Resumo

(Orchidaceae das Serras Negra e do Funil, Rio Preto, Minas Gerais, e similaridade florística entre formações campestres e florestais do Brasil). Neste estudo, foi realizado o levantamento das Orchidaceae das Serras Negra e do Funil (SN/ SF), Zona da Mata de Minas Gerais, e uma análise da similaridade florística dessa família entre 29 áreas campestres e florestais do Brasil. Para tal análise, utilizou-se o algoritmo UPGMA, coeficiente de Sørensen, e 5.000 replicações de bootstrap. A análise de agrupamento revelou baixos índices de similaridade, exceto para os grupos Serra Negra + Parque Estadual do Ibitipoca e Parque Estadual da Ilha do Cardoso + Estação Ecológica Juréia-Itatins. Os resultados sugerem que a região das SN/SF represente um corredor florístico entre localidades na Serra da Mantiqueira (Parque Nacional do Itatiaia) e Serra do Mar (Reserva Biológica de Macaé de Cima). Foi observado o agrupamento de áreas com semelhanças ambientais e as regiões de campos rupestres se destacaram em termos de particularidades florísticas. O teste de Mantel revelou que a similaridade florística não está correlacionada à distância geográfica entre as áreas.


Palavras-chave: Biodiversidade, campos rupestres, conservação, riqueza específica, teste de Mantel



Introdução


Orchidaceae Juss. é uma das maiores famílias de angiospermas, compreendendo aproximadamente 800 gêneros e 20.000 espécies (Dressler 1993). Possui ampla distribuição geográfica, estando ausente apenas nos pólos e nas regiões desérticas (Pabst & Dungs 1975; Dressler 1993; Smith et al. 2004). Alguns de seus gêneros podem ter distribuição pantropical, mas existem centenas de espécies com diferentes graus de endemismo (Dressler 1993).
Apesar da representatividade da família, no que tange à riqueza de espécies, em especial no Brasil, são poucos os estudos especificamente destinados a avaliar as relações florísticas da família entre diferentes áreas (vide Fraga & Peixoto 2004; Azevedo & vand den Berg 2007; Barbero 2007). Hoje, a maioria dos trabalhos que visam o conhecimento da ecologia e distribuição geográfica da flora é destinada ao componente arbóreo-arbustivo (p. ex., Oliveira-Filho & Fontes 2000; Scudeller et al. 2001; Phillips et al. 2003; Reis et al. 2007). Além disso, as pesquisas em ecologia e geografia são feitas em pequena escala e em um número limitado de localidades (Phillips et al. 2003). Assim, a relação entre a composição e a distribuição espacial da flora e seus fatores causais ainda não são bem entendidos para as florestas tropicais (Phillips et al. 2003; Tuomisto et al. 2003).
Muitos autores consideram que a distância geográfica é uma das variáveis mais importantes na distribuição geográfica das espécies vegetais (Scudeller et al. 2001; Condit et al. 2002). A similaridade florística entre áreas distintas decresce com o aumento da distância geográfica entre elas, devido aos limites de dispersão das espécies (Hubbell et al. 1999). No entanto, outros fatores mostram-se relevantes no arranjo espacial das espécies vegetais, como o clima, características edáficas, sazonalidade e precipitação (Clark et al. 1999; Oliveira-Filho & Fontes 2000; Scudeller et al. 2001; Phillips et al. 2003). Nesta complexa relação, ainda são incluídos a eficiência na dispersão, a germinação, e o estabelecimento da planta (Hensen & Müller 1997), além de fatores mais difíceis de mensurar como a pressão antrópica, as relações de competição no habitat e a própria sobrevivência das plântulas (Clark et al. 1999). Neste contexto, análises estatísticas representam ferramentas poderosas, pois são capazes de sumarizar conjuntos de dados amplos e complexos na avaliação objetiva desses problemas (Pereira 1993). Os métodos estatísticos de classificação estão relacionados essencialmente ao problema qualitativo da composição de espécies das comunidades de plantas (Mueller-Dombois & Ellenberg 1974). Semelhantes à ordenação, técnicas de classificação são destinadas a ajudar o pesquisador a explorar dados e hipóteses gerais. No entanto, as técnicas de ordenação retratam uma representação dos dados, e podem ou não mostrar evidências de agrupamento. Em contraste, as técnicas de classificação são utilizadas quando o objetivo do trabalho é agrupar objetos, com base em seus atributos, dentro de classes identificáveis e interpretáveis que podem ser distinguidas das classes vizinhas (Shaw 2003; Gotelli & Ellison 2004). A técnica de classificação mais amplamente utilizada é a análise de agrupamento (ou análise de similaridade), a qual quantifica as distâncias entre unidades amostrais, e as alojam em um mesmo agrupamento, quando suas distâncias são consideradas próximas o suficiente (Fowler et al. 1998).
Este estudo teve como objetivos: apresentar o inventário da família Orchidaceae nas Serras Negra e do Funil, município de Rio Preto, Minas Gerais, e investigar suas relações florísticas com outras 28 localidades, com fisionomias campestres e/ou florestais no Brasil, com base no compartilhamento de espécies desta família. Pretende-se com isso agregar informações que possam auxiliar na classifi cação da fisionomia campestre encontrada na área de estudo.


Material e métodos


Serras Negra e do Funil (SN/SF)

As Serras Negra e do Funil localizam-se na Zona da Mata de Minas Gerais, entre os municípios de Lima Duarte, Olaria, Rio Preto e Santa Bárbara do Monte Verde, a 19 quilômetros do centro de Rio Preto, adjacente à APA da Mantiqueira. A área de abrangência deste estudo compreende três regiões cujo acesso é possível através do Vilarejo do Funil, município de Rio Preto, a saber: a vertente sul da Serra Negra, o Serrote de Santa Clara e o Serrote de São Gabriel, os dois últimos, em conjunto, conhecidos na região como Serra do Funil.
A vegetação dessas serras é caracterizada por um mosaico composto por formações campestres e florestais. Entretanto, existem poucos trabalhos sobre a região, e apenas as formações arbóreas foram estudadas. Valente (2007) enquadrou os fragmentos florestais em Floresta Ombrófila Densa Alto-Montana e Baixo-Montana e Floresta Ombrófila Aluvial, e revelou uma grande riqueza de espécies arbóreas, bem como uma especificidade ambiental em cada formação. A falta de trabalhos semelhantes voltados para as formações campestres, no entanto, não permite uma definição acerca da classificação dos campos encontrados nesta área.
A SN/SF está sob a área de abrangência da Mata Atlântica e apresenta, nas altitudes mais elevadas, extensos platôs arbustivos e herbáceos, além de afloramentos rochosos. Sua amplitude altitudinal, de 900 a 1698 m, aliada às diferenças sucessionais e à variação nos tipos de solo, principalmente quanto ao seu grau de hidromorfia, contribui para complexidade de habitats encontrada na região (Valente 2007). O clima é do tipo Cwb (Köppen), mesotérmico úmido, com invernos secos e frios e verões brandos e úmidos. A média da precipitação anual no município, entre 1946 e 2004, foi de 1.886 mm e a mediana de 1.902 mm, segundo dados da Prefeitura Municipal de Rio Preto.
O inventário florístico da SN/SF foi realizado entre 2004 e 2009, pela equipe de pesquisadores e estagiários do Departamento de Botânica da Universidade Federal de Juiz de Fora. Os espécimes coletados foram depositados no acervo do herbário CESJ (acrônimo segundo Holmgren et al. 1990).


Análise da similaridade florística

Para comparação da SN/SF com outras formações florestais e campestres foram selecionadas outras 28 localidades, entre áreas de Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e Campos Sulinos, distribuídas pelos estados das Regiões Centro-Oeste, Nordeste, Sudeste e Sul, e cujas listagens florísticas para Orchidaceae estivessem disponíveis de forma impressa ou digital (Fig. 1; Tab. 1). A classificação da vegetação adotada segue aquela estabelecida pelos autores de cada trabalho.
A matriz de similaridade foi baseada nos dados de presença (1) ou ausência (0) das espécies, organizados em uma planilha, nos diversos locais. As sinonímias foram verificadas no World Checklist of Monocots (2004). Táxons infraespecíficos ou sem identificação precisa no nível de espécie (listados como “sp.”, “cf.” ou “aff.”) foram excluídos da análise.
A análise de similaridade florística entre as áreas escolhidas foi realizada no programa PAST (“Paleontological Statistics”), utilizando-se o coeficiente de Sørensen. Tal coeficiente dá maior peso às espécies compartilhadas do que àquelas que ocorrem em apenas uma área (Muller-Dombois & Ellenberg 1974). A partir do cálculo da similaridade florística, seguiu-se a análise de agrupamento das áreas utilizando o algoritmo UPGMA (“Unweighted Pair-Group Method using Arithmetic Averages”) para agrupamento. A união dos grupos por meio deste algoritmo é baseada no menor valor da distância média entre agrupamentos através de índices como o de Sørensen (Shaw 2003). Foram realizadas 5.000 replicações de bootstrap para calcular o suporte interno dos grupos.



Análise de autocorrelação espacial

Considerando que, em alguns trabalhos, a distância geográfica é referida apenas descritivamente como uma das explicações para a similaridade entre áreas (Moreno et al. 2003; Barbero 2007; Munhoz & Felfili 2007; Silva et al. 2008; Ribeiro-Filho et al. 2009), foi testada a autocorrelação espacial entre as 29 localidades analisadas neste trabalho. A localização geográfica das áreas foi obtida através das coordenadas geográficas indicadas nos trabalhos ou, quando não relatadas, das coordenadas geográficas dos municípios (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; www.ibge. org). Por meio das coordenadas geográficas foi possível calcular as distâncias geográficas entre as áreas utilizadas na comparação florística, por meio do Programa gvSIG.
Para verificar se a distribuição do conjunto de espécies é afetada pela disposição espacial das áreas, foi realizado o teste de Mantel no programa PAST.
O teste de Mantel é um método para testar hipóteses em que as distâncias (ou similaridades) entre objetos na matriz A são linearmente independentes das distâncias (ou similaridades) entre alguns objetos na outra matriz B (Dale et al. 2002). Neste trabalho, foram utilizadas as matrizes de similaridade florística e distância geográfica entre as áreas com inventários exclusivos de Orchidaceae, ou que incluíam a família.


Resultados


Foram registradas 109 espécies de Orchidaceae na SN/SF, distribuídas em 50 gêneros (Tab. 2). A maioria dos gêneros (34) está representada por apenas uma espécie. Epidendrum L. com 11 espécies, seguido de Oncidium Sw. s.l. (9 espécies), Maxillaria Ruiz & Pav. s.l. e Habenaria Willd. (8 espécies cada) e Pleurothallis R. Br. s.l. (7 espécies) são os gêneros mais representativos na área de estudo, perfazendo cerca de 40% das espécies registradas na região. Analisando a abrangência de distribuição das espécies inventariadas na SN/SF, observa- se que a grande maioria delas (ca. 60%) foi registrada entre 5 e 10 áreas, enquanto cerca de 25% foram encontradas entre 1 e 4 áreas, e apenas 14% registradas em 11 ou mais áreas.

Ao todo, 844 espécies compuseram a tabela de presença/ausência das espécies de Orchidaceae nas 29 áreas analisadas. Poucas espécies foram registradas em 11 ou mais áreas, são elas: Brassavola tuberculata, Elleanthus brasiliensis, Encyclia patens, Epidendrum dendrobioides, Epidendrum proligerum, Epidendrum rigidum, Epidendrum secundum, Eurystyles actinosophila, Habenaria josephensis, Isochilus linearis, Liparis nervosa, Maxillaria notylioglossa, Maxillaria ochroleuca, Oeceoclades maculata, Oncidium fl exuosum, Pleurothallis fusca, Pleurothallis grobyi, Pleurothallis rubens, Pleurothallis saundersiana, Polystachya estrellensis, Prescottia montana, Prescottia stachyodes, Prosthechea vespa, Sacoila lanceolata, Sauroglossum nitidum, Scaphyglottis modesta e Zygopetalum mackayi; apenas quatro delas, não foram encontradas na área da SN/SF: Brassavola tuberculata Hook., Epidendrum rigidum Jacq., Pleurothallis saundersiana Rchb. f. e Oeceoclades maculata (Lindl.) Lindl.
A análise de agrupamento mostrou alta significância estatística e o índice de correlação cofenética igual a 0.8614 indicou que a distorção entre a matriz de similaridade e o resultado final mostrado no dendrograma foi pequena. O grupo formado por SN/SF + Parque Estadual do Ibitipoca (grupo A) possui o maior valor de similaridade (ca. 0,64), mas de maneira geral, a análise de agrupamento revelou baixa similaridade florística entre as áreas (Fig. 2).
A característica mais visível nos grupos representados no dendrograma é o agrupamento das áreas ocorrentes em um mesmo ecossistema. Formou-se um grande grupo que engloba áreas sob influência da Mata Atlântica, em sua maioria compostas de Floresta Ombrófila Densa, Floresta Estacional Semidecidual e áreas com maior ou menor ocorrência de ambientes campestres (grupo D). Dentro deste grande grupo é possível identificar subgrupos, com suporte interno maior, e que também agrupam áreas semelhantes fisionomicamente e com altitudes equivalentes. O grupo E engloba as Serras de São José, do Cipó e da Calçada, todas elas formadas predominantemente por campos rupestres sob influência do Cerrado; as áreas de campos rupestres com influência da Caatinga (Parque Municipal de Mucugê, Pico das Almas, Catolés e Grão Mogol) formam outro grupo (F). Finalmente, as áreas de restingas localizadas no Espírito Santo e Rio de Janeiro ficaram alojadas em um grupo à parte (G), e as áreas com predominância de Florestas Estacionais Semideciduais em outro grupo (H) (Fig. 2).
Uma análise de agrupamento aglomerativa (aglomerative clustering) toma diversas observações separadas e as agrupa sucessivamente em grupos maiores, até um “cluster” ser obtido (Gotelli & Ellison 2004). Assim, pode-se observar que a SN/SF apresenta maior índice de similaridade com Ibitipoca (ca. 0,64) (Fig. 2) e possui 63% de suas espécies em comum com esta área (Fig. 3). Quando as relações florísticas da SN/SF são vistas
em um contexto mais amplo, analisando o grupo B, observa-se que uma porcentagem um pouco menor de suas espécies (54%) são compartilhadas com a Serra do Caraça.


Este agrupamento revela uma porcentagem muito alta de espécies exclusivas da Serra do Caraça em relação à SN/SF e ao Parque Estadual do Ibitipoca, e ainda, 45 espécies compartilhadas entre os três grupos (Fig. 3). O teste de Mantel revelou que a similaridade florística
não está associada com a distância geográfica entre as regiões (p = 0.9998, r = -0.3687).



Discussão

Dentre as espécies que ocorrem em mais de dez áreas, pode-se observar que a maioria possui ampla distribuição nas Américas, sendo capazes de colonizar áreas florestais e campestres, como é o caso de Epidendrum secundum, Liparis nervosa e Oncidium flexuosum. Segundo Giulietti et al. (1987) e Giulietti & Pirani (1988), os elementos predominantemente florestais tendem a apresentar distribuição mais ampla e, pelo fato de colonizarem tanto ambientes abertos como florestais, podem encontrar mais oportunidades de dispersão. Por outro lado, as espécies que ocorrem em mais de dez áreas e apresentaram distribuição em território brasileiro, estão em sua maioria limitadas às Regiões Sul e Sudeste (Pabst & Dungs 1975, 1977). Em parte, isto pode ser reflexo do desconhecimento da flora nas demais Regiões do país. Muito embora o conhecimento sobre as angiospermas tenha aumentado muito desde o século passado no Brasil, ainda são necessárias coletas mais intensivas em áreas montanas, áreas com sazonalidade bem marcada, florestas semideciduais, Pantanal e Amazônia (Giulietti et al. 2005).

Tabela 1. Lista das 29 localidades incluídas na análise de similaridade florística de Orchidaceae, incluindo número de espécies de Orchidaceae (N. spp.), bioma e ecossistemas predominantes na área, altitudes e referências bibliográficas para as respectivas fontes de dados. Para a distribuição geográfica das localidades veja a Fig. 1.
Localidade
N.spp.
Bioma Ecossistema Altitude (m) Referências
1. Serra Negra – MG 109 Mata Atlântica Floresta Ombrófila Densa/
campo rupestre
900-1.670 Presente estudo
2. Parque Estadual do Ibitipoca – MG 118 Mata Atlântica Floresta Ombrófila Densa/
campo rupestre
1200-1.784 Menini Neto et al. 2007
3. Mata do Baú – MG 44 Cerrado Floresta Estacional
Semidecidual/ campo-cerrado
900-1.200 Menini Neto et al. 2004 a
4. Reserva Biológica da Represa do Grama – MG 28 Mata Atlântica Floresta Estacional
Semidecidual
750 Menini Neto et al. 2004 b
5. Serra de São José – MG 106 Cerrado Campo rupestre/ campo
cerrado
900-1.426 Alves & Kolbek 2009
6. Parque Estadual da Serra do
Brigadeiro – MG
106 Mata Atlântica Floresta Pluvial Atlântica/
campo de altitude
900-1.980 Leoni & Tinte 2004
7. Parque Nacional do Caparaó – MG/ES 86 Mata Atlântica Floresta Pluvial Atlântica/
campo de altitude
1.300-2.890 Leoni 1997
8. Serra do Caraça – MG 182 Mata Atlântica Campo rupestre/ Floresta
Estacional Semidecidual
750-2.072 Mota 2006
9. Serra da Calçada – MG 18 Cerrado Campo rupestre 900-1.426 Viana & Lombardi 2007
10. Serra do Cipó – MG 80 Cerrado Campo rupestre 1.200 Barros 1987
11. Grão Mogol – MG 30 Cerrado/Caatinga Campo rupestre 700-1.295 Barros & Pinheiro 2004
12. Pico das Almas – BA 46 Caatinga Campo rupestre 1.000-1.958 Toscano-de-Brito 1995
13. Catolés – BA 76 Cerrado/Caatinga Campo rupestre 900-1.958 Zappi et al. 2003
14. Parque Municipal de Mucugê – BA 35 Caatinga Campo rupestre 1.000 Azevedo & Van den Berg 2007
15. Reserva Ecológica do Guará – DF 100 Cerrado Campo-cerrado 1.000 Batista et al. 2005
16. Reserva Natural Vale – ES 94 Mata Atlântica Floresta Estacional
Semidecidual/ campos nativos
28-65 Fraga et al. (dados não
publicados)
17. Estação Biológica Santa Lúcia – ES 160 Mata Atlântica Floresta Ombrófila Densa 600-900 Romagna (dados não
publicados)
18. Restingas do Estado do Espírito Santo – ES 71 Mata Atlântica Restinga 0 Fraga & Peixoto 2004
19. Reserva Biológica de Macaé de
Cima – RJ
247 Mata Atlântica Floresta Pluvial Atlântica 1.200-1.600 Miller & Warren 1994
20. Parque Natural Municipal da Prainha – RJ 26 Mata Atlântica Floresta Ombrófila Densa
Submontana
0-45 Cunha & Forzza 2007
21. Serra do Japi – SP
125 Mata Atlântica/
Cerrado
Floresta Estacional
Semidecidual
700-1.300 Pansarin & Pansarin 2008
22. Parque Nacional do Itatiaia – RJ 158 Mata Atlântica Campo de altitude 650-2.780 www.jbrj.gov.br (banco de dados JABOT)
23. Parque Natural Municipal Francisco Afonso de Mello – SP 67 Mata Atlântica Floresta Ombrófila Densa 807-1.141 Rodrigues 2008
24. Núcleo Curucutu do Parque Estadual da Serra do Mar – SP 25 Mata Atlântica Campo de Altitude 750-850 Garcia & Pirani 2005
25. Estação Ecológica Juréia-Itatins – SP 70 Mata Atlântica Floresta Ombrófi la Densa/
restinga
0-1240 Catharino & Barros 2004
26. Parque Estadual Intervales
(Base Saibadela) – SP

13 Mata Atlântica Floresta Ombrófila Densa/ Floresta Estacional Semidecidual 70-250 Zipparro et al. 2005
27. Parque Estadual da Ilha do Cardoso – SP 139 Mata Atlântica Floresta Ombrófila Densa 0-800 Romanini & Barros 2007
28. Parque Estadual do Cerrado – PR 13 Cerrado Campo-cerrado 800-900 Von Linsingen et al. 2006
29. Fazenda São Maximiano – RS 50 Mata Atlântica/ Campos
Sulinos
Floresta Estacional
Semidecidual Submontana
198 Buzatto et al. 2007


Tabela 2. Lista das espécies de Orchidaceae encontradas nas Serras Negra e do Funil, Município de Rio Preto, Minas Gerais, Brasil.
Espécies Material Testemunho
Aspidogyne commelinoides (Barb. Rodr.) Garay N.L. Abreu 67
Aspidogyne hylibates (Rchb. f.) Garay F.R.G. Salimena 991
Bifrenaria aureofulva Lindl. N.L. Abreu 197
Bifrenaria harrisoniae (Hook.) Rchb. f. N.L. Abreu 101
Bifrenaria stefanae V. P. Castro N.L. Abreu 94
Bifrenaria vitellina (Lindl.) Lindl. L. Menini Neto 276
Bulbophyllum exaltatum Lindl. A.S.M. Valente 351
Bulbophyllum granulosum Barb. Rodr. L.Menini Neto 256
Bulbophyllum luederwaldtii Hoehne & Schltr. N.L. Abreu 92
Campylocentrum linearifolium Schltr. ex Mansf. N.L. Abreu 294
Catasetum cernuum (Lindl.) Rchb. f. L. Menini Neto 179
Cattleya loddigesii Lindl. L. Menini Neto 400
Cirrhaea sp. L. Menini Neto 656
Cleistes gracilis Schltr. N.L. Abreu 173
Cleistes moritzii (Rchb. f.) Garay & Dunst. N.L. Abreu 7
Comparettia coccinea Lindl. N.L. Abreu 166
Cranichis candida (Barb. Rodr.) Cogn. N.L. Abreu 100
Cyclopogon warmingii (Rchb. f.) Schltr. N.L. Abreu 78
Cyrtopodium glutiniferum Raddi N.L. Abreu 271
Dichaea cf. anchorifera Cogn. C.N. Matozinhos 23
Dichaea cogniauxiana Schltr. N.L. Abreu 103
Elleanthus brasiliensis (Lindl.) Rchb. f. N.L. Abreu 72
Encyclia patens Hook. F.R.G. Salimena 1309
Epidendrum armeniacum Lindl. J.H.C. Ribeiro 226
Epidendrum avicula Lindl. F.R.G. Salimena1308
Epidendrum chlorinum Barb. Rodr. N.L. Abreu 200
Epidendrum dendrobioides Thunb. N.L. Abreu 298
Epidendrum densiflorum Hook. N.L. Abreu 80
Epidendrum difforme Jacq. N.L. Abreu 110
Epidendrum latilabre Lindl. N.L. Abreu 264
Epidendrum martianum Lindl. L. Menini Neto 279
Epidendrum paranaense Barb. Rodr. P.L. Viana 1957
Epidendrum proligerum Barb. Rodr. N.L. Abreu 286
Epidendrum ramosum Jacq. P.L. Viana 2015
Epidendrum secundum Jacq. N.L. Abreu 8
Eurystyles actinosophila (Barb. Rodr.) Schltr. L. Menini Neto 431
Gomesa recurva R. Br. N.L. Abreu 60
Grobya amherstiae Lindl. L. Menini Neto 262
Habenaria josephensis Barb. Rodr. A.L. Santiago 29
Habenaria macronectar (Vell.) Hoehne F.R.G. Salimena 2369
Habenaria parviflora Lindl. L. Menini Neto 293
Habenaria petalodes Lindl. F.R.G. Salimena 2412
Habenaria pseudoglaucophylla J.A.N Batista R. Mota & N. Abreu N.L. Abreu 73
Habenaria rodeiensis Barb. Rodr. N.L. Abreu 143
Habenaria rolfeana Schltr. N.L. Abreu 183
Habenaria warmingii Rchb. f. & Warm. L.C.S. Assis 980
Hadrolaelia coccinea (Lindl.) Chiron & V. P. Castro N.L. Abreu 210
Hoffmannseggella crispata (Thunb.) H.G. Jones L. Menini Neto 398
Isabelia violacea (Lindl.) C. van den Berg & M.W. Chase F.S. Souza 748
Isochilus linearis (Jacq.) R. Br. N.L. Abreu 82
Lankesterella ceracifolia (Barb. Rodr.) Mansf. P.L. Viana 1903
Liparis nervosa (Thunb.) Lindl. N.L. Abreu 306
Malaxis parthonii C. Morren L. Menini Neto 273
Masdevallia infracta Lindl. N.L. Abreu 296
Maxillaria acicularis Herb. ex Lindl. A.L. Santiago 5
Maxillaria bradei Schltr. ex Hoehne N.L. Abreu 43
Maxillaria brasiliensis Brieger & Illg N.L. Abreu 285
Maxillaria madida Lindl. A.L. Santiago 2
Maxillaria notylioglossa Rchb. f. N.L. Abreu 280
Maxillaria ochroleuca Lodd. ex Lindl. N.L. Abreu 284
Maxillaria picta Hook. N.L. Abreu 323
Maxillaria rigida Barb. Rodr. L. Menini Neto 305
Mesadenus glaziovii (Cogn.) Schltr. L. Menini Neto 364
Octomeria alpina Barb. Rodr. N.L. Abreu 68
Octomeria diaphana Lindl. L. Menini Neto 433
Octomeria grandiflora Lindl. A.L. Santiago 24
Octomeria wawrae Rchb. f. ex Wawra S.A. Roman 78
Oncidium blanchetii Rchb. f. N.L. Abreu 304
Oncidium divaricatum Lindl. N.L. Abreu 273
Oncidium flexuosum Lodd. C.N. Matozinhos 81
Oncidium forbesii Hook. L.Menini Neto 300
Oncidium gardneri Lindl. L.Menini Neto 680
Oncidium hookeri Rolfe . L.Menini Neto 399
Oncidium pubes Lindl. L.Menini Neto 397
Oncidium truncatum Pabst L.Menini Neto 245
Oncidium warmingii Rchb. f. N.L. Abreu 171
Pabstia jugosa (Lindl.) Garay P.L. Viana 1905
Pleurothallis fusca Lindl. N.L. Abreu 5
Pleurothallis grobyi Bateman ex Lindl. N.L. Abreu 98
Pleurothallis micrantha Barb. Rodr. L. Menini Neto 476
Pleurothallis modestissima Rchb. f. & Warm. N.L. Abreu 95
Pleurothallis rubens Lindl. N.L. Abreu 113
Pleurothallis tricarinata Poepp. & Endl. J.H.C. Ribeiro 138
Pogoniopsis cf. nidus-avis Rchb. f. A.L. Santiago 11
Polystachya estrellensis Rchb. f. L. Menini Neto 232
Polystachya hoehneana Kraenzl. N.L. Abreu 305
Prescottia montana Barb. Rodr. F.R.G. Salimena 1329
Prescottia phleoides Lindl. F.S. Souza 486
Prescottia stachyodes (Sw.) Lindl. L. Menini Neto 233
Promenaea xanthina (Lindl.) Lindl. N.L. Abreu 295
Prosthechea allemanoides (Hoehne) W.E. Higgins N.L. Abreu 288
Prosthechea calamaria (Lindl.) W.E. Higgins A.L. Santiago 3
Prosthechea vespa (Vell.) W.E. Higgins N.L. Abreu 28
Rodrigueziella gomezoides (Barb. Rodr.) Berman N.L. Abreu 61
Sacoila lanceolata (Aubl.) Garay C.N. Matozinhos 54
Sarcoglottis umbrosa (Barb. Rodr.) Schltr. A.L. Santiago 12
Sauroglossum nitidum (Vell.) Schltr. F.S. Souza 286
Scaphyglottis modesta (Rchb. f.) Schltr. N.L. Abreu 318
Scuticaria strictifolia Hoehne N.L. Abreu 172
Sophronitis cernua Lindl. E.A. Feliciano 40
Stelis aprica Lindl. A.L. Santiago 23
Stelis intermedia Poepp. & Endl. L.Menini Neto 234
Stelis megantha Barb. Rodr. N Abreu 93
Stelis papaquerensis Rchb. f. L. Menini Neto 235
Stigmatosema polyaden (Vell.) Garay N.L. Abreu 77
Warrea warreana (Lodd. ex Lindl.) C. Schweinf. L. Menini Neto 390
Zygopetalum mackayi Hook. N.L.Abreu 15
Zygopetalum maxillare Lodd. L. Menini Neto 593
Zygopetalum triste Barb. Rodr. A.L. Santiago 9
   

Os baixos valores de similaridade encontrados neste estudo sugerem haver particularidades florísticas em cada área, o que é justificado pelo número baixo de espécies compartilhadas, reafirma a grande riqueza de Orchidaceae encontrada no território brasileiro. Resultados semelhantes
foram encontrados em estudos com Orchidaceae e outros grupos de plantas, mesmo para um número menor de áreas localizadas em um mesmo espectro ambiental (Meira-Neto & Martins 2002; Azevedo & van den Berg 2007; Barbero 2007; Munhoz & Felfili 2007; Silva et al. 2008; Menini Neto et al. 2009). Estes resultados reforçam a relevância da criação de novas unidades de conservação, a fim de se preservar a riqueza da flora brasileira como um todo.
A SN/SF apresenta maior similaridade com duas áreas em que predominam campos rupestres (grupo B): Ibitipoca, com o qual possui alta similaridade, e Caraça. Em 76% das reamostragens realizadas pelo teste de bootstrap, o grupo B, apresentou-se nessa mesma posição, indicando alto suporte interno. Cerca de 40% das espécies compartilhadas entre estas três áreas possuem ampla distribuição no Brasil, como Elleanthus brasiliensis, Epidendrum secundum, Maxillaria notylioglossa e Sacoila lanceolata (Pabst & Dungs 1975, 1977). As demais espécies são encontradas principalmente em áreas de campos rupestres ou de campos de altitude, e Floresta Ombrófila, refletindo as características fisionômicas encontradas nas áreas do grupo B (Fig. 2), que são compostas por um mosaico formado por áreas campestres e fragmentos de Floresta Ombrófila. O termo campo rupestre foi proposto por Joly (1970), que associou esta vegetação às rochas quártzicas. No entanto, a classificação da vegetação campestre encontrada nas serras do sudeste e sul de Minas Gerais ainda causa discordância (Rizzini 1979; Ferri 1980; Eiten 1983; Semir 1991; Veloso 1991; Oliveira-Filho 2009). Embora os campos rupestres sejam fisionomicamente semelhantes aos campos de altitude, eles diferem quanto à composição florística, à associação com as formações vegetacionais do entorno, e principalmente, quanto à litologia, de modo que, após o trabalho de Joly (1970), diversos autores (Rizzini 1979; Ferri 1980; Semir 1991; Benites et al. 2003) sugeriram classifi cações buscando diferenciar as formações sobre quartzito daquelas sobre granito. Os resultados apresentados neste trabalho podem, juntamente com a análise florística que está em andamento e futuros estudos pedológicos, subsidiar conclusões acerca do enquadramento dos campos encontrados na área foco deste estudo.

Outros dois estudos considerando a flora arbórea/arbustiva visaram identificar as relações florísticas da SN/SF com outras áreas. Mesmo utilizando o índice de Sørensen e o método UPGMA para agrupamento, tais trabalhos apresentaram relações distintas das encontradas no presente estudo. Os resultados de Feliciano (2008) mostraram que a flora de Solanaceae da SN/SF aparece mais próxima a das áreas com formação de Floresta Ombrófila Densa, embora com baixos valores de similaridade. Valente (2007) encontrou maior similaridade da flora arbórea da SN/SF com áreas localizadas na Zona da Mata mineira (Lima Duarte e Juiz de Fora). No entanto, o presente estudo e os dois trabalhos supracitados trataram de grupos de plantas diferentes e utilizaram métodos de análise distintos, podendo ser estas possíveis explicações para a obtenção de resultados diferentes em cada estudo. Enquanto Valente (2007) tratou da flora arbórea, mas restringindo-se a três fragmentos florestais da SN/SF, Feliciano (2008) focou Solanaceae na área como um todo, apesar da predominância das espécies em áreas florestais.



Outros grupos, formados por áreas semelhantes em termos de fisionomia e altitude, foram identifi cados no grande agrupamento que engloba áreas sob o Domínio Janeiro, apresentam áreas de Floresta Ombrófila Densa, e altitudes superiores a 1.200 m. A Serra do Japi e o Parque Natural Municipal Francisco Afonso de Mello, no Estado de São Paulo, também são áreas florestais, porém com altitude máxima de 1.300 m. O Parque Estadual da Ilha do Cardoso e a Estação Ecológica Juréia-Itatins não ultrapassam 1.200 m e possuem um mosaico vegetacional composto por restingas, campos e áreas florestais.


Localidades em que a flora de Orchidaceae é distinta, ou seja, com similaridade baixa em relação a outros grupos formados foram reveladas, como a Reserva Ecológica do Guará, localizada no Cerrado, mas que não se agrupa com as outras áreas deste Bioma. Este fato pode ser justifi cado pela falta de campos rupestres em Guará, diferentemente da predominância deles nas demais áreas do Cerrado análisadas. As áreas de restinga também se agruparam em um ramo distinto das outras áreas da Mata Atlântica. Este tipo de vegetação ocorre ao nível do mar e é constituído por uma grande variedade de comunidades de plantas, em decorrência da topografia distinta e da combinação de variáveis ambientais de origem continental e oceânica (Flexor et al. 1984; Suguio & Tessler 1984). Este resultado reforça a conclusão de que a heterogeneidade de habitats na Mata Atlântica pode ter tido um papel importante na diversificação e nos endemismos de sua flora (Fiaschi & Pirani 2009).
Diversos autores propuseram a existência de um padrão de distribuição disjunta entre os campos rupestres e as restingas (Giulietti & Pirani 1988; Harley 1995; Alves et al. 2007), o que seria explicado pelas características ambientais comuns entre as áreas analisadas, neste caso, a drenagem do solo e conseqüente pobreza de nutrientes (Alves et al. 2007). Neste trabalho, as restingas se ligam aos grupos que incluem as áreas de campos rupestres, com baixo valor de similaridade, indicando que os padrões indicados pelos autores supracitados não se confirmam quando analisadas apenas as espécies de Orchidaceae (Fig. 2). Segundo Alves et al. (2007), o padrão de distribuição campo rupestrerestinga se mostrou válido para uma porcentagem muito baixa das espécies citadas na literatura com este padrão de distribuição.
Neste trabalho, não foram analisados apenas inventários destinados exclusivamente a Orchidaceae. Assim, o esforço de amostragem destinado à família também pode ser uma explicação para alguns valores de similaridade baixos, como: o Parque Estadual do Cerrado, única área localizada no Paraná, e composta por vegetação de cerrado; Parque Estadual Intervales, que não se agrupou com outras áreas de Floresta Ombrófila do Estado de São Paulo; e o Núcleo Curucutu do Parque Estadual da Serra do Mar, com presença de campos de altitude.
A localização dos campos rupestres em áreas com predominância de diferentes biomas em ramos distintos do dendrograma abre espaço para a discussão sobre a riqueza e a particularidade florística desta fi sionomia e a infl uência climática sobre a flora. Os grupos formados pelos campos rupestres do Cerrado e da Caatinga, não possuem alta similaridade florística entre si, nem com outros grupos. Apenas os campos rupestres da Mata Atlântica possuem alguma similaridade com Itatiaia e Macaé de Cima, visto que a SN/SF comporta-se como corredor florístico entre o Maciço do Itatiaia e Ibitipoca (Valente 2007). As diferenças na composição florística entre as porções mineira e baiana da Cadeia do Espinhaço já haviam
sido discutidas em outros trabalhos (Harley 1988, 1995; Rapini et al. 2002; Azevedo & van den Berg 2007), sugerindo a existência de uma barreira migratória para as espécies entre essas duas porções da Cadeia (Harley 1988). O presente trabalho encontrou resultados semelhantes aos apresentados por Azevedo & van den Berg (2007) para a fl ora de Orchidaceae nas áreas da Cadeia do Espinhaço. Em ambos os casos, a porção baiana, sob infl uência da Caatinga (Catolés, Mucugê e Pico das Almas) forma um grupo coeso, separado das áreas de campos rupestres do Cerrado, enquanto Grão Mogol apresenta uma flora intermediária entre os dois grupos.
Os campos rupestres nos estados de Minas Gerais, Bahia e Goiás aparecem como formações individualizadas, geralmente em altitudes superiores a 900 m, e com distribuição descontínua (Giulietti & Pirani 1988; Harley 1995; Drummond et al. 2005). O solo arenoso e bem drenado parece ser a característica ambiental determinante na distribuição disjunta das espécies ocorrentes nos campos rupestres e em outras localidades “ilha”, como as campinaranas amazônicas, algumas áreas nas Guianas e áreas montanhosas e planícies do Nordeste (Barros 1998). Áreas acima de 1.000 m de altitude, onde ocorrem os campos rupestres, são consideradas prioritárias para a conservação (Drummond et al. 2005), pois apresentam alta incidência de espécies endêmicas, adaptadas às suas condições distintas de temperatura, precipitação e insolação (Menezes & Giulietti 2000).
A distância geográfica entre as áreas não influenciou a similaridade florística de Orchidaceae, resultado semelhante ao encontrado por Meira-Neto & Martins (2002) e Gomes et al. (2004), cada qual utilizando metodologias distintas para avaliar esta relação. Outros trabalhos recorrem a fatores, diferentes da distância geográfica entre as áreas, para explicar a similaridade florística. Moreno et al. (2003) atribuíram a similaridade entre áreas de Mata Atlântica no estado do Rio de Janeiro à altitude, enquanto Silva et al. (2008) consideraram a heterogeneidade de ambientes o fator determinante na similaridade entre áreas de cerrado do Maranhão; no entanto, a relação entre similaridade florística e distância geográfica não foi estatisticamente testada em nenhum dos dois trabalhos. Segundo Tuomisto et al. (2003), devido à dispersão anemocórica dos esporos de Pteridophyta, a distância geográfica não seria uma barreira para a distribuição das espécies entre áreas; a proximidade das condições ambientais entre a área matriz e a área a ser colonizada é que determinariam o estabelecimento de novas plantas. De maneira semelhante, Menini Neto et al. (2009) concluíram que a composição da flora epifítica nas Regiões Sudeste e Sul tem maior influência da dispersão predominantemente anemocórica do que da distância geográfica entre as áreas. As sementes de Orchidaceae, com raras exceções são desprovidas de endosperma, e possuem tamanhos diminutos (0,15-6 mm), sendo facilmente dispersadas pelo vento; elas se desenvolvem dentro de cápsulas que produzem no mínimo 6.000 sementes, em espécies terrícolas, e centenas de milhares de sementes em espécies epífitas (Pridgeon et al. 1999). No entanto, a distribuição de Orchidaceae parece ser definida por uma adaptação limitada pelo clima e fatores ecológicos, o que impede a livre disseminação de suas espécies (Sanford 1974), já que o estabelecimento de uma planta em uma nova área necessita de condições físicas que permitam a ocorrência do fungo específico com o qual suas sementes formaram uma micorriza (Dressler 1981).
Com relação às Orchidaceae, fi cou estatisticamente comprovada a não influência da distância geográfica na similaridade florística entre as áreas analisadas neste estudo. Mesmo o dendrograma tendo indicado maior similaridade entre áreas com tipos vegetacionais e altitudes semelhantes, estes fatores não devem ser considerados os únicos na determinação da similaridade florística entre áreas. Estudos biogeográficos indicam padrões de disjunção entre os campos rupestres e as restingas (Alves et al. 2007), entre a Floresta Atlântica e a Amazônia e entre afl oramentos rochosos na Floresta Atlântica e/ou montanhas do Cerrado (Fiaschi & Pirani 2009). Estudos mais detalhados em relação à influência de fatores bióticos e abióticos poderão apontar com mais precisão fatores causais para a similaridade florística entre essas áreas.


Agradecimentos

Os autores agradecem à Universidade Federal de Juiz de Fora; ao Programa de Pós Graduação em Ecologia da UFJF; e à Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) pela concessão de auxílio aos projetos de estudos florísticos na Serra Negra (CRA 1891/06 e CRA 1810-5.02/07).
 

Versão eletrônica do artigo em www.scielo.br/abb e http://www.botanica.org.br/acta/ojs


(1) Universidade Federal de Juiz de Fora, Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Juiz de Fora, MG, Brasil
(2) Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, Campus Arnaldo Jannsen, Juiz de Fora, MG, Brasil
(3) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Núcleo de Pesquisa em Ecologia e Desenvolvimento Sócio-Ambiental       de Macaé, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
(4) Autor para correspondência: narjara.lopes@gmail.com


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