ORCHID NEWS #46

Um reencontro quase 140 anos depois de sua descoberta.

Num trabalho em conjunto de Euler L.F. Menezes, Samuel C. O. Giordania, Mauro S. Rosim & e Paulo M. Gonella, esta espécie foi reencontrada após quase 140 anos de sua descobera e quilômetros de distância do habitat da descrição da espécie.

A espécie foi descrita por Barbosa Rodrigues, em 1882, com ocorrência na região conhecida como Zona da Mata Mineira e nunca mais havia sido vista.
Agora, com o registro efetuado pelos autores, para um campo rupestre, foi possível fazer um estudo mais detalhado da morfolofia desta espécie e a partir da avaliação feita, considerá-la criticamente ameçada de extinção.
Amostras férteis foram coletadas, herborizadas e depositadas em herbários.
O espécime utilizado pelo autor da descrição não foi depositado em herbário, mas foi ilustado é encontrado na Flora Brasiliensis, 1902.
Até esta nova descoberta, não havia um estudo morfológico aprofundado e uma descrição mais completa, com lacuna sobre o habitat e área de distribuição, o que provocou a inclusão da espécie como Deficiente em Dados (DD), na Lista Vermelha de Minas Gerais.
36 espécies de Bulbophyllum são registradas para o estado de Minas Gerais, nos domínios dos Biomas Mata Atlântica, Cerrado e nos campos rupestres no área montanhosa conhecida como Serra do Espinhaço.
A espécie permaneceu sem coleta por tantos anos que poderia ter sido considerada como extinta pois o habitat de sua região original foi bastante destruído no século passado.
As novas populações foram encontradas no município de Diamantina, MG, em pequenos fragmentos de mata de galeria, em campos rupestres em altitude a partir de 1050m e a 2km de distância destas foram observados crescendo como epífitas e também como rupícolas em rochas sombreadas.

Mapa de distribuição de Bulbophyllum barbatum in Minas Gerais, SE Brasil

A, Um hábito
B, flor em vista frontal com lábio retraído
C, flor em vista frontalcom lábio distendido
D, flor em vista lateral com bráctea floral
E, flor em vista dorsal com bráctea floral
F,sépalas em vista adaxial, dorsal (esquerda) e lateral (as duas à direita)
G, lábio em vista adaxial
H, flor dissecada com sépalas e labelo removidos, mostrando colunas e pétalas nas vistas ventral (esquerda) e dorsal (direita)
I, flor dissecada com todas as sépalas e pétalas removidas, mostrando coluna em vista lateral

Fenologia:
Barbosa Rodrigues (1882) relata floração em maio, enquanto nos novos registros a floração foi observada mais cedo, em março e abril.
Estado de conservação preliminar:
Criticamente em perigo—CR B2ab(iii)
Bulbophyllum barbatum provavelmente está extinto no local tipo, uma vez que não foi coletado na região nos últimos 139 anos.
Semelhante a outras regiões da Mata Atlântica, a região do entorno da cidade de Juiz de Fora sofreu intenso desmatamento nos últimos séculos, com a conversão das florestas originais em pastagens e terras agrícolas.
As novas populações foram encontradas em pequenos fragmentos florestais montanhosos isolados entre campos e afloramentos rochosos dos campos rupestres, portanto um habitat naturalmente fragmentado.
Ambas as novas áreas foram utilizadas no passado para garimpo de diamantes e atualmente não estão protegidas, situando-se próximas à cidade de Diamantina e atrações turísticas como cachoeiras, sendo suscetíveis a frequentes incêndios antropogênicos.
Apenas cerca de 40 indivíduos maduros foram observados em cada uma das novas subpopulações, o que também torna a espécie suscetível à caça furtiva e à coleta excessiva.