Sergio Barani é orquidófilo desde os 11 anos de
idade e há mais de 20 anos cultiva orquídeas profissionalmente.
Atualmente é reconhecido como um dos maiores hibridadores brasileiros.
Suas criações fazem parte das grandes exposições no
Brasil e tem como carros-chefe Blc Bruno Bruno e a Cattleya Fátima Barani. É proprietário da Nobile Orquideas.
ON: Barani, você é engenheiro civil de formação,
como você foi parar na orquidofilia e como decidiu fazer disto uma profissão?
SB: As orquídeas vieram antes da engenharia. Na verdade, eu já
tinha carteirinha de sócio de associação orquidófila
aos 11 anos de idade, nesta idade, eu já era mascote de sociedade. A
engenharia veio depois.
ON: Muito precoce! Como foi que isto aconteceu?
SB: Eu tinha um vizinho cujo hobby era passarinhos e orquídeas, que era
muito amigo de meus avós e de meus pais. Eu ia para casa dele para vê-lo
mexer com orquídeas, achava aquilo muito bonito. Ele me deu muitas orquídeas,
“traseiras”.
Naquele tempo, se punha as “traseiras”
numa caixa de uvas, para |
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que brotassem, assim foram umas 30 ou 40 orquídeas
e já tive que fazer um caramanchão. Um dia, ele resolveu me levar
a uma reunião da Associação de Orquídeas e Canários
do ABC (Santo André, São Bernardo e São Caetano), em Santo
André, gostei da brincadeira. Lá eu conheci o Alfredo Martinelli.
De repente,o pessoal começou a me dar orquídeas e me vi com uma
centena delas, acabei freqüentando associação dos 11 até
13 ou 14 anos, mas você cresce, vem a época do “bailinho”,
como a gente chamava a balada de hoje. Então, vendi para meu pai que
começou a cultivar as minhas orquídeas. Mais tarde, aos 18 anos,
eu conheci e comecei a namorar minha esposa, Fátima, e ela só
ganhava orquídeas, era no aniversário, no natal, na data de namoro,
quando pegava gripe, quando se curava da gripe... Comecei a namorar com 18 e
enrolei por 6 anos até o casamento, tempo em que se formou um novo orquidário.
Nós fazíamos passeios orquidófilos, íamos a muitas
exposições e, quando me casei, eu tinha de novo 200 ou 300 orquídeas
na casa da minha sogra e me tornei orquidófilo novamente.
ON: Como foi esta sua volta à orquidofilia? Qual era a sua idade?
SB: Foi uma volta às origens, pois a Sociedade de Orquidófilos
de Santo André – SOSA era praticamente a mesma que eu havia freqüentado
e que estava inativa. Foi uma re-fundação com Martinelli de novo,
Geraldo de Assis, Francisco S. B. David ( Paco), Wilson Sosnoski e outros. Eu
participei desta re-fundação e fiquei lá por vários
anos. Assim aos dezessete, 18 anos, eu voltei a ter orquídeas em casa,
voltei ao meio orquidófilo.
ON: Você teve um contato bem grande com Martinelli. O que você
pode nos falar a respeito dele?
SB: Figura fantástica. Um ser totalmente apaixonado pelo que fazia, ele
juntava orquídeas e orquídeas. Ele trabalhou muito, mas muito,
com a CAOB da qual foi presidente por muitos anos. O que eu posso dizer é
que ele era um bom companheiro, sempre prestativo, sempre pronto a apaziguar
briga por causa de pontos e tudo mais. Fazia muito boas macarronadas. Esta é
a lembrança que tenho dele, sempre de bom humor.
ON: Como você o localiza no meio orquidófilo, sobretudo
no meio orquidófilo paulista, pois ele foi uma figura importante.
SB: Ele foi o suporte da orquidofilia paulista na época que atuava, ele
basicamente bancou durante muito tempo a CAOB, ele foi a CAOB durante muito
tempo em muitas exposições. Na minha adolescência e um pouquinho
mais tarde, era só Martinelli, você podia ir a qualquer exposição
no interior, CAOB era o Martinelli, eu não participei da estrutura da
CAOB, então não sei como funcionava, mas a única coisa
que vi durante muitos anos era Martinelli à frente da CAOB. Em todas
as exposições do interior, em todos os lugares que você
ia, estava lá o italianinho, sempre com camisa de mangas curtas, podia
estar o frio que tivesse, sempre esfregando as mãos, nunca vi aquele
homem de agasalho.
ON: Neste meio tempo você se formou em engenharia, mas não
exerceu?
SB: Exerci por pouco tempo. Com quatorze anos, eu já trabalhava com projeto,
era desenhista. Naquela época, sobretudo na minha família de ascendência
italiana que não tinha meias palavras, não se discutia isto de
não poder trabalhar aos quatorze anos, se podia trabalhar, ia trabalhar.
Naquela época, não tinha esta história de exploração
de menor. Eu tive minha primeira carteira de trabalho assinada com 14 anos,
numa indústria de construção metálica onde fiz um
ano de curso de desenhista. Com 15, já era desenhista, com 18, já
era projetista. Ganhava muito mais antes de ir para a escola de Engenharia Civil
do que depois que terminei. Para manter meu curso, lecionei desenho mecânico
por 12 anos na escola do SENAI e mesmo quando saí da escola de Engenharia,
continuei lecionando por algum tempo, fazendo algumas obras pequenas, mas logo
veio um convite para ir para Guararema cuidar de orquídeas, onde morei
por 15 anos.
ON:
teve muito contato com o grande Rolf Altenburg (http://members.xoom.virgilio.it/orchidnews/on18/paginas/hibridos2.htm),
na Florália, como foi esta experiência? Você
diria que ele seria o personagem da orquidofilia que influenciou
você?
SB: Devo a ele o início da minha vida profissional, vamos
dizer assim, ele me ajudou muito e minha catequese foi o seu catálogo
e sua forma de trabalhar. Eu posso dizer que aprendi com ele desde
pequeno, pois o pessoal da sociedade que eu freqüentava já
recebia o catálogo da Florália. Naquela época,
na sociedade, as pessoas realmente tinham que ser orquidófilos
e, como no início, o catálogo dele não tinha
fotos, nós pegávamos o catálogo, marcávamos
o que interessava e discutíamos com o Martinelli e com outros
orquidófilos experientes. Discutia-se quem era o pai, quem
era mãe do cruzamento e o que ele poderia gerar: “-
Isto aqui pode ser que seja bom, 5 de cada um, isto aqui, meio especulativo,
pode ser que sim, pode ser que não, só 3 de cada um.”
Eu fazia uma poupança e quando catálogo novo saia,
varria o catálogo. Três, cinco, dez de cada, sempre
mudinha pequena, pois não tinha dinheiro. Eu comprava bastante
para poder ter a oportunidade de tirar alguma coisa boa dos cruzamentos.
Eu o acompanhei muito, mas meu contato constante com ele à
distância, eu só freqüentei a estufa dele de 10
a 15 vezes, no máximo. Quando eu vinha aqui para comprar
com ele, ele já me conhecia como amador e me recebia muito
bem, talvez pelo fato de eu me interessar pelo que ele fazia, de
ser um cliente muito assíduo. Eu queira saber como era tudo:
“- esta eu não conheço, o que é isto?
Qual foi a sua intenção? O que pode melhorar?”
Talvez isto tenha animado Rolf a me ajudar quando falei que ia fazer
híbridos profissionalmente. Certa vez, quando eu vim com
a Fátima, teve até uma passagem muito boa. Eu já
tinha acesso à coleção, ele me deixava circular,
me largava lá e ia para escritório. Ele havia importado
vários híbridos de Odontoglossum da Alemanha, plantas
já adultas, a florir, coisas maravilhosas com um metro de
haste. Aqui no Brasil, eram os primeiros Odontos. Nesta ocasião,
as plantas estavam começando a abrir, estavam com uma ou
duas flores abertas. Eu perguntei se ele me venderia algumas plantas,
ele respondeu “- Eu peguei isto para matrizes.” Ele
havia importado um lote grande, 500 ou mil plantas e eu insisti
se ele não me venderia umas 30 pois eram vários cruzamentos
e dentro do mesmo cruzamento havia as variações. Ele
respondeu: “- Vendo”. “Eu posso escolher?”
“– Pode”. Ele foi para escritório e eu,
como orquidófilo, passei com a Fátima, umas duas horas
olhando pintinhas, manchinhas, formas...,. - "Esta é
melhor, aquela é melhor". Comparei uma por uma. Havia
uma mureta, onde coloquei as plantas. Chamei-o e disse que havia
escolhido as plantas. Ele olhou e disse: “- Estas são
as minhas, confio no seu bom gosto, agora você pode escolher
as suas.”Eu disse: “Que sacanagem, isto não é
justo”. Rolf respondeu: “- O que não é
justo é eu comprar um lote de planta para fazer matrizes
e você vir aqui, logo na primeira florada e escolher as melhores.
Não escolhi nenhuma ainda, eu gostei da sua escolha, estas
são minhas, agora escolha as suas”. Lá fui escolher
tudo de novo. Uma brincadeira saudável, no final das contas,
eu estava aprendendo. Quando iniciei comercialmente, comecei a busca
por matrizes e ninguém queria vender matrizes. Fui até
ao Sr. Rolf e perguntei se me ajudaria, ele me permitiu escolher
na coleção algumas plantas. Nossa conversa era continuar
a hibridação na linha que estava fazendo para ver
o que aconteceria mais à frente. Ele disse que eu podia escolher
algumas plantas, mas eu não tinha muito dinheiro e disse
isto a ele. Ele respondeu: “-Vamos ver o que você quer
fazer e depois a gente vê o dinheiro”. Lembro ainda
que era novembro ou dezembro, ele me deixou escolher 50 plantas,
lá pela 30ª, eu já pensava: “estou endividado,não
vou conseguir pagar isto”. Então, depois de eu ter
escolhido umas 50, o Sr. Rolf chamou um funcionário da loja
e perguntou: ”- Quanto custa uma Laelia purpurata de
descarte?" Por isto eu me lembro que era final de ano. Ele
respondeu que era, sei lá, talvez o equivalente a R$ 20,00
pois a moeda era outra, já não me lembro. Rolf então
disse: “- Eu tenho muitos amigos, eu iria criar muita inimizade
entre eles se fosse lhe dar, portanto eu vou lhe vender.”
O preço que estava o vaso de descarte ali na loja foi o preço
que ele me cobrou. Hoje em dia, eu teria comprado 50 matrizes excelentes
por R$ 1.000,00, alguma coisa assim.
ON:
Muito interessante e muito legal ele ter a visão de querer
que trabalho dele tivesse uma continuidade.
SB: Ele sentiu o interesse. Ele nunca me negou nenhuma informação,
já depois com a firma montada, nós tivemos uma dúvida numa
planta muito boa, ainda usada como matriz de semi-alba. Com toda paciência,
ele fez uma busca nos registros, ainda da época do José Dias de
Castro, e forneceu os dados. Qualquer informação que eu quisesse,
naquela época, ele dava. Outra passagem interessante, ele tinha C.
schilleriana coerulea que ele não vendia no Brasil, só para
o exterior. Era uma raridade e ele me deu uma, com a condição
de não levar para exposições, para não revelar a
origem.
ON: Quer dizer que a história inicial de sua empresa teve uma
mãozinha dele?
SB: A mãozinha não, um belo empurrão. Se você olhar
as primeiras hibridações que fiz, basicamente as plantas eram
de Rolf Altenburg. Naquela época, no país não havia nada
melhor para hibridar, em lilás, do que a Lc Rolf Altenburg (híbrido
de l979), era um top. Não tinha nada melhor que uma boa Cattleya Enid, que uma Bc. Pastoral. Ele já tinha feito filhas da Bc. Pastoral, tinha a Bc. Turandot (Bc. Pastoral x C.
Bob Betts), uma delas é a ‘Guaxupé’ muito boa de forma,
mas não é tão florífera quanto a Bc.Turandot
‘Araraquara’, muito boa matriz.
ON: Você se lembra quais seriam estas plantas que você
recebeu?
SB: Das 50 não, não, não me lembro de todas. Tínhamos
plantas albas boas, como a C. Francis TC Au, C. Jack Cole,
semi albas como a Cattleya Enid, Blc Enid Moore, boas lilases
como as Bc Turandot, Lc Rolf Altenburg, Blc. Roberto
Cardoso, a Lc. João Antonio Nicoli, Bc. Pastoral, Lc.
Tyl Belle, etc.
ON: Quando foi isto?
SB: Isto foi em 85, 86, quando fui para Guararema.
ON: Além do Sr. Rolf, na sua opinião, quem fez história
no Brasil no que diz respeito aos híbridos do grupo Cattleya?
SB: Waldemar Silva fez bastante cruzamentos. Em Amparo, tinha Paulino Rech
que tinha um orquidário muito grande. Ele hibridava muito, mas a diferença
é que ele não registrava seus híbridos, enquanto o Waldemar
Silva registrou 114 hibridos. Eu o encontrei uma vez, em seu orquidário,
mas o Waldemar Silva não conheci pessoalmente. Muitos fizeram hibridos,
mas infelizmente não registraram seus cruzamentos, Jorge Verboonen, Evaldo
Wenzel, George Suzuki, Seidel, Yamagushi; no momento são os que me ocorrem.
Eu ficava meio circunscrito a São Paulo, às exposições
do ABC, na realidade não viajava muito, no máximo ia para uma
exposição em Guaxupé, Rio Claro, Rio, não saía
muito... Até hoje não saio muito.
ON:
Quais são os grandes híbridos de Cattleya,
os grandes clones, as grandes matrizes, feitos aqui?
SB: Nós teríamos que analisar as árvores genealógicas
de todos os híbridos brasileiros registrados para não
desmerecer nenhum ancestral. Além disto uma boa matriz pode
não ter nenhum prêmio em exposições e
plantas com alta contagem de pontos e premiadas, podem não
ser boas matrizes. Temos muito bons híbridos, mas o problema
é que não temos os juízes “oficiais’,
logo não temos julgamentos “oficiais”, logo não
temos os prêmios oficiais, o que não permite que nossas
boas plantas sejam valorizadas aqui e no exterior. As premiações
que nós temos ficam restritas às visitas que os juízes
americanos fazem às exposições da AOSP, da
OrquidaRio e mais recentemente Joinville. Fora disso a gente não
tem planta julgada; então tem muita coisa boa, mas nós
dependemos das plantas estarem abertas nas poucas oportunidades
em que os juízes vem aqui. Boas matrizes, para falar de algumas
de Rolf Altenburg: Bc. Pastoral, 1961, já foi utilizada
em 239 cruzamentos registrados, Lc. José Dias Castro,
1966, 50 cruzamentos, Blc. Enid Moore, 1980, 22 vezes,
Lc. João Antonio Nicoli, 1972, 19 vezes, etc. C.
Sonia Altenburg, lindíssima semi-alba, infelizmente, pouco
fértil, recebeu AM. A Lc Sheila Lauterbach era o
nosso único FCC, não sei se agora temos mais, o Roberto
Agnes, Sandra, César Wenzel, Antonio Schmidt andaram levando
plantas para o exterior, e conseguindo com isso, algumas oportunidades.
ON:
Foi o clone 'Equilab' da Lc. Sheila Lauterbach que obteve
FCC/AOS com 90 pontos, em 2.000. Em 2008, em Joinville, tivemos
a Blc. Durigan com sete prêmios.
SB: Era uma coleção fantástica de Blc. Durigan,
cerca de 50 plantas das melhores...
ON: No trabalho que você apresentou no 1º Congresso
Oriental /Brasil Orquídeas, você disse que o mercado de orquídeas
pode ser dividido em dois segmentos: orquídeas para atender o mercado
orquidófilo e orquídeas para atender o mercado de decoração.
Mas você acabou por atender os dois mercados.
SB: O objetivo inicial foi produzir flores para o comércio de decoração,
floricultura, não foi produzir para orquidofilia, para premiação.
Mas qualidade é desejável em qualquer lugar. Uma flor de colorido
intenso é bonita para decoração e é bonita para
orquidofilia; a forma boa rende dinheiro na decoração e rende
pontos nos julgamentos da orquidofilia; um número maior de flores é
bom na decoração e é bom para a orquidofilia também.
Qualidade é qualidade. Embora o direcionamento do meu trabalho seja comercial,
plantas boas aparecem, são julgadas e ganham prêmios, despertando
o interesse dos orquidófilos. Aí é compulsória a
necessidade da internet, do catálogo, para atender aos orquidófilos,
porque não dá para dissociar, ao menos completamente, os objetivos.
Dessa forma, atendo o mercado orquidófilo, fazendo híbridos direcionados
para o mercado de decoração.
ON: O que você ainda está procurando ?
SB: Em hibridação com orquídeas a busca é
demorada, constante e infindável. Muitas vezes, buscamos
uma coisa e achamos outra; queremos agregar uma característica
genética e acabamos trazendo de “brinde” para
o híbrido que não gostaríamos, nos obrigando
a um novo cruzamento. Geneticamente falando, não sabemos
exatamente o que acontece quando fazemos um cruzamento. Meu trabalho
se baseia na busca de algumas características que são
cada vez mais imprescindíveis fazer de um híbrido
um sucesso comercial. A época da floração,
a precocidade dessa floração, a durabilidade, a cor,
a forma, a substância, o tamanho da flor, o número
de flores por haste, o comprimento do ovário, o comprimento
do rizoma, o perfume, o vigor das plantas, sua resistência
as pragas e doenças, resposta as condições
de cultivo, etc.
ON: Vamos começar pela primeira característica que você
mencionou. Porque a época de floração é tão
importante?
SB:
A época é determinante no mercado porque o consumo
varia ao sabor de comemorações tais como: Dia das
Mães, Dia dos Namorados, Dia da Secretária, Finados,
Natal, Ano Novo e algumas datas religiosas. Estas ocasiões
oferecem ao produtor uma oportunidade de faturamento maior, pois
o consumo aumenta. O comerciante que, normalmente, pede 10 plantas,
no Dia das Mães, quer 100. É o momento de maior consumo
no primeiro semestre. Queira ou não, o pico de floração
de híbridos de Cattleya é no primeiro semestre
que é um período, em termos de mercado interno, complicado.
Em janeiro, o cliente está de férias, as cidades vazias,
em fevereiro aparecem os gastos “extras”, tem carnaval,
se viaja mais um pouco... Março é um pouco melhor,
pois já temos algumas exposições acontecendo,
mas mesmo assim, tem a Quaresma, quando não se pode casar
que “dá azar” e entramos em abril, que é
sempre uma incógnita... As vezes aparece um “vácuo”
antes das encomendas para o dia das Mães... Em termos da
comercialização de flores, o começo do ano
não é o que poderia ser, por conta das características
culturais do nosso próprio país. O mercado de orquídeas
vai se aquecer quando, o melhor de nossas Cattleyas está
terminando de florir, em maio e junho, onde já temos no mercado,
uma presença muito forte dos Cymbidiuns, que marcam a entrada
do segundo semestre, que quantitativamente, serão dos Dendrobiuns
e dos Phalaenopsis. Cabe aos produtores e comerciantes a quebra
desse paradigma comercial.
ON: E para o orquidófilo, a época de floração
também é importante?
SB: Para o orquidófilo atuante, a época da floração
é importante também. Ele quer que sua planta abra um ou dois dias
antes da exposição, para que ele possa exibi-la para os juízes
e para o público. A maioria das pessoas que não circulam muito
tem 80% de seu orquidário formado por plantas compradas na exposição
da cidade. Ou seja, as plantas de todos os colecionadores da cidade vão
florir todas na mesma época e, no resto do ano, possuem poucas florindo.
O orquidófilo de uma sociedade atuante, precisa de plantas para todas
as épocas, podendo colaborar com sua sociedade, que deve participar em
vários eventos durante o ano, para na contrapartida em seus eventos,
receber seus convidados, sem os quais, dificilmente, se faz uma boa exposição.
Daí a importância de se produzir híbridos que floresçam
em qualquer época do ano.
|
Blc.
Nobile's Tango 'Buenos Aires
Comentário:
Cruzamento de Lc. Irene Finney × Blc.
Nobile’s Bruno Bruno.
Floresce na primavera.
Feita com o objetivo de reforçar a produção
de final de ano, resultou em uma planta multiflora de flores
médias com o colorido mais intenso que as lilases da
mesma época. |
ON: Mas existe uma relação época do ano/cor, por
que?
SB: No primeiro trimestre, você coloca uma planta com 4 flores amarelas
enormes, o cliente olha e diz: “- Mas só dá quatro? Não
tem com cinco? Não era bem este amarelo que eu queria, eu queria um amarelo
um pouquinho mais forte”. Como tem muita variedade e a demanda é
retraída, a lei da oferta e da procura prevalece visivelmente. O “lilazinho
caiu em desgraça” já faz uma década, o preço
estagnou, no entanto, a planta custa a mesma coisa para ser produzida, demora
o mesmo tempo, ocupa o mesmo espaço. No primeiro trimestre, ela é
ainda mais desvalorizada. Por que? Porque é o pico de floração
da Cattleya, está tudo abrindo. A conversa é assim: “-
É lilás? Não pago mais do que dez a quinze, é amarela,
é vermelha, pago até 25,00”. No segundo semestre, como faltam
Cattleyas de flores grandes, a conversa é outra, ninguém quer
saber nem a cor nem quanto botões tem dentro da espata; se vende todas
as cores pelo mesmo valor. Estamos falando de preço no atacado.
ON: Não há mais lugar para amadorismo, é preciso
conhecer bem a tendência do mercado para não se cometer erros...
SB: Eu entrei no mercado num tempo que você podia fazer qualquer coisa
em termos de hibridação que era vendável. Poucas pessoas
participavam desse mercado, pois o conhecimento para semear orquídeas
era de domínio de poucos. Aqui no Brasil, a única empresa que
detinha o conhecimento do processo para se clonar uma planta era a Equilab que
se lançava nesse mercado. O cliente para ter uma planta acima da média
em termos de qualidade só podia recorrer aos cruzamentos e contar com
muita sorte para obter uma planta boa. Com o advento da clonagem, tanto o profissional
quanto o consumidor tem acesso a exemplares de altíssima qualidade genética
a preço de varejo. Hoje, o menor deslize representa prejuízo porque
as margens de lucro em termos de cultivo diminuíram, pois se cultiva
em larga escala, num mercado mais agressivo em vários sentidos. Enquanto
a hibridação, comercialmente falando, tornou-se atividade de um
risco bastante alto, pois não deve ser feita de forma especulativa e/
ou em larga escala, pois passou a ter como principal característica,
a função de ser fornecedora de “novidades” para a
replicação em escala, para a indústria, em que se transformou
a produção de flores para fins comerciais.
ON: Pode nos dar algum exemplo de plantas suas que florescem em datas
específicas como no Dia das Mães, por exemplo?
SB: A Cattleya Fátima Barani é um exemplo em lilases. Potinara Helga Margaret Gray, híbridos utilizando a Blc.
Goldenzelle, também florescem nessa época, temos boas amarelas,
tais como, Blc. Nobile’s Golden Top, Blc. Nobile’s
Golden Dunes, etc.
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|
Potinara Helga Margaret Gray |
Cattleya Fátima Barani |
ON: E a segunda característica, a precocidade da floração?
SB: É muito importante, está diretamente ligada aos custos, tornando-se
um fator determinante para uma produção mais lucrativa. A planta
de floração precoce vai ocupar espaço no orquidário
por um tempo menor dando lugar a outras. Algumas espécies de Laelias
e também de Cattleyas bifoliadas transmitem esta qualidade para as suas
descendentes. Outros gêneros como Oncidium, Cymbidium, Phalaenopsis e Dendrobrium são considerados como plantas
rápidas comercialmente, podendo florir em 3 anos, mas o grupo dos híbridos
de Cattleya leva normalmente o dobro. Com genética e técnicas
de cultivo, temos conseguido reduzir esse tempo.
ON: Que tempo é este para que uma planta, dentro do
grupo da Cattleya, seja considerada precoce?
SB: Podemos falar em 4 anos.
|
Blc.
Nobile's Pop 'The First’
Comentário:
É um cruzamento de Lc. Chocotome Gold × Blc.
Nobile’s Bruno Bruno que floresce do verão até o inverno.
Tem um perfume muito agradável, apresentando um conjunto de flores de
4 a 5 cm, de floração precoce, na cor vermelha. Na primeira floração,
lança 2 a 3 flores, mas tem capacidade para dar até 10 flores
nos anos seguintes |
|
Blc.
Nobile's Soleil
Comentário:
É um cruzamento de Blc. Kure Beach × Lc. Blazing
Treat, com floração precoce na primavera portando em sua haste
várias flores de 4 a 6cm de diâmetro, apresentando um colorido
entre amarelo e o laranja. Floresce entre o terceiro e o quarto trimestre do
ano quando se tem poucas Cattleyas no mercado. Neste cruzamento, foram usadas
rupícolas e bifoliadas que proporcionam muitas flores na haste e as plantas
adultas vão ficar como os pais que dão de oito a doze flores.
Numa exposição, ela é vendável, mesmo com poucas
flores. |
ON: Continuando com as características desejáveis...
SB: Tamanho e número de flores por haste, comprimento de ovário
e rizoma, isto é mais para orquidófilo, mas comercialmente é
também muito importante.
ON: Por que o comprimento do ovário é importante?
SB: Poucas pessoas atentam para isso, mas é uma questão de aparência
do conjunto. Ovário muito longo faz com que as flores não consigam
se portar na haste, voltando-se para baixo que é uma característica
da Rhyncholaelia (Brassavola) digbyana, por exemplo.
Junto com o labelo grande, rendado, herdado desta espécie, vem este “problema”.
Para uma boa apresentação, a planta terá que levar suporte
para suas flores. Já o ovário muito curto termina por prejudicar
também, dificultando a abertura das flores, no caso de se ter várias
flores por haste; fazendo com que elas fiquem amontoadas. O ideal, é
que o comprimento do ovário seja proporcional ao tamanho da flor.
ON: E o comprimento do rizoma?
SB: O rizoma curto traz economia nos custos para o produtor, pois faz com que
as plantas permaneçam mais tempo no mesmo vaso e, ao mesmo tempo, o visual é
mais agradável, a planta mais comportada, mais compacta. Com um rizoma
muito longo a necessidade de replante é mais freqüente. Plantas
como a Bc. Pastoral ou Blc. Norman’s Bay, por exemplo,
quando usadas como matriz produzem progênie de plantas com rizoma de 5
a 7 cm, o que torna o replante muito freqüente para manter a planta dentro
do vaso. Embora a maioria das pessoas não olhe para “baixo da planta”
ao se encantar com as flores, é importante verificar, principalmente
em se tratando de produção em escala comercial, se a planta tem
um rizoma longo. Se tiver, a mão de obra será maior. |
comprimento correto |
ON: A Bc Pastoral tem outra característica, quais as
conseqüências que isto traz na hibridação?
SB: O lilás é uma cor dominante e como a Bc Pastoral
alba ou semi-alba é um falso albino não adianta cruzá-la
com alba, semi-alba, amarelo, vermelho, ao qualquer outra cor. O resultado tem
sido sempre majoritariamente na cor lilás.
ON: E a importância da cor?
SB: O colorido em julgamento de Cattleya vale 30 pontos, então
a cor é importantíssima no aspecto orquidófilo. Tanto para
o julgamento como para o mercado, os preços, ou os pontos, sempre estão
ligados a cores firmes. A planta que é melhor de cor vale mais. Pode
ser monocromática, pode ser uma aquarela, pode ser manchada, pode ter
pintas, mas tem que ter o colorido uniforme e no “lugar certo”.
Amarelo tem que ser intenso, caso não seja, cai o preço no mercado
de decoração, é prejudicado no julgamento. O consumidor
é latino, aprecia a forma esférica, gosta essencialmente de cores
quentes; amarelos e vermelhos estão em alta. Quem quebra um pouco essa
rotina é o Phalaenopsis e o Denphal... Cores quentes e intensas,
mesmo “misturadas”, como amarelo e vermelho nas Blc. Nobile’s
Wild Fire e Blc. Nobile’s Tropical Sunset, representam sucesso
de vendas, tanto no mercado de decoração quanto no meio orquidófilo. Blc. Nobile’s Tropical Sunset é resultado de um cruzamento
das excelentes matrizes Blc. Julio Barbero e Blc. Hsinying
Gold.
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Blc. Nobile's Flash |
Blc Shiniti Ishikawa 'Easy' |
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Blc. Nobile's Wildfire 'Arabesc'
Comentário:
Cruzamento de Blc. Eve Marie Barnett e Blc. Julio Barbero
que floresce no verão. O colorido varia do amarelo ao vermelho, passando
pelo laranja com
boa porcentagem de flâmeas. |
Blc. Nobile's Starlux 'Ocrelinea'
Comentário:
Interessante efeito, com pinceladas de amarelo intenso nas pétalas e
sépalas, sobre amarelo. É um cruzamento de Blc. Julio
Barbero x Blc. Hawaiian Treasure. |
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Blc. Nobile's Tropical Sunset 'Fábula' |
Blc. Nobile's Tropical Sunset 'Feliz Natal' |
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Blc. Nobile's Tropical Sunset 'Festa' |
Blc. Nobile's Tropical Sunset 'Firebird' |
Comentário:
Blc. Nobile's Tropical Sunset
É um cruzamento de Lc. Hsinying Gold × Blc. Julio Barbero que floresce da primavera ao verão. Lança
de 4 a 5 flores de boa substância, tamanho médio, amarelas, muitas
delas com flâmeas avermelhadas |
.
ON: E o número de flores, quais os exemplos a serem citados?
SB: Blc.Nobile's Bruno Bruno, Blc. Nobile's Honey, Blc.
Nobile's Thathá, esta última em homenagem à minha filha,
Thaís. É uma planta que vai entrar para a produção,
pois tem tudo de bom: as plantas adultas, que já estão selecionadas,
põem de 7 a 8 flores por haste, algumas tendem para o amarelo quando estão
abrindo, depois ficam abóbora. Algumas são monofoliadas, o que
é melhor para o cultivo e embalagem, as flores são de tamanho
médio e tem um perfume agradável.
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Blc.
Nobile's Bruno Bruno |
Blc.
Nobile's Honey
(Blc. Hawaiian Galaxy x C. Chocolate Drop) |
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Blc.
Nobile's Thatha
Comentário:
Híbrido de Blc. Ademar Manarini e Blc. Reina Criolla,
florescendo no verão, resultado de cruzamento de plantas que produzem
flores amarelas grandes e boa substância resultando em plantas de flores
alaranjadas com um intenso colorido no labelo e com elevado número de
flores por haste. |
ON: E quanto ao tamanho da flor?
SB: Comercialmente tenho um termo que é o “volume decorado”.
Volume decorado é o local da planta para onde se dirige o olhar, onde
está a inflorescência. Este volume é determinado pelo número
de flores, pelo tamanho e pela forma da flor. Quanto maiores as flores, quanto
maior o seu número e melhor sua forma, maior esse volume, e normalmente,
o preço é diretamente proporcional a esse volume.
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Blc. Nobile's Tropicana |
Blc. Nobile's Goddess 'Saka
(Lc. Amber Glow x Blc. Julio
Barbero) |
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Blc. Nobile's Aura 'Joinha'
Comentário:
É um híbrido de Blc. Peach Cobbler e Blc. Hawaiian
Galaxy, que embora de flores medias, é multiflora, mantendo assim uma
boa composição visual. |
Blc. Nobile's Suprema
Comentário:
Cruzamento de Blc. Lourdes Panucci x Lc. Beatriz Künning.
Produz flores grandes, de mais de 20cm com boa forma. |
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Blc Maripá
Comentário
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Cruzamento de Blc. Goldenzelle x Blc. Nobile's Red Fox. São
plantas robustas, com flores grandes e cores variando do amarelo ao vermelho,
muitas delas nos tons abóbora e com intrigante efeito, lembrando pinturas
em aquarela.
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ON: E a substância?
SB:
A substância é uma característica importantíssima
porque está diretamente ligada a durabilidade da flor, flores
com muita substância duram mais. Plantas com substância,
por exemplo, bifoliadas em geral, quando entram em um cruzamento,
deixam a forma da flor estrelada, alem das folhas ficarem muito
grandes. Mas, em compensação, uma C. leopoldii
chega a produzir 20 -25 flores por haste, com muita substância.
ON: Qual a duração da flor destes híbridos?
SB: Os híbridos de cattleya mais modernos duram de quatro a cinco semanas.
ON:
Blc Tatarown tem 50% de C. guttata ou melhor leopoldii,
a Blc. Durigan tem 25% e Blc. Nobile’s Frisson
tem 12,5%. Este é o único meio de obter uma boa substância?
Blc. Nobile`s Bruno Bruno também tem uma boa substância
e tem 25% desta espécie.
SB: Eu digo C. guttata pois é o nome usado em registros,
mas eu sempre uso a C. leopoldii que tem melhor forma.
Das bifoliadas, podemos lembrar da C. loddigesii, C.
schilleriana, C. bicolor, C. intermedia,
C. aclandiae, etc.
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Blc. Tatarown
(Blc. Mem Helen Brown x C. guttata) |
Blc. Durigan |
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Blc. Nobile's Bruno Bruno
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Blc. Nobile’s Frisson
Comentário:
É um cruzamento de Blc. Nobile’s Bruno Bruno e Blc.
Oconee e floresce no outono. São plantas de muita substância, de
crescimento robusto, podendo carregar acima de 5 flores médias por haste,
quando adultas. Suas cores variam do vermelho ao magenta. |
ON: E quanto à forma?
SB: Forma para a orquidofilia é essencial, 30 pontos...Talvez seja a
primeira qualidade buscada pelo orquidófilo num primeiro contato com
a flor. Em termos de decoração a boa forma aumenta o “volume
decorado”, contribuindo para a valorização da planta. Então
quando estamos fazendo uma hibridação em que as matrizes já
têm muitas flores, bastante cor, a forma é indispensável,
mesmo para multifloras, pois a diferença no “volume decorado”
é muito perceptível. Em geral, a melhora da forma deve ser acompanhada
pelo aumento no comprimento do ovário, para termos espaço na haste,
facilitando a abertura das flores.
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Blc.
Nobile's Suprema (Blc. Lourdes Panucci x Lc.
Beatriz Künning)
Comentário:
Uma planta de flor lilás, de flores grandes, de boa
forma, tem em sua progênie a Bc. Pastoral,
C. Tiffin Bells, Lc Rolf Altenburg.
Não acredito que vá produzir mais do que três
flores por haste, mas com o tamanho e a forma que têm, o resultado já
é muito bom. |
Blc. Verônica Serra
(Blc. Nobile’s Carnival x Blc. Goldenzelle)
Comentário:
Planta grande com até seis flores na haste, têm exemplares amarelos
com as pétalas inteiras em magenta, outros só com uma pequena
mancha e também sem manchas nas pétalas. Cerca de metade das plantas
saíram flameadas, sua floração se estende até o
Dia das Mães e, às vezes, florescem duas vezes ao ano. As plantas
que vêm de Blc. Goldenzelle estão florindo duas vezes
por ano assim como algumas vindas de Blc. Chunyeah também.
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Blc.
Nobile's Golden Horizon 'Giga'
(Blc.
Goldenzelle x Blc. Dal's Horizon) |
ON:
A boa forma da Blc. Nobile's Golden
Horizon se deve à dupla presença da Blc
Goldenzelle? A Blc Dal’s Horizon possui 50% de Goldenzelle,
ou seja, este híbrido possui 75% de Goldenzelle. Podemos
dizer que a presença predominante da C. dowiana (quase
35%) e da Cattleya trianaei (20%) são determinantes
para a boa forma?
SB: A forma, como outros atributos, é uma característica que
vai sendo fixada à medida que selecionamos plantas com esta qualidade,
e voltamos a fazer novos cruzamentos envolvendo-as, para que sejam fixadas ou,
quem sabe, melhoradas. Não acho que essa qualidade possa ser atribuída
á porcentagem genética das espécies envolvidas; acredito
que essa porcentagem tenha mais influencia em características morfológicas,
como nas bifoliadas, ou época de floração, por exemplo.
continua
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