Com 56 hectares, correspondendo a 1/3 da área total da Ilha Grande, o Parque Estadual da Ilha Grande foi criado em l971, visando a preservação dos recursos naturais e o incentivo ao turismo.
A Universidade do Estado do Rio de Janeiro- UERJ vem desenvolvendo um grande projeto com o objetivo de promover o entrosamento entre a Universidade e a comunidade local e despertar a comunidade para a conscientização para valorização da cidadania, para a preservação do meio
  CEADS
ambiente e para a importância do desenvolvimento sustentável. Para tanto implantou o Centro de Estudos Ambientais de Desenvolvimento Sustentado – CEADS que congrega diversos projetos ambientais em áreas diversas de conhecimento: Antropologia, Botânica, Ecologia, Educação Ambiental, Educação em Saúde, Engenharia de Pesca, Farmacologia, Geociências, Nutrição, Oceanografia, Sociologia, Zoologia.
E é no domínio da Botânica que o Herbário Bradeanum se insere neste importante projeto com a realização de pesquisas da Flórula da Vila Dois Rios.

  Projeto
(Condensado baseado em entrevistas, relatório e cartazes fornecidos pelo Herbário Bradeanum).


Apesar da vegetação da Serra do Mar, que circunda a baía da Ilha Grande, possuir alta diversidade e elevado número de espécies endêmicas e/ou ameaçadas de extinção e ser considerada como um dos centros brasileiros de diversidade de plantas reconhecidos pela WWF – World Wide Found For Nature e IUCN – The World Conservation Union, a importância deste fato não se traduz pela representação destas espécies em nossos herbários.
  Vista da região O projeto do levantamento da Flórula da Vila Dois Rios traz uma grande contribuição ao estudo da flora local preenchendo assim esta lacuna e tem como objetivos o inventário da flora remanescente de Mata Atlântica de encosta do Parque Estadual da Ilha Grande, a ampliação do conhecimento e conservação da sua composição florística, a identificação de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção. Dando, desta maneira, continuidade aos estudos que vêem sendo realizados pelo Herbarium Bradeanum sobre a família orchidaceae há quase
  cinqüenta anos, além de ampliar o acervo da flora do estado do Rio de Janeiro, do Herbário Bradeanum e do Herbário da UERJ.
Para a concretização destes objetivos, tornou-se necessário o pleno conhecimento da flora através de coletas e estudos taxonômicos das diversas famílias botânicas que constituem o Parque.
A Ilha Grande, localizada no Município de Angra dos Reis, com sua vasta vegetação da Mata Atlântica, é considerada um santuário ecológico e é a maior ilha do estado com cerca de 190km² . O clima da região é quente e úmido, sem estação seca e a temperatura média anual é de 22,5ºC, com a máxima média de 25,7º, em fevereiro e a mínima média de 19,6º, em julho.
Seu relevo é acidentado onde se destacam o Pico do Papagaio, a 959m de altitude e Serra do Retiro, a 1031m.
Era, primitivamente, totalmente coberta por floresta tropical pluvial (Mata Atlântica) desde o nível do mar até os pontos culminantes.
Em função dos diversos ciclos pelos quais passou desde a época colonial (café, cana de açúcar e outros), a vegetação da ilha faceando o continente se encontra em estado de degradação.
Os pontos mais altos foram mais preservados por serem mais inacessíveis e a partir destes remanescentes, a vegetação pode se recompor sendo que as matas da vertente sul e do centro geográfico foram melhor preservadas. Apesar de tudo, a ilha representa, hoje, uma das poucas áreas extensas de floresta ombrófila densa do Estado do Rio de Janeiro em diferentes estágios de conservação. É nesta área de confluência entre estas regiões que se localiza do Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – CEADS-UERJ, onde o Herbário Bradeanum, em parceria com do Departamento de Biologia Animal e Vegetal, desenvolve o Projeto da Florula da Vila Dois Rios.



Embrapa-Monitoramento por Satélite

No lado oceânico da ilha, na face sudeste, em área do Parque Estadual, está localizada a reserva da Vila Dois Rios ladeada pela desembocadura dos rios Barra Grande e Barra Pequena.
  É lá que se encontram as ruínas da extinta colônia penal Cândido Mendes, não sendo permitidas novas edificações. Esta área apresenta vegetação de Floresta Atlântica de encosta, em diferentes estágios de conservação, com a ocorrência de mata primária em áreas de difícil acesso situadas a 240m. A formação florestal, apesar de praticamente contínua, recebe nomes distintos de acordo com a topografia e pontos de referência: Represa da Mãe d’Água, Caxadaço, Parnaióca e Jararaca.
Apesar da construção do presídio ter levado muita modificação para a ilha com o deslocamento de populações, tráfego de veículos na trilha da Parnaióca sobretudo caminhões, introdução de espécies exóticas, plantações grandes, houve uma contrapartida positiva no que diz respeito, principalmente, à especulação imobiliária.
De um certo modo, a ilha ficou preservada, mantendo afastado o processo imobiliário de construção de hotéis, dos anos 70/80.
Quando o presídio acabou, já havia uma certa consciência ambiental e já existiam planos de unidades de preservação,

Praia de Dois Rios
  formando corredores biológicos até o sul do País. Atualmente, não há muitos moradores e eles estão bem envolvidos na preservação da ilha.
A Mata da Jararaca (com 240m de altitude) é uma mata primária, localizada em áreas mais elevadas com poucas intervenções antrópicas e é a mais rica em epífita. Apresentando assim melhor estado de conservação com dossel variando entre 25 e 30m, com muitas árvores com diâmetro de até 1.20m e camada de folhiço profunda de até 120mm. É uma área de acesso restrito, com muitos mananciais que abastecem a Vila, onde só podem entrar pessoas credenciadas com licença da UERJ.
A vegetação próxima à região conhecida como Cachoeira da Mãe d’Água foi removida durante a implantação da Colônia Penal para permitir o acesso de veículos. Com a retirada da colônia, há pelo menos 25 anos, esta área iniciou seu processo de regeneração, apresentando, atualmente, uma floresta secundária rica em epífitas, com espécies variando de 12 a 15m de altura.
A floresta secundária predomina em regiões como a Parnaióca e o Caxadaço onde o sub-bosque é denso, predominando uma mata com um emaranhado de muitas trepadeiras finas e um número reduzido de epífitas, com exceção de alguns pontos mais para o interior onde podemos encontrar verdadeiros recantos destacando-se uma vegetação muito rica em epífitas caracterizando-se bem floresta ombrófila densa ou Mata Atlântica. Além disto, em muitos pontos da mata, geralmente em direção às praias e cachoeiras, por onde trafegam turistas, encontram-se algumas áreas degredadas invadidas por uma espécie de pteridófita.
A Mata do Caxadaço está em regeneração há, aproximadamente 50 anos.



Nascer do sol na Vila Dois Rios

ESPÉCIE
HÁBITO VEGETATIVO
LOCAL ENCONTRADO
01
Aspidogyne argentea (Vell.) Garay Terrestre Caxadaço
02
Aspidogyne fimbrillaris (B.S. Wms) Garay Terrestre Jararaca
03
Cattleya forbesi Lindl. Epífita/rupícola Caxadaço, Mãe d’Água
04
Cattleya guttata Lindl Rupícola Trilha–Parnaióca
05
Cirrhaea dependens Rchb f. Epífita Jararaca
06
Cleistes macrantha (Barb. Rodr.) Schltr. Terrestre Mãe d’Água
07
Cleistes sp. Terrestre Estrada Abrahão
08
Cochleanthes wailesiana (Lindl.) Schultes & Garay Rupícola Mãe d’Água
09
Cyclopogon venustus (Barb. Rodr.) Schltr. Terrestre Trilha Jararaca
10
Dichaea cogniauxiana Schltr. Epífita Trilha Jararaca e Mãe d’Água
11
Dichaea mosenii Cogn. Epífita Trilha Jararaca
12
Dichaea pendula (Aubl.) Cogn. Epífita Trilha Jararaca eMãe d’Água margem Rio Andorinha
13
Elleanthus brasilienis Rchb. f. Epífita/rupícola Jararaca e Mãe d’Água
14
Epidendrum filicaule Lindl. Rupícola Jararaca e Mãe d’Água (represa)
15
Epidendrum fulgens A Brogn. Terrestre Parnaióca
16
Epidendrum latilabre Lindl. Epífita Mãe d’Água(margens)
17
Epidendrum proligerum Barb. Rodr. Epífita Mãe d’Água(represa e queda)
18
Epidendrum ramosum Jacq. Epífita e Rupícola 100msm Jararaca (ep.) e Mãe d’Água(represa) (rupícola.)
19
Epidendrum rigidum Jacq.
Epífita Cume de afloramento rochoso e Cavalinho
20
Epidendrum rodriguesi Cogn. Epífita Jararaca
21
Epidendrum denticulatum Barb. Rodr. Rupícola Cume de afloramento rochoso e Cavalinho
22
Epidendrum paranaense Barb. Rodr. Epífita Jararaca
23
Erythrodes arietina (Rchb. f. & Warm) Ames Terrestre Jararaca e Parnaióca
24
Erythrodes cotyledon Wawra Epífita Mãe d’Água
25
Gomesa crispa (Lindl.) Akl. & Rchb. f. Epífita Jararaca e Mãe d’Água
26
Habenaria leptoceras Hook Terrestre Mãe Mãe d’Água (represa)
27
Huntleya meleagris Lindl. Epífita Jararaca (trilha)
28
Liparis nervosa (Thunb.) Garay Terrestre Jararaca e Caxadaço
29
Malaxis parthoni C. Morr. Terrestre Mãe d’Água
30
Masdevalli infracta Lindl. Rupícola Mãe d’Água (rocha-100msm)
31
Maxillaria brasiliensis Brieg & Illg. Epífita Caxadaço
32
Maxillaria marginata Fenzl. Rupícola Mãe d’Água
33
Maxillaria rufescens Lindl. Epífita Mãe d’Água (abaixo da Cachoeira)
34
Maxillaria sp (Ornthidium) Epífita Mãe d’Água
35
Miltonia spectabilis Lindl. var. moreliana Epífita Jararaca
36
Myoxanthus punctatus (Barb. Rodr.) Luer Epífita e terrestre Trilha Jararaca e Mãe d’Água
37
Octomeria grandiflora Lindl. Epífita Jararaca, Rio e Mãe d’Água
38
Octomeria cf. stellaris Barb. Rodr. Epífita Mãe d’Água
39
Octomeria cf. bradei Schltr. Epífita Mãe d’Água
40
Octomeria grandiflora Lindl. Epífita Mãe d’Água e Jararaca
41
Octomeria cf. grandiflora Lindl. Epífita  
42
Octomeria cf. bradei Schltr. Epífita Mãe d’Água
43
Oeceoclades maculata (Lindl.) Lindl. Terrestre Parnaióca e Caxadaço
44
Phymatidium tillandsioides Barb. Rodr Epífita Jararaca
45
Pleurothallis grobyi Lindl. Rupícola Mãe d’Água
46
Pleurothallis saundersiana Rchb. f. Rupícola Rocha nas marges da Mãe d’Água
47
Polystachya estrellensis Rchb. f. Epífita/rupícola Mãe d’Água e Parnaióca
48
Prescottia plantaginea Lindl. Terrestre Caxadaço
49
Promenaea stapelioides Lindl. Terrestre Rio das Pedras
50
Prosthechea fragrans (Sw.) W.E. Higgins Rupícola Parnaióca
51
Prosthechea vespa (Vell.) W.E. Higgins Rupícola Mãe
52
Prosthechea pygmaea (Hook.) W.E. Higgins Rupícola Represa Mãe d’Água (50msm)
53
Sophronitis cernua Lindl. Rupícola/Epífita Parnaióca
54
Stelis sp. (1) Epífita  
55
Stelis sp. (2) rupícola  
56
Stelis cf. pterostele Hoehne & Schltr. (3) Epífita Jararaca
57
Stelis sp (4) Epífita  
58
Stelis sp. (5) Epífita  
59
Scaphyglottis modesta Schltr. Rupícola Mãe d’Água represa
60
Xylobium variegatum (Ruiz et Pavón) Mansf Epífita Jararaca

 
Prof. Fontella

Este projeto tem a coordenação do Professor Jorge Fontella Pereira, com participação da seguinte equipe:

Leonor Ribas de Andrade – MSc. em Ecologia de Flora e Fauna – Universidade de Brasília
Fernando da Costa Pinheiro – MSc. em Botânica – Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Iranilda Calado Santana - Bióloga. Msc. em Botânica - Universidade Federal do Rio de Janeiro
Miriam Cristina Alvarez Pereira – MSc. em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre - Universidade Federal de Minas Gerais
Leonora Cardim – Estagiária do Herbarium Bradeanum
  Angelo Carrancho Rayol – Estagiário do Herbarium Bradeanum.
Sérgio Gonçalves - Biólogo - espeleólogo e arqueólogo.

  Todas as fotos ©Fernando Pinheiro


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