O orquidário do Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora

Luiz Menini Neto
Samyra Gomes Furtado



Nasce mais um orquidário público! Isso é um motivo de alegria e felicidade por parte dos apreciadores e amantes das orquídeas e, por que não dizer, dos amantes da natureza.
Belas plantas expostas com suas flores coloridas, (quase sempre...) vistosas e perfumadas! A oportunidade de o público em geral ter acesso a plantas que, de outra forma, são vistas apenas pelos pesquisadores que se embrenham nas florestas. Sendo na cidade de Juiz de Fora, representa também a realização do sonho de um dos maiores estudiosos das orquídeas brasileiras, o juiz-forano Frederico Carlos Hoehne, que na juventude almejava a criação de um espaço público dessa natureza no Parque Halfeld, centro da cidade, mas que, infelizmente, não obteve êxito. No entanto, por motivos variados a realidade nem sempre é de alegria e felicidade...


Mas, antes de desenvolvermos melhor esse assunto (e nos justificarmos por certa negatividade) iniciemos por um breve histórico do Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora (JB/UFJF) e, consequentemente, de seu orquidário, o qual é também associado a uma coleção de bromélias.
O texto apresentado nos dois próximos parágrafos foi adaptado e resumido daquele disponível na página do Jardim Botânico na internet, onde pode ser encontrada sua história completa:
jardim botanico-historico
A área em que está instalado o JB/UFJF era originalmente pertencente a um imigrante alemão, o senhor Detlef Krambeck, patriarca da família germânica chegada em Juiz de Fora no ano de 1872, atuando inicialmente como fabricante de carruagens e, posteriormente, se estabelecendo na área de curtume de couros e peles.
A família Krambeck adquiriu na região três propriedades que foram desmembradas da antiga Fazenda da Tapera, denominadas Retiro Novo, Retiro Velho e Sítio Malícia, que compuseram a localmente conhecida Mata do Krambeck. A última propriedade, o Sítio Malícia, foi residência do filho do Sr. Krambeck, Pedro, que efetuou obras de paisagismo incluindo a criação de lagos artificiais, alamedas de araucárias, cedros e paineiras, jardins e pomares, representando as bases do que viria a se tornar o JB/UFJF.
No ano de 1992 foi criada a Área de Proteção Ambiental (APA) Mata do Krambeck, abrangendo as três propriedades listadas acima, abrangendo um total de 374 hectares.


No entanto, o Sítio Malícia foi excluído da APA no ano seguinte.
Passados alguns anos, essa propriedade foi alvo de um grupo de empresários que a adquiriu no intuito de construção de um condomínio de luxo, ato que foi seguido de forte oposição de organizações civis, públicas e não-governamentais, com debates em audiências públicas nos anos que se seguiram.
Em 2007, a Universidade Federal de Juiz de Fora anunciou, em audiência pública, o interesse em adquirir a área de 82 hectares com a finalidade de criação de um jardim botânico, processo que se finalizou com a assinatura da escritura no ano de 2010 e teve seu auge quando o JB/UFJF foi oficialmente aberto ao público em abril de 2019.

A área conta com a Casa-Sede, onde são realizadas exposições itinerantes, Centro de Pesquisa, Laboratório Casa Sustentável, Centro de Educação Ambiental, Sede Administrativa, sala de aula ao ar livre, roteiros temáticos, dois lagos artificiais com deques para contemplação e trilha no interior da floresta (a Trilha da Juçara). E, claro, as coleções vivas de orquídeas e bromélias.
As plantas que compõem o orquidário do JB/UFJF foram obtidas predominantemente de três fontes, sendo a mais importante em volume e diversidade de plantas as doações realizadas pela senhora Maria do Rosário de Almeida Braga ao final do ano de 2019 e início do ano de 2022, de exemplares remanescentes do Orquidário Quinta do Lago, de Itaipava-RJ, atualmente desativado.

Esses dois lotes foram formados por inúmeras espécies, dentre as quais se destacam:
Bifrenaria tyrianthina
, Brassavola perrinii, Cattleya schilleriana e C. warneri, Epidendrum nocturnum, Hadrolaelia perrinii, H. tenebrosa e H. purpurata (incluindo diversas variedades cromáticas), Isabelia pulchella e I. virginalis (incluindo belíssima variedade alba), Leptotes bicolor, Maxillaria tenuifolia e M. schunkeana, Miltonia clowesii e M. spectabilis, Myoxanthus exasperatus, Oncidium baueri, O. flexuosum e O. pratextum, Pleurothallis pubescens e P. saurocephala, dentre outras.

Cattleya warneri
Epidendrum nocturnum
Hadrolaelia perrinii
Hadrolaelia purpurata
Hadrolaelia purpurata
Hadrolaelia purpurata
Hadrolaelia tenebrosa
Hadrolaelia purpurata
Isabelia pulchella
Isabelia pulchella alba
Leptotes bicolor
Maxillaria schunkeana
Miltonia clowesii
Myoxanthus exasperatus
Oncidium praetextum
Pleurothallis saurocephala

Também muito relevante para a composição do acervo atual do orquidário foi a doação anônima de uma orquidófila residente em Juiz de Fora, no final do ano de 2021, contando com diversos híbridos de intenso e variado colorido, espécies de Cattleya (como C. amethystoglossa, C. guttata, C. intermedia e C. walkeriana), várias espécies de Bulbophyllum (como B. frostii e com destaque para a singular B. medusae), Dichaea pendula, Hoffmannseggella milleri, Isabelia virginalis, Octomeria diaphana, além da interessantíssima Angraecum sesquipedale, a conhecida “orquídea de Darwin”.
Complementando a coleção estão plantas provenientes de um resgate realizado entre julho de 1996 e junho de 1997 na região sob influência direta da implantação da Usina Hidrelétrica de Mello no Ribeirão Santana (município de Rio Preto-MG), além de exemplares de projetos de pesquisa de docentes e discentes vinculados à UFJF nos últimos anos.
Destacam-se exemplares de Bifrenaria harrisoniae, Bifrenaria inodora e Bifrenaria tetragona, Bulbophyllum exaltatum e B. micropetaliforme, Campylocentrum pauloense, Catasetum cernuum, Cattleya bicolor, Elleanthus brasiliensis, Encyclia patens, Epidendrum ramosum e E. secundum, Eurystyles actinosophila, Gomesa recurva, Grobya amherstiae, Isochilus linearis, Maxillaria ochroleuca, M. rufescens e M. subulata, Octomeria grandiflora, Pleurothallis auriculata e P. grobyi, Polystachya estrellensis, Stelis aprica, S. argentata e Stelis papaquerensis, Xylobium undulatum, dentre outras.

Angraecum sesquipedale
Bifrenaria harrisoniae
Bifrenaria tetragona
Bulbophyllum frostii
Bulbophyllum medusae
Bulbophyllum micropetaliforme
Campylocentrum pauloense
Cattleya bicolor
Cattleya walkeriana
Isabelia virginalis
Isochilus linearis
Maxillaria rufescens
Octomeria diaphana
Octomeria grandiflora
Xylobium undulatum
Trigonidium latifolium

Essa diversificada composição de plantas, compreendendo tanto as mais ornamentais, quanto as micro-orquídeas e aquelas conhecidas pelos orquidófilos como botânicas, representam pouco mais de 100 táxons predominantemente da Floresta Atlântica, mas também com representantes da Amazônia e Cerrado, além de algumas espécies exóticas (sobretudo asiáticas) e diversos híbridos artificiais (em sua maioria com espécies de Cattleya como base).
Mas, talvez o(a) leitor(a) mais atento(a) esteja se perguntando... Por que, com tudo o que foi exposto até esse ponto do texto, foi afirmado no início que a criação do orquidário não representa apenas motivo de alegria?
Uma das razões é a falta de colaboração e educação e o desrespeito de alguns visitantes do Jardim Botânico.
Infelizmente o telado onde ficam as orquídeas não é aberto à visitação, pois não há confiança de que as pessoas irão apenas admirar e/ou fotografar as belas plantas expostas.
Logo após o início da coleção, como experiência, as plantas floridas eram levadas para lugares específicos nos canteiros onde ficam as bromélias para que o público tivesse acesso mais próximo à exuberância e perfume de suas flores, mas flores e mudas foram retiradas de seus vasos, inviabilizando essa exposição. Assim, atualmente, as plantas podem ser vistas apenas através da grade de proteção do telado, próxima da qual foi preparada uma bancada onde são dispostas aquelas que estão floridas no período, sendo realizado um revezamento contínuo.
Novamente o(a) leitor(a) pode levantar uma questão. Mas basta colocar algum funcionário na entrada ou para acompanhar os visitantes... E tal questionamento nos leva a um segundo motivo de não ser apenas alegria a criação de tal coleção.
A falta de investimento que assola as instituições de ensino e pesquisa (bem como a ciência de modo geral) no Brasil, nos cinco últimos anos, torna isso impossível. Não há funcionários disponíveis para tal função. Mal existe funcionário para a manutenção periódica da coleção (a qual é feita predominantemente por trabalho voluntário de algumas pessoas) e não há sequer recurso para que ela seja feita de forma adequada, o que torna a sua existência algo praticamente inviável a longo prazo, caso não seja revertido o cenário atual em um futuro próximo.
Apesar de tudo, seguimos firmes no trabalho e com a intenção de que essa se estabeleça como importante coleção de plantas no estado de Minas Gerais, abarcando tanto o lado científico e de conservação ex situ  da nossa tão ameaçada biodiversidade, quanto cumprindo seu relevante papel no viés de atração e educação do público em geral, sempre na esperança de que dias melhores venham para que possamos manter vivo o sonho de mais de cem anos de estabelecimento de um orquidário público em Juiz de Fora, idealizado por Hoehne no início do século XX.

Agradecimentos

Agradecemos à senhora Rosário Braga pela doação das plantas que possibilitaram o início do orquidário e a senhora anônima que também doou diversas plantas que hoje compõem a coleção. Sobretudo, agradecemos ao trabalho voluntário de Silvia Lucia Menini de Oliveira e José Afonso de Oliveira que desde julho de 2020 (em conjunto com os autores) vêm auxiliando na manutenção da coleção, além do cuidado dispensado pelo jardineiro Sr. Manoel, desde o início de 2022.