Pedro Ivo Soares Braga é diplomado em História Natural, com Mestrado em Botânica e Doutorado em Ciências Biológicas.
Profundo conhecedor da flora da região amazônica, onde faz pesquisas desde l974.
Possui uma vasta bibliografia de publicações sobre a flora em geral e, em especial, sobre a família das Orchidaceae.
Sucessivamente, pesquisador e professor no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Professor Titular do Departamento de Botânica, da Universidade de Minas Gerais, posteriormente e até a presente data, Professor Titular do Departamento de Biologia da Universidade Federal do Amazonas em Manaus
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ON: Pedro Ivo, quando e como você começou a se interessar pelo estudo das orquídeas?

PI: Desde pequeno, sempre gostei de natureza, vivia no mato.
A primeira planta que identifiquei foi o café, numa fazenda abandonada em Petrópolis, onde tínhamos uma casa de campo. Meu pai era de Santarém, Pará e falava sempre das coisas da Amazônia. Ele era um homem de ir para o campo, subir em árvores. Minha mãe também sempre gostou muito de plantas. Ela fez um curso no Jardim Botânico de especialização em botânica onde ela estudou Bromeliaceae com o pesquisador Luiz Edmundo Pereira, que era muito amigo do Guido Pabst. Ele foi meu primeiro orientador de orquídeas.
Naquela época, fazia alpinismo e fiquei sabendo através de minha mãe, que, no Jardim Botânico, estavam pesquisando as bromélias e precisavam de pessoas que soubessem escalar para estudar aquelas que ocorriam nas pedras. Eu tinha 16 anos, gostava da aventura. Fui ao Jardim Botânico, mas, naquela época, não aceitavam estagiários da minha idade. Foi uma briga danada, o diretor não queria me aceitar. A Dra. Graziela fez um manifesto "onde já se viu um menino que está interessado em estudar não poder ser abrigado no Jardim Botânico para fazer estágio". Achei muito interessante os pesquisadores me darem toda aquela atenção. Assim foi que estagiei com Dra. Graziela e Dimitri Sucre Benjamin que me forneceram uma sólida formação de laboratório, campo e as bases da investigação científica. Eu comecei a fazer excursões com eles até que ganhei uma Laelia tenebrosa do sr. José Marquete, funcionário do cactário. Foi a minha primeira orquídea e a primeira que eu vi realmente. A planta estava em flor na casa dele, eu a achei estranhíssima, o que me despertou um enorme interesse. Cheguei em casa todo empolgado com a orquídea. Quando me vi, estava totalmente corrompido com aquilo que gostava para o resto da vida. Por outro lado, o meu pai sempre me incentivou muito para tudo aquilo que envolvesse natureza, e, um dia, ele comprou e me deu o livro do Hoehne - Iconografia de Orchidáceas do Brasil, que foi o meu primeiro livro de orquídeas. Eu comecei a ler aquela obra, ler tudo sobre orquídeas, olhar material de herbário no Jardim Botânico, uma coleção poderosa. A coleção do JBRJ foi determinada por Kulmann, Brade, Campos Porto e Pabst, que foi aluno do Brade. Você pode ver a importância de um herbário por quem determinou suas exsicatas (1). Fui vendo o trabalho desses botânicos e cada vez fui gostando mais. Foi no Jardim Botânico, que eu tive toda essa escola.
Com os Profs.Drs. Jorge Pereira Fontella e Pedro Carauta, respectivamente, do JBRJ e Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA), aprendi a entender o Código de Nomenclatura Botânica e como recuperar uma literatura ou informação botânica. Aprendi, também, muitas outras com os demais pesquisadores do JBRJ. Fiquei ali toda minha adolescência até casar.


ON: Qual a sua formação acadêmica?

PI: Sou formado em História Natural, com Licenciatura e Bacharelado.
Na época, ainda não existia o Curso de Ciências Biológicas, até então o curso de História Natural era ministrado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.
Terminada a graduação fiz a pós-graduação “sensu strictu”, primeiramente o Mestrado e em seguida obtive o Doutorado.
Além disso, realizei inúmeras expedições, com diversos botânicos, nos Estados do Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Distrito Federal, e no Panamá. Dentre os botânicos com quem trabalhei cito os Drs. Lyman B. Smith (Bromeliaceae), Pe. Leopoldo Krieger (florística), Carlos Toledo Rizzini (Fitogeografia), Edgard Kuhlmann (Fitogeografia), Gerhard Gottsberger (Monnimiaceae e Biologia Floral), Helen Kennedy (Maranthaceae e Biologia Floral), Robert Dressler (Orchidaceae e Biologia Floral), Tom Sordestron (Gramineae), entre outros, com os quais pude conhecer as diversas facetas da botânica.

ON: Guido Pabst teve uma grande influência na sua paixão por orquídeas, como o conheceu?

PI: Foi justamente no período em que estava estagiando no Jardim Botânico. Ele era fundador do Herbário Bradeanum junto com o Dr. Edmundo e ia lá sempre para se encontrar com ele. Um dia, Pabst me deu uma aula sobre orquídeas e acabou me pegando para filho científico. Como ele estava se transferindo para a Varig de São Paulo, começamos a nos corresponder, eram umas 10 cartas por semana. Ele mandava trabalhos para mim, eu fazia perguntas, e ia aos fins de semana estudar orquídeas na própria casa dele. Saía daqui, do Rio, na sexta e voltava de ônibus na segunda. Foram uns dois anos nessa brincadeira. Acabei publicando meu primeiro trabalho sobre orquídeas antes de terminar a faculdade. Foi a Rodriguezia sucrei, coletada na região de Cabo Frio. Pabst e eu também descrevemos a Rauhiella brasiliensis, que é uma orquídea que foi publicada na Alemanha, um gênero que não é muito conhecido. Depois o Francisco Miranda descreveu outra espécie de Friburgo.


ON: Quando e por que você escolheu a região amazônica para desenvolver seus estudos?


Rio Negro - 1974
PI: Além de meu pai, eu tinha um tio que também contava um monte de “bafos” sobre a Amazônia. Eu tinha que conhecer aquilo de perto, tinha uma atração muito grande.
Em l973, quando terminei minha faculdade, me casei e, no início de l974, fui para lá.

Como bolsista do CNPq, fiz o mestrado e o doutorado, ambos em orquídea. Além do curso propriamente dito, a oportunidade de trabalhar na Amazônia brasileira foi algo fascinante. Terminei o mestrado em l976 e os melhores alunos do curso foram contratados para trabalhar no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA.
Lá eu não podia só ficar com as orquídeas, tinha que fazer levantamento de coleta botânica.
Ainda peguei o final do projeto RADAM na Amazônia e fiquei lá em Manaus, até l985. Empreendi diversas excursões na Amazônia brasileira. Essas viagens serviram para enriquecer meus estudos de taxonomia, sistemática vegetal e fitogeografia.
Essas excursões eram patrocinadas por convênios bilaterais com os Estados Unidos, com a Alemanha, entre outros. Eu ia acompanhando essas expedições e, é lógico, sempre coletando orquídeas.
Em 1979, ano em que teve uma elaboração de uma política florestal para a Amazônia brasileira, atuei como assessor do diretor do INPA para esse assunto, e acabei envolvido com a área ambiental.
Em l982, eu terminei meu doutorado. No mesmo ano fui indicado para coordenador da pós-graduação e ocupei o cargo até julho de l985, quando fiz concurso para a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Naquele período, eu fazia pesquisa e ministrava aulas na pós-graduação, um ano, sim, um ano, não.

Igapó do Rio Negro - 1977

ON: Quer dizer, neste primeiro período você ficou 12 anos na região. Foi nesta época que os pesquisadores Francisco Miranda e Kleber Lacerda foram para lá também?

PI: Quando eu estava terminando o mestrado saiu no jornal a minha defesa de dissertação e comecei a ser procurado por vários orquidófilos e pessoas que gostavam de orquídeas. Eles iam à minha casa ou ao INPA e fui apresentando uns aos outros. Resolvemos criar a Associação de Orquidófilos do Amazonas. Kleber foi o presidente da associação, eu, o diretor científico e João Batista F. da Silva, o nosso secretário. Tínhamos um boletim que era datilografado numa máquina IBM com fita de polietileno, tudo era feito artesanalmente. Não existia computador, nem editor de texto. A impressão era feita na gráfica da Universidade do Amazonas. A Manoela F. F. da Silva foi fazer o mestrado no INPA e o João Batista, seu marido, foi com ela. O Francisco Miranda, por sua vez, foi meu aluno, estagiou comigo em Manaus e o orientei no início do mestrado. Quando eu fui para Minas, ele voltou ao Rio e o Pedro Carauta foi o seu orientador no Museu Nacional, com quem continuou aprendendo nomenclatura e obteve uma excelente formação botânica. Mas, ele já tinha uma base muito sólida, ele é muito bom em orquídeas.


ON: Esse período foi muito rico em termos de pesquisas, até então, não se tinha idéia da quantidade de espécies de orquídeas encontradas da região amazônica.

PI: É, quando cheguei lá, no herbário do INPA, para a área que estudei, tinha 15 plantas. Quando terminei o mestrado, eram 31. No meu doutorado chegaram a 156 espécies de orquídeas da campina, o que representa a metade das orquídeas da Amazônia, com cerca de 300 espécies.

ON: De toda a Amazônia?

PI: É, tem sempre problemas nomenclaturais, sem as sinonímias, chegam a cerca de 400. Mas, penso que esse número deve aumentar, pois estão sendo feitas novas coletas na Amazônia Fitogeográfica.

ON: Chegou um momento onde você voltou para o sudeste.

PI: Minha esposa era mineira e a família sempre pediu nossa volta.
Fiz concurso para UFMG, uma senhora universidade, passei. Mudei-me e cheguei, por concurso público a titular em 92. Ajudei a montar o curso de Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre e estive como chefe do Departamento de Botânica. Na Universidade, não poderia ser só orquidólogo e orquidófilo, porque você é procurado para tudo. Lá eu orientei uma tese com a fitossociologia de plantas do cerrado, outra sobre a fitossociologia dos campos rupestres da Serra do Cipó (financiada pela Fundação Boticário), e outra da biologia floral da Constantia cipoensis (financiada pela Fundação de Amparo a Pesquisa de Minas Gerais - FAPEMIG), na mesma serra.
Fiz um estudo das orquídeas da Serra da Piedade, que não está publicado e publiquei dois livros em co-autoria, um sobre a Serra do Cipó, e outro sobre a Serra da Piedade, onde faço uma descrição de suas vegetações e falo das suas orquídeas. Doamos os direitos autorais do livro da Serra do Cipó para a Fundação Biodiversitas, para ser aplicado na conservação do meio ambiente. Sou um dos fundadores dessa fundação. O livro da Serra da Piedade foi financiado pelas Centrais Elétricas de Minas Gerais (CEMIG).
Trabalhei muito em Caratinga, naquela fazenda onde tem o mono-carvoeiro, fazendo a fitossociologia das árvores de encosta da Mata Atlântica, um trabalho que vamos publicar agora e também a fitossociologia do Parque Estadual do Rio Doce.
Atualmente tenho alunos com doutorado, que hoje são professores: no Paraná; em Minas Gerais, em Ouro Preto e Diamantina; no Rio de Janeiro; na Bahia e em Fortaleza. Tenho filhos científicos espalhados pelo Brasil, sem contar aqueles, que tenho na Amazônia.

ON: Mas você acabou voltando para a Amazônia em 95.

PI: Durante o tempo que fiquei em Minas, sempre continuei ministrando aulas na pós-graduação do INPA, Amazonas. Eu ia e voltava. Quando me separei, decidi retornar para lá. Fui para a Universidade Federal do Amazonas, onde consegui minha redistribuição. Continuei a ministrar aulas, mas, por motivo de saúde, me afastei. Tive um problema de vesícula inflamada, que se transformou numa septicemia. Passei muito mal, quase morri. Este meu sumiço, durante uns tempos, foi devido a esse problema. Por outro lado, quando você volta para um lugar, tem que recuperar todo o seu espaço. Posteriormente, estive como chefe do Departamento de Biologia. Ministrei aulas no curso de pós-graduação em botânica, no mestrado e no doutorado no INPA, onde estou orientando dissertações e teses, não só em sistemática de orquídeas, mas em fisiologia, fitossociologia e biologia reprodutiva. Gosto muito da biologia evolutiva. Hoje, leciono evolução e biologia reprodutiva. Eu uso os vários campos da botânica como ferramentas auxiliares. Não me considero um sistemata clássico, mas um biossistemata. Utilizo todas as técnicas da botânica sistemática e da taxonomia para chegar ao resultado final. Agora, estou entrando na fase do DNA, pois estou trabalhando em colaboração nessa área. Existem muitas brigas nomenclaturais e não gosto de discutir. Conheço muito a nomenclatura botânica e tomo as minhas decisões com cautela, em vez de ficar dando nomes às plantas, ou as sinonimizando sem maiores estudos populacionais.



C. eldorado var. típica

ON: Você poderia falar um pouco sobre as orquídeas da região amazônica? podemos começar com a Cattleya eldorado?

PI: A Cattleya eldorado possui distribuição mais restrita. Ocorre até Barcelos, entretanto, é provável que ocorra até na fronteira com Roraima. Infelizmente nunca coletei ali. Cheguei a coletá-la na área do lago da Hidrelétrica de Balbina onde havia grande ocorrência da referida espécie. Com a formação do lago, extensas áreas de campina foram encobertas pelas águas. Dessa forma muitas orquídeas e epífitas, em geral, morreram. Infelizmente essa Hidrelétrica provocou um grande impacto ambiental e não conseguiu abastecer com energia nem um terço da cidade de Manaus. Foi um impacto muito grande, o custo/benefício que não valeu a pena. Tucuruí valeu a pena, mas Balbina, não.
A Cattleya eldorado é uma planta que fixa gás carbônico no período noturno e

cresce a pleno sol. Ela se desenvolve em árvores onde a água da chuva escorre todinha. Ela gosta da raiz úmida, mas não aprecia ambientes encharcados. Prefere os locais bem iluminados. No cultivo, ela vai muito bem em pedaços de cedro, em cinazita com bastante adubação e em casca de coco, tomando cuidado com a irrigação ou com as chuvas prolongadas.

Cattleya jenmani
Existem dois grupos de Cattleya eldorado: um que ocorre no igapó e outro em terra firme, ambos com épocas de floração diferentes.
Tenho uma suspeita de que algumas populações da Cattleya eldorado possam ter hibridado com a Cattleya jenmani, de Roraima. Pode ser um processo de hibridação, ou já houve uma introgreção genética (2) ou nessas populações existe vicariância (3). Eles são diferentes, as plantas do igapó são maiores do que as de terra firme.

provável híbrido de C. eldorado e C. jenmani


ON: Como isto seria possível se a Cattleya eldorado é restrita à área de Manaus e a Cattleya jenmani só ocorre no Estado de Roraima?

PI: As orquídeas têm dispersão de sementes a grande distância pelo vento, pois possuem sementes diminutas. Por outro lado, podem ter migrado pelo igapó ou de uma Campina para outra através do vento.

ON: E a discussão em torno do nome válido para a espécie?

P I: Recentemente tem havido muita discussão em torno do nome da Cattleya eldorado, se é sinonímia ou não.
Têm dois tipos de botânicos: os botânicos que descrevem muitas espécies ou que as subdividem e aqueles que agrupam as espécies. Enquanto não se conhece melhor a espécie, prefiro manter o seu nome como válido. Acho que está havendo uma grande confusão com a Cattleya wallisii, por isso que, por enquanto, estou mantendo Cattleya eldorado como o nome válido. Na verdade, acho que são duas espécies diferentes. Vou fazer a análise de DNA das plantas do igapó e da terra firme, pois tenho todas elas em cultivo. A minha dificuldade, até agora, estava no fato de não haver ninguém interessado no estudo de DNA de orquídeas. O pessoal aqui de Manaus trabalhava muito em biotecnologia, mas não com o DNA de plantas. Agora me associei a um grupo que está se interessando em fazer análise dos seus DNAs e vai ser o meu próximo passo. Caso os materiais examinados não apresentem variação e esses possam ser associados a C. wallasii, eu vou aceitar esse nome. Não vou ficar batendo na mesma tecla, mas, por enquanto, eu vou conservar a Cattleya eldorado com as suas variedades como válida.

C. eldorado Linden
tipo
C. eldorado Linden
var. alba Rand
C. eldorado Linden
var. treyeranae Linden
C. eldorado Linden
var. lindeni Linden

ON: E estas pesquisas com o DNA, dentro de quanto tempo, você acha que terá as conclusões?

PI: Já temos a técnica e, tranqüilamente, em mais um ano vamos analisar todas estas plantas, pois já as possuo todas em cultivo. Agora estou com um provável híbrido natural, ou um gênero novo, e estamos fazendo a análise do seu DNA. O próximo passo é o estudo da Cattleya eldorado.

ON: E as espécies que você descreveu?

PI: Descrevi algumas espécies novas para a ciência como: Pleurothallis kerii; Neolehmannia pabstii; Catasetum kleberianum; Masdevallia osmariniana a qual foi transferida por Garay & Dunsterville para Dryadella, no entanto, a espécie que eles ilustraram não foi o taxon que descrevi, eles confundiram a referida espécie e, provavelmente, o material que eles analisaram trata-se de um taxon novo para a ciência.
Pleurothallis kerii
Neolehmannia pabstii
Catasetum kleberianum

Finalmente, descrevi o híbrido natural X Brassacattleya rubyii, híbrido intergenérico entre a Cattleya eldorado e a Brassavola martiana. A Brassocattleya rubyii, que só tem um indivíduo conhecido e a planta está lá, viva até hoje, em seu ambiente natural.

X Brassocattlela rubyii, híbrido natural entre a C. eldorado e a Brassavola martiana no habitat natural de Campina.

Cattleya eldorado var. alba, um dos prováveis pais do híbrido
Brassavola martiana, um dos pais do híbrido.

ON: Um só? E se algum dia, ele desaparecer?

PI: Nós estamos querendo fazer meristema. O problema do meristema no Amazonas é que tem muitos fungos. A maioria das plantas possui fungos endofíticos. Eles crescem dentro das plantas e quando você as põe num meio rico em sais, etc. o fungo toma conta do meio de cultura. No processo de polinização, a orquídea vai levar um ano para produzir a cápsula e se a planta estiver fraca, ela pode até morrer. Mas, no sistema de utilização de embriões imaturos provenientes de cápsulas imaturas, a conversa é outra. Com esse sistema, fecunda-se o estigma e, com três meses, os embriões podem ser retirados da cápsula. Retira-se uma massa esbranquiçada e dessa massa é provocada a formação de vários protocórmios. Uma vez que o os embriões imaturos iriam formar sementes, cada um deles teria uma carga genética ligeiramente diferente do outro e, nesse caso, não teríamos todos os indivíduos gerados iguais à planta mãe. Então, colocam-se os embriões em meio de cultura líquida para girar numa máquina especial, afim de se retirar a polaridade de crescimento. Isso faz com que, no meio de cultura, se formem em cada protocórmio, vários calos, que podem ser repicados para outros meios de cultura. Quando as plantinhas se desenvolverem e florirem poderemos então, saber de que material elas foram provenientes e começar a reproduzi-los pelo mesmo processo. A vantagem deste método é que, em três meses o fungo ainda não contaminou os embriões no interior da cápsula. Esse trabalho já foi feito e ele vai ser publicado. Fiquei um ano até testar todas as possibilidades e depois orientei uma Dissertação de Mestrado e, hoje em dia, podemos reproduzir qualquer planta, é só uma questão de luminosidade e de pH.

ON: Na verdade, é um meristema?

PI: Na primeira fase, não, mas na segunda comporta-se como um meristema. Na verdade, é um tecido em fase embrionária de crescimento, que é cortado ao meio e colocado para girar novamente. Para se obter o meristema de uma planta, tem que se ter uma gema sadia, e pode-se prejudicar o exemplar na sua retirada.

ON: Como você está chamando esta reprodução?

PI: Reprodução através de embriões imaturos.




(1) exsicatas material desidratado, com os dados de coleta no campo.
(2) introgreção é a introdução de um ou mais genes de uma espécie em outra espécie, através da hibridação.

(3)

vicariância é a ocorrência de um par de espécies congenéricas ou subespécies, vivendo em diferentes habitats de uma área geográfica; nunca são encontradas na mesma comunidade.