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Baptistonia
e o bioma Mata Atlântica
Vitorino Paiva Castro ON:
O senhor poderia nos falar um pouco sobre o assunto de pôster
apresentado em Dijon?
VPC: O assunto enfocado neste pôster foi o gênero Baptistonia e o Bioma "Mata Atlântica". Mais precisamente a evolução do bioma Mata Atlântica durante a primeira era glacial, quer dizer, 100.000 anos, acontecimentos geológicos, variações climáticas e fatos que evidenciam esta evolução. O gênero Baptistonia é um dos gêneros, entre outros, que caracteriza esta evolução. Os aspectos morfológicos e as seqüências do DNA mostram as séries de diferenças entre este gênero e as espécies do gênero Oncidium. Esta apresentação incluiu o status atual das espécies e sinônimos e uma proposta de classificação das espécies em sub-gêneros e seções, a distribuição geográfica, o clima e o cultivo. ON: Quer dizer que o senhor considera Baptistonia como um bom exemplo de gênero endêmico para o bioma "Mata Atlântica". Até recentemente, o gênero era considerado como monoespecífico (Baptistonia echinata Barb. Rodr.), mas o senhor está falando de classificação de espécies o que é uma coisa inteiramente nova. VPC: Guy Chiron e eu fizemos um estudo sistemático que resultou na transferência de espécies do gênero Oncidium da seção Walueva e uma espécies da seção Crispa (Oncidium sarcodes) para Baptistonia. ON: Atualmente qual são as espécies classificadas neste gênero? VPC: O gênero ainda está sendo estudando não havendo ainda uma lista definitiva. De acordo com o trabalho publicado, elas são: Baptistonia albini, ×amicta, brieniana; ×cassolana; cornigera; cruciata; echinata; fimbriata; gutfreundiana; kautskyi; leinigii; lietzei; nítida; pabstii; pubes; pulchella; remotiflora; riograndensis; sarcodes; silvana; truncata; velteniana; verrucosissima; widgrenii. Entretanto, alguns nomes podem ainda cair para a sinonímia num próximo trabalho. ON : Qual a distribuição geográfica do gênero? VPC : Este gênero é endêmico para o bioma “Mata Atlântica” e ocorre no Brasil (desde o sul do estado da Bahia até o Rio Grande do Sul) e também em matas de galeria no norte da Argentina e do Paraguai. ON: Além de Baptistonia, quais são os outros gêneros endêmicos para este bioma? VPC: Pseudolaelia, Sophronitis, Sophronitella, Isabelia, Constantia, Pigmaeorchis, Leptotes, Loefgrenianthus, Hoffmannseggella, Dungsia, Hadrolaelia, Microlaelia, Cattleya (bifoliadas), Grobya, Promenaea, Cirrhaea, Pabstia, Neogardneria, Hoehneella, Bifrenaria (com exceção de duas espécies), Gomesa, Binotia, Rodrigueziella, Zygostates, Centroglossa, Sanderella, Ornithophora, Rodrigueziopsis, Chytroglossa, Platyrhiza, Thysanoglossa, Saundersia. ON: Neste trabalho, foi usada uma ferramenta que é raramente usada para o estudo das orquídeas. Que ferramenta é esta e quais são, de uma maneira geral, as ferramentas requeridas para se obter um bom conhecimento? VPC: Um bom conhecimento sobre o reino vegetal e especialmente sobre as orquídeas requer muitas informações. Algumas delas já são usadas desde há muito tempo, tais como caracteres morfológicos, clima, altitude e outras só passaram a ser utilizadas recentemente como a seqüência de DNA desde os anos 80 e principalmente nos anos 90. Entretanto, existe uma outra informação, raramente utilizada, que tem se revelado bastante útil para o conhecimento das orquídeas, o estudo da evolução das plantas relacionado à cronologia geológica, à formação dos continentes e eventos geológicos e climáticos que a flora e fauna tiveram que enfrentar no decorrer dos tempos. ON: Com esta ferramenta ou informação, como o senhor disse, é possível determinar a data de origem das orquídeas? VPC: Não há uma data exata para a origem das orquídeas porque como elas não tem estruturas lignosas, se decompondo com facilidade, não deixando resíduos fósseis. Entretanto pode-se perceber a existência de espécies comuns para alguns continentes como a Eulophia alta, comum ao continente africano assim como ao americano ou mesmo determinar gêneros que são pan continentais como Bulbophyllum e Habenaria. ON: Qaul é a explicação para a distribuição de Eulophia alta? VPC: A hipótese de difusão por sementes em função ao comércio entre a América e a África desde o século XVI não nos parece muito convincente. Então, se admitimos que o antigo continente Gondwana, formado pelas placas tectônicas das atuais América do Sul, África, Madagascar, Índia, Austrália e Antártica, pode-se supor que as orquídeas, pelo menos as terrestres, já existiam no tempo da ruptura e separação da América do Sul da África, há cerca de 150-130 milhões de anos.
ON: Muito obrigado Vitorino Paiva. |
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