O cultivo de micro-orquídeas
Roberto Martins

As micro-orquídeas também têm seus aficionados, porém, durante muito tempo, foram relegadas e eram, nas exposições,  chamadas, um pouco pejorativamente, de “orquídeas botânicas”.
Os grandes cultivadores demonstravam um certo desprezo e chegavam a dizer que cultivavam orquídeas e não “fiapocidium”.
Diversos fatores contribuíam para isto para este tipo de preconceito. Era época das grandes flores, dos híbridos cada vez mais vistosos e a beleza singela e suave das “pequeninas joias” ficava relegada.
Felizmente, esta mentalidade mudou e muito. Hoje as micro-orquideas, a maioria pertencente à subtribo Pleurothallidinae (mas existem várias outras distribuídas entre outros gêneros), têm seu lugar de destaque nas exposições e existem até mesmos grupos de discussão. 
Seu cultivo foi considerado durante muito tempo como difícil devido a diversas razões. Os orquidários comerciais não se interessavam pela sua reprodução, as características específicas de seus habitats, em geral matas úmidas, crescendo nos troncos mais baixos ou em pequenos galhos, luminosidade bem mais baixa dos que outras (há exceções), locais montanhosos, em geral mais frios ou, pelo menos, mais frescos, umidade ambiental muito elevada, perto de fontes de água. Tudo isto, aliado ainda à falta de literatura (mesmo para o cultivo das grandes plantas), fez com que o preconceito se estabelecesse. Era muito difícil obter as informações que facilitariam sua sobrevivência em cultivo, enfim, muito erros, poucos acertos. Hoje em dia, a disponibilidade da literatura específica aumentou muito.
É na divulgação do conhecimento visando o cultivo destas plantas que entra a figura de Roberto Martins, considerado, hoje em dia como um dos maiores conhecedores deste grupo de orquídeas.  
Desde que começou a se interessar por elas, ele tem se dedicado com afinco aos estudos visando obter o maior número possível de informações que melhorem as condições de cultivo: em que tipo de habitat elas ocorrem, em quais condições e até em que altura da árvore elas se colocam.
E este conhecimento adquirido ao longo de muitos anos de estudo e experiência é compartilhado de diversas maneiras. Seu grupo no  Facebook “Roberto Martins Micro-orquídeas é aberto ao público onde fornece informações e dicas imperdíveis (inclui orquídeas terrestres). Tem também um canal do Youtybe onde são postados vários vídeos, além do Instagram Orquidário Roberto Martins - @roberto_martins68 onde, semanalmente apresenta “lives”, além de apresentar palestras em exposições, em diversos estados (interrompidas pela pandemia). Suas dicas são preciosas e imperdíveis. Palestrante em inúmeras exposições, em diversas regiões.
Vamos conhecer um pouco sobre Roberto Martins e a razão do seu sucesso no cultivo das “pequeninas”

ON – Roberto, qual é o seu perfil profissional?

RM - Atualmente trabalho em uma empresa de cosméticos profissionais. Atuo como Gerente Comercial, na verdade este foi um dos motivos que me levou a cultivar orquídeas, pois o hobby me ajudou a descarregar um pouco do estresse do dia a dia, das reponsabilidades desta profissão.

ON - Você não é botânico, mas acumulou um conhecimento extraordinário deste grupo de orquídeas.   Como foi este aprendizado? Qual é o seu segredo? Há quantos anos começou estes estudos?

RM - Sim, isso é verdade. Quando comecei a cultivar micro-orquídeas, tentei de várias formas buscar informações sobre o cultivo destas pequenas joias, mas havia pouquíssima coisa disponível. Desta forma,  resolvi aprender a cultivar micro-orquídeas. O aprendizado foi difícil, pois tudo foi baseado entre erros e acertos e as respostas a duas perguntas foram decisivas para o aprendizado:
- Por que eu errei?
- Por que eu acertei?
O grande segredo é a leitura, buscar conhecimento nos livros sobre cada gênero, espécie e ambiente. Investir em conhecimento: esta é a grande diferença entre o sucesso ou não no cultivo de orquídeas. Já montei uma pequena Biblioteca em casa com vários livros sobre as orquídeas, sobre ambientes, sobre cuidados básicos e coleciono também algumas publicações periódicas como o Boletim da CAOB, Revista da AOSP e a Coletânea de Orquídeas Brasileiras.

ON – Você já começou pelo cultivo de orquídeas ou houve algum percurso anterior para aliviar o estresse? O que lhe atraiu nelas?

RM - A princípio foram plantas em geral, folhagens e algumas outras flores. As orquídeas não foram as primeiras opções de cultivo.
Como hobby também já fui criador de peixes ornamentais, reproduzia e comercializa, mas hoje só mantenho dois aquários em casa para distração.
Aí comecei a cultivar orquídeas como uma brincadeira, para colocar um pouco de verde dentro de casa e me distrair do estresse da minha profissão,  como já disse. A beleza dos híbridos de Cattleya me fascinaram no início, flores grandes e um colorido muito diverso, cores fortes e perfumadas.

ON – E como as micros entraram? Houve algum fator de influência (pessoa ou fato) nesta escolha?

RM - Depois da casa cheia de plantas e orquídeas, pois nunca paramos na primeira   ganhei de um amigo, o Mário Shirafuchi, uma bela touceira de Barbosela miersii.
Dentro desta touceira tinha uma plantinha pequena que era diferente, separei esta planta e comecei a cultivá-la com todo cuidado.
Para minha surpresa, subiu uma haste floral e abriu a sua flor e quando observei com uma lupa, vi que era como uma Cattleya em miniatura.
Fiquei maravilhado!!!
Fui pesquisar e descobri que era a Platystele oxyglossa e assim começou o meu fascínio pelas micro-orquídeas.

ON- Há quantos anos você cultiva orquídeas e há quantos anos se dedica às micro-orquídeas?

RM - Cultivo orquídeas há aproximadamente 18 anos e micro-orquídeas a 15 anos.

ON- Quantas plantas você possui, aproximadamente?


Platystele oxyglossa

RM - Isso é muito difícil de responder,  mas o que posso te falar é que, em minha coleção, tenho aproximadamente 1.300 espécies de vários gêneros, entre micro-orquídeas, pequenas orquídeas e terrestres.


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ON -   Quanto tempo, por dia, você gasta cuidando de suas orquídeas?

RM - Atualmente dedico aproximadamente 2 horas por dia. Já no domingo, devido as “lives” gasto um pouco mais, então, no total, umas 18 horas semanais.

ON- Entre suas plantas, existe alguma que seja a preferida?

RM - Isso é difícil de responder. Como minha esposa diz, eu gosto de todas, mas tenho carinho especial por uma espécie: a Pabstiella crassicaulis.
Adoro suas folhas côncavas e as suas flores achatadas lateralmente e com uma pequena abertura, um conjunto muito bonito.

 

Pabstiella crassicaulis

ON- Quais são as condições climáticas encontradas em seu ambiente de cultivo e como são cultivadas?

RM - No meu ambiente consegui criar vários microambientes diferentes, que vão desde o extremamente úmido ao quase seco. São pelo menos 5 microambientes com condições diversas.
Depois de aprender como cultivar as micro-orquídeas, comecei a me dedicar ao ensino, pois resolvi compartilhar tudo que aprendi, desmitificando que as micro-orquídeas são difíceis de cultivar e comecei um trabalho em várias associações pelo Brasil, com palestras e reuniões mostrando esse microuniverso fantástico.
Uma das minhas metas é que a micro-orquídea seja valorizada simplesmente como orquídea, pois há bem pouco tempo atrás eram chamadas simplesmente de “matinhos”.
Foi um trabalho árduo entre os orquidófilos e dentro das associações e exposições.
Hoje, já conquistamos o reconhecimento dentro da orquidofilia nacional, pois várias associações já possuem uma categoria específica para as micro-orquídeas e dentro das exposições, as micro-orquídeas possuem um local de destaque.

ON – Você fez algumas alterações para adaptar seu ambiente ao cultivo e buscou soluções de cultivo. Poderia nos mostrar alguma coisa?

Bandejas com pedras para manter a umidade e cultivos diversos
  

casca de coco - Epidendrum sp.
leque - Paraphalaenopsis laycockii
placa de plástico perfurada - Pomatocalpa angustifolium
madeira - Pabstiella biriricensis
placa de madeira - Pleurothalopsis nemorosa
placa de madeira - Seidenfadenia mitrata

ON-  Você desenvolveu um adubo direcionado para este grupo específico de orquídeas. Qual tem sido o resultado?

RM - Sim, desenvolvi um adubo específico para as micro-orquídeas e isso foi algo que veio depois de uma decepção. Como a grande maioria, eu seguia protocolos de adubação e utilizava de 04 a 05 adubos diferentes e isso era trabalhoso e muito complicado. Certa vez, depois de regar alguns Pleurothallis gigantes, após 12 horas aproximadamente todas as folhas estavam manchadas, ou seja, foram queimadas pelo adubo que usei e isso foi a gota d’água. Entrei em contato com alguns amigos e eles toparam o desafio de desenvolver um adubo completo para o cultivo de micro-orquídeas e conseguimos chegar em uma fórmula completa, o Micro Orchids Fert. Ele atende todas as necessidades das micro-orquídeas, em qualquer estágio de desenvolvimento e sem risco para as plantas.
Os resultados são os melhores, tanto no desenvolvimento da planta, enraizamento e floração.
Mas uma coisa é preciso se dizer:
“Adubo não corrige erros de cultivo”, ou seja, ele é somente um complemento alimentar para as suas orquídeas. O resto é obrigação do orquidófilo.

ON - Você comercializa adubo ou é só para seu uso?


RM - Sim, comercializo o adubo e tenho duas fórmulas específicas: uma para as micro-orquídeas, o Micro Orchids Fert e outra para orquídeas maiores, o Orchids Fert.

ON – Não é muito fácil encontrar micro-orquídeas à venda. Você as comercializa também?


RM - Já no caso do comércio de orquídeas me especializei na venda de espécies estrangeiras, mantendo à disposição dos orquidófilos espécies de vários gêneros diferentes e de vários continentes.
Comercializo todos através de meu site: www.orquidariorobertomartins.com.br, além de vários outros acessórios para cultivo.
Já no caso das espécies nacionais, são de minha coleção particular e não as comercializo.

ON Diz-se que a orquidofilia é uma manifestação branda de loucura. Você já fez alguma loucura orquidófila?

RM - A loucura é só uma questão de ponto de vista. Todos nós, um dia, já fizemos algum tipo de loucura por aquilo que amamos.
Claro que já fiz muuuuitas. Viajei mais de 600 km para uma cidade do interior de São Paulo para adquirir uma planta para a minha coleção.
Certa vez fui em uma Festa do Morango, em uma cidade próxima a capital de São Paulo e acabei voltando para casa com o meu carro cheio de orquídeas!
Mas acredito que uma das maiores foi convencer a minha esposa a mudar de um apartamento para uma casa por causa das orquídeas para que eu tivesse mais espaço para cultivá-las

ON– Agora uma pergunta que é feita por muita gente,  com todo esse conhecimento acumulado, podemos esperar a publicação de livro sobre o assunto?

RM - Sim este é um dos meus objetivos, já tenho um vasto material armazenado que, em breve, irei disponibilizar através de uma publicação.

ON – Conte com nossa livraria on-line, a Fina Orquídea Livros - www.finaorquidea.com - para a comercialização.

ON – Tem alguma  mensagem que você gostaria de deixar para nosso leitores?

RM – Gostaria de deixar uma mensagem muito importante:
“A cada real gasto na compra de uma orquídea, invista este mesmo valor na estrutura de seu orquidário, pois só assim você terá sucesso em seu cultivo”.
Quero aproveitar a convidar os leitores a participarem do grupo no Facebook "Roberto Martins Micro-orquídeas,

ON- Como gostaria de finalizar?

RM – Deixando um grande abraço a todos e o meu muito obrigado pela oportunidade, minha amiga.