Phragmipedium affine lindleyanum (M.R.Schomb.ex Lindle) Rolfe
Uma nova espécie para o estado da Bahia.

por Sidney Marçal

 


Sidney Marçal – no habitat de Phragmipedium affine lindleyanum (M.R.Schomb. ex Lindl.) Rolfe
Sidney Marçal é produtor, pesquisador de orquídeas no sul da Bahia, onde faz seus estudos incluindo Fisiologia Vegetal e Taxonomia.
É responsável pelo encontro de diversas novas espécies tendo participado da descrição das mesmas como Hoffmannseggella diamantinensis V.P.Castro & Marçal, Leptotes vellozicola Van den Berg, E.C.Smidt & Marçal, Oncidium adamantinum Marçal & Cath. Pseudolaelia regentii V.P.Castro & Marçal, Stanhopea bueraremensis Campacci & Marçal e Epidendrum belmontensis V.P.Castros & Marçal.
A Dungsia marcaliana
Campacci & Chiron foi descrita em sua homenagem. Além disto, participou de novas combinações de nomes de espécies Anacheilium bohnkianum (V.P.Castro & G.F.Carr) Marçal e Anacheilium regentii (V.P.Castro & Chiron) Marçal.
Neste trabalho, Sidney discorre sobre o gênero em geral, suas diversas seções, estabelece tabelas de comparação entre a nova espécie encontrada na Bahia, Phragmipedium affine lindleyanum e Phragmipedium sargentianum, além de falar sobre o cultivo.



Phragmipedium affine lindleyanum habitat natural


Phragmipedium affine lindleyanum (M.R.Schomb. ex Lindl.) Rolfe in-situ


Phragmipedium affine lindleyanum - Vegetando em arvore no habitat


O gênero

Phragmipedium é um gênero botânico pertencente à família das orquídeas (Orchidaceae). Foi estabelecido por Rolfe em Orchid Review 4: 330. em 1896, sendo sua espécie tipo o Cypripedium caudatum Lindl. hoje conhecido como Phragmipedium caudatum (Lindley) Rolfe.
Seu nome vem do grego "phragma" que significa divisão, e de "pedilon", chinelo, em referência às divisões internas de seu fruto e ao formato do labelo de suas flores.
Este gênero distingue-se dos outros gêneros desta subfamília por apresentar flores decíduas, ou seja, que se destacam depois de murchas, e apresentar ovário com três câmaras separadas, sendo todas espécies nativas do continente americano.
Pelo grande interesse ornamental, o gênero sofreu muitas revisões desde sua criação. Em cada uma delas, o número de espécies reconhecidas varia bastante. Alguns autores preferem dividir o gênero em menos espécies e tratar diferenças como variedades, outros elevam essas variedades à categoria de espécies, desta maneira, conforme o autor consultado, encontramos de dezesseis a trinta espécies consideradas aceitas. Aqui preferimos manter a maioria das variedades como espécies aceitas, facilitando assim sua identificação.
Mais detalhes sobre cada uma dessas espécies ou variedades encontram-se relatadas na discussão de cada uma das espécies.


Sua distribuição

Em vasta área que vai desde o sul do México até a Bolívia e quase todo o Brasil.


Descrição

Caracterizam-se por serem plantas humícolas, saxícolas ou terrestres, raramente epífitas, baixas e herbáceas, sem pseudobulbos ou bulbos verdadeiros, quase acaules na maioria das vezes, de no máximo sessenta centímetros de altura; Suas raízes são mais ou menos carnosas e vilosas; inflorescências terminais singelas, raramente ramosas, com uma ou poucas flores relativamente grandes, com labelo saquiforme ou conchiforme como um chinelo. Apresentam dois estames desenvolvidos, e um terceiro estaminoide estéril, modificado em uma estrutura com a extremidade alargada formando um disco horizontal, similar a um escudo, que cobre as duas anteras e os três estigmas férteis. O pólen é solto, granuloso, não agregado em mássulas.


Phragmipedium affine lindleyanum (M.R.Schomb. ex Lindl.) Rolfe

Phragmipedium affine lindleyanum (M.R.Schomb. ex Lindl.) Rolfe

Seedlings - Phragmipedium affine lindleyanum em habitat natural

Flor - Phragmipedium affine lindleyanum (M.R.Schomb. ex Lindl.) Rolfe


Espécies e Seções

As espécies de Phragmipedium estão divididas em cinco seções, quatro delas representadas no Brasil, conforme o esquema a seguir:

Seção Phragmipedium
Pétalas estreitas e acuminadas, inflorescência sem espata, flores simultâneas.Não existe registro de sua ocorrência no Brasil.
1. Phragmipedium warszewiczianum (Rchb.f.) Schltr.
2. Phragmipedium exstaminodium Castaño, Hágsater & E.Aguirre
3. Phragmipedium lindenii (Lindl.) Dressler & N.H.Williams
4. Phragmipedium caudatum (Lindl.) Rolfe
5. Phragmipedium warszewiczii (Rchb.f.) Christenson, J.



Seção Lorifolia (Kraenzl.) Garay
Pétalas estreitas e acuminadas, inflorescência apresenta espata, flores abrem em sucessão, a margem interna do labelo apresenta um par de protuberâncias.
1. Phragmipedium boissierianum (Rchb.f. & Warsz.) Rolfe
2. Phragmipedium brasiliense Quené & O.Gruss
3. Phragmipedium czerwiakowianum (Rchb.f. & Warsz.) Rolfe
4. Phragmipedium chapadense Campacci & R.Takase
5 Phragmipedium hirtzii Dodson
6. Phragmipedium longifolium (Warsz. & Rchb.f.) Rolfe
7. Phragmipedium reticulatum (Rchb.f.) Schltr.
8. Phragmipedium vittatum (Vell.) Rolfe


Seção Himantopetalum (Hallier.f.) Garay
Pétalas estreitas e acuminadas, inflorescência apresenta espata, flores abrem em sucessão, a margem interna do labelo não apresenta protuberâncias.
1. Phragmipedium caricinum (Lindl. & Paxton) Rolfe
2. Phragmipedium klotzschianum (Rchb.f.) Rolfe
3. Phragmipedium pearcei (Rchb.f.) Rauh & Senghas
4. Phragmipedium richteri Roeth & O.Gruss
5. Phragmipedium tetzlaffianum O.Gruss


Seção Platypetalum (Pfitzer) Garay Pétalas não acuminadas, de forma muito diferente das sépalas
1. Phragmipedium lindleyanum (M.R.Schomb. ex Lindl.) Rolfe
2. Phragmipedium sargentianum Rolfe.

 

Seção Micropetalum (Hallier.f.) Garay
Pétalas não acuminadas, semelhantes às sépalas, porém mais largas.
1. Phragmipedium andreettae P.J.Cribb & Pupulin
2. Phragmipedium besseae Dodson & J.Kuhn
3. Phragmipedium dalessandroi Dodson & O.Gruss
4. Phragmipedium fischeri Braem & H.Mohr
5. Phragmipedium kovachii J.T.Atwood, Dalström & Ric.Fernández
6. Phragmipedium schlimii (Linden ex Rchb.f.) Rolfe



Phragmipedium affine lindleyanum - habitat


Phragmipedium affine lindleyanum (M.R.Schomb. ex Lindl.) Rolfe, planta adulta grande com 1m de folhas.

Crescimento da bráctea floral
que chega mais de um metro


Phragmipedium affine lindleyanum (M.R.Schomb. ex Lindl.) Rolfe lagura da folha.

 

Comparações de características entre Phragmipedium sargentianum & Phragmipedium affine lindleyanum - Bahia.

Legenda
1- Phragmipedium sargentianum – Pernambuco
2- Phragmipedium affine sargentianum – Bahia *
3- Phargmipedium affine sargentianum - Bahia **
4- Phragmipedium affine sargentianum – Bahia ***
5- Phragmipedium sargentianum – divisa - Alagoas/Pernambuco
6- Phragmipedium affine lindleyanum – Bahia ****
7- Phragmipedium affine sargentianum – Bahia *****
8- Phragmipedium sargentianum – litoral – Alagoas
9- Phragmipedium affine lindleyanum ******
*Habitat diferente.

 

Tabela Comparativa do Phragmipedium sargentianum e Phragmipedium affine lindleyanum (Bahia)

Quesito    sargentianum Affine - lindleyanum   “Bahia”
Tamanho de planta nativa Tem no maximo 60 cm de raio do leque das folhas em cada fascículo adulto florido. Máximo de 120 cm de raio de leque das folhas em cada fascículo adulto florido.
Tamanho das folhas Máximo 60 cm. Máximo de 120 cm
Forma das folhas e largura Nitidamente mais finas, fornecendo um aspecto delgado á planta como um todo. Máximo de 5.5 cm. Mais largas, dando um aspecto mais “encorpado” ou “robusto” a planta. Máximo de 11 cm.
Coloridos das folhas Verde claro sem marca nítida de borda amarela, porém bem de perto visível, pois se confunde com o tom de verde da folha. Verde escuro com borda amarela  visível, porém bem fina. Mais nítido no verso das folhas
Raízes Grossas e peludas, 3 – 4 por fascículo ramificando-se ao crescer. Grossas e peludas, 3 – 4 por fascículo ramificando-se ao crescer.
Haste floral Ereta, ramifica apenas na primeira bráctea basal em plantas muito robustas, produzindo sucessão de flores. Cor marrom.   Máximo 8 mm. Ereta, ramificada desde a base com até 5 ramificações com floração sequencial. Cor marrom avermelhada. Max. 17 mm.
Floração Sequencial, sendo que apenas no inicio da floração 2 flores podem estar abertas simultaneamente em plantas robustas. Sequencial, sendo que desde a início várias flores (até 5) podem estar abertas simultaneamente em plantas robustas.
Cor base da flor Verde Amarelo
Forma das pétalas Em forma de espátula com as bordas terminais arredondadas. Em forma de espátulas com as bordas terminais arredondadas.
Cor externa das pétalas Vermelho vivo ou marrom avermelhado. Vermelho “queimado”
Cor da sépala dorsal Verde com listras marrons/vermelhas. Verde com listras marrons/vermelhas.
Cor da synsépala Verde com listras marrons/vermelhas. Verde com listras marrons/vermelhas.
Forma do labelo Sub-ovóide De sub-ovoide a elíptico-alongado
Cor do labelo Esverdeado Amarelado
Cor do Óstio Pintalgado de vermelho, sendo as pintas muito próximas umas das outras formando como que uma mancha vermelha por todo o Óstio. Pintalgado de vermelho, sendo as pintas maiores e mais espaçadas entre si, formando um padrão como que contínuo.
Forma do estaminoide Trapezoidal Triangular / delta
Pelos do estaminoide Pequenos e curtos de tom vermelho nos dois lados das laterais do trapézio. Também sobre toda face externa do mesmo como que uma penugem, principalmente do meio para a base trapézio Pequenos na lateral do triangulo/ Delta e alguns nitidamente maiores na junção deste com a coluna. Sem pelos na face externa.
Brácteas florais Sem pelos aparentes Com minúsculos pelos na junção com a haste floral.


Cultivo

O cultivo das espécies de Phragmipedium é menos difícil que o de Selenipedium, todavia não tão fácil como o dos representantes do gênero Paphiopedilum, que por isso mesmo aparecem mais freqüentemente nas coleções.
Em terra vegetal, com mistura de musgo, areia e carvão, em lugares levemente ensolarados e bastante úmidos, elas se dão muito bem.
São plantas sensíveis à qualidade da água, que não deve apresentar muitos sais dissolvidos em sua composição.