Foto/Photo: Sergio Araujo  


  ON: Sr. Waldemar, o senhor participou da nossa última edição, no tópico "Cultivadores", onde ficamos sabendo um pouco sobre sua vida profissional e sobre como se apaixonou pelas orquídeas.
  Na entrevista, o senhor nos falou de sua preferência pela Cattleya maxima, de seu sucesso com Phaius tankervilleae e o Phragmipedium longifolium, de seu segredo na adubação, enfim um pouco de seu cultivo ao longo de 57 anos. Agora, gostaríamos de continuar nossa conversa, com um pouco mais de espaço, falando um pouco mais sobre tudo isto e principalmente abordando o tema da orquidofilia de uma maneira geral.
Apenas por curiosidade, por que o senhor deu R$ 700,00 numa planta? Ela era tão bonita assim?


WS: - Ah! aquela loucura!! Foi por que eu me encantei pela planta. Uma Cattleya schilleriana coerulea não se encontra todo dia. Valeu a pena pois durante alguns anos, eu usufrui dela. Essa espécie floresce também em Petrópolis.
  A Quinta do Lago trouxe numa exposição uma touceira de Cattleya schilleriana que era uma beleza, uma coisa que nunca vi igual. Mas isto não acontece todo dia.
Por exemplo, aquela touceira de
Calista densiflora
(Dendrobium densiflorum) levou anos para dar esta floração.



ON: Há quanto tempo o senhor tem essa planta?

WS: Desde 1983.
Só floriu agora, no ano passado com 46 hastes. Levou 18 anos para florir.
Eu tenho outros que florescem lá todo o ano.
Calista densiflora (Dendrobium densiflorum). Foto/Photo: Waldemar Scheliga

  ON: Mas não com 46 hastes?

WS: Não. Eu tenho também o Dendrobium thyrsiflorum. Há alguns anos atrás, eu ainda estava na ativa, ainda tinha carro e levei para uma reunião da OrquidaRIO. Todo mundo gostou, todo mundo queria uma muda.

ON: O que leva uma pessoa esperar 18 anos por uma floração, é teimosia?

WS: É teimosia ou então aquela esperança, vamos esperar pelo ano que vem, vamos ver...
Mas tão cedo não vai ter outra vez. Este ano, o que vai florir bem lá em Petrópolis é a Coelogyne cristata. Ela gosta de frio, nestes anos que tivemos um inverno mais quentinho, não floriu. Agora, já floriu que é uma beleza.


ON: O senhor acha que a Calista densiflora só floresce no frio?

WS: Gosta de frio e não gosta de muito sol não, gosta de uma sombrinha. Tenho também o Dendrobium fimbriatum que floresce bem. Todos eles são plantados em vasinhos deste tamanho, fica com as raízes para fora, ao invés de reenvasar, eu coloco dentro de uma vaso maior e assim vai. Tem planta que está dentro de 3, 4 vasos, cada vez maiores. Dendrobium não gosta de vaso grande, largo. Mas a questão é que ela cresce muito, fica nesta altura, o vaso pequeno embaixo não sustenta, perde o equilíbrio.
  ON: Matando um pouco a curiosidade com relação ao seu cultivo. A Acacallis cyanea, o senhor cultiva aqui no Rio. E Acineta e Aerangis?

WS: Estas duas, lá em cima.
 

ON: E o Arpophyllum?

O senhor acha que aqui embaixo,

em clima quente, não floresce bem?



WS: Não dá bem, tem inclusive no

Jardim Botânico.

Dá uma hastezinha desta tamanho,

uma florzinha vagabunda.

arpophillum spicatum: Foto/Photo: Sergio Araujo
 
ON: O que o senhor tem de mais raro na sua coleção?

WS: É Cattleya maxima que não se encontra a toda hora numa coleção.

ON: É raro vermos até em exposição. Mas a Lycaste matogrossensis também não é muito comum...

WS: Eu tenho um híbrido muito bonito. Onde eu comprei, não conheciam a combinação mas depois eu descobri. Lycaste Lucianii, Lycaste lasioglossa x L skinneri. É muito bonita, a flor é grande, é bonita mesmo. Tenho a Lycaste cruenta. Mas as mais bonitas para mim, sempre achei e ainda acho, a Cattleya maxima e a Laelia purpurata carnea. Esta eu tenho três vasos, assim desta altura, dá cada cacho bonito mesmo.

ON: Mas a Laelia purpurata o senhor cultiva em Petrópolis?

WS: Sim, cultivo lá. Agora eu tive um problema sério com a mosca da Cattleya. É um praga. O ciclo é de 6 meses. E o único jeito é não deixar haver novas reproduções.


ON: Sr. Waldemar, antes do senhor começar a diminuir suas plantas, como o senhor já disse, qual era o tamanho de sua coleção?

WS: Sempre mantive mais ou menos a mesma quantidade que tenho agora, pois quando atingi esta quantidade eu parei.
  Quer dizer, eu me desfaço de umas, mas depois multiplico porque se desenvolvem muito bem lá .
É a tal coisa: eu quero diminuir e não posso. Automaticamente vai aumentando e eu fico com pena de jogar fora. Agora, por exemplo, vendi para o Maurício, do orquidário Binot, os Phaius e uma quantidade enorme de Coelogyne, Potinara, tudo o mais e tal.
Eu não agüento, pois não tenho mais condições de estar tão presente. Toda vez que chego lá, no fim de semana, tenho que reenvasar plantas e acaba me dando dor nas costas.
Não dá! Elas se multiplicam muito. A Coelogyne então é uma coisa louca.

Gongora pleiochroma. Photo/Foto: F. Miranda

  Pão de Açucar. ON: A partir do momento que seu interesse foi despertado, como se iniciou o aprendizado ? Como chegou a esse grande conhecimento que o senhor possui hoje? O senhor pertenceu à Sociedade Fluminense de Orquidófilos?

WS: À Sociedade Fluminense não pertenci não. Num dado momento, eu entrei para a S.B.O. (Sociedade Brasileira de Orquidófilos) e ali comecei a ter mais contato com outros orquidófilos e fui desenvolvendo, aos poucos, o meu conhecimento sobre o assunto.
Mas chegou a um ponto em que acabamos ficando um pouco aborrecidos com a diretoria. Ela já estava há oito anos no poder, por assim dizer, e estava relaxando demais, estava pouco interessante. Não estava servindo para instruir os companheiros, enfim.
Uma vez, por exemplo, decidiram trazer um filme americano sobre floresta de pinheiros. Qual o interesse que tinha isto para nós? Por estas razões, um grupo de 37 sócios, inclusive eu mesmo, resolveu que na próxima eleição iríamos eleger uma nova diretoria.
  Chegamos a fazer uma chapa chamada "Renovação" e o Zico da Florália também fazia parte. A tal diretoria acabou fazendo uma tramóia e marcou a assembléia para as 8:00 h. Eles chegaram lá mais cedo, fizeram a votação e ganharam por 2 votos. Estes dois votos foram justamente de dois companheiros que roeram a corda na última hora. Assim não conseguimos fazer a nossa diretoria. Ficamos meio jururus e fomos todos para o Bar Luiz, tomar um chope para esquecer as mágoas.
Ali mesmo resolvemos fazer uma nova sociedade e fizemos. Ali mesmo ficou resolvido.
  ON: Aí nasceu a OrquidaRIO? Em que ano aconteceu isto?

WS: Foi em 1986. A OrquidaRIO nasceu praticamente no Bar Luiz. Tomando chopp e comendo salada de batata.
As primeiras reuniões foram feitas na chácara do Luiz Clemente Ferreira de Souza, um dos companheiros que tinha uma chácara na Ladeira Novo Mundo, entre Laranjeiras e Botafogo. Depois, mais tarde, passamos para a rua Sorocaba, no colégio Tico Tico. Sentávamos em banquinhos pequenininhos.
Estivemos alguns anos lá. Esta escola pertencia à mãe do Carlos Eduardo de Britto Pereira. Não se pagava nada, era tudo de graça.
Resolvemos, então, fazer uma sede própria.
Chegamos a negociar com os bombeiros um terreno que tem ali em Copacabana, onde tem um bosquezinho lá, não estou me lembrando do nome da rua, é perto da Praça Cardeal Arcoverde, onde hoje tem a estação do Metrô. Chegamos a tratar com o Governo e eles permitiram fazer uma construção para o orquidário e uma sede, mas faltou dinheiro. Ninguém tinha dinheiro e era muito difícil encontrar patrocinadores pois era uma obra muito cara.
Acabou morrendo a idéia. Não se fez mais nada.


ON: Quem participava da sociedade na época em que o senhor entrou?

WS: O Zico, o Jorge Verboonen, o Exdras Porto... Esta turma toda. O Exdras Porto e o Jorge Verboonen foram os últimos acionistas da S.B.O.




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