CLONES FAMOSOS
- a origem

 

LAELIA LOBATA 'JENI'
por Roland Brooks

Meu avô, Jorge Schueler, era um descendente de alemães que chegaram ao Rio Grande do Sul em meados do século XIX.
Quando voltou da universidade na Alemanha onde foi estudar engenharia mecânica, vovô estabeleceu-se em Niterói, onde montou uma pequena indústria metalúrgica no bairro de Santa Rosa. E ali começou a se interessar pelas orquídeas que existiam no local, que fazia fundos com um morro de granito onde vicejavam touceiras de Laelia (hoje Cattleya) lobata, endêmica dos arredores cariocas.
Começou ali, em 1930, uma paixão que duraria a vida inteira.
Seu Jorge era colecionador de Cattleyas e Laelias, e das formas albas em geral. Queria a todo custo obter uma "lobata alba", já que ouvira falar dessa forma raríssima. Mas no tal morro só tinha as formas usuais da espécie. Ele soube então que na Pedra da Gávea, já na cidade do Rio de Janeiro, alguém havia visto, de longe, uma touceira em flor, totalmente branca.

Antes que acusem o vovô de crime ambiental, cabe lembrar que naqueles tempos pegar plantas do mato era absolutamente normal! Vovô contratou um conhecido "mateiro" e pediu para trazer "lobatas" lá da Pedra. Dito e feito, alguns dias depois o sujeito apareceu com vários sacos cheios de lobatas, algumas em flor. E dentre elas, uma singela alba.
Satisfeito, seu Jorge separou essa e plantou num vaso de barro. As restantes ele colocou nas mangueiras que havia no quintal. Ele queria mais albas, claro, mas o risco de buscar, em plena época das chuvas, centenas de plantas floridas para conseguir apenas uma alba era demais. Vovô percebeu então que todas as "tipo" apresentavam intensa pigmentação na base das folhas, onde haviam sido picadas por insetos.
A alba não tinha essa pigmentação. Ele então fez um teste: pegou uma agulha e "picou" várias vezes as folhas das "tipo" e da "alba". As primeiras reagiram após algumas semanas com pintas roxas. A alba, não. Então já era possível selecionar as albas sem que estivessem em flor, durante os meses secos, quando escalar a Pedra da Gávea era menos perigoso.
(Nota: aquele mesmo mateiro viria a morrer algum tempo depois, ao cair da montanha enquanto tirava lobatas para outro colecionador!). Ele recebeu novos lotes da espécie, separando todas que não tinham pintas roxas, na esperança de obter mais albas. Obteve várias, inclusive uma que virou uma touceira enorme e ganhou medalha de ouro na exposição da Sociedade Brasileira de Orquídeas no Automóvel Clube em novembro de 1948, com 97 flores!
Em 1942, uma das últimas supostas "albas" finalmente produziu botões florais. Vovô estranhou pois aquela não parecia ser uma alba. Já ia amarrar a planta na mangueira, como fazia com todas as "tipo", quando no dia seguinte as flores abriram. E eram de um tom rosa muito claro, e forma excelente para a espécie.
Seu Jorge viu que tinha algo único em mãos! Resolveu dar o nome à planta, em homenagem à esposa, dona Jenny Schueler.
E assim surgiu a Laelia lobata 'Jenny'.
A princípio, vovô não cedia cortes da planta para ninguém, mas sabia que o risco de ter apenas uma planta era muito grande.
Então cedeu cortes a três amigos: Rolf Altenburg, José Dias de Castro e Walter Dreher.
Já nos anos 60, Rolf pediu autorização para mandar fazer meristemas da "Jenny" na França. Vovô concordou e a Florália produziu centenas de clones. Algumas foram exportadas, e uma recebeu uma premiação nos Estados Unidos pela AOS, um AM/AOS de 82 pontos. Entretanto, a Floralia acabou vendendo mudas da "Jenny" como Laelia lobata 'Jeni', e esse nome acabou se consolidando.
E assim surgiu essa planta que até hoje faz sucesso nas exposições de fim de ano.

foto e cultivo - Carlos Keller