Rudolf Jenny foi um admirador de primeira hora do site Brazilian Orchids (www.delfinadearaujo.com) e Orchid News (www.orchidnews.com.br), assim nosso conhecimento é de longa data, embora nós só nos tenhamos visto duas vezes pessoalmente em duas ocasiões, na Conferências Mundiais de Dijon e de Miami.
Desde que começamos, ele nos contactou porque se interessou pelo trabalho e, em 2005, veio o convite para participarmos da Conferência Mundial de Orquídeas em Dijon para falarmos sobre o site e sobre a revista. Depois disto os laços se estreitaram.
Por termos a livraria virtual Fina Orquídea (www.finaorquídea.com) especializada em literatura sobre orquídea, ele nos solicitou o obséquio de sempre adquirir e enviar novos livros sobre o assunto editados no Brasil e obter literatura mais antiga que, por algum acaso, ele não possuía. Assim ao longo dos anos, mantivemos este contato por e-mail e posteriormente pelo WhatsApp.
Eventualmente fiz pesquisas para ele na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro para fornecer subsídios para escrever um de seus livros ‘... Of Men and Orchids, Part 1 and 2 (www.orchilibra.com).
Como curadora da coleção de Orquídeas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, muitas vezes, me deparo com plantas ainda não identificadas e recorria a ele. Em 2020, uma destas plantas abriu flor e se tratava de uma espécie de Gongora que eu não conhecia. Como pertencia a um dos grupos que ele era especializado, enviei fotos solicitando sua identificação.
Ele pediu um tempo, pois justamente estava revisando a monografia do gênero e estava muito ocupado.
Infelizmente, ele não chegou a terminar o livro que escrevia juntamente com Gûnter Gerlach.
Ele foi também colaborador da revista editada pela OrquidaRio, Orquidófilos Associados.
Por Thiago E. C. Meneguzzo
Professor universitário e pesquisador do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro e Universidade de Brasília
A primeira vez que tive contato com Rudolf Jenny foi enquando eu era estudante de graduação, em torno de 2005.
Trocamos informações sobre espécies brasileiras de Stanhopeinae e ele identificou alguns exemplares de Stanhopea que eu mantinha em cultivo.
Desde o primeiro momento Jenny se mostrou solícito, acessível e muito prestativo.
Ao longo do meu mestrado e doutorado também recebi sua ajuda em diversos momentos, ao me fornecer referências bibliográficas que eu não havia conseguido nas formas habituais, como em bibliotecas e com colegas.
Hoje, como pesquisador e professor universitário, mantenho minha linha de pesquisa em taxonomia de orquídeas das Américas tropicais com ênfase no Brasil.
Parte significativa do meu tempo de pesquisa inevitavelmente envolve busca e revisão bibliográfica.
Sempre me impressionei com o esforço de Jenny em colecionar e manter seu enorme sistema de referências bibliográficas sobre orquídeas do mundo todo, cujo acesso é aberto ao público.
Regularmente trocávamos informações que curiosamente foram se refinando e afunilando a um nível de publicações raras e muitas vezes de difícil acesso até mesmo nos lugares onde foram publicadas.
Frequentemente ele me pedia informações para suas monografias em Stanhopeinae e as bibliografias que envolviam as relações sobre orquídeas e pessoas.
Infelizmente não tivemos a oportunidade de nos conhecer pessoalmente, pois permanecemos correspondentes devido a distância geográfica entre nossos países.
Jenny partiu de repente, mas seu legado de trabalho e a lembrança como uma gentil pessoa altruísta sempre ficarão.
Por Günter Gerlach
Botânico, pesquisador e antigo curador senior do Jardim Botânico de Munique, Alemanha, Pesquisador associado no Museo de Historia Natural, Universidad Nacional Mayor de San Marcos, Lima, e Jardín Botánico de Missouri, Oxapampa
Lembro-me bem de quando tive o primeiro contato com Rudolf Jenny em 1980. Naquela época eu era jardineiro no Jardim Botânico de Heidelberg.
Interessei-me por Stanhopeinae e tive que contatá-lo devido ao seu excelente conhecimento neste grupo de orquídeas.
Juntamente com H.G. Seeger, o jardineiro chefe do departamento de orquídeas da BG Heidelberg, nós o visitamos em sua casa na Suíça. Ele nos mostrou sua coleção de orquídeas onde tinha entre outras espécies de Kegeliella em boas condições.
Este gênero naqueles tempos não podia ser encontrado em cultivo antes. Tivemos algumas trocas de plantas e após esse período contato regular por correio em relação aos Stanhopeinae devido às dificuldades na determinação e delimitação das espécies.
Então, durante minha tese de doutorado, concentrei-me na biologia da polinização e na composição da fragrância em Stanhopeinae, especialmente em Coryanthes. Ele, por outro lado, era mais especializado na história e taxonomia de Stanhopeinae e gêneros vizinhos. Muitas vezes discutimos problemas em taxonomia por que meu foco era mais na quimiotaxonomia e o dele na taxonomia clássica. Frequentemente não tínhamos a mesma opinião, ele gostava muito mais de separar as diferentes espécies enquanto eu queria unir espécies próximas, sempre com base na composição da fragrância das respectivas espécies.
Encontrei Rudolf com frequência em vários congressos internacionais onde ambos apresentamos nosso trabalho ao público. Todas as vezes tivemos uma discussão muito proveitosa sobre nossos problemas.
Finalmente em 2019, durante a VI Conferência Científica sobre Orquídeas Andinas em Medellín, ele me convenceu a começarmos a escrever juntos uma nova monografia do gênero muito difícil de Gongora.
Ele disse: “Günter, temos que escrever este livro porque somos os únicos especialistas nesse assunto. Muitas vezes não temos a mesma opinião, mas temos que publicar o status de Gongora. Há tantos problemas neste gênero que alguém tem que publicar o que é conhecido dele. Mesmo havendo tantos problemas não resolvidos, temos que documentá-los, abrindo caminho para mais pesquisadores e amadores”.
Então começamos após breves discussões sobre como fazer o livro.
Ele, ambiciosamente, me empurrou para a frente, porque eu tinha vários outros projetos para terminar. Foi um pouco complicado porque eu morava na Floresta Central no Peru e a conexão com a internet não era tão boa.
Ele preparou diferentes capítulos e juntos buscamos fotos, pois queríamos mostrar o máximo de clones diferentes de cada espécie.
Decidimos dividir a monografia em dois volumes, o primeiro com as informações gerais (história, sistemática, morfologia, distribuição, ecologia, biologia da polinização) e a taxonomia de dois subgêneros, o segundo com o restante das espécies um índice e uma lista de verificação.
Pouco antes de terminarmos o primeiro volume, ele morreu de repente.
Tínhamos planejado uma conferência por telefone quando recebi a notícia de seu filho que Rudolf entrou em coma por causa de uma hemorragia cerebral. Fiquei chocado e esperava que ele se recuperasse. Todo o projeto do livro estava em suas mãos, ele era a força motriz dele.
Poucos dias depois, fui informado sobre seu falecimento.
Depois de algumas semanas após a morte de Rudolf, entrei em contato com seu filho Lorenz, que eu conhecia de uma viagem de campo na Colômbia. Quando ele e toda a família Jenny decidiram publicar o livro de Gongora, fiquei muito feliz.
Por isso, espero, com confiança, que nossa colaboração seja publicada, certamente esse era um de seus desejos finais. |