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Entrevista
com Jean-Michel Hervouet
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Jean-Michel Hervouet é vice-presidente da SFO (French
Orchid Society), já publicou cerca de 20 relatórios
de viagens em torno do mundo na revista « L’Orchidophile
».
Ele é engenheiro pesquisador senior da Cia. Electricité
de France e é também professor de fuídos
mecânicos.
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ON: Jean-Michel
Hervouet, há quanto tempo o senhor vem se dedicando ao estudo
das orquídeas?
JMH: Minha primeira foto de uma Ophrys data
de maio de 1978, eu comprei meu primeiro livro para descobrir qual a
espécie, depois um segundo e, 27 anos, tenho uma boa biblioteca
mas que não é ainda suficiente.
ON: O senhor viaja com freqüência, para conhecer habitats?
JMH: Muito, atualmente faço de 3 a 4 viagens
por ano, seja de férias, seja aproveitando a oportunidade de
encontros científicos de meu trabalho. Toda primavera, eu visito
a costa e as ilhas do Mediterrâneo, este ano foi Turquia e Portugal
e faço também uma viagem maior, como Madagascar, sudeste
asiático ou América.
ON: O senhor visitou o monte Roraima, situado principalmente na Venezuela
e que se estende até a Guiana e o Brasil. O que o senhor poderia
nos dizer desta experiência?
JMH: Era um sonho muito antigo visitar o “o
mundo perdido” que inspirou o livro de Arthur Conan Doyle e sobretudo
porque eu havia lido o livro de G.C.K. Dunsterville : “Orchid
hunting in the lost world”. Estar ao pé do monte Roraima
é uma experiência marcante, você vê 600m de
penhasco e fica se perguntando qual será o caminho para se chegar
lá em cima.
ON: Quais os tipos de habitats da savana (Gran Sabana) o senhor visitou?
JMH: Os habitats ao pé de tepuis são
formados de florestas ombrófilas e savanas. Em outubro e novembro,
eles são mais secos, com poucas orquídeas. Nós
pudemos ver pseudobulbos de Catasetum mas nenhum em flor. Há
também algumas áreas pantanosas onde Schomburgk descobriu
a planta carnívora Heliamphora nutans, considerada endêmica
para aquela região, sem mesmo escalar o monte Roraima.
ON: O senhor explicar exatamente o que quer dizer Tepuis?
JMH: Tepuis são terras altas com um formato
semelhante a uma mesa, em geral circundado por penhascos, composto de
rochas muito antigas do período précambiano, na verdade,
estão entre as rochas mais antigas do planeta: 1,7 bilhões
de anos. Existem cerca de 100 tepuis no estado de Bolivar, na Venezuela.
O topo do monte Roraima é coberto arenito muito antigo onde fósseis
remanescentes dos antigos lagos ainda são visíveis.
ON: A maior queda d’água do mundo é encontrada naquela
região, Salto Angel, mas não é a única.
O que o senhor poderia dizer sobre os rios, quedas d’água
e o sistema de chuvas? Qual o papel deles na ocorrência das orchidaceae?
JMH: Quando se vê o rio Kerepacupai caindo
no Salto Angel, percebe-se quão grande Auyantepui é. Ele
é tão grande (700 km²) com cânions tão
grandes que, próximo ao rio Carrão, dão a impressão
de que existem diversas montanhas. O monte Roraima é continuamente
molhado pela chuva, pelo menos cada vez que estrangeiros pisam no lugar,
como diz a lenda. Ele é, obviamente, um lugar muito adequado
para as orquídeas. Do topo do monte Roraima, você pode
ver o duplo tepui, Kukenan, com uma surpreendente queda d’água
de 600 m. Entre Roraima e Kukenan, existe um desfiladeiro estreito que
atrai chuvas pesadas, devido à baixa pressão associada
ao efeito “Venturi”. Está sempre encoberto pelas
nuvens e deve ser um habitat muito específico e muito rico em
orquídeas.
ON: De uma maneira geral, costuma-se dizer que esta região possui
dois tipos de vegetação, acima de 1.000m, a Floresta Amazônica
densa (que é similar ao meio ambiente encontrado no sudeste do
Brasil) e refúgios ecológicos encontrados aproximadamente
a 2.500m, ricos em orchidaceae e de penetração
é difícil. O senhor falou que os biótipos dos tepuis
são muito pobres. Que tipo de vegetação vocês
encontraram na região que visitaram?
JMH: No topo do Monte Roraima, você vê,
na maioria das vezes, rochas negras e pequenas amostras de vegetação,
plantas carnívoras e orquídeas e também uma família
específica, Rapateaceae, com o gênero Stegolepis
descoberto lá por Imthurn. Nós, na verdade, encontramos
apenas algumas orquídeas no topo, comparado com a rica flora
da densa floresta no caminho da subida.
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ON:
Em que tipo de habitat, vocês encontraram Pleurothallidinae,
num ambiente muito úmido? O topo do Monte Roraima também
é coberto pela neblina?
JMH: Nós encontramos muita Pleurothallidinae
perto do acampamento, especialmente Pleurothallis fritzii,
Myoxanthus simplicicaulis, Stelis alata, Scaphosepalum breve e
Trichosalpinx memor, bem junto a um pequeno arroio.
Era na beira da floresta escura e densa.
Entretanto elas eram tão pequenas que só as podíamos
ver se parássemos e olhássemos por um certo tempo,
assim, certamente, nós deixamos de ver muitas delas no
caminho.
Também encontramos Masdevallia picturata na entrada
de uma caverna no topo, aparentemente era uma lugar muito seco
mas provavelmente vaporizado pela chuva quando o vento sopra ou
seja, com freqüência.
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Masdevalia
picturata
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ON: E o Phragmipedium?
JMH: Phragmipedium lindleyanum é
facilmente visível no começo do caminho da subida para
o Monte Roraima, junto com Habenaria ernestii. Nós vimos
muitos na Serra de Lema, partindo de Puerto Ordaz, junto com Selenipedium
steyermarkii e Brassia bidens.
ON: Quantas espécies e gêneros vocês tiveram a oportunidade
de ver na região?
JMH: Em duas semanas, nós vimos 75 espécies
de orquídeas, isto é bastante extraordinário, só
tivemos o mesmo escore no famoso Monte Kinabalu em Bornéu. Algumas
poucas espécies ainda não foram identificadas. Por exemplo,
nós temos uma misteriosa desconhecida orquídea do topo
do Monte Roraima. Parece não ter folhas e não temos nem
idéia do gênero, se alguém entre seus leitores tiver
uma idéia ...
ON: Quais são os seus próximos projetos?
JMH: Uma viagem para Madagascar em outubro e novembro
deste ano, para subir o Monte Marojejy que um habitat muito raro e preservado
numa altitude de 2000 m. Eu gostaria de voltar ao Brasil e à
Venezuela e subir o famoso Pico da Neblina. Este é outro sonho
muito antigo.
ON: Muito obrigada, Jean-Michel Hervouet.
Orquídea
desconhecida do Monte Roraima
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Epidendrum
jajense
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Octomeria
connellii
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Fotos de Jean-Michel
Hervouet
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