Entrevista


Carlos Roberto Azevedo



Carlos Roberto Azevedo é professor de Matemática,  orquidófilo há mais de 30 anos e proprietário do Orquidário Guaratiba, um orquidário de colecionador para colecionadores
Whatsapp: (21): 99918.5249
Instagram: carlosroberto.azevedo.75
E-mail: azevedo.carlos.roberto@hotmail.com


ON: Carlos, poderia nos falar um pouco sobre você e seu interesse pelas orquídeas?
CR: Tenho 55 anos, sou professor de Matemática e cultivo orquídeas desde os 22 anos. Quando comecei não havia a disponibilidade de informação que existe hoje, o meu cultivo era muito rudimentar e o aprendizado se dava principalmente por tentativa e erro.
Alguns anos mais tarde, através de um outro hobby, a fotografia, comecei a frequentar o Jardim Botânico do Rio de Janeiro para fotografar paisagens. Naquela época, meu hobby principal era a fotografia e não a orquidofiia.
Nessas idas ao Jardim Botânico, conheci o seu orquidário e passei a frequentá-lo para fotografar as orquídeas.  Em uma dessas visitas tomei conhecimento de uma exposição de orquídeas que lá aconteceria. Visitando essa exposição, fiquei impressionado com a quantidade de gêneros e espécies existentes. Esse contato, despertou novamente o meu interesse no cultivo das orquídeas.
Algum tempo depois me filiei à OrquidaRio e passei a frequentar as reuniões em sua sede, onde aprendi muito, ouvindo os cultivadores mais experientes.
Alguns deles ícones da orquidofilia brasileira, como Hans Frank, entre tantos outros.
Como a maioria dos orquidófilos iniciantes, comecei cultivando de tudo.
Era orquídea, eu queria cultivar, sem me preocupar com as necessidades de cada espécie.
Uma tendência natural, na maioria dos casos, é que, com o passar do tempo, o orquidófilo seja mais seletivo, direcionando seu cultivo para algumas espécies, híbridos ou gêneros.
No meu caso, não foi diferente.
Hoje dou preferência a plantas de pequeno e médio porte como algumas espécies de Cattleya,  Bulbophyllum, Dendrobium, asiáticas, micro-orquídeas e outras espécies diferenciadas.
Gosto muito de espécies exóticas, diferentes e raras, contando que se adaptem ao meu cultivo.

Anathallis brevipes
Anathallis ourobranquensis

ON: Carlos, você sempre foi muito conhecido no meio orquidófilo do Rio de Janeiro como sendo um grande cultivador de micro-orquídeas. Por que esta preferência?
CR:  Sempre achei as micro-orquídeas fascinantes, seja pela diversidade e quantidade de espécies, seja pelas cores e formas de suas flores. São minúsculas e lindas.
Ainda, hoje, sempre que tenho oportunidade, adquiro micro-orquídeas para o meu cultivo, principalmente espécies exóticas, já que existe ainda pouca disponibilidade de espécies brasileiras. 
Cultivar micro-orquídeas requer pouco espaço. Em uma área de poucos metros quadrados,  pode-se cultivar centenas de espécies.

Appendicula elegans
Barbosella dusenii

ON: Apesar disto, hoje em dia, seu foco principal não é mais a micro orquídea. Por que você mudou seu foco ou melhor o que fez você mudar seu foco?
CR: O principal motivo foi a mudança de ambiente de cultivo.
Antes eu tinha o cultivo próximo ao maciço do Gericinó, ao pé da Serra do Mendanha, onde as condições de cultivo para micro-orquídeas eram bem mais favoráveis, principalmente em relação à temperatura. Mesmo no verão, com dias quentes, durante a noite a temperatura era bem mais agradável.
Hoje cultivo em Guaratiba, um local bem mais quente, onde no verão a sensação térmica passa com bastante frequência dos 45°C. Nessas condições, mesmo com regas diárias, as micro-orquídeas desidratam com facilidade, acarretando vários problemas no cultivo. Esse tipo de ambiente exige que o cultivador tenha muito mais cuidado e dedicação para tentar reproduzir um ambiente adequado, principalmente no verão.

Bulbophyllum falcatum
Bulbophyllum lilacinium

ON: Mas você ainda cultiva micro-orquídeas?  É possível cultivá-las em local tão quente?
CR: É perfeitamente possível cultivar micro-orquídeas em clima quente, mas deve-se ter atenção na escolha das espécies, observar a planta para acompanhar sua adaptação e fazer as correções necessárias, ou seja: pesquisar,  testar e observar os resultados.

Dendrobium mannii
Dryadella aviceps

ON: Apesar desta mudança de rota, digamos assim, sua experiência com as espécies do grupo Pleurothallidinae é muita extensa.  O que você pode nos dizer sobre isto? Qual é o pulo do gato? sabemos que é um grupo complicado pois o excesso de umidade, principalmente rega, pode matá-las afogada em fungos e a escassez pode também provocar a morte delas.
CR:  É verdade. 
Depois de testar bastante, a melhor maneira que encontrei foi o cultivo acoplado ou o cultivo em leque de madeira. 
Em ambos os casos, utilizo um cilindro de tela plástica com musgo, casca de arroz carbonizada e bolinhas de isopor. Deste modo,  as raízes não ficam enterradas nos vasos e, consequentemente, não apodrecem pelo excesso de regas ou de chuva, já que meu orquidario é coberto apenas por sombrite.
Na verdade, cultivo todas as minhas orquídeas de forma acoplada ou em leque de madeira ou em vasos tipo cesta, possibilitando uma boa aeração das raízes, além de utilizar drenagem alta, quando em vasos, é substrato de rápida secagem.
Uma outra maneira foi o cultivo em madeira, com um pouco de musgo próximo às raízes. Em toquinhos de sansão do campo, por exemplo.
Neste método deve-se tomar cuidado com a manutenção da umidade,  principalmente no verão.


Microterangis hildebrandtii


ON: Lembro-me de foto de seu orquidário onde havia muito cilindros feitos de aramados. Qual a vantagem deste tipo de suporte?
CR: A principal vantagem é manter a umidade e uma boa ventilação nas raízes, sem correr o risco de apodrecimento. Utilizo esses cilindros no cultivo de outros gêneros também, como Bulbophyllum, obtendo excelentes resultados.

uso do telado
uso do telado com vasinho vazado
uso do telado com leque

ON: Muitas pessoas encontram dificuldade em cultivar orquídeas em local de clima quente.  De que maneira você escolheu as espécies que cultiva?
CR: Uma das regras básicas  no cultivo de orquídeas é escolher espécies que se adaptem ao seu ambiente de cultivo.
No caso das micro-orquídeas, essa regra é fundamental.
No meu cultivo, dou preferência às micro-orquídeas de folhas mais grossas ou cilíndricas, já que estas possuem uma reserva maior de água e nutrientes em suas folhas, tornando mais fácil o cultivo em clima quente.
Os gêneros Octomeria, Acianthera,  Anathallis, entre outros, possuem espécies com essas características.

Specklinia subpicta
Zigostates alleniana

ON: Quais são as restrições que você encontrou?
CR: No meu entender, a principal dificuldade para o cultivador de micro-orquídeas  é encontrar  orquidários que se dediquem a produzir e disponibilizar plantas de qualidade, principalmente plantas brasileiras.
No mundo das micro-orquídeas existem milhares de espécies que fascinam seus apreciadores pelo seu colorido intenso e  formas inusitadas, todas em uma escala tão minúscula que surpreende pela beleza e perfeição.
Em um metro quadrado, podemos colocar dezenas de espécies dessas plantas magníficas, formando uma bela coleção.
No meu cultivo, a utilização do cilindro de tela com musgo e casca de arroz carbonizada tem dado muito certo, principalmente no cultivo de micro-orquídeas e Bulbophyllum,  proporcionando umidade sem encharcamento, aeração das raízes e, além disso,  no caso do Bulbophyllum, uma maior área para o seu crescimento,  já que nesse gênero, muitas espécies possuem crescimento desordenado.

ON: Para finalizar, o que faz Orquidário Guaratiba ser diferente dos demais?
 CR: O Orquidario Guaratiba é um orquidário de colecionador para colecionadores.
É direcionado principalmente para o colecionador, disponibilizando plantas de qualidade e cultivo diferenciado.
O foco não é a quantidade e sim a qualidade, buscando sempre  a melhoria do cultivo de orquídeas, disponibilizando espécies dos gêneros Cattleya,  Dendrobium, Bulbophyllum, entre outros.

ON: Muito obrigada, Carlos Roberto.