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Sergio mora em Belém, mas é natural de Castanhal, estado do Pará. Possui graduação em Engenharia Agronômica pela Faculdade de Ciências Agrárias do Pará (FCAP) e especialização em Agriculturas Familiares Amazônicas e Desenvolvimento Agroambiental pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (NAEA/UFPA). Possui mais de 15 anos de experiência profissional com Desenvolvimento Sustentável na Amazônia, acumulando conhecimentos na área de sistemas de produção da agricultura familiar e uso sustentável dos recursos naturais.



ON: Sergio, acredito que você seja uma das pessoas que mais entende do gênero Catasetum, no Brasil.  Sua constante e elucidativa intervenção na lista “Catassetíneas” demonstra isto.  Como você começou seu interesse pelas orquídeas e, sobretudo, por este grupo tão especial, tão diferente, tão bonito e tão difícil de cultivar.

Cultivo orquídeas desde 1992, quando já cursava agronomia na Faculdade de Ciências Agrárias do Pará (FCAP), hoje UFRA. Tudo começou por acaso, quando minha mãe ganhou uma Papilionanthe teres de uma vizinha japonesa e acabou me passando a tarefa de descobrir como cuidá-la.  Comecei a pesquisar sobre o assunto e fui cada vez mais me envolvendo. Daí foi fácil me apaixonar por toda a família Orchidaceae. Na faculdade acabei sabendo da existência da SPO, hoje APO – Associação Paraense de Orquidófilos, onde me associei e cheguei a ser presidente por dois anos. Fui sócio fundador da Sociedade Castanhalense de Orquidófilos. Aproveitava as horas vagas durante o curso para visitar a biblioteca do centro de pesquisa do Museu Goeldi, que ficava bem ao lado da faculdade, onde acabei conhecendo o Projeto da Dra. Manoela F.F. da Silva e João Batista F. da Silva, grandes conhecedores das orquídeas amazônicas, com quem tenho contato até hoje


Aspecto de um Catasetum no final do período vegetativo, pouco antes do início
do período de dormência.
Inicialmente, não tinha preferência por determinado gênero, mas colecionava basicamente espécies amazônicas. Com o passar do tempo foi aumentando meu interesse pelo gênero Catasetum. A criação da ABRACC me estimulou mais ainda a conhecer melhor este gênero. Lembro que a primeira planta do gênero foi um Ctsm. macrocarpum, e logo ele floriu, vindo depois a amarelar e perder as folhas me levando a pensar que ele estava morrendo. Só depois aprendi que fazia parte do seu desenvolvimento. Acho que isto acontece com todos que iniciam no cultivo sem conhecer o gênero e a sua fenologia.
Estudo os Catasetum por hobby. Não me considero a pessoa que mais entende do gênero, apenas procuro me manter informado, sempre pesquisando, de preferência nas fontes originais, quando as mesmas estão acessíveis. Outro aspecto importante que ressalto é sempre colaborar com a pesquisa e reprodução das espécies. Para isso, manter uma coleção bem identificada é primordial.



ON: E o seu Catasetum macrocarpum gigante? Poderia nos mostrar seus estudos?


Flores dissecadas de diferentes variedades de Ctsm. macrocarpum.
Como moro numa região onde eles são muito abundantes, há alguns anos resolvi fotografar e catalogar as várias formas e cores do Catasetum macrocarpum. Na cidade de Belém, é possível vê-los facilmente na arborização urbana. Para se ter uma ideia, na minha rota diária de ida ao trabalho é possível contar facilmente mais de 15 plantas, mesmo considerando as constantes perdas provocadas pelas equipes de jardinagem da prefeitura ao realizarem suas podas e “limpezas”.
Para cada planta faço fotos do conjunto da haste floral e de uma flor em close, posteriormente faço sua dissecação usando como fundo um papel milimetrado e fita dupla face para aderir as peças florais ao papel, criando o que podemos chamar de exsicata digital.
A primeira conclusão é que existem muitas variações, sendo até difícil encontrar duas plantas totalmente idênticas. As variações vão desde o colorido e a forma como ele se distribui na flor, como também no tamanho e forma das peças florais.


Um certo dia floresceu um Ctsm. macrocarpum com uma flor muito grande com destaque para o labelo bastante carnoso, lembrando, em parte, o labelo de uma flor feminina. Ainda não tenho uma conclusão para este Catasetum macrocarpum “gigante”, mas a hipótese mais provável é que pode se tratar de uma flor hermafrodita, apesar de apenas o labelo lembrá-la,


Flor do Ctsm. macrocarpum "gigante"
pois as demais peças florais em nada diferem de uma flor masculina. E o mais interessante é que todas as flores da haste eram iguais a esta da foto, o que é muito difícil de acontecer para flores hermafroditas. Como não moro próximo do orquidário ainda não consegui ver outra floração desta planta para ver se essa característica se mantém ou muda, comprovando ser mesmo hermafrodita.

Para ajudar na comparação coloco abaixo três flores hermafroditas. A primeira mais próxima da forma feminina e as outras duas se aproximando mais da forma masculina, onde podemos observar o encurtamento e engrossamento da coluna, o que não ocorreu com o “gigante”.


Flores hermafroditas de Ctsm. macrocarpum

ON: Esta espécie também possui algumas variedades interessantes. O que você pode nos dizer a respeito? Pode mostrar seus estudos comparativos?

Para o Catasetum macrocarpum, são descritas 18 variedades. É uma das espécies do gênero com maior área de dispersão, ocorrendo desde Trinidade e Tobago até o Norte da Argentina. É de se esperar uma grande variedade de formas e cores.


Diferenças no porte de flores de Ctsm. macrocarpum.

Venho aos poucos catalogando, e pelo visto existem muitas variações cromáticas, além das variações no tamanho e forma do labelo, ainda por catalogar. Abaixo uma amostra da diversidade de cores da espécie.

 


Algumas variações cromáticas de Catasetum macrocarpum

As variedades registradas formam publicadas durante o século XIX, em sua maioria com nomes que evidenciam características de cor e forma das flores. O desafio é tentar identificar cada uma delas.
Abaixo temos a lista de variedades descritas e o respectivo ano:

Catasetum macrocarpum var amplissimum Planch. (1858);
Catasetum macrocarpum var. aurantiacum Cogn. (1894); 
Catasetum macrocarpum var. bellum Rchb.f. (1886);
Catasetum macrocarpum var brevifolium Mutel. (1840);
Catasetum macrocarpum var. carnosissimum Cogn., (1895);
Catasetum macrocarpum var. chrysanthum L.Linden & Rodigas, (1889);
Catasetum macrocarpum var clavingerii Lindl. (1832);
Catasetum macrocarpum var. flavescens Cogn. ex M.Gardner, (1894); 
Catasetum macrocarpum var genuinum Mutel. (1840);
Catasetum macrocarpum var globoso-connivens Mutel. (1840);
Catasetum macrocarpum var. lindenii O'Brien, (1894); 
Catasetum macrocarpum var. luteo-purpureum Cogn.(1895); 
Catasetum macrocarpum var. luteo-roseum L.Linden, (1896);
Catasetum macrocarpum var. mechelyncki Mutel. (1840);
Catasetum macrocarpum var. pallidum Mutel. (1840);
Catasetum macrocarpum var. unidentatum Mutel. (1840);
Catasetum macrocarpum var. viridi-purpureum Mutel. (1840);
Catasetum macrocarpum var. viridi-sanguineum Mutel. (1840).

O acesso a algumas destas publicações tem sido possível graças a informações disponíveis na internet através de sites como do Kew Gardens (http://apps.kew.org/wcsp/home.do), onde é possível fazer a listagem das espécies e do local de publicação; e do site da Biodiversity Heritage Library (http://www.biodiversitylibrary.org/) onde é possível encontrar algumas destas publicações, principalmente as mais antigas.

Entre as variedades listadas acima para o Ctsm. macrocarpum, algumas são hoje reconhecidas como variedades do Catasetum x tapiriceps, são elas:

1- Catasetum macrocarpum var. aurantiacum Cogn. (1894);
2- Catasetum macrocarpum var. flavescens Cogn. ex M.Gardner, (1894);
3- Catasetum macrocarpum var. lindenii O'Brien, (1894);
4- Catasetum macrocarpum var. luteo-purpureum Cogn. (1895).


(*) Algumas variedades de Ctsm. x tapiriceps

 

ON: Este é um gênero cujas espécies têm grandes problemas de identificação correta. Comecemos pelas espécies Ctsm. discolor e Ctsm. gardneri. Quais as diferenças, semelhanças e área de ocorrência de cada uma delas?

Esta questão é digna de uma tese. Eu colocaria mais algumas espécies neste grupo para complicar mais um pouco, pois temos ainda as seguintes: Ctsm. ciliatum, Ctsm. cassideum e Ctsm. pusillum.
Todos pertencentes ao subgênero Pseudocatasetum que engloba também o Catasetum longifolium, que é a única sem dúvidas na determinação.



(*) Ilustração original do tipo de Ctsm. cassideum

(*) Ilustração de Ctsm. ciliatum

O Catasetum ciliatum apresenta as menores flores do grupo e apesar de constar na lista do Kew Gardens como sendo um sinônimo de Ctsm. discolor, acredito que seja uma espécie válida por apresentar distribuição própria, com ocorrência restrita à região amazônica, flores com labelos pouco profundos, triangulares com cílios laterais bem cumpridos, ou seja bem distinta do Ctsm. discolor.

O Ctsm. cassideum aparece como espécie válida na lista do Kew Garden, mas é considerado por Gustavo A. Romero & Rudolf Jenny como sinônimo do Ctsm. discolor, tendo como justificativa, o fato da descrição do Ctsm. cassideum ser baseada numa flor feminina de Ctsm. discolor (figura 8), segundo a publicação intitulada “Contribution toward a Monograph of Catasetum (Catasetinae, Orchidaceae) I: A checklist of species, varieties and natural hybrids. Harvard Paper nº4, 60:84 -  January 1993).”


(*) Ilustração do Ctsm gardneri

(*) Ilustração do Ctsm. discolor

O Ctsm. gardneri também é considerado como espécie válida na lista do Kew Gardens. Ocorre ao longo da costa brasileira do nordeste ao sudeste ocupando na maioria dos casos os solos arenosos das áreas de restinga. Foi descrito pela primeira vez em 1839 por Gardner como Monachanthus fimbriatus(figura 10). Em 1914, foi transferido por Schlechter para o gênero Catasetum com o nome de Catasetum gardneri em homenagem ao seu descritor.

O Ctsm. discolor com flores relativamente grandes, labelo com bordas apresentando fimbrias curtas até serrilhado, ocorrendo desde a Venezuela à Amazônia brasileira, em áreas com afloramentos rochosos.


Ilustração original do tipo de Ctsm. pusillum
Temos por último o Ctsm. pusillum, uma espécie pouco conhecida, ou até mesmo esquecida, nas discussões sobre este subgênero. Foi descrito a partir de uma planta coletada no Peru.
Recentemente consegui um exemplar. Espero agora pela floração para poder fazer melhores comparações. Pelo aspecto geral da planta tipo há suspeita de tratar-se de um híbrido natural.
Acredito que deste grupo poderemos confirmar pelo menos 4 espécies como válidas (discolor, ciliatum, gardneri e pusillum). Quanto ao Ctsm. cassideum vou continuar concordando com o trabalho de Romero e Jenny (A checklist of species, varieties, and natural hybrids) considerando-o como sinônimo do Ctsm.discolor, até que se prove o contrário.
Atualmente existem duas pesquisadoras desenvolvendo suas teses de doutorado envolvendo a tribo Catasetinae em seus estudos de filogenia. Quem sabe, em breve, teremos nossas dúvidas, quanto a estas espécies tão próximas, esclarecidas.
As dúvidas na determinação das espécies deste subgênero são só uma amostra do que ocorre com várias espécies do gênero Catasetum.
Este gênero é tão complexo que dentre as espécies citadas como válidas nas listas oficiais (Kew Gardens e The Plant List) é possível, numa breve revisão, listar, pelo menos, 15 espécies, comprovadamente sinônimos de outras já descritas. Se pensarmos num estudo mais aprofundado este número poderá aumentar ainda mais, mostrando toda sua complexidade.


ON: Existe também uma polêmica sobre o Catasetum x tapiriceps, também muito confundido. O que você nos diz sobre isto?



(*) Catasetum x tapiriceps produzidos artificialmente (macrocarpum x pileatum)


É um híbrido natural bastante conhecido, resultado do cruzamento do Ctsm. pileatum com o  Ctsm. macrocarpum. Foi descrito por Heinrich G. Reichenbach em 1888.
É bastante encontrado em algumas regiões da Venezuela onde as duas espécies co-habitam.
Possuo algumas plantas resultantes de cruzamentos feitos por mim e uma amiga. Estes em sua primeira geração, são facilmente distinguíveis, o problema é quando o Catasetum x tapiriceps retrocruza com um de seus pais, produzindo uma descendência muito parecida com Ctsm. pileatum ou Ctsm. macrocarpum, dependendo da espécie que retrocruzou.
Aí vem a confusão. Existem muitos Ctsm. pileatum por aí que na verdade são Ctsm x tapiriceps retrocruzados com Ctsm. pileatum. Existe uma teoria, na qual eu acredito, que diz que a cor vermelha encontrada em alguns Ctsm. pileatum é atribuída pelo Ctsm. macrocarpum, logo, todo Ctsm. pileatum vermelho seria na verdade um Catasetum x tapiriceps.
É o caso do famoso clone do Ctsm. pileatum var. imperiale 'Pierre Couret' HCC/AOS.


Ctsm. pileatum
var. imperiale 'Pierre Couret' HCC/AOS





ON: O grupo do Catasetum hookeri também é muito complicado.


Sim, é bastante complicado. Eu inclusive não me considero a melhor pessoa para tratar sobre este grupo. Podemos colocar o Ctsm. hookeri dentro do grupo “dos bolinha”. Aqui eu incluo os Catasetum: hookeri, labiatum, luridum, globiflorum, micranthum, bertioguense e maranhense, todos com ocorrência no Nordeste e Sudeste do Brasil, além do ochraceum e o bergoldianum, que ocorrem na Venezuela.



Catasetum maranhense
O maranhense e o ochraceum são mais facilmente identificáveis, apesar do Catasetum maranhense ter passado um bom tempo sendo chamado de Ctsm. ochraceum, até ser estudado e descrito por Lacerda & da Silva em 1998.



(*) Ilustração de Ctsm. globiflorum
O Ctsm. luridum é visto muitas vezes sendo identificado como Ctsm. globiflorum.
As ilustrações das duas espécies mostram claramente diferenças significativas entre elas

Primeira Ilustração de Ctsm luridum como Anguloa lurida

Quanto ao Ctsm. hookeri temos várias plantas colocadas como hookeri, mas não tenho certeza quanto à acurácia de sua identificação. Para ajudar nas comparações a figura abaixo apresenta fotos de diferentes variações na mesma escala. Nas extremidades temos: na foto “a” a planta descrita originalmente como Ctsm. imschootianum L. Linden & Cogn. , colocado como sinonímia de Ctsm. hookeri; na foto “d” o que seria o Catasetum hookeri var. labiatum, que consta na lista do Kew Gardens como Ctsm. labiatum Barb. Rodr.; e nas fotos “b” e “c” temos formas intermediárias. Existem outras formas além das 4 ilustradas aqui. O difícil é afirmar até onde é Catasetum  hookeri ou qual é o verdadeiro Ctsm. hookeri.


Variações de Catasetum cf. hookeri


ON: Em 1999, em artigo publicado no Boletim da CAOB, Kleber Lacerda considera, sugere que seja considerado inválido o Catasetum appendiculatum Schltr cujo holótipo foi destruído e não se tem como restabelecer o que seria a espécie. Você concorda que seja sinônimo de Catasetum barbatum?

Concordo que este é um nome a ser “esquecido” pelas razões já apontadas por Kleber Lacerda, só não tenho como afirmar se seria um sinônimo de Ctsm. barbatum ou qualquer outra espécie afim da mesma seção do Ctsm. barbatum.

ON: Você considera Catasetum appendiculatum ou lanciferum?

Sigo a mesma opinião do Dr. Kléber Lacerda com relação ao Ctsm. appendiculatum. Devemos esquecer o Ctsm. appendiculatum, pois tudo o que se tinha dele foi perdido na II Guerra. Acredita-se que seria uma espécie do grupo do Ctsm. barbatum. O Ctsm. lanciferum é uma espécie bem definida com características e habitat bem conhecidos.
É interessante como o nome do Ctsm. appendiculatum foi usado por orquidófilos e orquidólogos para identificar diferentes espécies em diferentes regiões do Brasil.
O Ctsm. gladiatorium
e o Ctsm. lanciferum, no Centro-Oeste e Sudeste; e uma terceira espécie no Norte, conhecida há muito tempo pelos orquidófilos do Pará como sendo o Ctsm. appendiculatum, mas que acredito se tratar de um nova espécie, por apresentar características bem distintas dentro do grupo. Em breve teremos sua publicação.


(*) Comparação entre os labelos de Ctsm gladiatorium e lanciferum




ON: O Catasetum fimbriatum tem algumas variedades, como o nigricens. Você poderia nos mostrar e dizer alguma coisa a respeito.



(*) Ctsm fimbriatum 'nigrescens'
 
Esta espécie apresenta muita variação tanto na forma, quanto no colorido de suas flores. Provavelmente foi isto que levou Hoehnei a descrever a espécie Catasetum inconstans, devido à grande variação que encontrou na forma do labelo, durante seu trabalho na Comissão de Linhas Telegráficas Estatégicas de Mato Grosso ao Amazonas.

O nome “nigricens ou nigrescens” não é registrado, é apenas um apelido dado a um Ctsm. fimbriatum de cor vinho bem escuro. Posso estar errado, mas pelo que sei, um Ctsm fimbriatum cor de vinho foi encontrado no Mato Grosso, sendo depois meristemado pelo Sr. Egel. Com seu falecimento, suas plantas foram adquiridas por um orquidário de Rio Claro. Provavelmente as plantas que vemos por aí são originárias deste meristema do Sr. Egel.

Se considerarmos a listagem do Kew Gardens temos 10 variedades descritas:

1- Catasetum fimbriatum var. fissum Rchb.f., Gard. Chron., n.s., 15: 498 (1881)
2- Catasetum fimbriatum
var. viridulum Rchb.f., Gard. Chron., III, 2: 272 (1887)
3-
Catasetum fimbriatum var. platypterum Rchb.f., Gard. Chron., III, 5: 168 (1889)
4-
Catasetum fimbriatum var. aurantiacum Porsch, Denkschr. Kaiserl. Akad. Wiss., Wien. Math.-Naturwiss. Kl. 79: 127 (1908)

5- Catasetum fimbriatum var. brevipetalum Porsch, Denkschr. Kaiserl. Akad. Wiss., Wien. Math.-Naturwiss. Kl. 79: 127 (1908).6- Catasetum fimbriatum var. micranthum Porsch, Denkschr. Kaiserl. Akad. Wiss., Wien. Math.-Naturwiss. Kl. 79: 127 (1908)
7- Catasetum fimbriatum var. subtropicale Hauman, Anales Mus. Nac. Hist. Nat. Buenos Aires 29: 379 (1917)
8- Catasetum fimbriatum var. inconstans (Hoehne) Mansf., Repert. Spec. Nov. Regni Veg. 31: 108 (1932)
9- Catasetum fimbriatum var. morrenianum Mansf., Repert. Spec. Nov. Regni Veg. 31: 108 (1932)
10- Catasetum fimbriatum var. ornithorrhynchum (Porsch) Mansf., Repert. Spec. Nov. Regni Veg. 31: 109 (1932).

Deixo aqui um questionamento quanto ao Ctsm. fimbriatum var. inconstans (Hoehne) Mansf., uma vez que Mansfield ao sinonimizar o Catasetum inconstans, simplesmente o colocou como uma variedade do Ctsm. fimbriatum, o que não se justifica, pois como podemos ver na ilustração do tipo, o mesmo englobava, pelo menos, 3 variações do Ctsm. fimbriatum.


Ilustração do tipo de Ctsm inconstans (hoje Ctsm fimbriatum var. inconstans)


Ilustração de Ctsm. fimbriatum var. morrenianum



ON: Você considera que Catasetum cirrhaeoides Hoehne deve ser considerado como sinônimo de Catasetum pulchrum N.E. Brown?

Pessoalmente não tenho uma opinião formada com relação a esta espécie. Segundo o KEW Garden, ele é uma espécie válida, mas segundo Gustavo A. Romero e Rudolf Jenny no trabalho intitulado “Catasetum (Catasetinae, Orchidaceae): A checklist of species, varieties, and natural hybrids”, ele é considerado sinônimo de Ctsm. pulchrum. Eu só o tenho visto por fotos, que aparentemente me levam a crer que seja realmente o Ctsm. pulchrum. Vou tentar conseguir exemplares desta espécie para tirar minhas próprias conclusões.

 

ON: Catasetum lemosii Rolfe ou Catasetum albovirens Barb. Rodr?

Nas listas oficiais (Kew Gardem e The Plant List) ambas espécies constam como válidas, porém não tenho dúvidas de que se trata de apenas uma espécie. Sendo: Catasetum albovirens descrito por Barbosa Rodrigues, em 1877, a partir de uma planta coletada no Rio Cururu – Ilha do Marajó-Pará e Catasetum lemosii descrito por Rolfe em 1894, a partir de uma planta coletada no Rio da Fábrica, também na Ilha do Marajó-Pará, 17 anos depois. Pelo princípio da prioridade da nomenclatura botânica o nome válido é Catasetum albovirens, ficando Ctsm. lemosii em sinonímia. Só não entendo como que até hoje o Catasetum lemosii ainda aparece nas listas oficiais como espécie válida.


ON: Quando lemos o que você escreve, temos a impressão de que o cultivo de Catasetum é coisa facílima quando, na verdade, é um cultivo bem complicado. O que você poderia nos dizer? Levou muito tempo para acertar “a mão” no cultivo? Qual é o segredo?

Já faz um bom tempo que venho cultivando Catasetum e esse tempo me fez chegar a algumas conclusões quanto às preferências destas plantas.
Vou fazer um texto em 1ª pessoa, mas deixo claro que o cultivo  das plantas é obra minha e de meu irmão.
Vale ressaltar que quando falamos em cultivo temos que ter noção do clima onde as plantas serão cultivadas, pois uma recomendação para uma região pode não funcionar em outra de clima diferente.
Cultivo meus Catasetum na região Nordeste do Estado do Pará, numa cidade com altitude de 10 metros acima do nível do mar, que apresenta um clima com temperaturas sempre elevadas, onde a média fica em torno de 25,9°C, umidade relativa do ar com média de 84,0% e chuva com média de 2893,1 mm por ano.  Estas condições são excelentes para o cultivo deste gênero.


Aspecto do cultivo de Catasetum  moorei e Ctsm. mojuense em estaca de acapu

Logo no início, cultivava os Catasetum sem proteção contra a chuva, amarrados em placas de casca de côco seco, o que não deu muito certo pelo acúmulo de água na mesma, por ser um substrato bastante pobre em nutrientes e rico em tanino. Após um primeiro desenvolvimento satisfatório, as plantas só definhavam. Logo o abandonei. Depois veio a "febre da estaca de madeira" que consistia em amarrar o Catasetum em estacas de madeira de lei de mais ou menos uns 30 cm de comprimento e pendurá-lás. Na maioria dos casos a madeira utilizada era o Acapú (Vouacapoua americana), por ser mais facilmente encontrada, pois era muito usada na construção de cercas. Com o tempo este método se mostrou bastante falho, pois necessitava de uma irrigação e fertilização abundante. Ainda assim, as plantas nunca chegavam ao vigor que consigo hoje. A perda de plantas também era mais frequente, pois plantadas nas estacas, ficavam muito mais dependentes dos tratos culturais, principalmente irrigação. Como na época viajava muito, elas ficavam sem cuidados. Não tenho muitas fotos desta época, mas estas que coloco dão uma idéia.

Hoje acredito que o problema estava no tipo de estaca utilizada, pois se tivesse experimentado estacas como, por exemplo, sansão do campo, o resultado poderia ter sido melhor, que o obtido com estacas de acapu. Acho que a presença do alburno na estaca é importante para a adaptação do Catasetum à mesma.

Com o fracasso do cultivo nas estacas passei a utilizar o vaso de cerâmica e como substrato: carvão ou caco de telha para drenagem e principalmente sementes de açaí e posteriormente experimentamos a fibra de côco.
Inicialmente a fibra de côco se mostrou um bom substrato, mas necessitava de uma boa adubação e tinha a desvantagem de se decompor muito rapidamente, até mais rápido que as sementes do açaí. Como nunca fui de adubar sistematicamente minhas plantas, deixei o uso da fibra de côco de lado.

 


Catasetum cultivado em fibra de côco

Aspecto do cultivo em vaso de cerâmica


O cultivo de Catasetum em vasos de barro com sementes de açaí se mostrou muito promissor, bastando ter cuidado em não deixar a irrigação falhar, principalmente naquelas plantas recém-plantadas, onde ainda não se tem um sistema radicular bem formado.

O maior vigor em cultivo verifiquei com o plantio em vasos plástico e no PET. Atualmente quase todos os meus Catasetum estão plantados em PET.


14 - ON: Quais as vantagens do uso do PET para o cultivo deste gênero? Neste caso o que usar como substrato?


  Desenvolvimento de Catasetum em vaso de PET
Confesso que demorei um pouco a adotar o cultivo em PET, sobretudo temendo o excesso de umidade que ele proporciona. Hoje cultivo praticamente todos meus Catasetum em PET. Tenho apenas uma ressalva – para cultivar em PET, seu orquidário deverá ser protegido das chuvas. Digo mais - para cultivar uma boa quantidade de Catasetum, qualquer que seja o tipo de vaso ou substrato, o ideal é que seu orquidário seja protegido das chuvas. Assim você terá um melhor controle da água que sua planta recebe e evita que as plantas fiquem por longos períodos com as folhas molhadas, o que favorece o aparecimento de fungos e bactérias.
O grande segredo do cultivo no pet está no reservatório de água que fica no fundo. Isso possibilita manter o substrato sempre úmido e os Catasetum precisam de substrato úmido para um bom desenvolvimento.
Acredito que com um bom sistema de irrigação você cultivará tão bem quanto se estivesse com o “sistema PET”. Conheço cultivos que vão muito bem usando vasos de plástico ou mesmo cerâmica. O plástico tem a vantagem de manter o substrato úmido por maior tempo, diminuindo a frequência de irrigação.
Quanto ao substrato, cada região tem o seu preferido. Acho que o mais comum hoje em dia é a casca de pinus misturada com sphagnum e outros materiais. Eu particularmente uso as sementes do açaí misturadas com carvão, pois são facilmente encontradas aqui na região onde moro.
A figura ao lado mostra o aspecto do enraizamento de dois Catasetum plantados em PET com diferentes substratos(fibra de côco e sementes de açaí).
Após dois anos do plantio é possível observar a produção de um sistema secundário de radículas delgadas (pneumatóforos) no PET com fibra de côco. Isto se deve ao esgotamento do substrato.
Essas raízes tem a finalidade de arejar a massa de raízes compactas, além de aumentar a superfície disponível para captação de nutrientes.










Aspecto do desenvolvimento das raízes 

15 - ON: Então você considera que é difícil cultivar este gênero ao ar livre, sem cobertura para proteção da chuva?

Quando se cultiva poucas unidades é possível, mas à medida que você passa para dezenas ou centenas a coisa complica, pois as plantas ficam mais próximas e com as chuvas se cria um microclima favorável ao ataque bactérias e fungos principalmente nas folhas. O ideal é sempre ter o controle do ambiente onde colocamos nossas plantas. Para isso lançamos mão do sombrite para controlar a incidência dos raios solares e do plástico agrícola para proteção contra chuvas.
 
Quando se fala em cultivo de plantas, quanto maior o controle do ambiente melhor será as condições de cultivo. Claro que isso não descarta a possibilidade de cultivo ao ar livre, mas com certeza, em ambiente controlado os problemas serão menores.



Aspecto do cultivo de Catasetum em ambiente protegido com sombrite e plástico agrícola


16 - ON: Com relação à luminosidade, o que você poderia nos dizer?

Existe muita especulação sobre o efeito da luminosidade e o sexo das flores dos Catasetum. Parece existir um consenso de que quanto maior a quantidade de luz, maiores as chances da planta produzir flores femininas. Eu acho que não é apenas a luminosidade, mas um conjunto que fatores entre os quais a luminosidade e a nutrição tem um grande peso. A figura abaixo mostra um Catasetum pulchrum no seu habitat natural, em plena sombra, com flores femininas, o que mostra que não é apenas a luz que interfere na diferenciação do sexo das flores.


Catasetum com flores femininas em ambiente sombreado

ON: Quais outros gêneros do mesmo grupo, você gosta de cultivar?

Gostaria de cultivar todos, mas confesso que tenho dificuldade com Cycnoches e principalmente Mormodes, talvez eu tenha que usar outro substrato para eles. Tenho um amigo na lista de discussão sobre Catasetinae, que mora em Belo Horizonte, e pelas fotos que posta no grupo apresenta o melhor cultivo de Cycnoches e Mormodes que já vi. Suas plantas são espetaculares. Pelo que tenho observado os Mormodes preferem ser cultivados em substrato com sphagnum. Os poucos que tenho estão em sphagnum e tem se desenvolvido bem.


ON: Você já tem alguns híbridos registrados como Catasetum Andreza Gatti Queiroz. Poderia nos mostrar fotos desta planta e também dos progenitores? Você já tem feito muita coisa?

Meu interesse maior está na reprodução das espécies, mas como nem sempre é fácil conseguir uma floração feminina de determinadas espécies, acabo aproveitando para criar uns híbridos. Neste sentido procuro priorizar da seguinte forma: primeira opção – reproduzir a espécie; segunda opção – se for o caso, tento recriar um híbrido natural já descrito ou mesmo criar um híbrido para tentar comprovar suspeitas sobre espécies descritas que na verdade são híbridos naturais; terceira opção – tento criar um híbrido, de preferência de um cruzamento ainda não realizado.  Este foi o caso do Ctsm. Andreza Gatti Queiroz e do Ctsm. Álvaro Queiroz, que foram registrados por mim. O primeiro foi uma homenagem à minha esposa, enquanto o segundo ao meu irmão mais velho e braço direito no cultivo de orquídeas.
Iniciei fazendo um cruzamento de Epidendrum nocturnum x Epidendrum viviparum. As sementes foram espalhadas pelos vasos no orquidário. Nasceram bastante plantas e acabei registrando no RHS como Epidendrum Lourdes Queiroz em homenagem à minha mãe. Da mesma forma, criei com os Catasetum Andreza Gatti Queiroz e Ctsm. Alvaro Queiroz, que possuem em comum a mesma planta mãe, que é um Catasetum macrocarpum de labelo internamente dourado. Suas sementes foram espalhadas pelo orquidário e algumas germinaram.
O Catasetum Andreza Gatti Queiroz é um híbrido de Ctsm. macrocarpum x Ctsm. pulchrum registrado em 2009. Já o Catasetum Alvaro Queiroz é híbrido de Ctsm. macrocarpum x Ctsm sp. nov. ined.


Catasetum Andreza Gatti Queiroz e seus progenitores

Catasetum Alvaro Queiroz e seus progenitores

Fora estes dois que geraram registro, refizemos alguns cruzamentos que já tinham sido registrados por outras pessoas, como: o Catasetum Brazilian Mystery (macrocarpum x schmidtianum, registrado por G.Monnier em 2004); o Catasetum Manoela (macrocarpum x ciliatum, registrado por Pereira & Fernandes em 1997, em homenagem à Dra. Manoela F.F. da Silva) e o Catasetum Sérgio Alberto Costa (barbatum x maranhense, registrado por Pereira & Fernandes em 1997, em minha homenagem). Também refizemos um híbrido natural, o Catasetum x tapiriceps cujas fotos já foram mostras anteriormente.

 
Híbridos produzidos artificialmente: Ctsm. Brazilian Mystery, Ctsm. Manoela e Ctsm. Sergio Alberto Costa


ON: Só para matar a curiosidade, quantas plantas você tem e quantas espécies diferentes de Catasetum você possui?

Tenho aproximadamente umas 800 plantas, sendo a grande maioria Catasetum. No total tenho 78 espécies de Catasetinae, sendo 68 Catasetum, quatro Galeandras, três Mormodes, dois Cycnoches e uma Clowesia.


Fontes das ilustrações:  
As ilustrações marcadas com (*) são cortesia da  Biodiversity Heritage Library ( http://www.biodiversitylibrary.org ).
As demais fotos pertencem ao arquivo do entrevi
stado.