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Possui graduação em História Natural pela Universidade Santa Úrsula (1973), Mestrado em Ciências Biológicas (Botânica) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (1976) e Doutorado em Ciências Biológicas (Botânica) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (1982). Atualmente é professor Titular aposentado da Universidade Federal do Amazonas.
Tem experiência na área de Botânica, com ênfase em Taxonomia - especialista na Família Orchidaceae, Biologia Floral, Fitogeografia - Fitossociologia, Conservação Ambiental, Estudos de Impactos Ambientais, Recuperação de áreas degradadas (www.orquideasdaamazonia.com.br)


ECOLOGIA
A família das orquídeas teve o seu maior desenvolvimento nas áreas tropicais e a maior parte das espécies adaptou-se ao hábito epífito. As relações delas com hospedeiros e as adaptações para que pudessem viver como epífitas neles são muitas.

FORÓFITOS
São considerados forófitos aquelas árvores ricas em epífitas, que possuem: estrutura da casca grossa e fendida; retenção de umidade; nutrientes disponíveis; acumulam humos; não possuem produção de substância alelopáticas (que inibem a germinação de outras sementes) e tipo de arquitetura (disposição dos galhos e penetração de luz).

Na Amazônia brasileira, temos como exemplo a Bertholletia excelsa, a Castanheira, a Hevea brasiliensis, a Seringueira, a Ceiba pentandra, a Sumaumeira e a Aldina heterophyla, o Macucú, entre muitas outras. Em um trabalho que participei com Jefferson da Cruz no Campo Petrolífero do rio Urucu, Município de Coari, no médio Solimões, de 86 árvores pertencentes a 63 espécies, 16 espécies foram consideradas forófitos.
Nesses trabalhos, (CRUZ e BRAGA, 1976 e 1997) identificamos 29 espécies de orquídeas.
Os estudos ecológicos existentes costumam relacionar a ocorrência das orquídeas com o tipo de clima, vegetação, altitude, altura no interior da floresta, e espécie de árvore hospedeira.
A existência de um gradiente microclimático vertical dentro da floresta onde a intensidade luminosa, temperatura e circulação atmosférica aumentam no sentido solo-dossel, é irrefutável. Esse gradiente não é constante e varia de um local para outro, devido à estratificação irregular das árvores e às diferenças específicas e individuais na densidade de suas copas. A interceptação de chuva também varia diretamente com a densidade das copas, além de depender, como é óbvio, do total de precipitação. Esses e outros fatores influenciam enormemente no padrão de distribuição espacial dos indivíduos de uma população.

A fim de que possamos entender a ocupação dos diversos habitas, precisamos mencionar as várias adaptações e os fatores que interagem:



1) As sementes das orquídeas são muito leves e são facilmente transportáveis a grandes distâncias pelo vento e pela água. Isso não só ajuda à dispersão das sementes, como também permite que as plantas se estabeleçam em habitats bastante específicos, em lugares precisos e árvores determinadas.
2) As sementes dessas plantas são muito sensíveis aos fatores físicos e químicos. Entre os físicos citamos: umidade relativa do ar, intensidade luminosa, arquitetura das árvores e tipos de substratos. Entre os químicos destacamos: os nutrientes disponíveis, substâncias alelopáticas e pH.
Dentro de uma determinada comunidade os gradientes microclimáticos são bem evidentes. Podemos então dividir as plantas, quanto à sua necessidade de 1uz, em: umbrófilas as que crescem no chão e nos troncos das árvores; semi-heliófilas as que crescem margeando a vegetação ou nos ga1hos; e heliófilas as que crescem em pleno sol.
3) Uma das características dessa família é a ausência de endosperma nas sementes e para que o desenvolvimento das plântulas tenha pleno êxito, é necessária uma relação de simbiose entre essas e os fungos do gênero Rhizoctonia.
4) Com o epifitismo, a obtenção de nutrientes, bem como o suprimento de água tornaram-se críticos. A fim de que o balanço hídrico fosse mantido, foram necessárias adaptações xerofíticas como: velame, pseudobulbos, folhas carnosas e metabolismo ácido crassuláceo (C.A.M.) em muitas dessas epífitas.
Para que o suprimento de minerais ocorresse, adaptações como o grande número de raízes, rizomas e pseudobulbos permitiram que material orgânico se acumulasse entre eles, ocorrendo assim à formação do que se chama de húmus. Não podemos nos esquecer também da grande importância das formigas do gênero Azteca e outros animais que fazem os seus ninhos na base destas plantas, acumulando muita matéria orgânica.
O suprimento de nitrogênio nessas plantas ocorre pelas chuvas ou pelas gotas de água que pingam das folhas depois de uma chuva, em forma de amônia. Essas gotas de água contêm três vezes a quantidade de NH3 encontrado na água da chuva.
No quadro que se segue reunimos os fatores que afetam a distribuição de orquídeas


Por último abordamos a diferenciação e hibridação em orquídeas da Amazônia.
A espécie em questão, Cattleya eldorado, é muito variável e pode-se notar uma diferença marcante nos indivíduos que ocorrem no Igapó ou Campinas próximas das margens dos rios, em relação aqueles que ocorrem em Campinas da Terra-Firme.
Os primeiros possuem plantas mais robustas e flores maiores do que as dos últimos. É importante citar que na época do descobrimento da espécie e suas variedades a Terra Firme ainda não tinha sido desbravada por estradas, o que a tornava de difícil acesso. Na Lindenia, inclusive é citado, que as primeiras plantas que floriram provieram das margens do rio Negro e na Martii Flora Brasiliensis, do rio Negro e Urubu.
O período da floração dessas plantas também são diferentes.
No Igapó florescem de agosto a outubro e na Campina florescem geralmente de dezembro a fevereiro.


Atualmente nas proximidades de Manaus, as Campinas foram destruídas e as Campinas (que visitei) estavam em Terra-Firme entre 60 a 90 km do perímetro da cidade. Pode ser este o mistério do porque daquelas variedades citadas na referida obra só terem sido reencontradas recentemente.
Dito isso, penso que temos dois ecótipos que estão em processo de diferenciação ou mesmo podendo ser considerados como vicariantes de duas subespécies.
Entretanto, ambas populações possuem o mesmo perfume forte característico. Em relação ao formato das flores também é muito variável e a maioria das flores não mostram boa armação. Quanto a coloração variam do rosa - claro ao rosa - escuro ou de flores brancas.
Todas as Cattleya eldorado Lindén possuem o labelo com a fauce maculada de laranja. De modo geral, é possível encontrar formas intermediárias entre as variedades o que sugere a hibridação destas em condições naturais.
Como sabemos, a flora das Campinas Amazônicas foi em grande parte derivada do Escudo das Guianas. Por outro lado, com a retração da Floresta de Terra-Firme no Pleistoceno, a ligação entre os tipos não florestais foi ampliada.
No Quaternário a Floresta tornou-se a expandir propiciando uma diferenciação e isolamento relativos entre as tipologias vegetacionais, pois o isolamento não é total como em ilhas oceânicas.
Assim existem ocorrências de híbridos como a Cattleya X brymeriana Reichb.f. (Cattleya eldorado X Cattleya violacea) X Brassocattleya rubyii Braga (híbrido intergenérico entre a Cattleya eldorado e Brassavola martiana Lindl.
No caso do último híbrido ocorre a formação de frutos com sementes férteis e viáveis o que possibilita a ocorrência de introgressão genética possibilitando variação e especiação.


Esperamos com esse artigo ter contribuído para ilustrar como as orquídeas ocupam os nossos ecossistemas e as especificidades que possuem de habitat, o que faz com que possa ficar vulnerável a extinção.

• Sugestões para leitura
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