) A.D.Hawkes (1959: 275); Rodriguesia doeringii (Hoehne) Pabst (1975: 8); Gomesa doeringii (Hoehne) M.W.Chase & N.H.Williams (in: Chase et al. 2009: 396), comb. superfl.

Theodorea doeringii foi originalmente descrita por Hoehne (1942) e 25 anos depois foi transferida para Gomesa por Pabst (1967) como G. doeringii. Esta combinação não foi incluída em Chase et al. (2009) que propôs uma nova combinação supérflua que aqui é incluída como sinônimo do táxon.


Agradecimentos

Nós agradecemos à equipe do Museu Biológico Mello Leitão pelo apoio durante o estudo do material tipo do Herbário MBML e acesso ao material iconográfica da coleção privada de Augusto Ruschi e Mark Chase por sua valiosa assistência com literatura. Nós agradecemos profundamente a Elton Leme por seus comentários críticos.


Referências

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Observação da editoria de Orchid News: Foram omitidos os dados que poderiam indicar a localização exata.


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