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Palavras-chave:
Brasil, Espírito Santo, Mata Atlântica,
Orchidaceae, Pseudolaelia, P. dutrae, P.
freyi.
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Uma Nova espécie
de Pseudolaelia (Orchidaceae: Laeliinae) do Espírito
Santo
Resumo
Este artigo descreveu, sob o nome de Pseudolaelia freyi, uma
nova espécie que ocorre nas montanhas do Espírito Santo,
Brasil, relacionada com P. dutrae Ruschi com qual é
comparada. Foram apresentadas informações sobre sua
ecologia e distribuição geográfica.
Withner (1993)
enumerava e apresentava sete espécies dentro do gênero
Pseudolaelia Porto & Brade; posteriormente, Barros (1994)
transferiu para este gênero Renata canaanensis Ruschi,
sob o nome de P. canaanensis (Ruschi) Barros; muito recentemente,
uma nova espécie, P. brejetubensis M. Frey, foi descrita
(Frey, 2003). Todas estas espécies estão restritas aos
estados do estado brasileiro: elas são encontradas, principalmente
nos estados do Espírito Santo e de Minas Gerais, e, em menor
escala, nos estados do Rio de Janeiro e da Bahia (Pabst & Dungs,
1975). O relevo destas regiões é caracterizado, freqüentemente,
por apresentar inselbergs graníticos, inseridos dentro da Mata
Atlântica, distribuidos de maneira irregular e dotados de uma
vegetação de características xerófitas
e de alto endemismo (Porembski et al., 1998). Um exemplo deste endemismo
para o gênero Pseudolaelia pode ser dado pela P. citrina
Pabst, só encontrada, até os nossos dias, na face norte
de um des inselbergs, a uma altitude de 1 200 m, nas imediações
de Imbiruçu, Mutum, Minas Gerais, próximo da divisa
com o estado do Espírito Santo.
É sobre um destes inselbergs que Michel Frey, explorador infatigável
das altitudes deste estado, descobriu em 2001, uma planta que, após
análise, concluiu-se se tratar de uma espécie nova Pseudolaelia.
O presente trabalho descreveu e a comparou com a espécie mais
próxima, P. dutrae e fornecer informações
sobre sua ecologia e sua distribuição geográfica.
Pseudolaelia
freyi Chiron & V.P. Castro
Ricardiana Vol IV(4) -2004 - 156:162
Planta herbacea Pseudolaelia dutrae Ruschi affinis, sed omnino minor,
pseudobulbis brevioribus tenuioribusque, foliis angustioribus, inflorescencia
nunquam majore quam 70 cm nec paniculata, floribus usque ad 20 (25)
mm diametiente, saepe albidis, labelli lobis lateralibus usque ad
2mm latis et columnam involventibus, lobo mediano sulphureo suffuso,
cum margine rosea angusta.
Tipo :
Brasil, Espírito Santo, Brejetuba, Monte Feio, 20° 10’
35’’ à 20° 11’ 15’’ S, 41°
16’ 45’’ à 41° 17’ 15’’
W, altitude 1 100-1 400 m, juin 2004, M. Frey & L.C. Perim 702
(holótipo : MBML, n°22467).
Isótipos : M. Frey & L.C. Perim 704 (LY) et M. Frey &
L.C. Perim 706 (MBML, n°22468). espécimes de flores rosas
foram também depositadas : M. Frey & L.C. Perim 703 &
707 (MBML, n°22469 & 22470), M. Frey & L.C. Perim 705
(LY) ; todas coletadas em junho de 2004 no mesmo local.
Descrição
Epífita vegetando sobre Nanuza plicata L.B. Smith
& Ayensu (Velloziaceae) ou sobre outras Vellozia
Vandelli encontradas ; planta ereta, de 30-70 cm de altura. Rizoma
semi-rampante, ondulado, rígido, 5-6(7) mm de diâmetro,
pseudobulbos (3)5(7) cm distantes, 6-10 entrenós, recobertos
de bainhas escariosas, apressas, de curta duração. Raízes
finas, aproximadamente 1 mm de diâmetro, brancas, nascendo
em número de 2 ou 3 em cada entrenó do rizoma. Pseudobulbos
fusiformes, (5)7(8) cm de altura, 15-20(25) mm de diâmetro,
compostos de 6 entrenós, ligeiramente achatados, revestidos
de bainhas fugazes, verdes, lisas, em seguida multisulcadas. Folhas
4-5(6), inseridas na parte apical do pseudobulbo, dísticas,
estendidas, chegando 18 cm de comprimento sobre 1,5 cm de largura,
a base envolvendo o pedúnculo, linear-lanceoladas, coriáceas,
de ápice agudo e ligeiramente assimétricas, 7-9 nervuras
translúcidas, a mediana ultrapassando o lado abaxial, um pouco
dobradas no comprimento, glabras, a margem membranosas e finamente
dentadas. Inflorescência com pedúnculo podendo atingir
60 cm de altura, 2,5 mm de diâmetro na base, púrpura,
com seção ligeiramente achatada, revestidas de 9-10
bainhas imbricadas, escariosas, apressas, aguda no ápice, ligeiramente
carenadas para o alto; raque com até 6 cm de altura e 1,5 mm
de diâmetro, às vezes com uma ramificação,
excepcionalmente com duas, freqüentemente um pouco tardia, carregando
até 15 flores no eixo principal, e 5-6(8) sobre cada ramificação.
Brácteas florais triângulo-agudas, com 2,5 mm de comprimento,
marrons, eretas. Ovário pedicelado com até 20 mm de
comprimento (ovário 8 mm), diâmetro 0,6 mm, sub-perpendiculares
ao eixo, branco rosa tornando-se verde púrpura ao nível
do ovário. Flores bem abertas, estendidas ou ligeiramente
nutantes. Sépalas branco-cremes no interior, geralmente
um pouco rosadas no exterior, chegando a 18 mm de comprimento por
4 mm de largura, glabras, com margens lisas, a dorsal ob-oval alongada,
recurvada, com 5-7 nervuras, as laterais ab-longas, ligeiramente falciformes,
côncavas, sub-retangular-apiculadas no ápice. Pétalas
18-20 mm de comprimento por 3 mm de largura , linear-oblongas, claramente
falciformes, um pouco recurvadas no ápice, sub-retas, glabras,
com margens lisas, com 3 nervuras um pouco verdes. Labelo podendo
atingir 17 mm de comprimento por 11 mm de largura a nível dos
lobos laterais estendidos, e de 10 mm a nível do lobo mediano,
soldado à coluna até a metade desta última, trilobado,
composto de um ungüículo soldado à coluna , com
3 mm de comprimento; dois lobos laterais lineares com bordas paralelas
, 5-7 mm de tamanho e 1,2-2,0 mm de largura, fazendo um ângulo
de 45° com o eixo, encurvados, envolvendo a coluna, branco-creme,
com extremidade aguda, um pouco dentada e marcada com uma linha violeta;
e finalmente um lobo mediano com um istmo comprido, amarelo enxofre
claro, se abrindo em trapézio para frente por 4 mm, com bordas
recurvadas, coberto com dois calos paralelos, de seção
semi-cilíndrica, glabras, depois se alargando em forma trapezoidal
invertida, trunco-retusos no ápice, igualmente amarelo-enxofre
claro, os calos do ungüículo se transformando em 9 linhas
mais ou menos divergentes, serrilhadas, com uma margem membranosa,
um pouco ondulada e fortemente crispada, dando a impressão
de uma margem serrilhada, com mácula violeta na cavidade mediana
e, sobre certos espécimes, uma faixa estreita violeta mais
ou menos descontínua no interior de um círculo branco.
Coluna com 6 mm de comprimento, 1 mm de largura na
base e se alargando até 2 mm, verde, se abrindo em duas asas
arredondadas para baixo e em ponta aguda para frente, de uma parte
e de outra do estigma; este último em forma de V aberto, para
frente, verde com borda púrpura ; antera púrpura escura,
muito ligeiramente bigibosa ; 8 políneas, amarelo-ouro, discóides,
achatadas, sub-iguais. Ver fotografias.
Etimologia
Em homenagem a Michel Frey, descobridor desta planta e especialista
no gênero Pseudolaelia.
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detalhe |
Habitat e distribuição
geográfica
P. freyi é encontrada em uma área de aproximadamente
20 ha sobre o inselberg de Monte Feio (Brejetuba, Espírito
Santo) assim como sobre uma superfície um pouco maior do inselberg
vizinho. Ela ocorre de forma simpátrica com P. canaanensis
(Ruschi) Barros e P. brejetubensis M. Frey, que não
são encontradas nas proximidades imediatas. Acredita-se que
ocorra exclusivamente sobre Velloziaceae, numerosas nestes
inselbergs, é interessante observer que parece ter uma preferência
pela a espécies Nanuza plicata. Ela evita todas as zonas
eutrofisadas e, particularmente, aquelas onde se desenvolvem as Poaceaes
e, mais ainda, onde se encontra a vegetação lenhosa.
Floração de abril a julho.
Discussão
Esta espécie é próxima de P. dutrae Ruschi
mais se distingue facilmente pelo porte mais modesto (30-70 cm versus
50-120 cm), seu rizoma alongado (3-7 cm versus 8 cm), suas inflorescências
raramente ramificadas (aliás com uma, excepcionalmente duas,
ramificações tendo geralmente um desenvolvimento mais
tardio do que a haste principal) e claramente menos floridas (máximo
de 25 flores versus 120), e por seu labelo caracterizado pela cor
amarelo enxofre (versus branco puro) do ungüículo, a pequena
superfície de vestígios violeta na extremidade, seu
calo dividido em cristas na metade de seu comprimento (versus a extremidade)
e seus lobos laterais mais largos e mais curtos (cerca 6 - 1,8 mm
versus 9 - 1 mm, ou seja uma relação de forma de 3,3
versus 9), lingüiformes e recurvadas em torno da coluna (versus
triângulo-afilados, estendidos, amassados no ápice).
Observemos, finalmente, que P. freyi cresce a 1 100-1 400 m
de altitude e P. dutrae a 400-700 m.
Plantas bastante
semelhantes à P. freyi mas produzindo flores rosas são
encontradas em menor proporção, mas bastante significativas
entre as plantas de flores brancas. Elas florescem na época
e nosso primeiro reflexo foi de considerar como uma espécie
de cor variável ainda que majoritariamente branca. Um exame
posterior, mais minucioso, revelou certas diferenças de detalhe
entre os tipos de planta que dão a impressão de formar
duas populações distintas. Mas, para confirmar deste
último hipótese e estabelecer uma certeza na existência
de dois grupos disjuntos de plantas, é necessário um
estudo morfológico extensivo baseados em um grande número
de espécimes, forçosamente transferido para a próxima
floração. Enquanto esperamos, é mais prudente
considerar as plantas de flores rosas como uma simples variedade da
P. freyi.
Bibliografia
- Barros, F., 1994. Novas combinações, novas ocorrências
e notas sobre espécies pouco conhecidas para as orquideas do
Brasil. Acta Botanica Brasilica 8(1):11-17.
- Frey, M., 2003. Pseudolaelia brejetubensis M. Frey (Orchidaceae),
uma nova espécie do Espírito Santo, Brasil. Bradea 9(8):33-36.
Foto: Michel Frey
Ilustração: Luca Fontani