O mundo científico e orquidológico está de luto pela perda do Professor Dr. Pedro Ivo Soares Braga. Um nome para ficar na História, uma pessoa para ficar em nossos corações. Quem, como eu, teve a felicidade e a honra de seu convívio, conheceu a perfeita combinação do cientista com o amigo verdadeiro; do profissional sério, ético e exigente com o companheiro autêntico, alegre e despojado.
Sua vida acadêmica e profissional foi brilhante, e dentre seus diferenciais, destaco o prazer e dedicação que teve em transmitir sua experiência e saber acadêmico para meios extra-universitários, como o orquidófilo. Poucos cientistas conseguem envolver leigos, disseminar conhecimento e elevar o nível técnico das pessoas com tanto sucesso.
O Prof. Pedro Ivo graduou-se em História Natural pela Universidade Santa Úrsula (1973), concluiu seu Mestrado em Ciências Biológicas (Botânica) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia em 1976 e Doutorado em Ciências Biológicas (Botânica) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia em 1982. Suas teses foram sobre a Família Orchidaceae (Aspectos Biológicos das Orchidaceae de uma Campina da Amazônia Central , I e II - Fitogeografia das Campinas da Amazônia Brasileira).
Complementou seus estudos em diversos tópicos: Ecologia Vegetal, Universidade Federal de Minas Gerais; Ecologia e Taxonomia Bioquímica, Universidade Federal de Minas Gerais; Estudos Fitossociológicos na Mata Atlântica, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico; Ecologia, Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal - Jardim Botânico do Rio Janeiro; Biologia Floral, Academia Brasileira de Ciências, dentre muitos outros.

Teve experiência principalmente na área de Botânica, com ênfase em Taxonomia - especialista na Família Orchidaceae, Biologia Floral, Fitogeografia - Fitosociologia, Conservação Ambiental, Estudos de Impactos Ambientais, Recuperação de áreas degradadas.
Seus trabalhos na Amazônia abrangeram grandes projetos, sendo alguns deles: Estudo da Biodiversidade no Entorno da Refinaria Isaac Sabbá – REMAN, Estudos de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) da Reconstrução e Pavimentação da BR-319 - Meio Biótico: Flora, Programa de Regeneração de Áreas Degradadas pela Construção do Gasoduto Coari-Manaus – PRADE, Zoneamento Ecológico de Espécies para Reflorestamento da Faixa de Servidão e Estudo de Impacto Ambiental (EIA) / Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (RIMA)do Gasoduto Urucu-Manaus.
Seu último vínculo profissional foi com a Universidade Federal do Amazonas, em ensino e pesquisa, após expandir seu saber por diversas entidades, entre as quais a Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte, como Conselheiro Técnico; Fundação Biodiversitas, como Conselheiro Técnico; Universidade Federal de Minas Gerais, como Professor Titular, Direção e Administração; Instituto de Ciências Biológicas, como Subcoordenador e Membro do Colegiado do curso de Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre; Instituto de Ciências Biológicas, UFMG, como Chefe de Departamento; Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, INPA, como Pesquisador associado.
Publicou dezenas de artigos e trabalhos, muitos dos quais sobre orquídeas, e escreveu e participou da elaboração de cinco livros; foram mais de 165 publicações em periódicos nacionais e estrangeiros, congressos, formando um currículo respeitado.
Esta produtividade científica não impediu o Prof. Pedro Ivo de participar ativamente do meio orquidófilo, viajando para diversos estados para palestras e cursos. Pudemos verificar isto desde a fundação da Associação de Orquidófilos do Amazonas, há trinta e um anos, quando ele foi o Diretor Científico e grande agregador de conhecimento, tornando nossa pequena entidade conhecida nacionalmente. Foram épocas difíceis, mas conseguíamos publicar mensalmente um Boletim com artigos inéditos, gratuitamente distribuído, do qual o Professor foi o grande nome. Infelizmente, a AOA dissolveu-se devido a emigração da maioria de seus membros. Já em 2011, mesmo com a saúde precária, foram do Professor Pedro Ivo a iniciativa e liderança para fundar a Associação de Orquidófilos da Amazônia, constituindo-se membro do Conselho. São dele estas palavras, em seu primeiro editorial no Boletim da AOA: “...e, para que servem estas pesquisas – ficarem conservadas nas bibliotecas, herbários ou no meio científico?! Não, justamente com a criação da Associação de Orquidófilos da Amazônia, damos um sentido ao esforço empreendido para catalogar a flora orquidológica da região amazônica”. O orquidófilo Pedro Ivo não deixava de lado o rigor do cientista, e exigia de todos o respeito à metodologia de pesquisa e de publicação de trabalhos, que, quando não tinham o devido embasamento, mereciam sua observação: “pena que Botânica não dá cadeia...” Admirável foi a disposição e o prazer do Prof. Pedro Ivo de estar sempre produzindo e em contato com a natureza. Até recentemente, com todas as dificuldades que tinha para controlar a saúde, viajava para o interior da Amazônia, fosse para suas pesquisas e trabalhos, fosse para simplesmente excursionar com os amigos, sempre com seu característico bom humor. Foi um homem marcante, capaz de combinar autoridade com sensibilidade. E termino aqui repetindo a mesma frase com que nosso mestre encerrou um editorial sobre cultivo de orquídeas, em outubro de 1981: “que nos permitamos ser bons cultivadores do amor!!!”



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